quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Sobre o parto normal (e respondendo aos comentários...)

Depois da minha experiência de parto, posso fazer algumas considerações. A primeira é que o parto normal é uma conquista e um privilégio. Uma conquista porque depende da sua força de vontade e da sua preparação. Um privilégio porque depende também de vários outros fatores que estão fora do nosso controle.

A OMS recomenda em torno de 10% de partos cirúrgicos. Ou seja: em aproximadamente 10% dos casos, a cesariana de fato é indicada para o bem da mãe e/ou do bebê. E isso pode acontecer conosco mesmo que tenhamos tomado todos os cuidados para facilitar um parto vaginal. Além disso, dos 90% de partos que deveriam ser normais, alguns deles precisam de alguma intervenção para acontecer. A OMS lista as situações em que são indicadas indução do parto, ruptura da bolsa, episiotomia, analgesia e outros procedimentos. Nada disso deve ser feito como rotina, sabemos disso. Mas isso não significa que essas intervenções não possam e devam ser usadas em situações específicas.

Dizem que parto normal não é para todo mundo. Eu concordo, mas não porque ache que algumas mulheres sejam menos corajosas ou fortes do que outras. Não acho que quem faz cesariana por opção ou porque o médico disse que é a melhor alternativa seja fraca. Acho que o parto normal não é pra todo mundo porque às vezes simplesmente não dá. E o parto natural, sem intervenções, esse sim é um privilégio ainda maior.

Nunca achei que meu parto fosse ser super rápido. Mas também não imaginava que ia ser tão difícil. Com minha experiência, aprendi que é um presente conseguir o parto com o qual sonhamos. Porque não é fácil pra todo mundo.

Acredito que aquela enfermeira que me ajudou foi um anjo mandado por Deus para salvar o meu parto. No mais profundo do meu coração, eu queria muito que minha filha nascesse sem uma intervenção cirúrgica. Nem eu mesma sabia que queria isso tanto assim. Meu marido me disse: “Eu tentei te preparar para a possibilidade de ter de fazer uma cesárea. Mas pelo visto eu não consegui.” E por quê? Se você parar pra pensar, não é tão importante assim a forma como nossos filhos vêm ao mundo. Mas esse desejo pelo parto normal não é algo que se explica racionalmente.

Dou graças a Deus por ter conseguido o parto vaginal, mesmo com todas as intervenções que tiveram de ser feitas. Sei que podia ter sido muito diferente, e sei que pra muita gente é. Muitas mulheres que sonham com o parto normal são submetidas a uma cesariana. Algumas por uma filosofia infeliz que ainda rege grande parte do corpo médico em nosso país. Mas outras porque tinha de ser mesmo. Entendo e defendo a luta pelo “empoderamento” da mulher no pré-natal e no parto. Mas acredito que não temos todo esse poder, mesmo se quisermos. Como eu disse: o parto normal é uma conquista, mas também é um privilégio. É um milagre. E pela graça, pude fazer parte desse milagre.

+++

E sobre alguns dos comentários:

- Ana, é duro admitir, mas existe uma vantagem no fato de reinarem as cesáreas nos hospitais brasileiros: a estrutura para parto normal fica disponível exclusivamente pra você. A enfermeira que me ajudou não deveria trabalhar na terça à tarde. Quando soube que havia alguém tentando parto normal no hospital, resolveu ficar. Bola, cadeira, enfermeira, sala de parto: tudo só pra mim. Uma beleza. Aliás, adorei o hospital. Tirando algumas enfermeiras, auxiliares de enfermagem e pediatras que já chegam apertando seu peito pra ver seu colostro, achei muito bom o parto hospitalar. Comidinha gostosa (e veio tudo vegetariano pra mim), remedinhos nos horários certos, ajuda pra amamentar, serviço de quarto... uma tranquilidade pra uma recém-parida.

- Nina, o rompimento da bolsa é feito em alguns casos pra acelerar um trabalho de parto que está andando muito devagar e pra verificar as condições do líquido amniótico. Não tinha conversado sobre isso previamente com minha médica. Na próxima gestação, que pretendo acompanhar com ela, vou perguntar mais sobre o assunto.

- Jussara, a manobra de empurrar a barriga pra ajudar o bebê a sair, no meu caso, foi feita apenas no finzinho do parto e porque a Emília estava presa no canal. Já fazia uma meia hora que a cabeça dela estava visível e todos acreditavam que faltavam poucas contrações. Inclusive eu estava de cócoras, no chão, no momento em que a médica achava que ela sairia. Mas estava demorando tanto, e eu já estava quase perdendo a consciência, que chamaram alguém pra dar o empurrão. Eu não senti dor nenhuma, nem na hora e nem depois.

Quanto à eristoblastose fetal, vou fazer um post só pra falar sobre isso, ok?

- Cíntia, quanto à dor do parto. Acho sim que eu teria agüentado até o fim sem anestesia. Dizem que você esquece completamente da dor depois, né? No dia seguinte eu me lembrava muito bem, mas agora confesso que esqueci mesmo. Olhando pra trás, eu diria que a pior coisa do meu parto foi achar que minha filha não ia nascer nunca; a sensação de que todo o meu esforço era em vão e de que o TP não estava evoluindo. A dor durante o TP ativo é suportável e ajuda você a reconhecer o pico da contração, que é quando tem de fazer força. No final dói mais mesmo (na última meia hora de parto a anestesia já quase não fazia efeito). Mas, sei lá, é tanta informação... a dor é só mais uma coisa pra prestar atenção. Enfim: no próximo vou tentar sem anestesia de novo!

2 comentários:

Carol disse...

ótimo post!
te agradeco pelas dicas, sao importantíssimas e incentivadoras!!

beijao!

Cíntia disse...

Obrigada pela resposta Lia. Abraços!


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