terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Mãezinha é a tua!

Por conta da otite da Emília, acabei nem escrevendo sobre a Conferência da Rehuna. Uma pena, porque o evento foi lindo, repleto de momentos emocionantes – como o vídeo de um parto gemelar depois de uma cesárea que me arrancou boas lágrimas e as palavras cheias de doçura da parteira mais velha do Brasil, Marília Largura, numa mesa que discutia posições de parto. Depois da exposição de vários estudos e evidências científicas que provavam que a posição de cócoras é a que mais facilita a descida do bebê (maior abertura e mobilidade da pelve, melhor aproveitamento dos puxos e da força da gravidade), ela apenas recordou quem é a protagonista do parto: “A melhor posição para parir é aquela que a mulher escolher”. Simples assim. Lutemos pela humanização do nascimento com estudos e evidências científicas, mas sem esquecer que humanidade é igual a ternura.

Outro momento da Conferência que me deixou muito tocada foi uma mesa redonda que discutia a violência institucional. Tudo o que a gente já sabe sobre os maus tratos que as parturientes sofrem nos hospitais brasileiros, mas que vendo assim em pesquisas fica ainda mais chocante.

Os políticos e os jornais falam muito dos graves problemas da saúde pública no Brasil. Em relação à atenção à gestação e ao nascimento, fala-se mortalidade materna e neonatal, falta de vagas nos hospitais para internação, carência de equipamentos e medicação, dificuldade para o acesso a consultas pré-natais. Mas pouco se fala em mudar o tratamento dos profissionais de saúde para com as parturientes. E começa com o “mãezinha”. “Faz força, mãezinha!”; “Na hora de fazer não doeu, né, mãezinha?”; “Não grita, mãezinha, senão seu filho vai nascer surdo.”

A mãezinha é um ser frágil, vulnerável, uma perfeita vítima para os médicos todo-poderosos. Sobre a mãezinha eles jogam todos os seus complexos, toda a sua insegurança, toda a sua síndrome do pequeno poder. Agredindo alguém mais fraco, eles se sentem fortes e poderosos. Deitando a mulher de barriga pra cima, cortando seu períneo ou sua barriga, eles sentem que são eles que estão “fazendo o parto”. Quando na maioria das vezes eles seriam perfeitamente dispensáveis.

Mas a violência institucional não recai apenas sobre as parturientes. São idosos, pessoas debilitadas por doenças graves e as nossas crianças.

E foi me levantando contra isso que denunciei ao CRM a médica que errou o diagnóstico da minha filha. E aproveitei para levar a reclamação à ouvidoria do hospital, acrescentando uma crítica ao tratamento de “mãe”, “mãezinha”, “pai” e “paizinho” que recebemos desde o atendimento até os consultórios dos médicos.

Não tem mãezinha nenhuma aqui. Tem uma mulher que se fortaleceu com o processo da maternidade e que virou bicho. E bicho brabo.

17 comentários:

Camila disse...

Boa! Adorei! Nada mais irritante do que essa história de "mãe" pra cá e prá lá. Isso é estritamente reservado aos nossos filhos, certo??
Bjos,
Camila
www.mamaetaocupada.blogspot.com

Ana disse...

Me irrita isso tb.
Sou mãe só do meu filho.
Tenho nome e identidade pô!
Beijos!

Naiara Krauspenhar disse...

Ótima!
Também odeio quando me chamam de mãezinha.
Mãezinha é o baralho!!!!!

Mariana disse...

Toda vez que me chamam de mãezinha eu devolvo, com um ar bem intolerante: "Desculpe, acho que não me apresentei: meu nome é Mariana e você pode me chamar assim, pelo nome".
Todas elas, sem exceção, me olham com cara feia. Há um tempo eu escrevi um mini post no meu blog sobre isso:

http://marieguga.blogspot.com/2010/07/mae-de-quem.html

Beijo grande,

Mariana

Camila Bandeira disse...

Odeio quando me chamam de mãezinha!!!

Nós, os Cebola disse...

Lia, dia desses Cebolinha teve uma febre e o levei a um AMA - é, eu não tenho plano de saúde, já imaginou o pânico? - e a médica mal o examinou e disse que era bronquite - oi? - sinusite - hein? - e que os ouvidos estavam "ruinzinhos".
Fiquei chocada e culpada de ter deixado a situação chegar a tal ponto, afinal sou bem cuidadosa com ele e disse "os ouvidos estão infeccionados ou só inflamados?" e ouvi um árido "É o-ti-te, mãezinha".
Resignei-me com medo de ela passar mais remédio do que já tinha passado, meu instinto materno gritando... comentei apenas "nossa, mas sou cuidadosa, agasalho bem meu filho" querendo dizer que não o deixo no relento e ouvi um grossíssimo "Também, né, mãe, fica vestindo o menino de esquimó, claro que com qualquer friagem vai pegar pneumonia... o pulmão dele tá cheio"... e foi anotando na receita a palavrinha "BE-Rô-TÉ-QUI...".
Como assim, berotec? Meu filho tava gripadinho, sabe? Febrinha baixa, levei na pediatra só pra não ficar com a pulga atrás da orelha. Os 1os. dentinhos demoraram a nascer - ele tá com 10 meses e meio - e estão judiando dele agora.
...

Enfim, acho que isso merece um post.
Vou escrever lá que é melhor do que escrever um comentário gigante que vai dar até preguiça de ler, risos.

Só pra vc não ficar preocupada, deu tudo certo. "Xêbola" tá super bem e eram só os dentinhos e uma gripe besta, como meu superinstinto de supermãe [hahaha, só faltou a música heróica de fundo]e eu já desconfiávamos.

ps: vou pensar seriamente em reclamar dessa médica; a mãe-leoa que existe em mim ficou inspirada agora.

Paloma Varón disse...

Muito bom abordar por este aspecto. O atendimento às parturientes é péssimo. E, como vc disse, o médico não aguenta ficar esperando, ele acha que tem de intervir - quase sempre de modo prejudicial à mulher. E depois vêm os pediatras, com o mesmo papinho, para nos empurrarem (e aos nossos filhos) goela abaixo LA, remedinhos "inofensivos" e um monte de porcaria. Se a gente não aprender a se impor a a dizer não, isso vai continuar igualzinho. Porque humanização não é só ser chamada pelo nome, é ser tratada com dignidade, é ser ouvida e respeitada.
[Vc acredita que ainda tenho textos sobre a conferência para postar e não consegui me organizar? Tá tudo no rascunho.]
Beijos

Neda disse...

Perfeito!
Odeio quando me chamam de mãezinha! Na verdade não gosto muito do diminutivo em geral, que usam e abusam com as podebres parturientes. Pior de tudo é piada na sala de parto! Um desrespeito sem tamanho.
bjs

Dani Balan disse...

Lia, também já fui chamada de mãe, por médicos, enfermeiras e atendentes do plano de saúde. Quando me tratam assim, devolvo na mesma moeda. Chamo o médico de médico, a enfermeira de enfermeira e atendente de atendente. Falo na cara dura: puxa atendente, mas o médico não está demorando para vir? Ou: sim, enfermeira, monitorei a febre e não passou dos 38. Ou: então, pediatra, ela já fez cocô mole umas três vezes. Aliás, aqui está a fralda com o último cocô, que é para o senhor ver a consistência do negócio.
(Sim, Lia, é tudo caso real...)
Ótimo esse post!
Beijo, filha!
Dani

Roberta Lippi disse...

Ui, gostei. Realmente essa história de nos chamarem de "mãezinha" irrita profundamente. Parece que somos idiotas e não sabemos de absolutamente nada. Luísa passou por uma pediatra que era assim. Me chamava de mãe, assim genericamente na linha mãe é tudo igual. Puta m#%¨&, custa a mulher anotar meu nome na ficha da criança e me chamar por ele? Ela também chamava a babá de "bá" quando ia junto. Eu tinha ódio mortal. Já não estou mais com ela, óbvio.
Beijos

Malu Allen disse...

Tá certa, Lia, é isso aí!
Vibrei com tua denúncia, acho que se todos fizessem sua parte, não estaríamos nessa situação tão sofrida da saúde.

Também odeio ser chamada de 'mãe' ou de 'mãezinha' e sempre me vem a seguinte pergunta: se meu obstetra sabe o nome do meu filho, por que o pediatra dele não sabe o meu?

Um beijão!
Malu
http://moderninhaultrapassada.blogspot.com/

Tassia & Ryan disse...

Ai Lia, como eu amo seus posts!
Já trabalhei em hospital maternidade no Brasil e, pelo menos as situações que eu vi, eles sempre se preocupavam com o bem estar da equipe médica antes de se preocupar com a parturiente. Estavam sempre mais preocupados com a bom andamento do "sistema".

Aqui nos EUA também é assim, mas num grau mais leve. Pelo menos você escolhe a própria equipe médica, e você pode escolher um hospital com a fama de ser humanizado ou não (eu escolhi humanizado).

É tão bom ver que tem gente aqui na blogsphera que apoia o parto normal. Quando eu toco nesse assunto no meu blog todo mundo vem com a história de que "ah, talvez você não consiga parto normal, eu queria mas não deu, não tive dilatação..." Nada contra, mas é muito desencorajador sabe? Parece que você tem que remar contra a maré pra conseguir fazer uma coisa que é tão natural.

E é verdade, eles vêm com essa história de mãezinha pra cima da gente. Mas a gente sabe que de "mãezinha" a gente não tem nada. Nos conta como terminou a história da médica que você denunciou.
Beijos,
Tassia

sissi disse...

aplauso prá voce! eu também acho falta de ética ficarem dizendo maezinha, e principalmente palpitando no parto enquanto deveriam humanizar! voce fez muito bem denunciar ao CRM! creio que não devemos deixar passar os erros para não acontecer coisas mais graves! um abraço Sissi

Anônimo disse...

A-D-O-R-E-I!!! Nem me fale!!!! Eu odeio esse negócio de 'mãe' e 'mãezinha' é pior ainda! "HELLOW, NÃO SOU SUA MÃE NÃO! SE LIGA!". Tenho nome, RG, CPF e sou mãe do meu filho, apenas!

Barbara disse...

Poxa, sou so eu que nao me incomodo com esse negocio de "mae"? Bom, na verdade isso aqui nao eh comum, mas ja aconteceu de a enfermeira nao saber meu nome e me chamar de "mummy" e eu nao achei nada demais. Mas entendo quem fica puta (adorei a tecnica de chamar de "enfermeira" ou de "pediatra" de volta!)

E so uma coisa: desde que pari, mudei minha opiniao sobre episiotomia. Esse papo de "deixar rasgar naturalmente" eh muito bonito mas uma episiotomia teria me poupado varios aborrecimentos - so que so fui descobrir isso meses depois do parto. E ai fico me perguntando o por que dessa demonizacao da episio...

Barbara - www.baxt.net/blog

Kah disse...

Quando estávamos conhecendo pediatras para escolher um, já descartava de cara os que me chamavam de mãe.
Teve um que foi cômico:
- Blablablabla, Mãe.
- Aham, Filho!
Ele ficou com a cara no chão! Foi ótimo, logo perguntou nosso nome e anotou. Mas já era tarde...
Beijão!

Avassaladora disse...

Lia,
adorei! Tambem detesto o 'mãezinha", sou pessoa e sou leoa quando o assunto são meus filhos!!!!


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