quarta-feira, 29 de junho de 2011

Eco-post

O post com a reportagem sobre separação de lixo deu bastante repercussão. Muita gente se interessou pelo minhocário, então resolvi fazer um post sobre isso e outros assuntos ecológicos.

Sempre tive uma quedinha pelas questões ligadas à preservação da natureza. Quando tinha 10 anos, minha escola promoveu atividades relacionadas à Eco 92. Escrevi uma poesia sobre o tema e fui premiada com vários livrinhos sobre ecologia.

Desde sempre, tento não ser muito nociva ao meio ambiente (porque ajudar... é difícil). Economizar água e energia elétrica foi o começo. Aos poucos, fui vendo o que mais eu poderia fazer pra não estragar tanto o planeta. Começamos a separar papel e levar pra reciclar, passamos a reaproveitar e recusar as sacolas de plástico nos supermercados. E assim, de grão em grão, vamos tentando ser mais ecologicamente responsáveis.

Além desses, segue uma listinha de hábitos que fomos incorporando:

1) Fraldas de pano: quem me acompanha sabe que Emília usa fraldas de pano, quase 100% do tempo (exceções são quando eu me desorganizo com a lavagem e acabam as fraldas limpas, ou quando viajamos).

2) Separação de pilhas, lâmpadas e outros materiais tóxicos para serem descartados em local próprio.

3) Adoção de alimentos orgânicos: meu motivo inicial para buscar os orgânicos foi não consumir veneno. Não existe outra palavra pros agrotóxicos que entopem nossa mesa – muitos deles proibidos em países de 1º mundo. Comecei pelo morango, que é um dos alimentos que mais têm resíduos. Nunca tive coragem de oferecer a uma criança um morango da agricultura tradicional. Aos poucos, foram aparecendo no mercado outras opções, e eu ia experimentando, sempre de olho no bolso.
Descobri então um produtor local de orgânicos que entrega em casa, e achei os preços bem razoáveis. Comecei a pedir semanalmente folhagens, legumes, frutas, sucos, mel, geleia e ovos (de galinha feliz).
Atualmente, toda a salada crua lá de casa é orgânica, bem como a maior parte dos legumes. Frutas, ainda temos de comprar muitas no verdurão, porque os orgânicos têm pouca opção e as frutas são sazonais. Atualmente, por exemplo, meu fornecedor está oferecendo só morango, mexerica e banana.
De vez em quando, morro uns reais em iogurtes naturais e queijos frescos orgânicos (leite de vaca feliz). Revezo com os produtos tradicionais.
Hoje, fico vendo tudo o que consumo e que ainda é cheio de veneno ou hormônios: grãos, farinhas, leite... Espero que a agricultura de orgânicos se fortaleça e tenhamos cada vez mais oferta desses produtos, a preços acessíveis.
Mas voltando à ecologia, hoje compro orgânicos também por questões sociais e ambientais: para que um alimento seja certificado como orgânico, sua produção tem de atender uma série de critérios, entre eles a proibição do uso de produtos que coloquem em risco o meio ambiente e a saúde dos trabalhadores rurais. Fora que, quase sempre, esses alimentos são cultivados por pequenos produtores e cooperativas. Assim, consumir orgânicos é apoiar a agricultura familiar, e não os latifundiários. Mais informações sobre orgânicos neste hotsite feito pelo Ministério da Agricultura (Mapa): http://www.prefiraorganicos.com.br.

4) Redução do desperdício: passei a planejar a compra de alimentos, especialmente os perecíveis, pra evitar que sobrem e estraguem. Pra isso, comecei a fazer compras menores e com mais frequência, monitorar constantemente a geladeira e o freezer em busca de restos e pensar nas refeições da semana antes de ir ao verdurão ou encomendar minha cesta de orgânicos. Também tem que ficar de olho nos grãos e farinhas pra não dar caruncho.
Quando vejo que algo está para estragar, tento consumi-lo imediatamente. Se não der, arrumo outro jeito de aproveitá-lo. Por exemplo: detesto banana muito madura, especialmente se a casca já estiver fina e com pontos pretos. Nesse caso, quando são só uma ou duas bananas, eu asso no forno. Quando são muitas (o consumo de banana é sempre imprevisível com um bebê em casa), parto em pedaços e congelo pra fazer sorvete de banana (receita no blog da Neda). Um espetáculo de sobremesa!
Outra opção é doar pra alguém os alimentos que não vamos consumir. Por exemplo, uma vez pedi ao meu fornecedor, por engano, batata demais. Dei metade pra minha mãe. Outra vez comprei uma farinha de trigo pra fazer não sei o quê e sobrou um monte. Não pretendo usá-la, vai de doação pra mamãe também – que, aliás, foi quem me ensinou a ter pavor ao desperdício.
Outra dica é comprar só meio maço de folhas (rúcula, espinafre, agrião). Meu fornecedor de orgânicos tem essa opção.
Finalmente, estou adaptando a culinária lá de casa pra usar talos, folhas e cascas. Ontem fiz uma farofa de folha de rabanete que ficou uma delícia.
E se não tem jeito e um pão mofa... vai pras minhocas.
Reduzindo o desperdício, a gente também economiza dinheiro. E, com o troco, dá pra substituir por orgânicos os alimentos envenenados!

5) Redução do consumo. De tudo. Menos água, menos luz, menos roupas, menos brinquedos, menos tranqueiras. É necessária uma grande mudança de mentalidade pra nos tornarmos menos consumistas.
Quando estivermos cansadas das nossas roupas, vale dar uma vasculhada no fundo do armário, procurar lenços, acessórios, coisas que não usamos há muito tempo e que podem dar uma renovada no visual. Se realmente não der pra aproveitar nada, se nosso estilo não combina mais com o armário velho, passemos as coisas pra frente – doando ou vendendo pra um brechó. Na hora de comprar uma roupa, também procuro ter certeza de que vai ter um bom uso, e não me deixar levar por uma liquidação. Quantas vezes aquela roupa novinha fica meses na gaveta?
Pras crianças, brechós infantis são o must!

6) E, finalmente, o minhocário.

Sim, dá pra ter tranquilamente um minhocário em apartamento. O meu é o grande, que comporta lixo de até 4 adultos. Comprei nesta loja, que também tem uma versão pequena, para até 2 adultos. Outros fabricantes trabalham com tamanhos intermediários, e buscando no Google também dá pra encontrar instruções para construir você mesmo seu minhocário (são basicamente caixas de plástico com furos).

Não é barato nem rende dinheiro, então não é algo que você adquire pra economizar. Mas, como eu disse na reportagem, é um hobby. Assim como eu amo cultivar plantas. E também é educativo pras crianças.

A Tathy perguntou o que eu faço com tanto adubo. Na verdade, meu adubo ainda não está pronto. Demora em torno de 50 dias pras minhocas transformarem em substrato toda a matéria da caixa do meio e começar a se formar o chorume. Como tenho duas plantas em vasos grandes, além de muitas outras em vasos menores, penso que talvez elas consigam consumir todo o adubo. Diferentemente do adubo químico (que nutre a planta e empobrece a terra), o adubo das minhocas não mata a planta por excesso. Posso usar à vontade (apesar de que uma amiga recomendou, para plantas de vasos, que eu misturasse o chorume com água).

Se eu vir que o adubo sobrou, vai pra doação! As plantas da minha mãe serão as primeiras beneficiadas.

Tem que ter alguns cuidados com o minhocário: revolver o substrato 2x por semana pra arejar e despedaçar o lixo antes de colocar lá dentro, pra facilitar o trabalho das minhocas. Fora isso, não tem segredo. Ele pode ficar dias sem ser abastecido (coisa de um mês, se não me engano), bastando que antes de sair de viagem você encha bem a caixa de lixo.

As minhocas comem qualquer matéria orgânica vegetal, mesmo com bolor, papel (inclusive sujo, como guardanapos usados), folhas secas. De origem animal, elas consomem ossos e cascas de ovos. Não é recomendado jogar carne e laticínios por causa da gordura. Alimentos cítricos devem ser evitados, pois alteram o PH do substrato. Mas você pode colocar cinzas (carvão ou papel queimado) pra reequilibrar o PH.

Pode parecer que faço muito, mas ainda há um longo caminho a seguir. Temos dois carros, dirijo sozinha para o trabalho, tomo banhos longos e quentes (eu tô grávida, vai). Meus projetos mais imediatos são trocar os guardanapos de papel por guardanapos de pano (e usar o mesmo durante uma semana, antes de lavar), reduzir ainda mais as sacolas de plástico e vender meu carro (projeto licença-eternidade 2012). Pouco a pouco a gente chega lá.

É isso. Acabou-se o eco(chato?)-post.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Onde ela aprendeu isso?

Ontem, voltando da creche, dei o convite da festa de um coleguinha pra Emília brincar. Ele estava ilustrado com os personagens do Toy Story.

Emília apontava pro boneco e eu dizia:

- É o boneco!

Ela insistia, eu repetia:

- Boneco.

Ela continuava apontando, já quase irritada, quando resolvi:

- É o Woody!

Ela balançou a cabeça sorrindo, como que dizendo: "Finalmente, mamãe, você acertou."

E isso porque ela ainda não vê TV...

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Emília na televisão





A reportagem foi exibida na última quinta-feira, 23 de junho, na TV NBR. Como não temos o canal, fomos assistir pela internet. Acessamos o site uns 10 minutos antes do horário do programa, pra conferir se estava tudo ok com a conexão, e colocamos Emilinha sentada na cadeira pra se ver no monitor.

E eis que entendi por que os pais colocam seus bebês pra assistir a televisão. Ela pirou com as vinhetas das propagandas, parecia que estava vendo Galinha Pintadinha ou Backyardigans. E isso porque ela estava vendo um canal de TV pública, desses que passam discurso parlamentar e tal. Imagina o que não faria um Pokémon... (eu sei que Pokémon é das antigas, mas por causa do negócio das convulsões e tal. Emília chegou quase lá).

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Gracinhas

E a fase das gracinhas se instalou com força. Nunca achei Emília tão divertida.

Licença I – no carro

Estávamos voltando de carro da casa de uma amiga e acontecia uma manifestação religiosa na rua. Gente pra todo lado, trânsito parado. Eis que Emília, lá da sua cadeirinha, ordena:

- Sens! Sens!

Licença II – meninos não entram

Estava com Emília no quarto, fazendo umas brincadeiras leves na penumbra antes de dormir. O vulto do pai aparece na porta. Ela parece não gostar da visita e protesta:

- Sens! Sens!

Pergunto:

- Emilinha, você quer que papai saia?

Ela faz que sim com a cabeça.

Licença III – privacidade

Emília se encolhe num canto entre a porta e a parede e chego perto pra lhe dar um beijo. Ela não gosta da aproximação:

- Sens! Sens!

Ok, deixo que ela fique lá no seu cantinho. Segundos depois, ela sai do auto-castigo com a fralda cheia de cocô.

Me limpa que eu te limpo

Emília gosta de pegar guardanapos, lenços de papel e pedaços de papel higiênico e limpar seu nariz e sua boca, como nós fazemos com ela.

E ela também anda numa fase bem grudinho comigo, então normalmente só consigo ir ao banheiro na companhia dela. Dou um pedaço de papel higiênico para ela brincar, evitando que ela destrua o rolo todo.

Eis que ela resolve que limpar nariz e boca é para iniciantes e leva o papel entre as pernas, como se estivesse enxugando as intimidades. Eu me abro de rir e, como se não fosse suficiente, ela vem com a mãozinha em riste pra limpar a mamãe também.

Dê?

Rafael chega pra Emília, de joelhos e com os braços abertos:

- Cadê o abraço do papai?

Ela deita no chão de barriga pra baixo, como se estivesse procurando alguma coisa debaixo do armário:

- Dê? Dê?

terça-feira, 21 de junho de 2011

Tia

Eis que virei tia! Ontem à noite nasceu meu sobrinho Davi, filho do meu irmão e da minha queridíssima cunhadinha.

Tia, hem? Ficando velha...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Só os pais entendem os filhos

Tem aquelas palavrinhas perfeitas que ela fala: não, mão, pão, mamão (percebam que ela gosta dos “ãos”), papai, mamãe, mamá, peixe, pé (quase, ela fala algo como “pê”). Mas grande parte do vocabulário de uma criança de 1 ano e 5 meses ainda é ininteligível para os leigos.

Me digam o que significa “papá”. Quem pensou em papar (comer) errou. Quem pensou papai, errou também. Acertou quem disse tampar. Mas só quem vê Emília com o copinho na mão, apontando pra tampa e exigindo papá poderia saber disso.

E tem aquelas palavras cuja pronúncia é quase idêntica, mas que significam coisas diferentes:

- Tsêtsê = sentar
- Tsatsê = Caqui
- Tetê = Tetê, a Teresinha amiga dela.

Perceberam a sutileza?

E “ptão”, o que seria? Cavalo, óbvio. Porque se o cachorro faz auau e é auau, o cavalo faz pocotópocotópocotó = ptoptopto = ptão, porque Emília ama “ão”.

É impressionante como entramos tão facilmente nesse universo comunicativo dos nossos filhos pequenos e conseguimos nos compreender tão bem, com as devidas limitações. Eles arrumam maneiras incríveis de se expressar.

Como Emília diz “o papai vai dirigir o carro”? Ela aponta pro banco do motorista, diz “papai”, e solta um “pffffffff” (é, gente, o carro faz pfffffff). Volto com ela da creche e escuto um “môoooooo”. Quando olho pela janela do carro, vejo a foto de um boi na fachada do açougue. Depois ela começa a abanar a mão e falar: “tents, tents!”. Olho pro lado e vejo a fumaça levantada pelo churrasquinho de rua. “É, meu amor, é quente!”.

Como é deliciosa essa fase de aquisição da linguagem!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sexta-feira fui lá na Pat!

Pela primeira vez tive a honra de ser convidada pra escrever num blog de uma amiga virtual, a queridíssima Patrícia Boudakian, mãe da Alice.

O tema foi amamentação durante a gravidez (num ato falho, quase escrevo "gravidez durante a amamentação". Hoho, não deixa de ser também).

Passem !

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Limites

Para complementar o texto (foram três posts, mas o texto é um só) sobre disciplina, achei por bem fazer alguns esclarecimentos sobre limites, para que ninguém me compreenda mal.

Ser amoroso, ouvir a criança, compreendê-la, tratá-la com brandura, não tem nada a ver com eliminar ou afrouxar os limites que ela deve ter.

Lá em casa não pode derramar comida no chão. Ponto. Todas as vezes que minha filha derramar comida no chão propositadamente, ela será repreendida. Não importa se ela está chateada com alguma coisa, se o dente está doendo, se eu a deixei muito tempo sozinha. Nada justifica essa atitude.

Mas como eu vou repreendê-la? O que o gesto de virar o prato vai provocar em mim? Raiva? Enfado? Vou ficar mal-humorada e reclamar que ela fez de novo algo que sabia que era errado?

Se eu estiver cansada, preocupada com alguma coisa, nervosa, as chances de eu perder as estribeiras são bem maiores. Mas minha filha não tem absolutamente nada a ver com o meu estresse no trabalho ou com o trânsito caótico que eu peguei pra chegar em casa. Então tenho de fazer um esforço pra separar as coisas, respirar fundo e segurar a explosão. Na verdade, o esforço nem é tão grande assim. Mais pra frente eu falo sobre isso.

A primeira coisa que faço é falar, na altura dela, olhando nos olhos, o que ela fez. Repito que não pode fazer aquilo, e dou uma breve explicação por quê: “Emilinha, você jogou a comida no chão. Não pode fazer isso. Suja o chão. A mamãe fica triste.” Em seguida, eu digo a ela que peça desculpas. Ela entende e vem me abraçar. A última coisa é reparar o erro: arrumar a bagunça. Peço que ela me ajude a limpar o chão. Ela vai catando a comida com os dedinhos e colocando no prato. Se for coisa que só dê pra varrer, ela segura a pá. E pronto. Acabou, abraços, beijos, a vida segue. Sem rancores, sem mágoas, sem ficar repetindo que ela se comportou mal e que a mamãe está brava.

Se ela está nervosa demais pra conversa (é raro, mas acontece), espero ela se acalmar pra fazer todos esses procedimentos. Fico junto dela, pego no colo, se ela quiser, mostro a paisagem. Até que ela esteja em condições de compreender o que aconteceu.

E a minha parte? Refletir sobre os motivos que a levaram a derramar a comida no chão e tentar fazer o possível para não criar novamente cenários favoráveis a essa atitude. Por exemplo, acompanhá-la mais de perto se eu perceber que ela está apresentando algum sinal de irritação. Se ela começar a bater a colher ou erguer o prato, pergunto se ela não quer mais comer e retiro logo o prato. Pergunto se ela quer sair da cadeirinha e a levo pra brincar. Ah, diga-se de passagem: lá em casa ninguém é obrigado, sequer encorajado, a comer. Ofereço alimentos saudáveis em intervalos regulares, ela come o quanto quiser e está perfeitamente bem nutrida, obrigada.

Essa regra de não deixar passar um mau comportamento sem nota vale pra tudo. Inclusive quando ela só quer ficar comigo e desdenha o Rafael. Pode ficar comigo, sim, não precisa ficar com o papai. Mas não pode tratar mal o papai. Explico pra ela que o papai a ama, que ele fica triste se ela o empurra. E ela entende e costuma mudar de atitude na hora. Às vezes até muda de ideia e traz um livrinho pra ele ler pra ela.

Ironicamente, estabelecer limites precisos e coerentes (à medida do possível, porque ninguém consegue ser 100% coerente) é muito mais compatível com a brandura que a falta de limites. Cenas de explosão de pais com filhos, crianças sendo puxadas pelo braço e enquanto esperneiam, são muito mais prováveis de acontecer quando os limites não são claros.

Exemplo: uma criança de uns seis anos está brincando no parquinho e começa a golpear os balanços um contra o outro. A mãe, sentada no banco do lado de fora das grades, grita, sem desviar os olhos da revista que está lendo: “Fulano, não faz isso!”. Obviamente a criança não dá a menor bola para aquela voz sem olhar e continua com a brincadeira nociva. Ele bate os balanços umas 5 vezes até ouvir de novo: “Fulanoooo! Eu já avisei!”. A um dado momento, a mãe, irritada, consegue finalmente levantar a bunda do assento e entrar no parquinho atrás do menino. Dá uns bons gritos e arrasta a criança pra casa, sob protesto.

Ou, simplesmente, não faz nada e deixa o filho destruir o parquinho.

Mas entre a completa inércia e a explosão, existe outro caminho. Da primeira vez que a criança golpeou os balanços, a mãe deveria ter levantando do banco, largado a revista, chegado junto dela e explicado, olho no olho: “Não pode bater os balanços. Estraga.” E volta pro seu lugar. Se a criança continuar, vale explicar as consequências: “Se você continuar batendo os balanços, nós vamos ter de ir pra casa, ok? Porque você não pode destruir o parquinho, tem outras crianças que querem brincar.” Se ela insistir e tiver de ser levada para casa, estará perfeitamente informada a respeito do que poderia ter feito pra evitar o fim da brincadeira, e já não se tratará de uma punição, mas de uma consequência.

E se a criança espernear mesmo assim? As chances de ela espernear são bem menores do que no primeiro caso. Mas, se espernear, é chegar em casa, esperar que se acalme e conversar depois sobre o que aconteceu. “Por que você estava batendo os balanços? Mamãe ficou triste.” Mas se o filho sabe que a mamãe perdoa, provavelmente se sentirá muito mais à vontade pra assumir o erro e pedir desculpas. Ele poderia dizer: “estava batendo os balanços porque é legal”. Eis um bom espaço pra dizer que nem tudo o que é legal pra ele é legal pros outros, introduzir as noções de respeito, fazê-lo se colocar no lugar dos outros: “Se você fosse brincar no parquinho e o balanço estivesse quebrado, você ia gostar?”.

A proposta de uma educação simultaneamente firme e gentil pode parecer utópica. Mas não é. Primeiro, porque nós não vamos ser perfeitos o tempo todo – e isso é ótimo, porque quando o filho percebe que os pais erram, tira de si um enorme peso. Eventualmente podemos gritar com nossos filhos, ser injustos com eles, até dar um beliscão ou um tapa num momento de descontrole. E aí? Cadeia? Juizado? Não. Humildade e um pedido sincero de desculpas. O perdão deve ser exercitado dos dois lados, dos pais e dos filhos.

O importante é ter em mente o que nós consideramos como certo e procurar agir dessa forma. Se eu acho errado gritar com meu filho, não significa que jamais vou gritar com ele. Significa que vou fazer todo o esforço pra que isso não aconteça e, se acontecer, vou saber pedir desculpas. No processo de educar nossos filhos, é preciso que nós mesmos nos reeduquemos.

E minha proposta não é utópica por outro motivo: porque é possível assumir de bom grado uma postura de servos, mesmo sendo egoístas. Quando falo das minhas ideias sobre criação de filhos, pode parecer que me acho a pessoa mais altruísta do mundo. Nada disso. Conheço muito bem o meu orgulho. Mas colocar o outro acima de nós pode ser uma atitude tão prazerosa que encontraremos uma satisfação profunda, capaz de apaziguar nosso hedonismo.

Por isso digo que o esforço de se acalmar pra lidar com uma criança é, mais que um peso, uma libertação. No trabalho que fazemos para não deixarmos a raiva nos dominar, experimentamos mais momentos de serenidade. Raiva, estresse, cansaço, tudo o que nos faz estourar para cima dos nossos filhos faz mal para nós. É como se fizéssemos um tratamento de saúde, nos livrando de várias patologias no processo de nos tornarmos pais. E nosso corpo e nossa mente agradecem.

Os filhos nos obrigam a mudarmos nossa dieta. Nos fazem revermos nossa jornada de trabalho. Nos forçam a brincarmos quando deveríamos estar lavando a louça. Se escravidão é isso, bendito cativeiro esse da maternidade!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Educação: brandura ou rigor? (parte 3 de 3)

Acredito que planejamento e cuidado com as programações que fazemos com nossos filhos ajudam muito a reduzir maus comportamentos. Mas nossos filhos vão se comportar mal de vez em quando, independentemente do que fizermos. É necessário aceitar essa verdade, caso contrário estaremos colocando sobre eles uma carga impossível de ser suportada: a da perfeição. O importante é tentar identificar o que nossos filhos estão querendo nos dizer quando se comportam mal. Nesses momentos, eles não precisam apenas de repreensão: precisam de compreensão.

Nós, adultos, temos muitas formas de externalizar nossas frustrações. Podemos conversar com um amigo, podemos escrever, podemos buscar ajuda profissional. Ou podemos, autonomamente, fugir das frustrações. Se estamos em um evento chato, por exemplo, podemos pegar a chave do carro e ir embora. A criança não tem essa opção. Ela é carregada pra onde os adultos a levam. Quando ainda não fala, ela sequer consegue verbalizar aquilo que a incomoda, e aí entra a linguagem corporal (choros, gemidos, berros, agitação de braços e pernas), que tanto nos perturba.

Existem comportamento que são socialmente aceitos pra um adulto, mas não pra uma criança. Um adulto pode perfeitamente se recusar a emprestar seu carro pra um irmão ou um amigo. Já uma criança, se negar um brinquedo seu a um coleguinha, é egoísta. Deveria ser ao contrário. Deveríamos aceitar das crianças alguns comportamentos que são inadmissíveis em um adulto, porque elas não possuem nem a maturidade neurológica nem o repertório cultural necessário para agir sempre conforme a nossa moral.

O que estou dizendo então? Que devemos deixar as crianças livres para agirem conforme sua vontade, que não as repreendamos, que sejamos seus escravos?

Nem que eu quisesse, não poderia fazer todas as vontades da minha filha, até porque, com menos de 1 ano e meio, ela nem sempre sabe distinguir entre o possível e o impossível. Mas é meu dever escutá-la e lhe dar um retorno sobre tudo o que ela demanda. Se eu não posso atender um pedido seu, tenho de explicar por quê. Nada muito elaborado (ela mal fala), simplesmente um retorno, uma palavra ou um gesto que a faça entender que ela foi ouvida, que eu compreendo a importância do que ela pediu, mas que eu não posso dar, pelo menos não naquele momento. “Mas que bobagem, todo esse escândalo só porque eu não quis ler o livro com ela! Ela podia muito bem ler sozinha.” Para ela, era importante que eu estivesse junto na leitura do livrinho. Se eu não fiz isso é porque tinha de ir trabalhar, ou tinha de ir ao banheiro, ou estava doente. Não porque eu não queria ou tinha algo mais “importante” pra fazer. Quando temos filhos, eles são a coisa mais importante. As nossas necessidades vêm depois.

Se conseguíssemos visitar um pouco nossa própria alma, veríamos que precisamos muito mais ser valorizados do que ter todos os nossos desejos atendidos. Somos tão consumistas e insaciáveis porque somos inseguros, porque nos sentimos sozinhos e desamparados.

E aqui entra minha proposta de disciplina. Acredito que o que torna as crianças birrentas, os adolescentes inconsequentes e os adultos irresponsáveis é muito mais a falta de afeto que de disciplina. A falta de um par de adultos, ou de pelo menos um adulto que seja referencial de serviço, de respeito e de amor é fatal para o desenvolvimento da capacidade solidária da criança. Uma criança oprimida pode se tornar um adulto perfeitamente correto socialmente, honesto, trabalhador. Mas ele será assim não por convicção, mas por medo. Em grande parte dos casos, uma criança oprimida se tornará também um adulto opressor.

Não acredito que uma pessoa que nunca foi oprimida saiba oprimir. Não acredito que uma pessoa que nunca foi violentada possa se tornar violenta. Não acredito que uma pessoa para quem a verdade sempre foi dita possa se tornar mentirosa.

A maioria dos pais vai dizer que ama os filhos. E a maioria ama mesmo. No entanto, os violentam, porque eles mesmos sofreram esse tipo de violência quando jovens e não sabem agir de outra forma. E fazemos isso sem nos darmos conta, achando que estamos sendo os melhores pais do mundo. Achamos lindo quando nosso filho chora de arrependimento, humilhado porque fez algo errado. Mas não pensamos que ele pode estar demonstrando ser vítima de um excesso de rigor, que pode estar perdendo sua liberdade e a compreensão de que, pra todo erro, o perdão tem lugar. É, sim, muito bonito que uma criança demonstre arrependimento. Mas é essencial que ela entenda que o amor que seus pais têm por ela não será abalado por causa disso. Muitas vezes deslocamos a condenação do erro para a condenação da criança. Seu filho mentiu. Isso não faz dele um mentiroso. Seu filho bateu num colega. Isso não faz dele um bullie.

É preciso tomar muito cuidado com o que dizemos aos nossos filhos. “Você é feio porque tomou o brinquedo da coleguinha” é muito diferente de: “você tomou o brinquedo da coleguinha, e isso é feio”. Para o erro, existe redenção. Para uma característica inerente à pessoa, nem sempre existe. Daí o perigo de rotular nossas crianças de “briguentas”, “birrentas”, “choronas”, “pidonas”, “mentirosas”, e por aí vai. A criança é uma esponjinha, que absorve tudo o que falamos. E as palavras têm um poder enorme sobre elas, para o bem ou para o mal. Esses estigmas muitas vezes permanecem até a vida adulta.

Minha proposta de disciplina inverte os tradicionais lugares que a criança e o adulto ocupam na hierarquia familiar. A visão de um adulto superior, que manda em tudo, e de uma criança submissa, que apenas obedece, simplesmente não funciona. Porque toda autoridade sem amor é opressora. Proponho, sim, a criança em primeiro lugar, e o adulto – pai e mãe – como seus servos. Loucura? Ditadura das crianças? Não. Os pais continuam sendo autoridade. Mas, para evitar que se tornem autoritários, somente colocando em primeiro lugar o interesse de seus filhos, a formação do seu caráter e a proteção da sua saúde física e emocional.

Pra quem é cristão, cito o exemplo de Jesus Cristo, que, mesmo sendo Deus, se colocou como servo, lavou os pés aos discípulos e morreu humilhantemente numa cruz pelos seus filhos. Devemos nos entregar da mesma forma pelos nossos.

Devemos discipliná-los para que eles tenham domínio sobre impulsos destrutivos, para que saibam lidar com as frustrações que a vida naturalmente trará, para que sejam pessoas íntegras, para que façam bem à sociedade e para que sejam felizes. Jamais para não passar vergonha diante dos outros adultos. Jamais para que eles não nos incomodem. Jamais para moldá-los aos nossos ideais, àquilo que gostaríamos de ter sido e que projetamos neles.

E devemos discipliná-los sempre com ternura, com brandura, buscando compreender o que os levou a agirem daquela forma. Se estão se sentindo ansiosos, sozinhos, nervosos, cansados. Tentar buscar, por trás de uma criança “insuportável”, um coração que clama por algo.

Nós para eles, e não eles para nós. É nessa educação que eu acredito.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Educação: brandura ou rigor? (parte 2 de 3)

Outro chavão que alguns de vocês podem já ter escutado é: “Se você não fizer seu filho chorar agora, ele vai te fazer chorar depois.” Entramos então na esfera da violência. Sim, violência, porque essa frase parte do pressuposto de que a criança aprenderá a obedecer se você lhe infringir algum tipo de sofrimento – pode ser físico ou psicológico. A disciplina é vista como punição, e pouca ou nenhuma responsabilidade é atribuída ao adulto para discernir a medida ou o cabimento do castigo. O adulto manda, a criança obedece. Ponto final.

“Mas hoje não é mais assim”, diriam muitos. “Hoje as crianças fazem o que querem, manipulam os adultos... aonde vamos parar? Na minha época...”. Pois nas épocas passadas, dos nossos pais, avós, bisavós e gerações precedentes, o que havia era uma opinião quase unânime de que crianças não eram seres humanos e, portanto, não podiam ter vontades, desejos, opiniões.

Todas essas gerações passadas foram violentadas desde o nascimento (viradas gentilmente de ponta-cabeça pelo obstetra e golpeadas nas nádegas para lançar o primeiro choro ao mundo, de alívio para o médico e para os pais e de desespero para o recém-nascido) e seguiram perpetuando essa violência sobre seus descendentes. Algumas mães piedosas, cujo instinto nunca foi – e nunca será – completamente calado pela opressão masculina, agiam contra a corrente e “mimavam” seus filhos. Davam-lhes colo, não tinham coragem de erguer a mão contra eles. Essas eram tachadas de mães moles, e contra elas pairava a condenação por terem estragado seus filhos.

Então hoje as coisas são melhores? Hoje, quando se discute a proibição do castigo físico, lei já desnecessária para muitas famílias que há muito abandonaram essa prática?

A maneira de violentar as crianças pode ter mudado, mas a violência continua presente. E a forma mais comum que ela assume hoje em dia é o abandono.

A mãe foi eliminada do lar. Ao mesmo tempo, a família fragmentou-se, avós, tios, primos, todos espalhados por diversos estados ou países. A família também ficou cada vez mais reduzida, cada vez menos primos, menos irmãos. Mais adultos e menos crianças. Pai e mãe são obrigados a passar o dia exilados de casa, buscando o pão lá fora, enquanto as crianças são delegadas a terceiros. De retorno à casa no fim do dia, pouca paciência têm para atenderem as demandas das crianças. Nos fins de semana, a necessidade de prover atividades de lazer para seus filhos compete com as tarefas a serem cumpridas. As férias são demasiado curtas e, por isso mesmo, cheias de atividades e estímulos.

Em virtude das precárias condições que temos hoje para criar nossos filhos, da falta de tempo, do pouco apoio, da estrutura deficiente, os conflitos entre as nossas necessidades e as deles tendem a aumentar. De um lado, estamos esgotados, muitas vezes sem condições de experimentar momentos de ócio, de relaxamento, de prazer. Do outro, nossos filhos clamam por atenção e parecem ainda mais exigentes pelo fato de passarem pouco tempo conosco. Queremos que eles compreendam que estamos cansados, que precisamos fazer isto ou aquilo. E eles querem que compreendamos que eles precisam de nós.

A semente da violência mora na nossa força e na fragilidade dos pequenos. Nós temos a última palavra. Nós somos os pais, e somos mais fortes. “Mas as crianças manipulam!”. Claro, as crianças usam todos os recursos que têm para serem ouvidas: o choro, as birras, a recusa em comer, tomar banho ou escovar os dentes. Mas elas não têm o poder de nos obrigar a ouvi-las e atendê-las, como não o fazemos muitas e muitas vezes. Elas estão à nossa mercê.

Ouço muita gente dizer que não se pode dar ouvidos a uma criança que pede algo choramingando, resmungando, enfim, fazendo alguma coisa socialmente feia e que nos incomoda. “É pra ele aprender que não é assim que se conseguem as coisas”. Eu me pergunto: e como é que se conseguem?

Normalmente, uma criança que chega ao ponto de berrar e se debater para pedir algo já tentou obter essa mesma coisa de outras formas, sem sucesso. Digamos que estamos no shopping, e a criança começa a se entediar. Ela vai começar a querer mexer onde não pode, com o simples objetivo de encontrar alguma forma de entretenimento. Digamos, por exemplo, que seu filho de um ano pegou na sua bolsa aquele batom carésimo e começou a desfazê-lo com os dedinhos. Ou que sua filha de dois anos começou a correr em direção às lojas e mexer nas araras. Ou que seu filho de três ou quatro anos pediu: “mamãe, quero ir embora”. E o que nós fazemos? “Não pode mexer no batom. Não pode mexer nas roupas. Agora não podemos ir embora, espere”. E eles esperam, mas nunca o tempo que nós gostaríamos. Se não tiverem outra alternativa autorizada para se entreterem, e se não forem levados para fora do local onde estão aborrecidos, nossos filhos vão insistir naquilo que nós proibimos, espernear, se acabar em lágrimas revoltosas e magoadas.

“Mas eu já falei vinte vezes que não é pra mexer aí!”. Mas seu filho já falou vinte vezes que precisa de você. Que está com fome. Que está com sono. Que quer ir embora. Por que eles nos ouviriam da primeira vez, quando falamos com educação, se nós não os ouvimos quando se colocam da mesma forma?

Acabei de descrever aqui comportamentos condenáveis que são causados pela nossa própria negligência, pela priorização dos nossos interesses em detrimento dos interesses da criança. Mas uma criança pode dar um ataque de chilique independente de termos feito qualquer coisa errada. Ela pode manifestar sua revolta diante de um programa que ontem mesmo ela adorava fazer. Ou pode tornar impossível a realização de uma tarefa que temos de fazer, numa situação em que ela poderia colaborar. Por exemplo, se uma ida ao supermercado se torna inadiável e não temos com quem deixar a criança, nem dispomos de um horário alternativo pra fazer o programa. Tentamos fazer que a criança participe, deixamos que ela escolha as frutas, e mesmo assim ela se joga no chão. E nos perguntamos: “onde foi que eu errei?”.

(continua...)

terça-feira, 7 de junho de 2011

Educação: brandura ou rigor? (Parte 1 de 3)

Quem sou eu pra falar de educação? Eu, que tenho apenas uma filha de pouco mais de um ano. Eu, que nunca li uma linha de pedagogia ou psicologia. Que nunca trabalhei com crianças, a não ser em situações esporádicas. E que só agora vou ganhar meu primeiro sobrinho.

Sim, sou leiga. Mas fui criança, e procuro resgatar aquilo que eu sentia na infância para me colocar no lugar dos meus filhos. Sou leiga, mas reflito sobre o meu papel como mãe. Mais que leiga, devo ser completamente ignorante. Mas recebi de Deus a missão de educar meus filhos e creio que Ele não nos dá tarefas que sejamos incapazes de realizar. Se tive filhos, é porque posso ser mãe. E decidi abraçar esse mandado com toda a minha alma, e cumpri-lo com excelência – com erros, é claro –, com dedicação e com espírito de serviço.

As reflexões que vocês lerão aqui não têm absolutamente nada de científicas. Mas tampouco faço um discurso irresponsável, repleto de declarações impensadas, lançadas ao vento com o objetivo de ganhar aplausos ou criar polêmica. Não estou num boteco. Estou num espaço meu, é claro, aonde acodem os interessados, mas que é público. E a esse público eu presto meu respeito e me eximo de falar o que possa trazer conseqüências negativas para as famílias e para a sociedade.

Li algumas coisas a respeito de puericultura. Livros e artigos de pediatras, psicólogos e outros profissionais da área de saúde. Algumas coisas fazem sentido, outras não. E absorvo aquilo que encontra eco nos meus valores.

O que sempre faz sentido pra mim são as orientações baseadas no respeito à criança. O que jamais faz sentido são os conselhos apoiados no pressuposto de que as crianças nascem com o objetivo de subjugar os adultos e que cabe aos pais impedir que isso aconteça. Em outras palavras: mostrar quem manda.

O que mais ouvi durante minha infância, e ouço até hoje, é que a falta de disciplina gera crianças birrentas, adolescentes inconsequentes e adultos irresponsáveis. O chavão bem que nasceu de uma premissa verdadeira, mas o que se entende por disciplina e por um adulto bem-comportado está bem deturpado em relação às suas origens.

Comecemos falando de disciplina. Claro que as crianças precisam de disciplina. Primeiro porque nascem incivilizadas, desconhecedoras das boas normas de convivência social, de higiene, de valor dos objetos. Nesse sentido, precisam de disciplina para a proteção de sua integridade física (“não pode pular daí”; “não pode comer lixo”, “não pode colocar a mão na panela quente”), para a proteção da integridade física dos outros (“não pode puxar o cabelo da mamãe”, “não pode morder o coleguinha”), para a preservação dos bens que nós adquirimos (“não pode jogar o celular da mamãe no chão”, “não pode esfregar Bombril na tábua corrida”).

Em segundo lugar, as crianças precisam de disciplina porque todos temos uma natureza hedonista, auto-centrada, e temos dificuldades para colocar a necessidade do outro, se não acima, pelo menos no mesmo patamar que a nossa. O senso de posse parece surgir naturalmente na criança, sem que ninguém precise ensiná-la a proteger o que é seu. Em compensação, compartilhar, respeitar a posse do outro (não tomar os brinquedos dos colegas), parece ser algo que deve ser ensinado. Saímos aqui do campo do selvagem, do instinto, da luta pela sobrevivência, e entramos no campo da humanidade, no qual é necessário inserir as noções de respeito e solidariedade.

Nesse sentido, eu estaria de acordo com a opinião da maioria: a falta de disciplina levaria ao desenvolvimento de um indivíduo nocivo à sociedade. Mas de que disciplina estamos falando?

(continua...)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

mamAÇO

Eu ia fazer um post todo bonitinho, com o título “Vamos mamar no parque?”. Ia falar de piquenique de leite e coisa e tal. Na minha alienação voluntária em favor do bem estar da criança que carrego dentro de mim, com os óculos cor-de-rosa que coloquei pra ver a realidade menos cinza e proteger o fruto do meu ventre, acordei.

Juntar um grupo de mães para nutrirem seus bebês publicamente com o melhor alimento que a natureza lhes deu, representar coletivamente um gesto absolutamente natural e, sim, exibir os seios que, naquele momento, são apenas vasilhames de amor e nutrição, por mais pacífico, celeste, divino e puro que seja, é interpretado por muitos como um ato de violência. Um atentado ao pudor.

Li este texto. Fiquei triste. Mas depois, fiquei brava. Fiquei forte. E vi que para amar, na nossa sociedade, é necessária uma guerra. Com cravos na boca dos fuzis, mas uma guerra assim mesmo.

Espero todas as mães, grávidas, feministas e simpatizantes à causa do livre aleitamento de Brasília por lá. E todos esses homens maravilhosos, cuja sexualidade é tão bem resolvida e o coração tão largo, que o único sentimento que experimentam ao presenciarem uma mãe dando o seio ao seu filho é uma inveja boa. Da mãe, não da criança.

Hora: 15:30h
Local: Parque Olhos D’água (Asa Norte) - concentração atrás da Administração do parque. Levar lanches e toalha para piquenique.

E aqui, a história que deu origem ao ato.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Pamãe e Mãpai

Ontem me esqueci de mencionar outras duas palavrinhas dignas de nota: pamãe e mãpai. Além de falar papai e mamãe normalmente (com variações: papêi, mamêi, papaish, mamãish), Emília vira e mexe solta esses híbridos. Como já faz tempo que ela fala isso, resolvi deixar registrado antes que ela canse. Ela ama o pamãe e a mãpai dela... (ou seriam a pamãe e o mãpai?).


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Imagino que seja normal da idade apontar pra figuras masculinas e dizer "papai" e apontar pra figuras femininas e dizer "mamãe". Às vezes eu explico: "é o menino", "é a moça", mas tem uma imagem em particular que eu não posso contestar: só podem ser mesmo o papai e a mamãe.


Lá em casa temos alguns pôsteres de filmes pendurados na parede. Um deles é do italiano Bianca, do Nanni Moretti.



Quem conhece o Rafael não me deixa mentir: não é a cara do Nanni Moretti barbudo?


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E logo acima desse tem um pôster de La Dolce Vita com o Marcello Mastroianni ao fundo fumando um cigarro. Esse, segundo Emília, é o "uôuô". Qual deles, não sei. Nenhum dos dois fuma, mas pelo visto Emília acha que são uns galãs.

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