quinta-feira, 31 de maio de 2012

Desmame - o processo

Como desmamar uma criança? Eis uma pergunta que muitas mães se fazem.

Amamentar é um processo de fusão, uma etapa (que deveria ser) natural após o parto. Desmamar é um processo de desfusão, uma etapa que, apesar de ser natural, é repleta de crises. Para mim, a separação sempre pareceu mais difícil que o encontro. O parto, mais difícil que a concepção. A volta ao trabalho, mais difícil que a permanência em casa com o bebê. A introdução de alimentos, mais difícil que o aleitamento exclusivo. Apesar disso, todas essas fases podem ser maravilhosas, se vivenciadas no tempo certo e com o devido apoio. E mesmo quando muito difíceis, nos trabalham, nos amadurecem. A nós e aos nossos filhos.

Falarei sobre o desmame de uma criança que já foi amamentada por todo o tempo recomendado pela OMS e pelo Ministério da saúde: dois anos. Uma criança que já não é mais um bebê, que já está pronta para, gradativamente, conquistar sua autonomia e se fazer um indivíduo separado da mãe. Uma criança que fala e entende melhor o que está acontecendo. Uma criança que já tem o sistema imunológico mais forte, está menos vulnerável a doenças graves e, portanto, menos dependente dos anticorpos e do calor materno para vencer vírus e infecções. Uma criança menos dependente do seio para se manter hidratada durante enfermidades e mais resistente à perda de peso que normalmente acontece nessas situações. Uma criança que poderia viver sem leite se não tivéssemos domesticado a vaca e não morreria se a Nestlé não existisse.

Se pensarmos no desmame como um processo de diminuição gradativa da ingestão de leite materno até a completa desvinculação do seio, poderíamos dizer que ele começa aos seis meses, com a transição alimentar. A criança vai, paulatinamente, comendo mais e mamando menos - até que, com um ano, é esperado que a alimentação sólida represente a parte principal da sua alimentação, tendo o seio virado um (importantíssimo) complemento.

E aqui entra a nossa experiência.

Entre um e dois anos, não houve muita evolução no processo de desmame da Emília. Talvez porque ela tivesse chegado a um ano de vida mamando apenas três vezes ao dia (já que eu trabalhava o dia inteiro). Nessa mesma época, engravidei novamente e meu leite diminuiu muito (quase acabou no segundo trimestre, antes de ser substituído pelo colostro). Assim, ela passou a comer muito, mas continuava mamando. Houve uma época em que ela passou a mamar apenas duas vezes, mas aos 18 meses voltou às três vezes.

Depois que Margarida nasceu, veio muito leite, o que trouxe uma regressão ao processo. Emília chegava a mamar quatro vezes ao dia, e comecei a perceber que o excesso de leite estava atrapalhando a alimentação dela. Ela parou, por exemplo, de tomar café da manhã. Então começamos a coisa pra valer.
 
Vou retornar um pouco no tempo e começar com a primeira etapa do nosso desmame. Eis o nosso passo-a-passo:

1a etapa: desmame noturno

Com um ano de idade, o pai assumiu as noites. Emília mamava a madrugada inteira naquela época, eu tinha acabado de engravidar e estava naquela fase de sono mortal. Precisava dormir. Conversamos com ela (e essa é a parte boa de lidar com crianças maiores) e explicamos que ela não mamaria mais à noite, que o pai ficaria com ela, dormiria com ela se fosse o caso. Depois de umas três noites, ela parou de chorar. Depois de duas semanas, ela dormia a noite toda.

2a etapa: o fim da livre demanda

Depois que Margarida nasceu e a farra do leite bagunçou meu coreto, decidi estabelecer horários para as mamadas. Emília mamaria apenas três vezes ao dia (aquela quarta vez que estava vindo de brinde acabou), e sempre depois das refeições. Sempre tem um estressezinho, viu? Mas em alguns dias (ou poucas semanas) ela se acostuma e não pede mais.

3a etapa: o corte das mamadas

Depois que fechamos nessas três mamadas, foi a hora de diminuir. E aí entra a sabedoria materna: não existe uma fórmula sobre qual a mamada é melhor tirar: se a matinal, a vespertina ou a noturna. A gente tem de avaliar qual é aquela que está mais chata, que está atrapalhando mais a rotina, ou qual é aquela de que a criança abrirá mão com mais facilidade. Aqui, diferentemente da maioria dos lares, a que sobrou foi a vespertina. Normalmente as crianças ficam com a da noite.

4a etapa: pulando dias

Nem comentei ainda, mas o mote clássico do desmame natural é: não negue, mas não ofereça. Meu desmame não está sendo totalmente natural, estou guiando minha filha nessa separação. Mas poderia ser. É uma opção da mãe.

Mas, voltando. Como parei de oferecer, se Emília não pedia, não mamava. Ela começou a associar a mamada vespertina ao soninho da tarde. Então, se ela dormia sem o peito (na creche, ou no carro), quando acordava não pedia. E eu não oferecia. Assim, começamos a pular uns dias.

A primeira vez que ela passou um período mais longo sem mamar foi quando fiquei internada com Margarida. Foram três dias. E esta história eu ainda não contei aqui, mas é linda:

Quando saímos da UTI e fomos pro quarto do hospital, Emília finalmente pôde nos visitar. Passamos uma tarde deliciosa, até a hora de ela ir embora. Ela me agarrou e começou a chorar, desesperada porque eu não voltaria pra casa com ela. Então ofereci: "Emilinha, você quer só um pouquinho de mamá?". Ela fez que sim com a cabeça, se aninhou no meu colo e mamou 5 minutinhos de um peito murcho, murcho, que Margarida vinha secando. Depois me deu um beijo e se despediu numa tranquilidade celestial. Saiu pelo corredor do hospital meio grogue de ocitocina, repetindo, feliz: "A mamãe deu o mamá pá Emília! A mamãe deu o mamá pá Emília".

Desde então, ela fica em média dois dias sem mamar por semana. Normalmente, quando dorme na escola. Como pedi que não a colocassem mais pra dormir, já que isso bagunça toda a nossa rotina em casa, disse a Emília que agora ela não mamará mais nos fins de semana e feriados. Isso porque o pai está aqui e fica mais tranquilo colocá-la pra dormir sem o peito. Assim que ela estiver bem treinadinha a cochilar sem o peito, vamos pulando mais e mais dias. Tenho uma meta (que não é rigorosa) de desmamá-la totalmente nas férias de julho. 

Essa tem sido a nossa experiência. Cada família terá a sua. Mas o que sempre deve estar presente neste e em qualquer processo de separação é a paciência, a espera pela hora certa, muito afeto e muita conversa.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Terrible ou hilarious twos?

Tudo depende do ponto de vista.


Emília mandona

O pai chegou à creche para buscar Emília, o estacionamento estava lotado. Então ele parou em uma vaga paralela, com uma cerca viva ao lado que mal permitia abrir a porta do passageiro. Emília chega ao carro e reclama:

- Pur tê você palô ati?
- Porque o estacionamento estava cheio, Emilinha.
- Tá não, olha lá, tem dois - e aponta para o monte de vagas que surgiram depois que o pai chegou. - Da póxima vez você pála lá, tá bom? Purtê ati fita muito apertado pá Emília subir.


Emília mandona 2

Ela chega da escola, estou com Margarida no colo, fazendo inalação.

- Eu telo a mamãe.  
- Quando eu terminar a inalação eu fico com você, ok?
- Não! O papai faz a inanação na Mardalida, você fita tom a Emília.


Emília EMO

Fomos levar Margarida ao pediatra e esquecemos o lanche da Emília. Então falei que se ela tivesse fome, na volta poderíamos comprar uma salada de frutas na lanchonete ao lado. Saindo do consultório, ela pediu a salada. Morremos 5 contos na lanchonete e sentamos na mesinha:

- Não telo a salada. Telo pão.

Não comprei pão, disse que se ela estivesse com fome, que comesse a salada. E começou a choradeira, que durou até já estarmos todos no carro.

- Eu telo pão!! Aaaaaahhhh!! Telo pão!!! - funga, funga.

Para distraí-la, comecei a cantar uma música que ela adora:

- Boi, boi, boi, boi da cara rosa, pega essa menina que é muito carinhosa...

Silêncio.

- Canta, Emilinha!

- Não, eu tô cholando.



Emília aparecida

Estavam aqui minha irmã e minha prima, aquela farra na cozinha. Alguém estava brincando com uma bola de plástico, que foi bater em cheio na testa de Emília. Todos caíram na gargalhada.

- Todo mundo riu! Todo mundo riu!

Então entregou a bola pra tia e pediu pra repetir a dose:

- Adola todo mundo vai rir de novo, té vê?

E, óbvio, todos riem.

- Todo mundo achou daça! (graça)


Emília enrolona

Taí, esta eu acho que é a marca dos dois anos: a enrolação. Impressionante como essas crianças são especialistas na arte de embromar. E Emília, sagaz, descobriu exatamente quais as coisas que nunca negamos, para pedir estrategicamente quando não quer dormir, ir embora ou parar de fazer o que está fazendo.

Hora de sair da casa da vovó?

- Tô tom fome. Telo almoçá.

Nas primeiras vezes, eu procurava algo pra ela comer, morrendo de medo de a menina passar fome. Trou-xa!

Não quer dormir?

- Telo fazê xixi.

E lá vou eu levá-la pro vaso. Passa um, passam dois, três minutos. E parece que a menina tá desfraldando agora, porque nada de xixi. Tiro do vaso, vou levá-la novamente pra cama.

- Telo fazê xixi.

Na terceira vez, quando percebo que ela está quase dormindo no vaso, a gênia aqui percebe a estratégia.

E a última, quando quer ser carregada no colo:

- Minha pernas tá doendo. 


Emília independente

Com essas repetidas crises respiratórias de Margarida, nós ficamos muito cansados e convocamos os amigos e familiares para fazerem programações com Emília. Ela tem adorado.

Ontem, foi a uma festinha de aniversário com um casal de amigos que tem uma filha alguns meses mais nova que Emília.

Quando chegou, perguntei:

- E aí, Emilinha? Como foi a festa?
- Foi malavilhosa!

sexta-feira, 18 de maio de 2012

To blog or not to blog

Eis a questão.

Enquanto estou aqui, eu poderia estar: dormindo, lendo, arrumando a casa, cuidando das plantas. Essas são as coisas que faço enquanto as meninas dormem. Mas é só sentar para dar uma zapeada nos blogs das amigas, fazer um comentário aqui e ali, começar a esboçar um post, que já se foi um tempo danado. Então decidi que o tempo gasto diante deste computador será exclusivamente para espairecer, quando eu precisar, digamos, de um coffe break. E comer um bolinho com chá enquanto leio ou escrevo cai muito bem.

Ou seja: um tempo restrito, esporádico, que combina totalmente com minha infrequência por aqui nos últimos tempos.

Estava reparando que, em 2009, fiz 115 postagens - isso porque comecei o blog em junho. Uma média de 16-17 postagens por mês. Em 2010, foram 171 - pouco mais de 14 por mês. Em 2011, 101 - e a média caiu pra 8. Este é o 23o post do ano, o que me leva para uma média de 5 postagens por mês. E qual a grande diferença entre cada um desses anos? Acertou quem disse: filhas. E também quem disse: licença maternidade (e licença eternidade). Porque, convenhamos: quando a gente passa 8h por dia num escritório, e ainda tem de almoçar por lá, quem não dá uma escapadela pra blogar? Já em casa, a chefia é mais rigorosa... e o trabalho, inesgotável.

Então, deixa eu voltar pro batente que Margarida teve bronquiolite outra vez (sim, é o terceiro episódio e estamos de fato diante de um bebê chiador). E a gente se vê quando Deus der bom tempo.

domingo, 6 de maio de 2012

Comeu e dormiu

Ela tem quase oito meses, quase oito dentes, quase dez quilos e quase duas internações. Depois de quarenta dias, Margarida contraiu sua segunda bronquiolite. Não se sabe se ela é um bebê "chiador", um bebê hiperalérgico ou se simplesmente foi uma coincidência ter pego essa doença duas vezes num espaço tão curto de tempo. O vírus está à solta. Na UTI pediátrica do hospital onde ela ficou internada mês passado, os quatro leitos estão ocupados com quatro bronquiolites. Todos bebês de menos de um ano que têm irmãozinhos mais velhos pra trazerem vírus pra casa.

Mas graças a Deus desta vez ela foi tratada em casa e já está de alta dos remédios, tomando só um fitoterápico pra terminar de secar o catarro.

Apesar de extremamente cansativa - seis, sete inalações por dia, broncodilatador de 4 em 4h, inclusive de madrugada, soro no nariz de hora em hora, fisioterapia em casa e três consultas no pediatra em uma semana -, essa bronquilite foi muito mais tranquila que a primeira, porque estávamos em casa. Parto domiciliar é tudo de bom. Doença domiciliar só não é tudo de bom porque é doença, mas é certamente bem melhor que no hospital.

Da outra vez, além de eu ter dormido necas no hospital, Margarida passou a semana seguinte à internação acordando de madrugada aos berros, em pânico. Estresse pós-traumático. Foi muita aromaterapia, música instrumental, passeios ao ar livre e, principalmente, colo, pra fazer as coisas voltarem ao normal.

Desta vez, uma semana após o diagnóstico ela já estava dormindo a noite toda. Os primeiros dias da doença são difíceis, porque ela chegava a passar uma hora tossindo sem parar em plena madrugada. Mas à medida que o catarro foi secando, ela começou a dormir melhor. Como eu também estava resfriada, e muito cansada com os cuidados do dia, o Rafael ficou por conta à noite. E sem mamar à noite, tcha-nam! Desmame noturno. Pelo menos por enquanto.

Funcionou com Emília, está funcionando com Margarida: quando não tem peito à noite, o interesse em acordar diminui. E há três noites ela dorme direto de 18h às 6h. Nas duas primeiras noites ela acordou às 21h30 pra mamar (era a hora em que dávamos o broncodilatador). Mas ontem foi direto, totalizando inéditas 12h de jejum. Comemoremos, até que venham os pré-molares.

E hoje aconteceu mais um milagre: ela comeu. Pelo visto minhas filhas não são muito chegadas nos alimentos sólidos. Já estava quase escrevendo um post "Mi niña no me come", ou melhor, mi niña sólo me come a mi, a mim e aos meus peitos. Mas hoje Margarida comeu impressionantes três colheres, talvez quatro, de milho com cenoura. Também não comeu mais nada o dia inteiro, mas, né? Quase um banquete.

Nem cheguei a falar sobre como anda a introdução de alimentos de Margarida, mas é isso, não anda. Ela bebe muito bem, água e chá. Suco, nem tanto. Mas hoje creio que as portas foram abertas, e devagar e sempre chegaremos lá.

Sarou, comeu e dormiu. Precisa de mais?

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