Antes de Emília nascer, eu não sabia como seria. Não sabia como conciliaria profissão e maternidade mas, apesar do medo, meti as caras,
como escrevi naquela época.
Isso porque trabalho 40h semanais, num lugar longe de casa e longe de tudo. Por aqui praticamente não há restaurantes decentes, e sempre trouxe minha marmita para comer no refeitório. Mas como preparar comida todas as noites com um bebê em casa? Como descansar, se sem Emília eu já me cansava o suficiente só com minha rotina? E o tempo pra ela? E a amamentação? Como esvaziar os seios no trabalho?
Hoje, de volta ao trabalho, as coisas se acertaram milagrosamente, e nossa família está se adaptando com sofrimentos suportáveis.
Nossos dias têm sido assim:
Emília acorda por volta das 6h30, e com ela, todos nós. Se está bem, o marido fica com ela para eu me arrumar, de modes que eu dê o mamar o mais próximo possível do horário de sair. Se não, já dou o peito de uma vez. Depois, deixo ela no carrinho pra ela fazer tudo comigo: ir ao banheiro, escovar os dentes, me maquiar e me vestir. Não tomo café em casa pra não perder esses preciosos minutos com ela. Ali pelas 7h e pouco saio pro trabalho e deixo Flosinha com o pai. É o momento de eles dois se curtirem, pra depois saírem às 8h e pouco rumo à escolinha e ao trabalho.
Saio parecendo muambeira: uma sacola com minha marmita, outra com a bomba de leite e a bolsa com minhas coisas. Resolvi a questão da marmita da seguinte forma: aos sábados vem uma pessoa lá em casa pra fazer comida pra semana, e ela já deixa congeladas as porções pra eu trazer pro trabalho (até arroz a gente congela. Não é bom como arroz fresco, mas quebra o galho). Continuo almoçando aqui no refeitório, já que não compensa sair daqui do caixa prego, me meter na auto-estrada com um trânsito pesadíssimo pra chegar esbaforida na creche e passar meia hora com Emília, não almoçar direito e ainda ter de sair 1h mais tarde do trabalho – porque aí eu teria de tirar 2h de almoço. A própria psicóloga da creche achou melhor eu não ir, até porque seria mais uma separação.
Na falta da mamada ao meio dia, estou mandando dois potinhos de leite por dia (uns 100ml) pras tias oferecerem a Emília caso ela não coma algo equivalente a um mamão inteiro no lanche. Assim ela fica alegrinha e aguenta até as refeições principais (almoço e janta). Ordenho duas vezes na salinha de apoio à amamentação aqui do meu trabalho, que foi inaugurada durante a minha licença (Deus é bom!) e uso uma bomba elétrica. É mais rápido que tirar na mão e preserva meus tendões. Enquanto ordenho, fico assistindo DVDs no Looney Tunes na televisão da salinha.
Saio daqui 16h30, pego o leite no congelador e me mando pra escolinha. Quando me vê, Emília faz aquela cara de mamãe-me-tira-daqui-estão-me-torturando e se joga no primeiro dos peitos que aparecer na frente dela. Amamento lá mesmo e só então volto pra salinha pra conversar com as tias, perguntar como foi o dia e pegar as coisas dela (a essa altura, cheia de leite na pança, Emília está toda serelepe, rindo pra todo mundo). Daí volto mais muambeira que nunca, acrescentando às três bagagens da ida a bolsa de Emília, o bebê conforto (que o marido deixa de manhã) e a própria Emília. Ser mãe é virar um cabideiro ambulante.
Chegamos em casa ali pelas 17h e poucos. Coloco ela no carrinho pra esvaziar a bolsa dela, conferir as anotações na agenda, colocar a roupa suja no cesto, tomar uma água e ir ao banheiro. Depois brincamos, Emília mama mais um pouco, e brinca, e mama, e ultimamente tem capotado ali pelas 18h30. O pobre do marido chega, só dá tempo de ver Flóris mamando e dormindo (a creche é um sossega leão. Ela chega exausta). Nesse tempo, arrumo minha marmita pro dia seguinte e esterilizo a bomba de leite. Jantamos juntos, até ela acordar da soneca pro sono definitivo. Eu dou a massagem e o marido dá o banho. Ela adormece em torno de 20h e vamos nós dois pra cama logo em seguida, pra levantarmos renovados no outro dia.
E tem sido assim. O marido tem sofrido mais que eu, porque agora ele a vê muito menos (enquanto eu estava de licença, ele vinha almoçar em casa e lamber a cria). Além disso, ela parece ainda mais apegada a mim, e às vezes não quer ficar com ele. Mas assim vamos nos ajeitando, nos adaptando.
Agora deixa eu quebrar minha cuca pra bolar uma rotina pra quando eu tiver cinc... ops, três arrebentos.