domingo, 31 de janeiro de 2010

Relato de parto - Parte II

Segue a continuação do post de ontem. Amanhã tem a parte final.

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Chegamos à internação um pouco antes dos meus pais. A médica chegou em seguida. Preparamos a papelada e seguimos pro quarto, a médica, eu, Rafael e minha mãe. E fomos fazer o exame de toque. Em vez de 5, eu tinha 3cm de dilatação. “Internamos cedo”, ela disse. Mas preferiu não me mandar pra casa, esperando que dali pra frente o trabalho de parto começasse a andar. Deu uma cutucada no colo do útero pra ir descolando a bolsa e disse que eu podia até dormir se quisesse.

Ficamos lá até 12h esperando a médica voltar, tudo muito devagar. As contrações não aumentavam nem em freqüência, nem em intensidade. Eu sabia que quando ela voltasse não haveria grande progresso. E assim foi. 4cm. Mais uma cutucada na bolsa. Ela comentou que as coisas estavam lentas, mas que estavam caminhando. Perguntou se eu queria bola, cadeirinha, essas coisas. Eu disse que sim. Fiquei andando pelo corredor da maternidade e lá pelas 13h encontrei com uma enfermeira: “Você que está tentando parto normal, né? Já, já vou pro seu quarto pra fazermos uns exercícios”. Achei ótimo. Uma meia hora depois ela aparece no quarto com as coisas e um aparelho de som. “Agora sim, parece um quarto de parto normal”, ela disse. Mas antes que começássemos com os exercícios, a médica retornou. Eram 14h. Nem uma evolução, os mesmos 4cm. Então ela rompeu a bolsa. E foi aí que comecei a ficar com medo.

O líquido estava bem verde, com um cheiro forte. Mecônio. Ela olhou e não gostou. Eu não entendi nada – na hora esqueci que o líquido era pra ser incolor, com cheiro de água de coco. “E agora?”, perguntei. Agora, não tínhamos muito tempo. Se o trabalho de parto continuasse nesse ritmo, uma cesariana seria indicada. “Mas não dá pra fazer nada?”, perguntei? E nem me lembro se fui pro chão, pra bola, sei que comecei a chorar e dizer: “Eu não quero fazer cirurgia!”. E nisso o Rafael chorando junto, e minha mãe, e a pobre da enfermeira só olhando. Não sei se elas conversaram alguma coisa, só sei que a médica disse pra eu ficar fazendo os exercícios por algumas horas e depois ela retornaria para reavaliarmos a situação. Deixou a enfermeira encarregada de monitorar os batimentos cardíacos do bebê e a situação do líquido amniótico. As duas pareciam já se conhecer bem, e a médica disse saber que eu estava em excelentes mãos. E estava mesmo.

Aí começou meu trabalho de parto ativo, às 14h. A enfermeira foi um verdadeiro anjo. A primeira coisa que fez foi me pôr no chuveiro pra eu me acalmar. Eu dizia que não ia dar tempo, que meu parto não estava evoluindo. Ela dizia que tudo ia dar certo, que ainda estava cedo e que nós íamos progredir. Andou comigo não apenas pela maternidade, mas pela ala dos velhinhos, agachando comigo a cada contração e me ensinando onde eu devia fazer força. Andávamos, voltávamos pro quarto, usávamos a bola, a cadeirinha, íamos pro chuveiro. De vez em quando eu deitava de lado, sempre fazendo força. Mas a minha sensação é de que nada estava acontecendo, mesmo com as contrações ficando mais fortes.

Em certo momento, o líquido que saía piorou de aspecto. A enfermeira olhou com cara de preocupação e resolveu ligar pra médica. Voltou e disse: “Vamos continuar tentando; ainda temos um tempinho.” E ficamos a tarde inteira trabalhando pra Emília descer mais rápido. Ela perguntava: “Quer descansar um pouco?” Eu: “Vai atrasar o trabalho de parto? Então, não.” Eu: “pode empurrar mais?”. Ela: “se quiser...” E eu não parava de empurrar.

Enquanto isso, o líquido foi clareando, o que deixou enfermeira e médica menos preocupadas e nos deu algumas horas a mais. Quando a médica retornou no fim da tarde, eu tinha pouco mais de 7cm de dilatação. “Olha, suas contrações estão ótimas. Só que o canal está impedindo ela de descer. Ele está muito rígido.” Nessas alturas do campeonato eu já pensava: “Se tiver de fazer cesárea agora, pelo menos vou saber que tentei até o fim”. Mas ela propôs: “se você quiser realmente fazer o parto normal, sugiro uma analgesia”. Seria uma dose pequena, pra durar só uma hora e agir só sobre o relaxamento do canal. Topei na hora. Tudo pelo parto normal. “Você quer uma cadeira de rodas ou prefere ir andando até a sala de parto?” Andando, claro. Sala de parto. Nem acreditei. Pra mim, faltavam séculos pra eu chegar nesse estágio, mesmo já sendo quase 19h. “Com a analgesia, acho que esse canal amolece e ela nasce em 1h”. Uma hora. Meu Deus. Como fiquei feliz. E ouvi a médica dizer pra alguém: “Prepara a sala de PARTO NORMAL”. Ai, meu Deus. Foi bom demais. E lá fomos nós, andando, eu agachando a cada dois minutos na ala dos velhinhos, pingando sangue e líquido amniótico (e só não pingava cocô porque não tinha mais). E tive de pegar elevador, pensem! A enfermeira disse: “Capaz que essa menina nasce no caminho!” E eu: “Ôoooo ia ser ótimo.”

7 comentários:

Ana Paula - Journal de Béatrice disse...

Lia!!!
Estou acompanhando tuuuudoooo!! Nossa, seu relato me enche os olhos d'agua e como foi bom vc ter encontrado, num mundo onde reina as cesareas, uma enfermeria-anjo! Como apoio dela foi importante e fundamental para vc. Estou orgulhosa de vc tb, por vc ter ido firme e forte com a persitencia. Beijos, bejos!Lia!!!
Estou acompanhando tuuuudoooo!! Nossa, seu relato me enche os olhos d'agua e como foi bom vc ter encontrado, num mundo onde reina as cesareas, uma enfermeria-anjo! Como apoio dela foi importante e fundamental para vc. Estou orgulhosa de vc tb, por vc ter ido firme e forte com a persitencia. Beijos, bejos!

Fabiola disse...

Lia..

Vc foi uma guerreira!!!! parabéns mesmo!!!
Estou ansiosa pra ler o capítulo final...:)
Bjos!

Paloma Varón disse...

Hehehe, depois que passa, a gente sempre acha umas coisas para dar risada. Eu tô rindo de vc agachada e pingando na ala dos velhinhos. Mas é porque sei que deu tudo certo, que vc se esforçou (muito) e conseguiu o que tanto buscava.
Beijos

Tati Schiavini disse...

Puxa vida, que ansiedade saber que vai conseguir o PN, né. Infelizmente eu não consegui, mas fiquei imensamente feliz que o seu deu certo! Vi as novas fotos, liiiindas! Beijo, boa semana.

Cath disse...

Lia! Que trabalho hein!!! Mas pela satisfação que você conta dá para ver que valeu muito a pena e que você faria tudo de novo!
Admiro muito sua coragem!! (por favor não me critique_ mas eu tenho pavor de parto normal...)
Beijos para vocês!
PS: quero muito conhecer a Emília!!

marina guimarães disse...

lia, parabéns pela coragem e força! uma inspiração pra muitas mulheres que querem fazer parto normal, incluindo eu, mas só escutam histórias de traumas ou de várias cesareas "justificadas" ou não.
uma coisa q eu não entendo é porque os médicos furam a bolsa e não deixam ela estourar por conta própria. isso não poderia atrapalhar o processo de contrações e dilatação natural?

Barbara disse...

Que bom que vc achou essa enfermeira no hospital! E que bom que deu tudo certo.

Eu pessoalmente acho que depois de ver o meconio eu ia pedir a cesaria, de medo (mesmo sabendo que o medo nao eh um bom conselheiro).

Aqui no UK meconio nao eh indicacao de cesaria - se voce estivesse aqui provavelmente eles teriam seguido o procedimento de parto normal, como vc fez.

Estamos aqui esperando o resto do relato. Quero saber tambem se os exercicios de perineo funcionaram :)

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