Ser outra coisa.
Às vezes olho pra minha vida e me pergunto como vim parar onde estou. Algumas coisas são muito melhores do que imaginei: tenho um marido fantástico, estou perto da minha família, estou me mudando pra um apartamento lindo. E tenho um emprego muito melhor do que pretendia ter com a minha idade.
Mas algo parece não estar certo.
Em primeiro lugar, o que estou fazendo? Não estou traduzindo, não estou revisando textos (pelo menos não a maior parte do tempo). Escrevo, é verdade, mas documentos padronizados. E passei os últimos três anos e meio conciliando uma jornada louca, 40h semanais de trabalho e uma graduação diurna, pra lá e pra cá. Tornei-me tradutora há seis meses e hoje só sinto saudades. Não do caos que era minha vida, mas daquilo que eu amava, que era traduzir. Quis emendar um mestrado, mas precisava parar. E agora, mais que nunca, não posso voltar àquela rotina ensandecida. Entre continuar os estudos e seguir trabalhando, fiz a segunda opção (pelo menos temporariamente).
Em segundo lugar, o meu tempo. 40 horas. Não sei quem inventou isso. Sei que em São Paulo as pessoas trabalham 12h por dia, e que na Revolução Industrial a jornada chegava a 16h. Mas não creio que isso torne humanas as 8h diárias – note-se: com a obrigatoriedade de tirar pelo menos uma hora de almoço, o que me coloca 9h fora de órbita. Você passa todo o seu sol vivendo a vida dos outros, trabalhando pra sociedade, e tem de contratar outras pessoas pra viverem a sua vida – pra limpar sua casa, fazer sua comida, cuidar dos seus filhos. Fiz tudo durante muito tempo, mas há quase um ano não passo mais minhas roupas e não limpo mais a casa. Super legal? Sinceramente? Preferia ter um dia a menos de trabalho pra cuidar da minha casa.
Desde que resolvi fazer outra graduação e mudar definitivamente de carreira, mesmo trabalhando tempo integral, ensaio tomar novos rumos. Mas me falta a coragem. Foi até fácil colocar as contas na ponta do lápis e superar a redução de quase metade do nosso orçamento. Não tenho medo de viver com simplicidade, teremos o suficiente para levar uma vida digna. Mas me apavora largar um cargo público, cada vez mais difícil de conseguir. Penso nas férias, licença maternidade de 6 meses e, sobretudo, na aposentadoria.
Eu podia ficar horas falando sobre isso. Às vezes acho que estou vivendo com base em valores que não são os meus: segurança e estabilidade. Faço planos, tento estabelecer prazos para tomar uma atitude. Reflito, reflito. E sonho.
The Best Pod Vapes for 2023 in the UK
Há 2 meses
10 comentários:
Faço das suas, as minhas palavras. E olha que a minha jornada é de 30 horas, e ainda assim, toda vez que eu tô no trabalho, a grande parte do tempo sem fazer muita coisa útil, e penso que seria tão mais útil estar em casa, cuidando das coisas, do meu bebê, podendo buscar o Gabriel na escola, sem ficar com a loucura de pensar em quem vai buscá-lo hoje... Na verdade eu acho que colocaram sobre a gente (mulheres) tarefas que não nos competem. Eu acho lindo sim, mulher trabalhar ser independente e tals, mas também acho meio ultópico. Sei lá... Fora que depois que você tem filhos, o povo ainda quer que você trabalhe, seja uma mãe paciente, e uma mulher gostosa! Quem consegue????
Vcs só não podem esquecer de uma coisa, o ser humano é assim mesmo, sempre ficam imaginando e querendo saber como seria sua vida de outra forma...
Eu mesmo não tinha tempo nem pra respirar, só vivia para minha profissão,daí dei uns problemas de saúde e tive que mudar toda minha vida;
hoje estou casada e trabalho mais ou menos, na empresa do meu esposo, "sou mais uma amélia", e minha profissão já era, e com isso as vezes me sinto uma inútil, e fico a pensar como seria se eu ainda tivesse a vida de antigamente...
Sendo que tirando o fato de eu não estar mais atuando na minha profissão, está praticamente tudo perfeito; mas a gente nunca se contenta com o que tem...
Bjão!!!
Lia, Lia...seus anseios são os anseios de quase todas...Trabalhar ou ficar em casa cuidando da cria? Perseguir um sonho ou ganhar dinheiro? Na vida vamos nos deparando com esses questionamentos que são ótimos para, vez em quando, darmos novo recomeço às nossas vidas.
Se me permite o conselho, aguarde até o bebê chegar. Aí sim sua vida ganhará uma perspectiva totalmente diferente. E nesse momento as escolhas, embora mais difíceis, tem um propósito bem maior. beijos!
Lia, imagino a angústia que deve dar pensart em largar um emprego público! É jogar pro alto aquilo que "todo mundo" acha maravilhoso!!!
Mas só vc pode saber o que é melhor, né?
Mas vamos combinar, antes louca e feliz que "enquadrada" e infeliz!!! rsss
Acho o conselho da Patrícia aí em cima bem ponderado! Espere o bb chegar e suas escolhas serão mais bem pensadaqs e ponderadqs!
beijo
Lia, vivo os memos dilemas que vc.. Sempre trabalhei muito e não me vejo de outra forma, pelo menos agora. Já comecei um mestrado e abandonei. Passei em outros dois no exterior e não fui (um por não ter bolsa e outro por ter me descoberto grávida). Vim pra Brasília com os olhos voltados para a UnB e cá estou, trabalhando cerca de 10 horas por dia e não podendo acompanhar a adaptação da minha filha na escola, coisa que para mim é importantíssima.
Não tenho resposta para os seus anseios e questionamentos, mas saiba que vc não está sozinha!
Concordo com vc. E acho que quem inventou essa louca rotina de trabalho não podeia estar de bem com a vida. AMO minha casa e tudo o que está nela. Pude fazer um opção por um trabalho mais light, faço minha jornada, meus horários, minhas férias. Não vivemos do que eu ganho, mas um dia, quando meus filhos estiverem grandes, darei um up grade na minha carreira. Hj invisto em qualidade de vida, pra mim e pra minha família, e te digo que vivemos bem, sem grandes luxos mas bem e felizes. E a felicidade deles depende de mim. Das coisas que eu produzo aqui dentro.
Beijossss
Meninas, obrigada pelos comentários tão solidários. Na verdade, não quero deixar de trabalhar (só provisoriamente, pra fazer um mestrado). Quero apenas trabalhar meio período naquilo que eu amo. Assim poderia conciliar meus anseios profissionais e acadêmicos com minha vida familiar. Querendo pouco, né? hehe
Só complementando meu comentário. Meu sonho de consumo: trabalhar metade do que trabalho e ganhar o dobro do que ganho. Será que é pedir demais? bjsss
hummm... dilema eterno... e sempre renovado quando pensamos em ter o segundo, o terceiro - filho, não emprego, que ainda bem essa fase ensandecida já passou! rs
beijo
Lia, questionar eh preciso, e acho que independente do que decidimos as duvidas sempre continuam, mas e se.... e nao temos respostas. Nao somos felizes 100% com nossas escolhas, com filhos entao nós aprendemos a tomar decisões baseadas na necessidade muitas vezes ignorando o que queremos, isso pq já não somos só nós. Acho que a medida que crescemos as duvidas a cerca de decisoes se tornam mais complexas e mais dificeis.
Nunca somos completas, se em casa full time nos sentimos meio inuteis pq socialmente ser mae e dona de casa nao da credito nenhum intelectual a gente, se trabalhamos fora e ficamos pouco com os filhos, nos sentimos culpadas e incompletas, pq parece que delegamos a outros nossa tarefa de cuidar e educar, e se fazemos os dois, bem, a gente tenta mas acaba q nunca fazemos nada como queremos, nao da tempo ou algo assim.
Entao optamos, aqui optei pq passar esses primeiros anos de vida dando assistencia as meninas, com isso a grana ficou bem mais curta, mas eu precisava, quando a Hannah estiver na escolinha eu volto a trabalhar e estudar e sei la, a gente se vira nos 30!hehe
Faça o q seu coraçao mandar q vai ser mais feliz!!
beijocas
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