quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A saga do berço

Nos idos de 1980, na cidade de Belo Horizonte, um casal esperava um menino. Para recebê-lo, desenharam e mandaram fazer uma mobília toda especial. Sucupira foi a madeira escolhida, muito popular na época. Das mãos do marceneiro saíram uma cômoda, uma prateleira e um lindo berço, todos enfeitados com corações vazados e com as bordas arredondadas, também inspiradas no desenho de um coração.

No berço dormiu aquele menino, e depois dele seus dois irmãos. Como o casal não teria mais filhos, passou a mobília para os sobrinhos. Ainda nos anos 80, o berço foi usado por mais dois meninos.

Mais de 15 anos se passaram desde a confecção dos móveis, quando nasceu mais um sobrinho, desta vez na cidade de Três Corações. E mais um menino teve seus sonhos embalados naquele berço.

Não tendo nascido mais nenhum bebê na família, os móveis foram guardados num galpão e ali ficaram por muitos anos.

Quase trinta anos depois, o segundo filho daquele casal esperaria também o seu bebê. O primeiro neto da família. Logo seus pais se lembraram do berço e lhe perguntaram se queria resgatá-lo. O filho, acompanhado da esposa, foi até o galpão de Três Corações visitar a mobília.

O jovem casal morava em Brasília, e para lá os móveis tiveram de ser levados. Duas semanas depois, eles chegariam ao seu novo lar. Mas, depois de tantos anos, precisavam de uma restauração. E para a restauração tudo foi enviado.

Enquanto isso, uma criança crescia no ventre daquela nova mãe. Uma menina. A primeira menina a dormir no berço onde haviam dormido seis meninos. O tempo passava, a menina crescia cada dia mais. E o berço permanecia na restauração.

Um dia, tudo chegou. A menina já estava enorme, mas prometia ficar na barriga por pelo menos mais um mês. Mas o pai, para a sua desilusão, viu que faltavam algumas peças. O berço não poderia ser montado.

Mais uma vez, o restaurador foi procurado. Disse que estava com as peças, mas ainda precisaria de uns dias para concluir o trabalho. Mamãe roeu as unhas. Papai ficou nervoso. A menina nada percebeu e continuou crescendo.

As outras coisas foram chegando – os lençois, as toalhas, as roupinhas. Mamãe foi arrumando o quarto com carinho. Lavou tudo, organizou as coisas nas gavetas. E, num canto do quarto, as peças que haviam chegado esperavam as outras para virarem berço.

Então descobriram que o restaurador havia perdido uma peça importante. Mamãe quis chorar, mas lembrou que aquela menina já tinha tudo o que ela precisava. E, sonhando com ela, tentou esquecer todos os problemas. Então inventou que aquele berço era mágico, e que por isso ele tinha mesmo de ser a última coisa a ficar pronta. Imaginou que aquelas madeiras recostadas à parede ganhariam vida assim que suas irmãs chegassem. Que, uma vez encaixadas, soltariam um monte de estrelinhas douradas. O berço seria animado, como o boneco Pinocchio. Falaria, cantaria, se moveria. Durante o dia, ninguém perceberia nada. Mas, à noite, quando todos estivessem dormindo, o berço vivo faria as suas artes e encheria de fantasias os sonhos daquela menininha.

6 comentários:

Denise disse...

Nossa que texto lindo, é um conto para ser guardado e com certeza será um dos preferidos da Emília e ela fará com que seja repetido mil vezes.
Na minha família também temos um berço por onde passaram várias gerações,todos os tios, primos, filhos dos primos... o berço tem 100 anos e atualmete o Ramiro (meu sobrinho lidinho) está com ele.

Respondendo tua pergunta, acantonamento é uma técnica pedagógica onde as crianças passam a noite na escola realizando atividades (uma hora elas dormem eu espero.

Bjs!

Magrela Amarela disse...

Lia.. assim não dá!!! Me faz chorar lendo seu post no meu trabalho!!! Desejo que a Emília venha logo para parte desse lindo conto de fadas.
Bjjjj

Carol disse...

ai que lindo!!! adorei vc conseguir ficar tranquila com esse assunto e transforma-lo num conto de fadas tao fofo!

beijos!

Lia disse...

Bom, Carol. Eu não diria exatamente que estou tranquila. Já estou bolando mil lugares alternativos pra Emília dormir, e já chorei um bocado. Mas fazer o quê? Tem coisa que tem que esperar mesmo, e o marido tá resolvendo. Enquanto isso vou me distraindo, montando conjuntinhos com as roupinhas lindas que minha irmã trouxe de NY.

Patricia disse...

Lia, a Mariana dormiu no carrinho por quase um mês. Até lá o berço chega, tenho certeza!
beijos

Camila Bandeira disse...

Ai, imagino que aflição a sua!!!!! Mas vai dar tudo certo, a Emília só precisa mesmo é do seu peito e seu colo. Cheirinho de mãe é o melhor sonífero e melhor lugar do mundo! Para mim é até hoje! Boa sorte! Beijos


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