sexta-feira, 6 de abril de 2012

Vida nova, vida velha

Vim aqui postar num feriado porque não consegui parar de pensar numa questão colocada pela Luiza neste post. Para quem não leu e está com preguiça de ler, resumo: como fica a vida social depois dos filhos? E os antigos amigos que não têm filhos? Como equilibrar a rotina da criança e nossos compromissos sociais?

Essa é uma questão que já me trouxe muita chateação desde que me tornei mãe. Não tanto porque eu sinta falta da minha vida de antes, do boteco, da cervejinha, do cinema, das noites viradas. Mas porque parece que nosso recolhimento às vezes incomoda quem continua nesse esquema - com filhos ou não, porque tem gente que tem filhos e continua vivendo a mesma vida. Muita gente preocupada com o fato de que não participamos das mesmas atividades que antes. Como se estivéssemos sozinhos no mundo. Como se o fato de não convivermos com a mesma frequência com os amigos de antes signifique que temos menos amigos. E como se a própria maternidade/paternidade não nos tivesse trazido vários outros relacionamentos riquíssimos.

Quando os colegas da faculdade ou do trabalho estão no barzinho, nós estamos dormindo ou ninando as meninas. Mas quando nós estamos no parque, no clube, no zoológico, aquela galera que baladou na sexta à noite está dormindo. Alguns fazem programas de dia, outros fazem à noite. Mas não sair à noite não significa ficar sem diversão. Muitíssimo pelo contrário.

Não estou dizendo que o parquinho é melhor que o showzinho. Mas houve o tempo do showzinho, que pra mim já passou - e certamente voltará quando as crianças forem mais independentes. E o tempo agora é outro. Agora somos do sol e dormimos com a lua e as estrelas.

Penso que não deveríamos falar em "vida social". Na verdade, isso pouco importa. É apenas um indicador pra dizer se você é pop ou loser. Mas o que importa é a comunhão, a convivência solidária e sincera com as outras pessoas. Não apenas um bate-papo vazio pra encher nossa agenda (que já está muito bem cheia com duas crianças). Quem sai mais, quem encontra mais pessoas durante a semana, não necessariamente está melhor acompanhado.

Para não falar mais, porque comigo o assunto nunca acaba, deixo um texto da Laura Gutman (tradução livre minha). É sobre o Natal, mas combina muito bem. E como Natal e Páscoa têm tudo a ver, fica a reflexão. Ele dá alternativas para continuarmos nos reunindo e mantendo a comunhão com as outras pessoas, sem desrespeitar nossos pequenos. Para quem não puder ler tudo, os grifos são meus.

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As festas de fim de ano
Laura Gutman

Perdidos no consumo de bens materiais, esquecemos que estamos relembrando o nascimento do Menino Jesus e a mensagem de amor que trazia consigo. Normalmente ficamos ansiosos para saber quem deu o quê, quem se esqueceu, quem presenteou a todos e se nossa família foi justa na divisão dos presentes. Também comemos exageradamente. Brindamos e bebemos mais que de costume. E vamos pra cama.

Se essa foi a realidade durante os últimos anos de festejos familiares, talvez possamos fazer pequenos movimentos que nos satisfaçam mais e que encham de sentido essas noites tão especiais. Talvez possamos retornar a uma certa intimidade, nos reunirmos com poucas pessoas e dar a cada um uma mensagem repleta de agradecimentos. E para as crianças, algo fora do comum, sonhado, imaginado e, na medida do possível, não muito caro. As crianças têm direito de receber uma linda carta escrita pelo Papai Noel parabenizando-as pelas suas virtudes, assinada com letra dourada. Alguém pode dar de presente um belo concerto de piano ou uma peça tocada em flauta doce. Podemos abrir os álbuns de família e ver fotos velhas durante horas, enquanto as crianças descobrem seus avós com cabelo, seus pais sendo crianças e namorados e namoradas que ficaram no esquecimento. Seria emocionante oferecer aos comensais dois minutos para fazerem um desejo em voz alta, comprometendo-se a trabalhar para que se torne realidade. E desde já, podemos fazer silêncio. Pensar. Meditar. Rezar. Colocar as mãos sobre o coração. Percebermos que estamos juntos. Contar às crianças algo relativo ao nascimento de cada um deles. Enfim, qualquer gesto amoroso, carregado de ilusão e respeito, que nos relembre de por que estamos juntos, é perfeito para um verdadeiro dia de festa compartilhada.

E se existem familiares que não estão dispostos a modificar as rotinas repetidas em anos anteriores? Sem problemas. Mas há algo que, sim, podemos fazer: revisar se o modo como nós, historicamente, comemoramos agora se encaixa em nossa realidade. Por exemplo: avaliemos se com bebês muito pequenos vale a pena estar longe de casa até altas horas da madrugada, ou se é saudável submeter bebês a barulho e música inadequados. Observemos se nossos filhos se sentem à vontade entre familiares que vêem apenas uma vez por ano. Registremos se estamos arrastando nossos cônjuges a círculos onde não são bem-vindos ou se sentem desconfortáveis. Examinemos se nosso desejo está alinhado, ou se estamos seguindo obrigações obsoletas, como, por exemplo, ir à casa de tal parte da família porque sempre foi assim e nunca ninguém questionou. Em todo caso, avaliemos se organizamos as festividades de fim de ano de acordo com nossa realidade familiar ou, ao contrário, com base em obrigações estabelecidas.

Sem dúvida nenhuma - se usurpamos o sentido profundo dessas reuniões - as crianças não demorarão em manifestar seu desconforto por meio de doenças, choros, ou simplesmente se comportando muito mal. Se for esse o caso, em vez de castigá-los, examinemos se arrastamos toda a nossa família a um lugar absurdo, justamente quando era o momento de nos encontrarmos com nós mesmos.

9 comentários:

Mari Mari disse...

Muito pertinente, Lia, gostei! Quando li o post da Luiza, achei que era uma discussao desnecessaria. Eu mesma acabei de afastando (e sendo afastada) de amigos que nao tinha filhos - mas eu encarei isso como parte do processo. imagina que sou solteiro e comeco a namorar um cara que gosta de futebol; comeco a ir no futebol com ele, e meusamigos, nao gostam de futebol. Vai rolar um afastamento, mas é porque os interesses comecam a conflitar. o mesmo acontece quando nascem os filhos. Pra nos, maes, importa é cuidar bem do bebe, porque a familia passa a ser o centro das atencoes. Enquanto para outros, a balada, a cerveja, a noitada - ou, mais simples, o cinema, o jantar no restaurante, as horas de bate papo aleatorio na casa de alguem - isso é mais importante (claro, desde que o conjuge esteja junto).
Pra mim, o mais dificil foi conseguir fazer programas com a minha irma, que sem perceber, nao entendia que nao dava pra manter o ritmo carregando um bebe; mas isso passou quando ela teve filho!
por outro lado, pessoas que querem tem filhos acabam se aproximando; mantendo a minha metafora, se eu passo a gostar de futebol, vou me alinhar com pessoas que gostam de futebol.
mas adorei a parte da Laura gutman. Como voce sabe, moramos longe da familia, e ano passado nao pudemos viajar pra encontra-los, mas muita gente nao entendeu. Passamos o reveillon em casa, sem fogos de artificio (mas esse ano eu nao dormi, hehe), e ficamos bem, criancas dormindo, mas as pessoas ficam com dó da gente. Mas se nos fizemos certas escolhas, nao é pra ter dó, certo?
Obrigada pelo post. mesmo.
(PS: mudei de blog: http://calmasouumaso.blogspot.com.br/)

Tathyana disse...

Lia, eu nunca fui cobrada diretamente por nenhum amiga de antes de engravidar pelo fato de não poder ir aos encontros da turma. Mas rolou um afastamento natural, óbvio e previsível. E elas não entendem muito bem a rotina de quem tem filhos. Marcam encontros na hora do almoço, no final da tarde que é a hora do jantar dos meus pequenos e é óbvio que eu não vou. Não que eu não queira mas não dá. Eu fui a primeira das minhas amigas a ter filho. Hoje uma amiga da faculdade está com um bb de um mês e quando ela nasceu rolou um burburinho no face das outras meninas querendo saber notícias, querendo visitar, cobrando porque ela não atendia ao celular. Eu dei um grito e mandei parar tudo. Falei, gente vcs são tem noção do que é o primeiro mês de vida do bb. Quando ela puder e quiser ela vai ligar pra gente. Eu vejo um egoísmo do outro lado, das pessoas que não tem filho não entendem. E vejo um egoísmo muito grande tmb de quem tem filho e quer ter a vida de antes. Bjs

Dany disse...

Lia, imagine eu que tive filho aos 2o anos! A maioria se afastou. Todas as minhas amigas estavam em outra. A pior parte foi quando eu resolvi pegar menos matérias na faculdade pra passar mais tempo com Caio. A maioria, inclusive parentes, me questionava: mas vc não vai se formar nunca? Aquilo doía, sabe? Só eu sei como foi difícil conciliar tudo. E, sim, doeu ver meus amigos se formando e eu "ficando pra trás", mas faria tudo de novo pelo meu filho.
As pessoas não têm a menor ideia de como um filho muda a vida.

Ana Barbosa disse...

Já me sinto "cobrada" pelo fato de ser evangelica e meus amigos de facul e de trabalho me cobram as vezes pra ir em barzinho, festa...
Já fui a muitas festa, boates, barzinho e curti bastante a vida, mas hoje minha vida é diferente, em todos os aspectos...
Depois que engravidei e com certeza quando o nenem nascer eu irei ficar ainda mais seletiva com minhas saidas, mas acho que isso faz parte do amadurecimento.
Imagina uma coroa numa boate quebrando tudo?!?!? É no minimo "diferente" e pra muitos inadequado...
Eu acredito que esse seja um processo natural, quando "envelhecemos" ficamos mais caseiros ou procuramos fazer programas mais familia... e se precisar sacrificar uma amizade pela minha familia assim eu farei.
Mas acho que os amigos de verdade sempre estarão por perto!

:)

Roberta Lippi disse...

Também penso como você em relação ao que é a vida social de quem tem filhos. Ela é diferente sim de quando éramos solteiros, mas quem disse que é pior? Eu aproveitei muito bem a minha fase de solteira e a de casada sem filhos, e não trocaria minha vida atual com as crianças por nada. Lógico que às vezes a gente gostaria de ter um final de semana mais livre, poder tomar umas a mais à noite sem se preocupar com o reloginho despertando às 6h30 no dia seguinte. Mas isso é tão normal quanto sonhar com uma casa cheia quando vc ainda não tem filhos, não é verdade?
Eu também amo meus programas diurnos com as meninas. Amo a bagunça que fazemos na cama no domingo de manhã, adoro tomar café na padaria com elas, gosto de chegar mais cedo nos restaurantes porque nunca estão lotados... E à noite vou dormir tranquilamente (e pregados). E rezando pra essa fase da vida delas passar bem devagar.
Beijos, querida!!

Tatiane Garcia disse...

Lia,
Encarar as mudanças da maternidade não é tarefa fácil pra ninguém! Eu curti mto minha vida de solteira, depois a de casada sem filhos e hoje com pimpolho no colo tudo mudou. Não sou de vida noturna, mas até a ida ao cinema com marido é difícil de rolar! (Pra falar a verdade, em quase 7 meses de baby, nunca mais fui ao cinema). Por isso eu sempre levanto a bandeira de filhos com planejamento. Tenho pavor de ver filhos não planejados ou de pais imaturos sofrendo por aí, porque os pais não conseguem se adaptar a vida nova de papel de cuidadores!
bjobjo!!!

Mari Mari disse...

Sabe o que é engraçado? antes de ter filhos, íamos muito ao cinema. Depois que eles vieram, e com a família distante, é um programa cada vez mais raro. Sabe o que é pior? Nem é tao legal quanto era antes! porque se voce vai e acerta o filme, acha o filme legal, ok. Mas se o filme nao era tao legal assim, rola uma sensação de ter perdido tempo... sei la. To ha tanto tempo grudada em filho que me sinto sem um braço quando nao os tenho...

Nine disse...

Muito bons os seus argumentos, e o texto da Laura Gutman também! Obrigada pela tradução! Por aqui, com dois filhos e morando longe da família não há como fazer programas noturnos. Então saímos durante o dia para os parques, praias, pracinhas, ou simplesmente curtimos nossa casa, nosso quintal. Encontrar amigos, de preferencia num almoço, em casa...A vida noturna fica restrita a fazer os filhos dormirem e termos um tempo para nós, os pais, que precisam se "socializar" também e sair do papel de progenitor. Mas vc tem razão quando diz que os demais se condoem mais a nossa situação...como se estivéssemos perdendo coisas importantes da vida (o que, eu me ergunto). E sabe, depois dos filhos tb reavaliamos as festas de final de ano, as viagens, prinipalmente depois do Pedro...percebemos que agora não temos que pensar de agradaremos esses ou aqueles, mas sim a nos mesmos, com isso desagradamos alguns, claro, impossível ser sincero e ser pop, hehehe.
Beijos,
Nine

Paloma Varón disse...

Alguém (já esqueci quem) postou ewste mesmo texto recentemente no FB e acho que faz todo o sentido. Confesso que estou sentindo falta de mais programas de adultos (cinema e shows, principalmnete) agora que a Cali vai fazer 2 anos. Mas eu amo a companhia delas nas viagens, adoro curtir o dia ao lado delas, tanto que minhas "noitadas" sempre acabam antes da meia-noite, hehehe. Sou uma pessoa diurna, que até vai ao bar à noite, quando pode, mas não perde um playgroup por nada (vou debaixo de chuva, literalmente)!
bEIJOS


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