terça-feira, 19 de março de 2013

O que toda gestante deveria saber sobre a translucência nucal

Quando as pessoas conhecem minhas escolhas sobre pré-natal e parto - fazer só os exames necessários, não saber o sexo do bebê, ter o parto em casa -, muita gente supõe que, digamos, não cuido da minha gestação. Depois que Margarida nasceu, uma prima minha perguntou se fizemos tudo sozinhos (sem assistência). Nesta gravidez, já me perguntaram se eu tomei ácido fólico, se faço ecografia... até se estou tendo algum acompanhamento pré-natal já me perguntaram. Não fico brava, não - até porque grávida de 3a viagem já aprendeu a não se irritar com essas coisas. Mas existe um estereótipo sobre quem sai do esquemão.

Sou daquelas bem certinhas, que vai ao GO antes mesmo de engravidar e faz um checkup geral para ver se está tudo certo. Antes de liberar, tomei meu ácido fólico. Demorei a ter um diagnóstico de gravidez porque, sinceramente, não faria diferença nenhuma. Eu estava com todos os meus exames em dia, tomava ácido fólico, me alimentava bem, não bebia, não usava drogas, não praticava fisiculturismo. Então, fui empurrando o Beta com a barriga, quase que literalmente.

Choca um pouco as pessoas que eu só faça uma ecografia, a morfológica do 2o trimestre (com 22, 24 semanas, por aí). Mas garanto a vocês que não vou matar meu bebê por causa disso (e minha GO também garante). Ecografia não previne malformação fetal. Incrível, não é mesmo?

Existem, de praxe, três ecografias que são recomendadas para mulheres com uma gestação normal: aquela primeira, pra identificar se a gestação é tópica (dentro do útero) e estimar a idade gestacional; a translucência nucal; e a morfológica do 2o trimestre. Caso haja alguma indicação (sangramento, crescimento anormal da altura uterina, pouca movimentação fetal, etc.), poderão ser indicadas outras ecografias.

Por que eu faço a morfológica do 2o trimestre? Nessa idade gestacional, já pode ser verificado se o bebê tem alguma condição que requeira um atendimento especial no nascimento (uma malformação cardíaca, por exemplo). Isso melhora os resultados perinatais.

Por que não faço aquela eco no comecinho? Porque confio na minha DUM. Contudo, se alguém tiver ciclo irregular ou medo de uma gestação ectópica, é bom fazer.

E por que não faço a translucência? Agora, sentem, que lá vem a história.

Na minha primeira gestação, a médica me explicou (corretamente) que esse exame estimava a probabilidade de o bebê ter alguma síndrome cromossômica, embora não seja conclusivo. Eu perguntei: "E se tiver, o que eu vou fazer?" Ela disse: "nada, mas é bom pra ir se preparando". Aceitei o argumento e fiz. Deu normal.

Ocorre que, o que eu não sabia, é que esse exame é muito mais limitado do que eu pensava. Conheço três amigas próximas que tiveram translucência muito alterada e bebês normais. E o bebê da secretária da minha obstetra teve transluência normal e nasceu Down.

Tá, mas e daí? Não é só fazer outro exame pra confirmar?

A única maneira definitiva de saber se o bebê tem alguma síndrome cromossômica é fazendo um exame que se chama biópsia de vilo, ou amniocentese. Uma agulha é inserida na cavidade do útero para coletar uma amostra de líquido amniótico, a partir da qual será feito o cariótipo do bebê. Normal é 46XX ou 46XY (23 pares).

Estima-se que a amniocentese tenha uma taxa de morbidade fetal de 1%. Após o exame, a mulher tem de ficar alguns dias de repouso pra diminuir as chances de perda fetal.

Mas como eu sou muito louca e podicrê... eu jamais me submeteria a esse risco.

E tem mais. Convênio não paga. O SUS faz, mas demora um mês. Que tal esperar um mês pra saber se seu bebê vai nascer vivo? E isso depois que o delicadíssimo médico da ultra te disse que ele tem 1% de chance de sobreviver?

Mas, claro, você pode pagar. Para resultados em 30 dias, custa X. Para resultados em 15 dias, custa 2X. Para resultado em uma semana, custa 10X. É um mercado, e ninguém se dá conta.

"Mas eu fiz a TN, deu tudo normal...." Glória, glória, a da Emília também. Mas a da minha amiga não deu. E ela passou maus bocados nos 12 dias em que esperou o resultado da biópsia. Não vou entrar em detalhes para não expor a intimidade dela, mas não recomendo isso pra ninguém. E ela é só uma das três que eu citei.

E não nos esqueçamos do acompanhamento que vamos receber. Os médicos têm extrema dificuldade para lidar com mulheres que carregam fetos malformados. Decida carregar e parir um e veja a cara do seu obstetra. O apoio emocional nessas horas é muito escasso, especialmente vindo dos médicos. 

Os gráficos de resultados da translucência nucal são alimentados com dados de um banco mundial. A maioria dos fetos que apresentam translucência até 2,5mm são normais. Passando disso, vai aumentando a incidência de síndromes. Mas se 95% dos bebês com translucência 4mm, digamos, têm uma síndrome, o que isso significa pra uma mulher que teve este resultado? Nada, a não ser que ela faça a biópsia.

O que eu recomendo às grávidas:

- que se informem sobre a translucência nucal, e vejam o que significam seus resultados;
- que se informem sobre a biópsia de vilo e avaliem se estariam dispostas a passar por ela caso tenham uma translucência alterada.
- que pensem no que fariam caso tivessem um bebê sindrômico. Se aborto não é uma opção pra você, aí eu recomendaria fortemente que sequer começasse esse tipo de investigação.

Eu diria: só faça a TN se 1) você estiver disposta a passar pela biópsia de vilo e 2) se você é daquelas que precisa saber, ou se jamais levaria adiante uma gestação com um feto malformado.

E é por isso que eu não faço. Repetindo: ecografia não previne - nem corrige - malformação. Ecografia também dá (muito) resultado equivocado. E, finalmente: não sei se fomos preparadas pra lidar com esse tipo de dor numa esfera tão abstrata. Uma coisa é você ter um filho morto nos braços; outra é você ter uma barriga linda, um bebê que se mexe e cujo coração bate, e receber a notícia de que ele não vai viver. E que não há nada pra fazer a respeito.

Acredito na liberdade de escolha, uma escolha esclarecida e informada. O direito de saber, mas também o direito de não saber. Especialmente porque, neste caso, saber não vai salvar o feto.

E acredito também no acolhimento à mulher e à sua dor. É muito mais fácil receber de um médico um conselho para ler e se informar sobre as sídromes, junto com o contato para a clínica de aborto, que uma palavra de consolo ou de esperança.

E, por fim: um pouco mais de amor na nossa assistência obstétrica.

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