domingo, 22 de agosto de 2010

Do céu ao inferno

Foi bem rápido. Menos de duas semanas de volta ao trabalho e me sinto péssima. Tudo o que parecia tranqüilo tomou novos rumos, e de repente me vi soterrada de funções absolutamente alheias a tudo aquilo que sei fazer ou gosto de fazer. Já disse aqui que odeio administração? Pois odeio. Dêem-me papeis, muitos papeis, e não vou reclamar. Mas me mandem trabalhar com qualquer ferramenta de gestão e estejam certos de me trazerem noites sem sono, um estômago cheio de ácido e muitas lágrimas.

Parece uma bobagem, um sentimento precipitado e influenciado pelo fim da minha licença. Mas de repentina essa sensação não tem absolutamente nada. São quase cinco anos com o mesmo sentimento de inadequação, de estar sendo mal aproveitada, de desperdício de vocação. Tenho qualificações que pouquíssima gente onde eu trabalho tem, e que seriam extremamente úteis para a instituição da qual eu faço parte, mas me é simplesmente impossível colocar isso em prática. Cansei de insistir, e me conformei depois que engravidei com a feliz ideia de que passando sete meses afastada todos aqueles sentimentos desapareceriam.

Eu não entendia por que tinha tanto medo de voltar ao trabalho. Achava que era receio de abandonar minha filha, de que ela não ficasse bem. Mas era mais. Era medo de voltar a uma realidade que muito me fez sofrer, e que me rendeu um quadro de pré-depressão no final de 2008 . Sabe gato escaldado?

E desde a noite de quinta tenho dormido muitíssimo mal, e tenho chorado regularmente. É uma dor enorme, um desânimo, uma completa falta de coragem.

Muitos poderão me perguntar por que eu simplesmente não acabo com isso, e largo tudo. Ou por que não faço uma terapia (já fiz) e aprendo a conviver com essa realidade. Afinal, que capricho todo é esse de querer fazer o que gosta, e que sabe fazer muito bem?

O problema é que toda decisão exige muita prudência. Um emprego como o meu está cada vez mais difícil de conseguir e me garantirá um futuro bastante confortável. Mas vale a pena passar 30 anos infeliz pra depois se aposentar ganhando mais do que eu preciso?

O que me faz faltar a coragem para mudar de vida – e eu sei que posso, sei que tenho o talento para construir uma outra coisa totalmente diferente – é que o sofrimento é intermitente. Se fosse uma depressão daquelas, a gente emagrece, passa meses chorando, quer morrer, eu veria claramente que uma mudança de rumo seria urgente. Mas eu fico mal, fico bem, fico mal, fico bem. E agora vejo que não dá mais pra continuar vivendo nesse pisca-pisca. Tenho uma filha pra criar, e em breve terei outros. E tenho de estar inteira pra eles.

Tenho conversado muito com meu marido e tomamos algumas decisões. Tudo muito devagar, e vejo um fio de esperança. Mas ainda choro, e tenho medo.

22 comentários:

Anônimo disse...

Oi Lia!!!
Que barra hein, amiga?!
Deve estar difícil mesmo neh...

Não sei muito o que dizer, mas espero sinceramente que esse ciclo mude e que vc se sinta melhor para tomar as decisões que precisam ser tomadas!!!

Eu não sei no que vc trabalha, mas se está tão ruim e vc não está sendo recompensada, é preciso avaliar bem mesmo, porque não tem dinheiro no mundo que pague "viver bem".

E vc é capaz, certamente há ene coisas que vc pode fazer, outros trabalhos tão bons ou melhores...

Olha, de coração, muita boa sorte! E calma!
Isso tb vai passar e tudo vai ficar bem!!!

Beijocas
E um abração bem apertado!!!

Ju

Like a New Home Blog disse...

Lia, eu entendo perfeitamente o que vc esta passando. Tanto que esse sentimento de inadequação e disperdício de talento foram o que me fez mudar 3 vezes de emprego nos últimos 3 anos. Também me pergunto as vezes se isso não é bobagem, se é realmente um capricho estar infeliz por não estar fazendo o que realmente gosto e se não deveria "suck it up" e aguentar. Aí tentei e não deu, eu vi que mais $ não ia ser forte o bastante pro tamanho da insatisfação que eu sentia.
Faz 3 meses que eu larguei tudo e estou tentando começar um negócio próprio (que nao levantou voo ainda), mas ao mesmo tempo estou procurando novas oportunidades e pensando em fazer um curso... ufa...
Enfim, eu acho que estar realizada atrai mais e mais felicidade...
Fico na torcida aqui viu..
Bjo
Adri
www.myrelentlessmind.blogspot.com

Paloma Varón disse...

Ai, que difícil, já senti tanto isso. Aliás, a minha última crise profissional vc acompanhou. Bora largar tudo e abrir um negócio? E conseguir tempo de qualidade para ser mãe.
Beijos

Tathyana disse...

Ai Lia super complicado. O mal dos concursos públicos é bem esse: o depois. Nem sempre a função tem haver com a qualificação do profissional. Isso gera descontentamento, mesmo quando o salário é bom e tem estabilidade, depressão e abandono da carreira. Tome uma decisão por vcs e pela sua saúde. Bjssss

Ana disse...

Querida, espero que encontre logo a solução para o termino desse tormento.
Nunca achei que lutar por fazer o que gosta seja frescura.
Se conformar em fazer o que não gosta, mais ainda, o que faz mal, é se anular, é não se permitir ser feliz, fazer com satistfação e bem feito. Pq como vc mesma disse, fazer bem feito requer entrar de cabeça, sentir prazer em fazer.
Ouça seu coração e sintonize com a razão.
Beijos.

Barbara disse...

Eu acho que sei o que vc sente. Eh brabo mesmo, e talvez o pior de tudo seja que nao eh pessimo, eh ruim. Um ruim de comer sua vida aos pouquinhos, nao de estragar tudo de uma hora para a outra. Mas aos poucos voce e o marido vao bolar um bom plano, eu tenho certeza.
Barbara - www.baxt.net/blog

Tati Schiavini disse...

Olha, essa situação é complicada e requer muito tempo pra pensar, pois qualquer atitude precipitada pode ser ruim, seja qual atitude for.
Mas você tem um maridão, e nessa hora só ele pode te ajudar. E o carinho da fofucha também, sempre!
Beijos.

Fabiola disse...

Lia,
Conheço bem esse sentimento... estou no mesmo barco, mas não tenho coragem de sair, pq concurso hj em dia é complicado... tb me sinto mal aproveitada... mas ao invés de largar tudo, não tem jeito de mudar de setor?? Eu estou tentando.. para ver se dá uma mudada.. quem sabe..
Bjs e fique bem!

Joci disse...

Lia, eu tanto entendo o que tu quer dizer, que pelo fato de estar com esses sentimentos todos, acabei largando o meu emprego antes de engravidar, por que não queria passar a gravidez no estado que eu estava, sabia que depois ia querer ficar com minha filha, para só mais tarde voltar a trabalhar! Claro, conversei tudo direitinho com o meu marido, mas no fim deu tudo certo e fomos mais felizes assim, acredito eu. Claro que sinto falta do meu rico dinheirinho no final do mês, não é fácil depender do marido, mas foi uma escolha minha, nossa... de nós dois.

Pense com calma, e faça o que tu se sentir melhor, o que for melhor para vocês 3, e não se sinta culpada pela sua decisão, seja ela qual for... tudo vai dar certo, você vai ver!
seja feliz! no final das contas isso é o que importa, a felicidade!

beijos

Kah disse...

De gota em gota que o copo transborda, Lia.

Não é fácil largar tudo e se desapegar da estabilidade, às vezes não é nem a dificuldade e sim a impossibilidade eu sei.

E não é capricho querer fazer o que gosta, não é capricho querer viver a vida, oras!
Você está certa em estar triste e com medo, mas você já está conversando com o marido e essas pequenas decisões que importam!
Logo logo você vai encontrar uma saída para encaixar tudo perfeitamente!
(Uma amiga muito querida que largou emprego estável e tudo mais para virar nômade me disse uma coisa legal:
Que vida é essa que se passa mais tempo vendo pessoas desconhecidas do que convivendo com as pessoas queridas?)
Beijos e boa semana!

Flavia disse...

Tem um conto que li esses dias e que não sai da minha cabeça, que acho tem a ver com tudo isso que você está passando…

é mais ou menos assim:

"Enzo, um rico comerciante de Puerto Ayacucho, visita as comunidades indígenas do alto Orinoco e se horroriza quando vê a Orawë, indígena Yanomami deitado tranquilamente na rede mastigando tabaco.
- Por que você não sai pra pescar? – pergunta Enzo.
– Porque já pesquei suficiente para hoje – responde Orawë.
– E por que não pesca mais do que é suficiente para hoje? – insiste o comerciante.
– Par fazer o que com a pesca? – pergunta o indio.
– Pra ganhar mais dinheiro e poder colocar um motor na tua canoa. Então poderia ir mais longe no rio e pescar mais peixes. E assim, ganharia dinheiro suficiente para comprar una rede de nylon e com tudo isso você conseguiria mais peixes e mais dinheiro. E depois você poderia ganhar o suficiente para ter duas canoas e até dois motores e mais rápidos…
Então você será rico, como eu.
– E o que eu faria depois com tudo isso? – perguntou de novo o indio.
– Então você poderia sentar e desfrutar da vida. – respondeu o comerciante.
–E o que você acha que eu estou fazendo esse momento? – respondeu satisfeito o indio Orawë."


Fica bem queridona.


um beijo grande

Carol Garcia disse...

Oi Lia,
papo brabo...
eu tbm sinto que o meu trabalho duvida da minha capacidade.
e sei bem que isso não é nada bom.
e ainda, depois da licença maternidade, tem o choque de prioridades. agora vc tem algo que é mais importante que tudo na sua vida, o que faz as vírgulas serem mais pesadas e insuportáveis no trabalho.
pense com calma, analise as situações todas e tome as decisões sempre pensando no melhor pra vc e sua família.
tinha um tio que dizia: A vida acaba e o trabalho não acaba. quando vc morrer ou não servir mais, vão ter como substituir vc.
estou aqui na torcida, viu?
bjo bjo

Mãe do Pitoco disse...

Vamos dizer assim... temos muita coisa em comum, ou melhor, você agora está passando pelo o que passei há uns 5 anos atrás. Também me formei no que vc se formou. Tive oportunidades maravilhosas na área de formação, oportunidades que todo mundo queria, menos eu. Era só começar a fazer minhas funções que me vinha à cabeça: "putz, não é isso o que quero pra mim. E agora?". Daí eu pulei de galho em galho e arrumei um rombo no estômago e mais um milhão de remédios para ficar calminha. De nada adiantou. Fui parar em outra carreira, com outra função, que não tinha nada a ver com minha formação, muito menos comigo. Apenas porque queria um emprego. Não demorou muito para eu me sentir inadequada novamente. Saí de lá - um emprego público para concluir meu mestrado. O mestrado não me deu emprego melhor, mas abrandou minhas angústias e pude pensar no que realmente eu gosto de fazer. Hoje trabalho com o que gosto, em casa, administrando meu tempo e, apesar de ainda não ter minha casa própria, tenho certeza que foi a decisão mais acertada de minha vida. Enquanto estava grávida, tive a oportunidade de tomar posse num cargo em Brasília, ganharia super bem e, provavelmente, saberia muito de avião e nada da profissão que sigo agora, estaria com uma casa própria e estaria certa que Pitos estudaria na facul que quisesse, porém, esta família estaria fora do prumo, porque a mãe estaria fora do prumo. Pense nisso, e se quiser, trocamos mais informações. Porque acredito que a profissão que vc quer abraçar é a minha profissão. hehehe Beijos

Denise disse...

Nunca encontrei um relato igual ao que eu passo todos os dias. Parece que são minhas as tuas palavras.
Trabalhei 11anos em um lugar ótimo, fazendo exatamente o que gosto de fazer, com um bom salário e crescendo profissionalmente. Eis que retorno da licença maternidade e tcham,tcham,tcham...DEMITIDA...isso mesmo,meu mundo caiu. Filha com 6 meses, marido em um emprego meia boca e eu desempregada, pior, sem chão depois de 11anos.
A recolocação foi mais rápida do que imaginava, a final tenho um cv muito bom, mas aqui é péssimo, deprimente...mas me garante o "sustento". É como ir do céu ao inferno.
Tenho tentado muitas outras vagas, mas nada atinge nem perto do R$.
E aí o que fazer? Drama total, estou sendo medicada, já estive em crise, engordei 15 quilos além dos que não consegui perder após a gestação...
Então o óbvio é jogar tudo para o alto! Sim, essa deveria ser a decisão, mas não dá. O emprego meia boca do marido tá prestes a ir pras cucuias e tenho contas pra pagar.
As vezes me vejo desesperada, mas tento arranja forças não sei da onde e aqui estou.

Anônimo disse...

Lia, COMO eu me sensibilizo com as suas palavras.
Entendo sua frustração, querida.
Quando a hora chegar vc vai saber o que fazer. Deixa a inércia fazer do teu futuro o que ela bem quer, não. Mude se tiver que mudar.
you can do it, flor.
beijo beijo

Marina disse...

Nossa, quase peguei o telefone e te liguei pra gente chorar junta. Aí me lembrei que a gente nem se conhece. hehe...

Oh ceus...

Eu ando refletindo tanto sobre esses assuntos que meu marido disse ter descoberto só agora que se casou com uma comunista. Oh sistema cruel este em que vivemos.

Camila Bandeira disse...

Meu único conselho seria calma, muita calma nessa hora. Também fiquei muito mexida quando voltei a trabalhar, achando tudo péssimo e me questionando sobre várias coisas relacionadas à minha vida profissional. Deixa passar mais um mês para você ver se não está misturando um pouco a saudade da Emília e o final da licença com seja o que for no teu trabalho.

Lu Iank disse...

Lia
acredite que muito do que vc está sentindo agora, está sendo somatizado pelo término da licença maternidade. Eu não sou muito boa em dar conselhos e pior ainda nesse sentido porque sofri horrores na meu retorno da licença após o nascimento do Serginho, tanto que fiquei tão traumatizada que jurei nunca mais ter filho se não pudesse cuidar até ter um pouco mais de idade (talvez uns 30 anos seria bom!).
Por isso minha demora de 13 anos e meio em ser mãe novamente. E tenho certeza de que meu quadro de depressão iniciou nesse período e se estendeu por anos. Só melhorei depois de mais de 2 anos de medicação e muito acompanhamento e principalmente uma mudança no meu estilo de vida. Não é fácil abrir mão do salário, sim porque o que mais nos segura nesse momento é o dindim mesmo. E essa tem que ser uma decisão muito bem pensada e discutida entre vcs.
Mas acredite em mim, existe uma luz no fim do túnel. Pode demorar um pouco para aparecer, mas confie em Deus que logo ela vem.
bjs e um abraço bem forte.
Lu

Coisas de mãe disse...

você viu que as mães blogueiras estão super solidarias ne? Eu tambem! Eu achoq eu tem gehte que faz o que não gosta mas lida bem com isto. E tem gente que sofre, se não faz algo que estimule ou e prazer. Eu sou assim. Pelo jeito vc tambem. Pensa num plano B e vai atras!!

beijo Pati

http://coisasdemae.wordpress.com

Anônimo disse...

Espero que esta fase complicada passe logo...
Bj

Renata disse...

Lia querida, li esse post há um tempão, mas queria ter um tempinho pra comentar com calma. Eu passei por isso também...chorei horrores, me angustei demais, ganhei um princípio de síndrome do pânico de tanto nervoso, fiz contas, planejei, ponderei e tomei coragem pra largar tudo. Apertamos muuuuuuuuuuuito orçamento (ficamos só com o salário do maridão e aluguel pra pagar - sobrava pouquíssimo por mês para todo o resto), mas eu fiquei bem, fiquei tranquila e nossa vida só melhorou pois me tinha mais leve e feliz! Mas eu não tinha filhos ainda e acho que a decisão seria mais complicada pensando na criação de outra pessoinha. Claro que a decisão é complicada e deve ser muito bem conversada, mas não dá pra ficar assim tão infeliz...a gente passa muito tempo no trabalho, abre mão de muitas coisas, não pode ser num clima tão ruim, se sentindo tão inadequada, né não??
Não quero dar conselhos não, só queris mesmo contar que eu entendo o que vc está vivendo e sei o quanto essa decisão pode ser difícil. Até hoje não sei o que vou fazer da vida (porque quero voltar a trabalhar um dia, obviamente!) e isso aidna hoje me angustia, mas se é esse o revés, estou satisfeitíssima.
Boa sorte querida. Desejo que vc consiga clarear as suas idéias e tomar a melhor decisão pra família de vcs.
beijos, Re

Kelly Resende disse...

Lia, como te entendo!!! Sinto a mesma coisa com relação ao meu trabalho! Eu fiz o concurso dos meus sonhos, pra trabalhar onde eu achei que seria muito feliz, e foi uma grande decepção. Há uns 5, 6 anos que estou totalmente insatisfeita e só de pensar em voltar pra lá no proximo mes me dá uma agonia. E não posso sair por precisar do salário pra me sustentar. É dureza!!! Tomara q vc consiga sair dessa.
Beijos


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