Como desmamar uma criança? Eis uma pergunta que muitas mães se fazem.
Amamentar é um processo de fusão, uma etapa (que deveria ser) natural após o parto. Desmamar é um processo de desfusão, uma etapa que, apesar de ser natural, é repleta de crises. Para mim, a separação sempre pareceu mais difícil que o encontro. O parto, mais difícil que a concepção. A volta ao trabalho, mais difícil que a permanência em casa com o bebê. A introdução de alimentos, mais difícil que o aleitamento exclusivo. Apesar disso, todas essas fases podem ser maravilhosas, se vivenciadas no tempo certo e com o devido apoio. E mesmo quando muito difíceis, nos trabalham, nos amadurecem. A nós e aos nossos filhos.
Falarei sobre o desmame de uma criança que já foi amamentada por todo o tempo recomendado pela OMS e pelo Ministério da saúde: dois anos. Uma criança que já não é mais um bebê, que já está pronta para, gradativamente, conquistar sua autonomia e se fazer um indivíduo separado da mãe. Uma criança que fala e entende melhor o que está acontecendo. Uma criança que já tem o sistema imunológico mais forte, está menos vulnerável a doenças graves e, portanto, menos dependente dos anticorpos e do calor materno para vencer vírus e infecções. Uma criança menos dependente do seio para se manter hidratada durante enfermidades e mais resistente à perda de peso que normalmente acontece nessas situações. Uma criança que poderia viver sem leite se não tivéssemos domesticado a vaca e não morreria se a Nestlé não existisse.
Se pensarmos no desmame como um processo de diminuição gradativa da ingestão de leite materno até a completa desvinculação do seio, poderíamos dizer que ele começa aos seis meses, com a transição alimentar. A criança vai, paulatinamente, comendo mais e mamando menos - até que, com um ano, é esperado que a alimentação sólida represente a parte principal da sua alimentação, tendo o seio virado um (importantíssimo) complemento.
E aqui entra a nossa experiência.
Entre um e dois anos, não houve muita evolução no processo de desmame da Emília. Talvez porque ela tivesse chegado a um ano de vida mamando apenas três vezes ao dia (já que eu trabalhava o dia inteiro). Nessa mesma época, engravidei novamente e meu leite diminuiu muito (quase acabou no segundo trimestre, antes de ser substituído pelo colostro). Assim, ela passou a comer muito, mas continuava mamando. Houve uma época em que ela passou a mamar apenas duas vezes, mas aos 18 meses voltou às três vezes.
Depois que Margarida nasceu, veio muito leite, o que trouxe uma regressão ao processo. Emília chegava a mamar quatro vezes ao dia, e comecei a perceber que o excesso de leite estava atrapalhando a alimentação dela. Ela parou, por exemplo, de tomar café da manhã. Então começamos a coisa pra valer.
Vou retornar um pouco no tempo e começar com a primeira etapa do nosso desmame. Eis o nosso passo-a-passo:
1a etapa: desmame noturno
Com um ano de idade, o pai assumiu as noites. Emília mamava a madrugada inteira naquela época, eu tinha acabado de engravidar e estava naquela fase de sono mortal. Precisava dormir. Conversamos com ela (e essa é a parte boa de lidar com crianças maiores) e explicamos que ela não mamaria mais à noite, que o pai ficaria com ela, dormiria com ela se fosse o caso. Depois de umas três noites, ela parou de chorar. Depois de duas semanas, ela dormia a noite toda.
2a etapa: o fim da livre demanda
Depois que Margarida nasceu e a farra do leite bagunçou meu coreto, decidi estabelecer horários para as mamadas. Emília mamaria apenas três vezes ao dia (aquela quarta vez que estava vindo de brinde acabou), e sempre depois das refeições. Sempre tem um estressezinho, viu? Mas em alguns dias (ou poucas semanas) ela se acostuma e não pede mais.
3a etapa: o corte das mamadas
Depois que fechamos nessas três mamadas, foi a hora de diminuir. E aí entra a sabedoria materna: não existe uma fórmula sobre qual a mamada é melhor tirar: se a matinal, a vespertina ou a noturna. A gente tem de avaliar qual é aquela que está mais chata, que está atrapalhando mais a rotina, ou qual é aquela de que a criança abrirá mão com mais facilidade. Aqui, diferentemente da maioria dos lares, a que sobrou foi a vespertina. Normalmente as crianças ficam com a da noite.
4a etapa: pulando dias
Nem comentei ainda, mas o mote clássico do desmame natural é: não negue, mas não ofereça. Meu desmame não está sendo totalmente natural, estou guiando minha filha nessa separação. Mas poderia ser. É uma opção da mãe.
Mas, voltando. Como parei de oferecer, se Emília não pedia, não mamava. Ela começou a associar a mamada vespertina ao soninho da tarde. Então, se ela dormia sem o peito (na creche, ou no carro), quando acordava não pedia. E eu não oferecia. Assim, começamos a pular uns dias.
A primeira vez que ela passou um período mais longo sem mamar foi quando fiquei internada com Margarida. Foram três dias. E esta história eu ainda não contei aqui, mas é linda:
Quando saímos da UTI e fomos pro quarto do hospital, Emília finalmente pôde nos visitar. Passamos uma tarde deliciosa, até a hora de ela ir embora. Ela me agarrou e começou a chorar, desesperada porque eu não voltaria pra casa com ela. Então ofereci: "Emilinha, você quer só um pouquinho de mamá?". Ela fez que sim com a cabeça, se aninhou no meu colo e mamou 5 minutinhos de um peito murcho, murcho, que Margarida vinha secando. Depois me deu um beijo e se despediu numa tranquilidade celestial. Saiu pelo corredor do hospital meio grogue de ocitocina, repetindo, feliz: "A mamãe deu o mamá pá Emília! A mamãe deu o mamá pá Emília".
Desde então, ela fica em média dois dias sem mamar por semana. Normalmente, quando dorme na escola. Como pedi que não a colocassem mais pra dormir, já que isso bagunça toda a nossa rotina em casa, disse a Emília que agora ela não mamará mais nos fins de semana e feriados. Isso porque o pai está aqui e fica mais tranquilo colocá-la pra dormir sem o peito. Assim que ela estiver bem treinadinha a cochilar sem o peito, vamos pulando mais e mais dias. Tenho uma meta (que não é rigorosa) de desmamá-la totalmente nas férias de julho.
Essa tem sido a nossa experiência. Cada família terá a sua. Mas o que sempre deve estar presente neste e em qualquer processo de separação é a paciência, a espera pela hora certa, muito afeto e muita conversa.
Hello world!
Há 4 anos