"Mais linda que a maior lindeza do mundo. Mais perfeita que a maior perfeição do mundo. Mais adorável do que o ser mais dócil que existe. Mais boazinha que um bebê anjo. Com vocês, Emília: o bebê santo."Escrevi
isso em 16 de janeiro de 2010, quando minha pequena Emília tinha apenas 4 dias. Os meses passaram, e ela continuou revelando sua personalidade doce. Sempre disse que ela não dava trabalho nenhum. E não dava mesmo. Ficar com ela, apesar de ser um dever, tomar tempo e energia, era a melhor tarefa do mundo.
Ela foi crescendo, e voltei ao trabalho. Com isso, vimos alterações no seu padrão de sono. Ela também começou a mostrar traços de sua personalidade forte e seu lado arteiro. No início deste ano, já perfeitamente capaz de se locomover sobre as duas pernas, começou a morder os coleguinhas da creche. Revelou seu lado possessivo, tanto se recusando a emprestar qualquer brinquedo quanto querendo o que estava nas mãos dos outros. Continuou uma criança deliciosa, mas sempre havia aquele "mas". Emília é muito doce, "mas" não gosta de ser contrariada. É um amor de criança, "mas" às vezes dá uma de difícil.
Nunca reclamei e sempre procurei não rotular minha filha. Sempre atribuí esses episódios de "desvio comportamental" à idade, ao fluxo natural do crescimento, à sua descoberta enquanto indivíduo.
Então eis-me aqui, hiper-grávida, com um bebê já bem pesado pressionando meu púbis, e sozinha com minha Emília sapeca. Algumas pessoas até me perguntaram se seria uma boa ideia eu ficar só com ela nas férias, já que minha gestação estaria muito avançada e a coisa prometia ser muito cansativa. Segui meu faro e assumi eu mesma minha responsabilidade, a filha que botei no mundo.
Nessas situações, muitas vezes a gente se diz: "Nossa, eu amo meu filho, mas duas semanas sozinha com ele está bom, né?". Pois eu descobri exatamente o contrário. É muito, mas muito mais fácil ficar com Emília no esquema dedicação total (com ajuda da família pra eu dar uma escapulida aqui e ali pra fazer ginástica) que no esquema mãe-profissional-em-tempo-integral.
Emília está cooperando como fazia quando era um recém-nascido. Exige atenção, claro - e não estou aqui pra isso? -, mas demonstra um grau de maturidade absurdo quando eu preciso fazer outra coisa que não brincar com ela.
Hoje de manhã resolvi fazer uma atividade diferente: tinta guache na varanda. Brincamos, nos melecamos, e fomos direto pro banho. Depois limpei a varanda, esfreguei as roupas sujas, tudo com ela ao meu lado. Quando todo o processo terminou, já passava do meio da manhã e eu precisava fazer o almoço. Ela queria brincar de "bão" (bolinha de sabão). Daí eu disse a ela que brincaríamos um pouquinho, e que depois mamãe tinha de fazer o almoço. Quando ela cansou das bolinhas, pegou um lego e foi brincar sentadinha no chão da sala. Fiz o almoço todinho enquanto ela me esperava.
Ontem o Rafael ficou preso numa reunião no trabalho e chegou super tarde. Ainda atrasei o banho da Emília pra ele poder vê-la um pouquinho. Ela esperou pacientemente, com muito sono. Tomou banho com ele, como de praxe, e fui fazer o resto do ritual: trocar roupa, escovar dentes, dar massagem e dar o mamá. Depois do mamá, ela continuou acordada, na caminha, virando de um lado para o outro enquanto eu cantava pra ela e fazia carinho nas costas. Quando o pai acabou o banho, assomou à porta do quarto e fez sinal perguntando se eu queria que ele a levasse pra rede. Chamei-o com a mão. Quando o viu, Emília foi logo abrindo os bracinhos e acenando: "Tchau, mamãe, tchau!". Ela ficou esse tempo todo segurando as pálpebras, esperando pelo pai.
E nem só comigo, nem só com o pai ela está um amor. Da última vez que deixei Emília com minha mãe para ir à ioga, ao agradecê-la, ela disse: "Nem precisa agradecer. É um prazer cuidar da Mimi."
O fato é que vejo nela, com um ano e meio, a mesma menina que me encantou nos seus primeiros dias de vida. E não acho que ela tenha mudado. Na sua essência, ela continua a mesma. Claro que o comportamento muda conforme as circunstâncias; mas a nossa visão também muda, dependendo da nossa disposição para entrar no coração das nossas crianças.
Agora, simplesmente acho minha filha adorável, sem "mas". Mais do que ela, meu olhar mudou.