“O primeiro motivo pelo qual eu não quis ninguém pra nos ajudar com os cuidados da Emília desde o início foi este: eu e o Rafael precisávamos conhecer a nossa filha.”
Foi o que eu disse no post anterior. Os outros motivos têm a ver com o fato de que a Emília é nossa responsabilidade. As pessoas podem e devem ajudar em situações específicas – ninguém é sozinho no mundo, por mais que eu às vezes ache isso –, mas não queríamos depender de ninguém ou delegar pra outros aquilo que é nossa função.
Vejo muita gente desesperada porque a babá ou a empregada se demitiram ou ficaram doentes. Tudo bem, é uma baita de uma enrascada você ter de trabalhar e não ter com quem deixar os filhos. Mas às vezes eu tenho a impressão que as pessoas não sabem mais limpar uma casa, não sabem mais cozinhar, não sabem mais passar uma peça de roupa, nem que seja só por uns dias. E aí, sem a “ajuda”, a casa cai. E a pior das situações é quando a pessoa não consegue mais cuidar do seu próprio filho sozinha.
Em relação aos parentes, sem dúvida eles são as melhores pessoas a quem nós podemos confiar nossos pequenos. E cuidam deles com todo o prazer. Mas, na minha concepção, mãe é mãe, pai é pai, avós são avós, tios são tios e por aí vai. Cada um tem a sua função. Penso que a parte realmente trabalhosa tem de ficar com os pais: acalmar o choro, colocar pra dormir, alimentar uma criança birrenta, disciplinar (ui! Essa é a pior). Os parentes recebem o privilégio de curtir a criança: brincar, dar colo, conversar, contar histórias (por isso dizem que filho bom é filho dos outros).
Quanto a ficarem com a criança para os pais poderem fazer coisas sozinhos, acredito que isso vai do momento de cada um. Em primeiro lugar, eu tomo cuidado pra não ser folgada. Meus pais não têm mais 20 anos e não têm energia pra ficar o dia inteiro em pé com uma criança de quase 6kg no colo em um dia de muito refluxo. Por mais santinha que seja, criança dá trabalho. Então eu procuro estar sempre por perto para essas horas mais difíceis.
Depois, cada mãe tem de sentir o momento ideal para ficar longe da criança. No início, eu achava a Emília muito grande e esperta. Nunca a vi como um serzinho frágil. Por conta disso, fui uma mãe relativamente desprendida. Eu deixava as pessoas ficarem com ela no colo enquanto comia ou até enquanto curtia um bate papo animado. E eu confiava em quem estava com ela, não ficava dizendo “pegue assim, não faça assim”. Enquanto ela estivesse feliz, a pessoa podia até segurar de cabeça pra baixo que eu não ligava.
Um dia fui à igreja com ela e ela quis mamar. Desci pro berçário e amamentei. Então uma tia querida (minha tia, não essas tias de escolinha) ofereceu: “Se quiser subir para ouvir a palavra, eu cuido dela”. A Emília estava dormindo e eu concordei. Passados uns 20 minutos, minha cunhada me chama porque a Emília está chorando desconsoladamente. Ela precisou de um bom tempo no meu colo pra se acalmar.
Uns dias depois, conversando com uma amiga no telefone (ela tem uma filha 5 meses mais velha que a Emília), ela me disse que é importante sempre estarmos à vista do bebê quando ele estiver num ambiente novo e com pessoas que ainda não são muito familiares. Percebi a besteira que eu tinha feito. Imagine o susto dela: acordar num lugar estranho, sem a mãe. Aí entendi que não basta que ela esteja com alguém em que eu confie. Ela precisa estar com alguém em que
ela confie, ela precisa de alguma coisa familiar para se sentir segura. Depois desse dia, nunca mais deixei ninguém com ela fora da minha vista, a não ser que seja alguém com quem ela já teve muito contato e que eu tenho certeza que ela reconhece.
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Atualmente eu ainda não me sinto confortável pra deixar a Emília com outras pessoas para, por exemplo, sair para jantar com o marido. Basicamente, eu ainda não me sinto confortável para ficar longe dela por mais de uma hora. O motivo é: aleitamento exclusivo. Verdade que ela está desenvolvendo um padrão de mamadas e que elas estão cada vez mais espaçadas. Mas também é verdade que às vezes, depois de adormecer às 20h30, ela acorda 22h querendo mamar mais. E não tem como eu adivinhar quando isso vai acontecer. Acontece também que ela desperta às 6h pra mamada matinal. E eu ainda não estou preparada pra ir dormir tarde depois de uma noitada, acordar estado zumbi pra alimentar minha filha e ficar sonolenta o dia inteiro enquanto cuido dela. Não acho justo com ela. Dava até pra chamar alguém pra cuidar dela entre as mamadas, enquanto eu durmo picadinho, mas acho que não vale a pena. Prefiro ir dormir cedo com ela e deixar programações noturnas para depois dos 6 meses.
E ainda tem um último motivo pelo qual eu não fico mais que uma centena de metros longe dela: vai que acontece uma calamidade, igual essas enchentes no Rio, e eu não consigo voltar pra casa? Vai que tem um acidente no meio do caminho e eu fico presa no trânsito, os peitos transbordando cá e florzinha chorando lá? Não gosto nem de pensar. Paranoias de mãe, mas assim é. (A primeira vez que meus pais viajaram juntos sem nós, deu overbooking no voo de volta e eles ficaram presos dois dias em Londres. Pense o desespero da minha mãe. Minha irmã chorando ao telefone: “Mamãe, tô com saudades, volta pra casa, pô favô.”)
Acredito que em breve chegará o momento de recorrer mais a outras pessoas para que eu e meu marido retomemos aos poucos nossa vida de antes. Mas essa vida de antes não vai voltar completamente. Graças a Deus! Porque o que temos agora é muito melhor! A paternidade e a maternidade mudam tudo, e não dá pra se iludir achando que vamos voltar aos tempos de faculdade, cair na balada, acordar meio-dia, essas coisas. E, quer saber? Pra mim isso faz pouquíssima falta. Sempre fui mais caseira, sempre preferi um happy hour tranquilo à barulheira de uma boite. E, mais ainda: sempre amei um dia no clube, um fim de semana nas cachoeiras, uma tarde no parque... programas super adequados para crianças!
(Momento confissão: sou ligeiramente anti-social. Só ligeiramente, tá? E às vezes eu era convidada pra trocentos eventos num mesmo fim de semana e ficava exausta. Às vezes, numa festinha, eu queria voltar cedo – detesto dormir pouco – e o anfitrião insistia: “Já?? Fica mais um pouquinho, a festa mal começou.” E aí eu brincava com o Rafael: “Amor, quando eu tiver filhos vou aproveitar pra sempre sair mais cedo. Tipo: ‘Desculpe, tenho de sair por causa do bebê’”.)
Acho que, em grande parte, eu cuido sozinha da Emília porque eu prefiro isso a outras coisas. Prefiro ficar com ela a ir no salão (também nunca fui de ir muito no salão). Prefiro dormir cedo e passar o dia seguinte descansada com ela a sair à noite com os amigos (e sem poder beber álcool, a graça diminui um bocado...). Estou num momento super família, e atualmente essa história de não ter vida própria me parece meio estranha... a minha vida própria inclui a maternidade. E que alegria maior você poder se dedicar integralmente àquilo que mais ama? Sei que tenho de ter atividades que não envolvam minha filha, porque se não, no dia em que ela não precisar mais de mim, me sentirei uma inútil. Mas cada coisa no seu tempo.
A única coisa tão importante para mim quanto minha filha é meu casamento. E é importante buscarmos momentos a sós. Mas ajuda demais quando o marido entra de cabeça e realmente age como pai. É uma coisa que fazemos juntos. Casamento também não é isso?
Daqui a três meses volto a trabalhar. Emília vai pra creche integral, alimentação incluída. Se vai dar certo, se terei de reavaliar minha vida profissional, só o tempo dirá. Mas isso já é assunto para outro post...