terça-feira, 12 de abril de 2011

A mãe que eu quero ser

Por falta de inspiração, não participei da blogagem coletiva que aconteceu semana passada sobre a maternidade possível. Mas depois de ler os posts, acabei me inspirando e rabiscando algumas reflexões.

Às vezes tenho a sensação de que esquecemos a quem temos de prestar contas. Ficamos tão aborrecidas com os comentários e palpites, com tantas opiniões diversas, que quando relatamos nossa real maneira de ser fica até parecendo rebeldia.

Só que a gente nunca deveria ter de dar satisfação a ninguém, em primeiro lugar. Porque não são os “outros” que temos de agradar. Até porque os “outros” são um grupo tão heterogêneo, tipo gregos e troianos, que é simplesmente impossível agir de forma a ser aprovada unanimemente.

Temos de pensar quem são os principais interessados na nossa maneira de maternar: sim, eles, os nossos filhos. É a eles que devemos prestar contas, a eles devemos agradar. Que fique claro que não estou falando de agrado no mau sentido, em querer fazer todas as vontades do filho independente de aquilo ser bom pra ele. Mas, sob o nosso julgamento imperfeito, temos a missão de fazer tudo aquilo que acreditamos ser melhor para nossos filhos, mesmo que nos dê mais trabalho.

Se nós errarmos querendo fazer o bem, com amor legítimo e responsabilidade, nossos filhos nos perdoarão. Nasci de uma cesárea sem explicação (apesar de minha mãe não ter escolhido), usei chupeta, e fui desmamada aos 9 meses (um recorde de aleitamento nos anos 80) porque minha mãe não queria mais acordar à noite. E eu, apesar de ter escolhido outros caminhos para minha filha, acho minha mãe simplesmente a melhor mãe do mundo. Por quê? Porque eu sei que ela me ama.

Se eu soubesse – e um filho sempre sabe – que ela me desmamou por egoísmo, seria muito mais difícil.

Agora, os outros... os outros não vão querer saber se a sua intenção foi das melhores. Os outros não perdoam, porque na relação de observação da vida alheia não há amor.

Eu diria que o principal componente para uma boa maternidade é a entrega. Não deveríamos ter filhos para sermos servidas por eles, para que eles nos amem, para que dêem sentido à nossa vida, para que nos adeqüemos aos modelos sociais ou para que eles cuidem de nós na velhice. Deveríamos ter filhos para amá-los. Ponto. Para servi-los, para estarmos à disposição deles enquanto precisarem, e para deixarmos que sigam seus próprios caminhos quando for a hora. E, sim, para voltarmos a ficar sozinhas um dia.

Eu sugeriria um exercício (inventado pelo meu pai, com adaptações): pense em tudo aquilo que VOCÊ acha certo no que diz respeito à sua atuação como mãe, sempre colocando o bem do seu filho em primeiro lugar. Escreva num caderno. Agora, obedeça ao caderno. Difícil? Impossível.

Não precisamos nos remoer de culpa quando errarmos. Mas a culpa, na medida certa, tem o papel de nos alertar de que algo está errado, e o melhor remédio pra ela é se arrepender, pedir desculpas e mudar de rumo (se tratar de uma situação contínua) ou tentar não repetir o erro (se for uma situação pontual). E reparar o dano feito, se isso for possível. E, finalmente, se lembrar de que nosso filho é o referencial pras nossas atitudes, e que é só dele que precisamos receber aprovação.

Seja a mãe que você pode ser. Mas sempre tentando ser a mãe que você quer ser.

19 comentários:

Carol Passuello disse...

É isso! O que nos mata é esse gap imenso entre o que podemos e o que somos, não é?
Vou te linkar!
Bjs

Anônimo disse...

e não é?
fico com o pé atrás em dizer que sou a melhor mãe que posso ser (ou melhor filha, melhor amiga, melhor pessoa) pois tenho uma enorme tendência em me acomodar naquilo que sou, e acabo não sendo algo um bocadinho melhor.
uia, ficou confuso, né?
sei lá, eu ando gostando de ler coisas que me espetam, acho que a fase-culpa acabou.
leio, me espeto, reflito, filtro e decido se topo ou não, ué.
sem neuras, sem culpas mas com muita vontade de ser melhor.

beijos!

Neda disse...

"Seja a mãe que você pode ser. Mas sempre tentando ser a mãe que você quer ser. "
Melhor impossível! hehehehe
Filhos nos fazem quer ser pessoas melhores.

Gleice disse...

Oi, agora eu fiquei na dúvida: quando é que uma mãe desmama por egoísmo?
Abraços.

Lia disse...

Oi, Gleice,
Nem sempre podemos saber ao certo a motivação das pessoas, então é complicado julgar. Mas amamentar exclusivamente exige abrir mão de muitas coisas: a gente não tem hora pra nada, não pode se ausentar da presença do bebê por mais que uma ou duas horas, não pode beber, não pode viajar com o marido, tem que acordar de madrugada... E optar pelo meu bem-estar em detrimento da saúde do meu filho (a não ser em situações extremas) é um ato de egoísmo. Tem gente que desmama pra poder tomar vinho, pra poder deixar o filho com os outros, e por aí vai. Veja a Adriane Galisteu, que com o filho de 2 meses já estava baladando por aí, toda lipada.
Seis meses (de aleitamento exclusivo) é um período muito curto, que passa voando, e é papel das mães estarem à disposição da cria durante essa primeira etapa da sua vida. Mesmo que seja pra ela mesma dar uma mamadeira, caso tenha tido problemas com o aleitamento. Bjos.

Roberta Lippi disse...

Arrebentou, Lia. Sabe que, com essa história do blog, às vezes me sinto pressionada, como se eu tivesse que dar satisfação aos outros. E é bem isso que você disse, temos que nos preocupar com o que é melhor para os nossos filhos e de acordo com os valores da nossa família. Sempre tentando melhorar e corrigir, claro.
E a Galisteu disse numa revista, quando o filho estava ainda com 4 meses, que ela foi pra Las Vegas ou sei lá onde pra dar uma descansada com o marido. Minha amiga que trabalha em TV falou que essas famosas todas param logo de amamentar pra poder tomar remédio pra emagrecer. Foda, né.
Ah, falei de você hoje no meu post, vai lá ver que orgulho de mim. Beijos, querida.

Juliana disse...

ÊÊÊ, minha musa inpiradora sempre!!!
Fez esse post pra mim é? Rsrsrsrs. Beijo na family.

Cíntia disse...

Quando a gente faz o melhor que podemos, dormimos com a consciência tranquila, e isso que importa. Bj

Paloma Varón disse...

Muito bom, Lia! Uma coisa chata que tenho notado na blogosfera atualmente (e que não notava quando comecei a blogar) é esta coisa de querer agradar aos leitores e, para isso, não emitir muita opinião, ou de querer provar que o seu tipo de maternagem ou maternidade é o melhor, entrando numa competição ilógica. E, com isso, às vezes a gente tem até vergonha de dizer o que realmente faz, o que pensa de verdade, porque isso pode ser considerado certinho demais, radical demais... E dá-lhe auto-censura! Quando, na verdade, o tipo de mãe que vc é ou quer ser só interessa aos seus filhos e sua família. Se a gente posta e debate sobre isto, é para aprender mais, crescer, compartilhar, ouvir e discutir nossos assuntos preferidos, não para provar que somos melhores ou para nos sentirmos as piores.
Beijos

Juliana disse...

Ih Lia, nem pensei sobre isso, isso só mostra como temos bom gosto, rsrsrs. E é uma linda frase esse título não é mesmo? Adorei o texto como adoro sempre tuas palavras, teu blog é sempre o primeiro a ser lido e com certeza o que mais me ensina e faz refletir, principalmente pela maneira muito gentil, coerente e educada com que tu coloca tuas opiniões. Continua aí inspirando todo mundo viu? Um grande beijo. Ah, estou com um palpite que vem um Viscondinho aí viu!

Tathyana disse...

Sabia que eu adoro os seus posts e aprendo bastante com eles? Porque vc sem querer querendo promove o debate e faz com as pessoas pensem um pouco mais além do questão acostumadas. Uma coisa que tenho tentado trazer todos os dias pra minha vida é um exercício que faço a partir da história de vida dos seus pacientes. O não julgar. Eu sei que é uma das coisas mais difíceis pra mim que sou extremamente crítica, mas como falei é um exercício diário. Eu percebo nas histórias de vida de ouço que as pessoas fazem somente aquilo que podem fazer e que muitas vezes comportamentos que eu não aprovo ou não faria são o que de melhor aquela pessoa pode oferecer a outra. Como vc citou a questão do desmamar por egoísmo. Eu vejo de outra maneira. Se a mãe desmama o filho porque ela quer fazer outra coisa ao invés de dar o seio é melhor ela ser honesta com ela e com o filho e desmamá-lo do que ficar se sentindo péssima e passar isso pra o bb. Então nesse momento esse comportamento é o que ela tem de melhor a fazer por eles dois. Na blogsfera nós sem querer querendo criamos uma cartilha de comportamentos. Que nos trás alívio em vários momentos por saber que outras pessoas pensam e agem como nós, mas que ao mesmo tempo nos trás desconforto por sentirmos a nossa individualidade ferida quando fazemos algo diferente. Afinal, o indivíduo se reconhece no outro, mas precisamos de espaço para exercer a nossa individualidade (ambíguo, né?). Mas isso é o custo de viver em sociedade, seja ela real ou virtual.
E sim, eu sempre falo: "sou a melhor mãe que eu posso ser", como uma tentativa de espantar a culpa.

Martha disse...

Lia.. a tempos q não comento aqui... E, infelizmente, tbm não consegui participar da blogagem coletiva, mas to lendo tudo.. bem aos poucos...
E to lendo principalmente pq tbm notei essa de ser politicamente correta e mãe ideal para padroes bloguisticos que não combinam comigo. Percebi isso quando me vi, me policiando sobre a opinião q eu ia dar no meu proprio blog.
Comentei sobre isso Lá na Ilana, do 1+1=2 (que fez um post otimo para a blogagem), que somos pessoas reais, com realidades diferentes. Simples assim.. cada um com suas necessidades e com suas soluções.
Nâo somos melhores nem piores!
Bjs

Mariana - viciados em colo disse...

Lia,
inspirado o seu post! sabe que tem várias coisas que leio/vejo e que me fazem pensar exatamente nesta expressão "a mãe que quero ser"... tem também os momentos que vejo coisas e penso "esta é a mãe que NÃO quero" - é claro que há julgamento contido neste pensamento.

tem muita coisa que quero e não consigo fazer, mas ter estes modelos é, pelo menos, um motivo de caminhar em direção ao ideal e refletir sobre nossas atitudes diárias.

"o principal componente para uma boa maternidade é a entrega" adorei!

beijoca

Gleice disse...

Obrigada Lia!
É duro quando a mãe pensa em parar de amamentar por conta dessas questões que você citou.
No começo amamentar, para mim, foi muito difícil. cheguei a procurar banco de leite e tudo mais e quase desisti de dar o peito.

Para mim o que mais matava era a exclusividade. Dar o leite a cada 3 horas mais ou menos.

Mas aí me disseram que passando o primeiro mês de vida do bebê, que as coisas melhorariam. E foi isso que aconteceu.

Hoje o meu bebê tem 5 meses e meio e eu já sinto saudades do momento só meu e dele. É claro que eu vou dar o peito até quando ele quiser, mas em bem menos quantidade.

Bjo.

Nathália Martins disse...

Post apoiadíssimo!
Tenho a certeza que estou sendo a melhor mãe que posso ser. Apesar de algumas pessoas tentarem me fazer acreditar no contrário.
Bjs*

Marusia disse...

Lia,
adorei o exercício que seu pai propôs!
Na blogagem, fiz não um, mas sete posts! Dois deles falam sobre os filhos como nosso referencial:
http://maeperfeita.wordpress.com/2011/04/08/perigo-de-ser-mae-perfeita-3-voce-combinou-com-os-russos/
http://maeperfeita.wordpress.com/2011/04/08/perigo-de-ser-mae-perfeita-6-cresca-e-apareca/
Bjs,
Marusia

Coisas de mãe disse...

Porque eu sei que ela me ama.

Amei este post.

beijo

Pati

Meu Fusquinha Rosa disse...

Lia,
Vim conhecer seu blog depois que li o comentário que vc deixou no mamaetaocupada a respeito dos comentarios em blogs alheios, porque penso parecido. E amei este post. Concordo com vc em gênero numero e grau! Fico feliz em saber que estou me dedicando com amor e fazendo o melhor que considero para os meus filhos, ainda que erre, me culpe, me arrependa, peça desculpas e etc. Bjs
Gi

Fabi Alvim disse...

Amei esse post!
Esse trecho em especial deu vontade de emoldurar e pendurar na parede da sala. Para me lembrar sempre! "Eu diria que o principal componente para uma boa maternidade é a entrega. Não deveríamos ter filhos para sermos servidas por eles, para que eles nos amem, para que dêem sentido à nossa vida, para que nos adeqüemos aos modelos sociais ou para que eles cuidem de nós na velhice. Deveríamos ter filhos para amá-los. Ponto. Para servi-los, para estarmos à disposição deles enquanto precisarem, e para deixarmos que sigam seus próprios caminhos quando for a hora. E, sim, para voltarmos a ficar sozinhas um dia."
Parabéns! Voltarei mais por aqui!
Beijos

Fabiana
http://2-ao-quadrado.blogspot.com


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