segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O dia de uma profissional lactante

Antes de Emília nascer, eu não sabia como seria. Não sabia como conciliaria profissão e maternidade mas, apesar do medo, meti as caras, como escrevi naquela época.

Isso porque trabalho 40h semanais, num lugar longe de casa e longe de tudo. Por aqui praticamente não há restaurantes decentes, e sempre trouxe minha marmita para comer no refeitório. Mas como preparar comida todas as noites com um bebê em casa? Como descansar, se sem Emília eu já me cansava o suficiente só com minha rotina? E o tempo pra ela? E a amamentação? Como esvaziar os seios no trabalho?

Hoje, de volta ao trabalho, as coisas se acertaram milagrosamente, e nossa família está se adaptando com sofrimentos suportáveis.

Nossos dias têm sido assim:

Emília acorda por volta das 6h30, e com ela, todos nós. Se está bem, o marido fica com ela para eu me arrumar, de modes que eu dê o mamar o mais próximo possível do horário de sair. Se não, já dou o peito de uma vez. Depois, deixo ela no carrinho pra ela fazer tudo comigo: ir ao banheiro, escovar os dentes, me maquiar e me vestir. Não tomo café em casa pra não perder esses preciosos minutos com ela. Ali pelas 7h e pouco saio pro trabalho e deixo Flosinha com o pai. É o momento de eles dois se curtirem, pra depois saírem às 8h e pouco rumo à escolinha e ao trabalho.

Saio parecendo muambeira: uma sacola com minha marmita, outra com a bomba de leite e a bolsa com minhas coisas. Resolvi a questão da marmita da seguinte forma: aos sábados vem uma pessoa lá em casa pra fazer comida pra semana, e ela já deixa congeladas as porções pra eu trazer pro trabalho (até arroz a gente congela. Não é bom como arroz fresco, mas quebra o galho). Continuo almoçando aqui no refeitório, já que não compensa sair daqui do caixa prego, me meter na auto-estrada com um trânsito pesadíssimo pra chegar esbaforida na creche e passar meia hora com Emília, não almoçar direito e ainda ter de sair 1h mais tarde do trabalho – porque aí eu teria de tirar 2h de almoço. A própria psicóloga da creche achou melhor eu não ir, até porque seria mais uma separação.

Na falta da mamada ao meio dia, estou mandando dois potinhos de leite por dia (uns 100ml) pras tias oferecerem a Emília caso ela não coma algo equivalente a um mamão inteiro no lanche. Assim ela fica alegrinha e aguenta até as refeições principais (almoço e janta). Ordenho duas vezes na salinha de apoio à amamentação aqui do meu trabalho, que foi inaugurada durante a minha licença (Deus é bom!) e uso uma bomba elétrica. É mais rápido que tirar na mão e preserva meus tendões. Enquanto ordenho, fico assistindo DVDs no Looney Tunes na televisão da salinha.

Saio daqui 16h30, pego o leite no congelador e me mando pra escolinha. Quando me vê, Emília faz aquela cara de mamãe-me-tira-daqui-estão-me-torturando e se joga no primeiro dos peitos que aparecer na frente dela. Amamento lá mesmo e só então volto pra salinha pra conversar com as tias, perguntar como foi o dia e pegar as coisas dela (a essa altura, cheia de leite na pança, Emília está toda serelepe, rindo pra todo mundo). Daí volto mais muambeira que nunca, acrescentando às três bagagens da ida a bolsa de Emília, o bebê conforto (que o marido deixa de manhã) e a própria Emília. Ser mãe é virar um cabideiro ambulante.

Chegamos em casa ali pelas 17h e poucos. Coloco ela no carrinho pra esvaziar a bolsa dela, conferir as anotações na agenda, colocar a roupa suja no cesto, tomar uma água e ir ao banheiro. Depois brincamos, Emília mama mais um pouco, e brinca, e mama, e ultimamente tem capotado ali pelas 18h30. O pobre do marido chega, só dá tempo de ver Flóris mamando e dormindo (a creche é um sossega leão. Ela chega exausta). Nesse tempo, arrumo minha marmita pro dia seguinte e esterilizo a bomba de leite. Jantamos juntos, até ela acordar da soneca pro sono definitivo. Eu dou a massagem e o marido dá o banho. Ela adormece em torno de 20h e vamos nós dois pra cama logo em seguida, pra levantarmos renovados no outro dia.

E tem sido assim. O marido tem sofrido mais que eu, porque agora ele a vê muito menos (enquanto eu estava de licença, ele vinha almoçar em casa e lamber a cria). Além disso, ela parece ainda mais apegada a mim, e às vezes não quer ficar com ele. Mas assim vamos nos ajeitando, nos adaptando.

Agora deixa eu quebrar minha cuca pra bolar uma rotina pra quando eu tiver cinc... ops, três arrebentos.

17 comentários:

Natalia disse...

Nossa, Lia, que folego! E que bom que ta tudo se ajeitando. Eu to tentando prolongar minha licenca ao maximo, mas uma hora chega a hora... Sou visitante nova e gostei, viu!

ian.press comunicação disse...

Menina, cansei só de ler! Caramba heim. Mas acho que é isso mesmo. Vai se virando como pode e aos poucos as coisas vão parecendo mais e mais fáceis. Eu estou grávida (eeee) no final do primeiro trimestre. Tive uma perda em março mas nada como uma vida pra apagar as cicatrizes. E acho que minha rotina vai ser um pouco mais fácil por trabalhar por conta e em em casa. Parabéns pela volta ao trabalho!

Um beijão e boa sorte na rotina!

Maria Thereza Pinel disse...

Ufa! Rotina um tanto quanto cheia, e com certeza cansa... mas, imagino que só de saber que sairá do trabalho e passará o resto do dia com a Emília, já fica consolada e acha forças não sei de onde para ficar com ela!

Ano que vem serei eu nessa correria danada: faculdade, estágio e Lara. Espero me sair tão bem quanto você parece estar se saindo!

Aproveita muito que daqui a pouco ela cresce e vira uma moçinha linda e independente! =P

Bjo!

Lu Iank disse...

Oi Lia
ótimas notícias. Sempre lembro de vocês durante o dia e fico pensando na adaptação da vida pós licença-maternidade.
Agora, folego é você pensar em mais rebentos em breve. Ufa... corajosa.
Bjs
Lu

Paloma Varón disse...

Ufa, ser mãe e profissional caaaansa, eu bem sei.
Bom te ver animada (e ter recebido lindos sorrisos da Emília pós-mamada; felicidade em estado puro)!
Beijos

Sarah disse...

Que correria Lia! Por aqui também é assim, já que também trabalho fora e Bento fica na escolinha. O pai também fica menos com Bento agora, pois quando chega ele já está dormindo... Mas ainda bem que vc tem ajuda para as refeições!
Ah, adorei a frase "Ser mãe é virar um cabideiro ambulante" - é bem isso mesmo! kkkkk!
um beijo!

Nathália Martins disse...

Olá!
Nossa!!! São blogs como o seu, que me fazem pensar que a blogosfera é mesmo fascinante.
Amei todos os posts.
Tens uma princesinha muito linda.

Tenho uma princesa de 2 anos e 5 meses e estou grávida de outra princesinha (28 semanas). Tb tenho um blog...

Bom era isso, eu tinha que comentar... Amei o seu cantinho e já vou te linkar para não perder esses posts maravilhosos :)

Abçs.

Mamãe Nathi

Tathyana disse...

Loucura, loucura...mas it´s a real life pra muitas mulheres. E nessas horas eu agradeço por ter o meu consultório e ser autônoma, apesar de não ter estabilidade e ganhar menos do que mereço. E quem tem tudo???

Bjsss nas duas!!! E venham nos visitar.

Tati Schiavini disse...

Sei que a rotina é exaustiva, mas que bom que está dando certo. Aos poucos tudo fica mais fácil. Beijo.

Renata disse...

trêeeeeeeeeeeees??? corajosa vc! hehehe
Embora eu AME crianças, eu acho que dois é um número bom (um adulto pra cada criança, sabe?), acho que não arrisco o terceiro não.
Fico feliz em saber que a rotina tem funcionado bem por aí!
beijinhos

Raquel disse...

Nossa, Lia, que loucura! Me identifiquei muito com seu post.

Casei em março deste ano, não tenho filhos ainda (planos para 2 ou 3 anos), mas sempre fico pensando em como reduzir a minha carga horária, que também é de 40 horas, pra ficar mais em casa. Só que sou concursada, gosto do meu emprego. Cheguei até a pensar em fazer outro concurso, pra 6 horas diárias. Até tentei, na verdade - tudo pensando em como será quando os filhos vierem.

Só que ler seu post me deu um certo alívio, me mostrou que é possível criar uma rotina bacana e passar um tempo de qualidade com os filhos.
Ufa, rs!

Beijo, boa sorte!

Raquel Carneiro

Beta, a mãe disse...

Oi Lia, o trabalho com dois já aumenta consideravelmente, eu achava que não, mas quando Leo nasceu eu vi que sim mesmo, cada um tem um ritmo e quando você se dá por si não conseguiu fazer nada (olha que fico em casa com as crias), não consigo nem pensar como deve ser sufocante pra você, ainda mais em Brasilia onde tudo é longe (no meu ponto de vista) e muito longe é uma viagem. Sobre o cabideiro é verdade, e quanto menor a criança, maior a bagagem pelo menos isso melhorar com a idade. Espero que quando vierem os seus outros filhos você consiga continuar trabalhando fora, porque pra mim eu já fico cansada só de ler sobre sua rotina. Um beijo

Maria Thereza Pinel disse...

Oi! Hoje eu queria postar algo, mas como quero falar muitas coisas, resolvi ler blogs antes de postar e ter algum inspiração.

Sou um pouco nova por aqui, e resolvi então ler TODOS os posts do seu blog. Fiquei aqui durante horas, mas horas ganhas com certeza. Gostei muito e até me identifiquei muito com as suas experiências. E estou aqui, de novo hoje, só para te mandar meu e-mail. Não sei se você ainda tem o tal álbum no Picasa que vc fez pouco antes da Emília chegar, mas se tiver ainda gostaria muito de poder ver as fotos!
mtspinel@hotmail.com / liahpinel@gmail.com

obrigada!

Letícia Volponi disse...

Cara, aqui em casa era muito parecido, mas eu fazia o rango da semana no domingo e como o berçario era perto, ia amamentar na hora do almoço, o que economizava uma ordenha. Ela tb ficava mais apegada a mim, mas hoje em dia....

Ana disse...

Eita, cansei só de ler. Rs
Ela deve estar mais agarrada a vc pelo fato de não tê ver mais o dia todo.
E quando chegar no 3 acho que vc é que estará dormindo antes das 6. hehehe
Bjs!

ian.press comunicação disse...
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Micheli Ribas disse...

Que correria, hein? Mas que bom que tudo está se ajeitando.
Qto ao grude com a mãe e a recusa em ficar com o pai, aqui em casa é assim até hoje. Mas já me avisaram que daqui um tempinho ela vai passar pela fase que todas as meninas passam, de se apaixonar pelo pai. Até lá, ele se chateia, mas não tem escolha. Se quer a mãe, é a mãe e pronto. rs.
Beijos!


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