quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A defensora dos parquinhos

Houve um tempo em que eu via as pessoas fazendo coisas sem noção, depredando a cidade, e não fazia nada. Alguém jogava um papel no chão e eu me limitava a resmungar uns impropérios. Jamais pensaria em abordar o porquinho e lembrá-lo de que o lixo entope os bueiros e ajuda a cidade a ficar inundada nesse época de chuvas. E que há uma lixeira logo ao lado.

Até eu virar mãe.

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Para quem não conhece Brasília, no Plano Piloto os prédios são organizados em quadras (Superquadra é o nome oficial), que são mais ou menos como uma rua, só que quadrada. "Fulano mora na minha quadra" equivale mais ou menos a "fulano mora na minha rua", como se diria em cidades normais.

Cada quadra tem um espaço reservado para um parquinho infantil, público. Por isso eu ousaria dizer que Brasília é a capital dos parquinhos. Onde quer que você more sempre haverá um, dois, três, diversos parquinhos por perto. Alguns estão meio capengas, mas não é difícil achar boas opções caminhando um pouquinho.

Além disso, os condomínios de alguns prédios decidem construir seu próprio parquinho, no terreno destinado ao jardim. Mesmo estando na área do prédio, o espaço é de circulação pública e qualquer pessoa pode frequentar - não precisa ser morador.

Quando Emília nasceu, o parquinho da minha quadra era um banco de areia abandonado, com alguns brinquedos de madeira caindo aos pedaços. Tínhamos apenas o parquinho de um dos prédios para frequentar, pequeno, com o chão de cimento, mas ajeitadinho.

Mas ela ainda estava com poucos meses quando os moradores da quadra começaram a se organizar para reconstruir o parquinho. Criaram uma comissão, arrecadaram fundos, e nem bem Emília teve idade pra frequentar brinquedos maiores, lá estava o parque novinho à nossa disposição.

Paralelamente, pra nossa sorte, mais um dos prédios da quadra construiu um parquinho próprio, com o piso de grama, perfeito para crianças pequenas. Ficamos, então, com três parquinhos: um com chão de cimento, outro de areia e outro de grama, tudo a pouquíssimos metros do meu apartamento.

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Eis que consigo reunir minhas duas bebezucas num fim de tarde para irmos ao parquinho de grama - o meu preferido. Só levo Emília ao de areia - o preferido dela - quando o pai está junto, porque posso ficar com Margarida do lado de fora.

No caminho, passamos pelo parquinho de areia, que estava vazio - à excessão de três marmanjos que escalavam os brinquedos. Não pensei duas vezes:

- Ei, esse parquinho é das crianças!

Um dos rapazes se desculpou, quase me chamando de tia:

- Mas eu estou só subindo na grade!
- É, mas o seu colega ali está subindo no brinquedo. Esses brinquedos não suportam o peso de vocês. Tem uma placa aí na frente dizendo que é só pra crianças até 12 anos.

Eu ia acrescentar que se eles tivessem entrado no parquinho pela porta, em vez de pular a grade, eles teriam visto a placa. Mas achei melhor não pentelhar demais os moleques, já que eles obedeceram direitinho e desceram dos brinquedos.

Segui orgulhosa.

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E no fim de semana, fomos ao parquinho de areia. Emília se esbaldando, quando o Rafael resolve pegá-la no colo bruscamente e trazê-la pra fora do parquinho, onde eu estava com Margarida.

- Amor, vamos pro outro parquinho. Esse aqui está com cheiro de cigarro.

E a bichinha, balançando a cabeça:

- Não, ôto patinho não! Té esse patinho!

Do lado de fora da grade, mas praticamente dentro do parquinho, o pai de uma menina fumava tranquilamente seu cigarro, como se não houvesse umas dez crianças pequenas ali por perto.

- De jeito nenhum. Não vamos pro outro parquinho. Emília passa a semana inteira pra vir nesse, e no dia que você pode vir conosco um fumante nos expulsa?
- ...mas você vai lá falar com ele?

Óbvio, né?

- Oi, você pode fumar um pouco mais longe? A fumaça está indo toda pra perto das crianças...

O cara apagou o cigarro na mesma hora, já sabendo que não deveria nem ter acendido.

E eu, novamente orgulhosa, gostando dessa desinibição que a maternidade me deu.

12 comentários:

Micheli Ribas disse...

Oi, Lia!
Que bom que você foi atendida.
Eu já chamei a atenção de moleques maiores em brinquedos de parquinhos e, como eram muito sem educação e estavam sem os responsáveis por perto, limitaram-se a rir e a me ignorar. Tive de pegar a Clara e sair de perto.
Entre essas e outras, é por isso que os parquinhos públicos vivem depredados. E infelizmente por aqui não temos muitas opções.
Beijos.

Irina disse...

Ai, que gostoso e que sorte, Lia!

Aqui no meu bairro não tem (!) parquinhos. Quando quero que meu filho tenha um espaço assim, tenho de pegar ônibus e ir pra outro bairro.
O resultado é que já chego no passeio cansada, me canso mais ainda lá e volto pra casa quase capotando de exaustão! risos
(TREZE QUILOS DE CRIANÇA! Pensa!)

Mas não deixo de levar. Sempre levo onde tem grama e areia.
Tem um aqui "perto" que tem galinhas, patos, pavões, pequenos mamíferos (nunca sei se são ovelhas, carneiros...), peixes e passarinhos diversos.
Ele simplesmente AMA!

E mesmo ficando muito cansada (pq é longe e pq sempre vou sozinha com ele e ele não para um segundo, aventureiro como só ele), não deixo de ir.

Que sonho poder ir em parquinho perto de casa.
Ai, ai.
Suspiros.

Amanda Lima disse...

Lia, concordo contigo... Quando a gente se limita a ajuntar o lixo alheio ou reclamar em voz baixa, dá a oportunidade para a pessoa continuar com o comportamento com a consciência tranquila.
Agora, quando a gente fala, normalmente a pessoa fica com vergonha, e pensa duas vezes antes de fazer aquilo novamente.
Eu ensinei a Gabi (3 anos) que não pode jogar lixo no chão. Esses dias, uma senhora na rua largou um papel de bala. Prontamente a Gabio ajuntou, olhou para ela e disse "não podi coloca lixo no chão, a natuleza fica tisti". A mulher ficou MUITO envergonhada e saiu de perto de nós...Levar bronca de criança fica feio né?
Beijos

Taís Maciel disse...

Eu tenho essa mania de avisar os outros de que eles estão fazendo alguma coisa que não é legal, mas, sinceramente, luto contra isso. Só falo mesmo quando não consigo me controlar, pois vira e meche a gente acaba ouvindo uma bela grosseria. Tem gente que luta com unhas e dentes pelo seu direito de ser ignorante em paz.

Dani Garbellini disse...

Que a gente fica cara de pau, no bom sentido, depois da maternidade, né?
Eu que já era meio bocuda quando via coisa errada, piorei, quer dizer, melhorei.
E viva as mães defensoras de um ambiente e um mundo melhor para seus filhos e os filhos de todo mundo!
Beijos!

Tathyana disse...

Bom, eu já briguei no parquinho ahahahahah. Quando morava no Sudoeste Econômico tinha um parquinho ao lado do nosso prédio e uma babá estava sentada no gira-gira que estava todo torto por sinal. Não pensei duas vezes e soltei: "ei, esse brinquedo é infantil sabia? Pode sair daí porque ele vai quebrar." Ela me olhou com a cara mais feia do mundo, pegou a menina e saiu resmungando.

Ah!!! Fala sério né? Povo sem noção. E viva as mães defensorar dos parquinhos.

Bjs.

Mariana - viciados em colo disse...

ai, lia, fiquei tão orgulhosa de você! posso? talvez seja isso que falte ao brasileiro: ação! a gente se acostumou a reclamar e a "se mudar" como diz aquele ditado sobre "os incomodados". e as pessoas que deviam elas mesmas se mudarem continuam atuando no mundo da maneira perniciosa como sempre atuaram. por aqui anda meio complicado fazer essas intervenções porque a cidade estpa muito violenta, então dá medo, sabe? mas sou destas que "educa" os abusados.
beijoca

Anônimo disse...

Adoro seu blog, aprendo muito! super recomendo! e obrigada pela referência lá atrás, precisamos marcar mais vezes! beijo! Lidia

Avassaladora disse...

Lia, minha quadra tem um parquinho bem na frente do meu bloco, seria lindo se ele não estivesse todo quebrado, sujo e abandonado.
Nós sempre vamos ao parquinho da 216, que é mantido pela prefeitura da quadra, é limpinho e lindo!!!
Já tentei mobilizar a prefeitura da minha quadra, porém, eles não estão nem ai... e pra piorar, temos uma escola pública bem ao lado do parque e ai fica um jogo de empurra sobre de quem é a responsabilidade por manter o espaço...

Irina disse...

Lia, li isso e pensei em vc:

http://nieniedialogues.blogspot.com/2011/10/october-29-2001-october-29-2011.html

Não sei se vc conhece a Mrs Nielsen, mas ela é fantástica, dona de uma prole imensa e super apaixonada pelos filhos.
Esse é o post de 10 anos da filha mais velha.
Imaginei um post seu sobre o décimo aniversário de Emília.
Pq, né, vc que vive dizendo que quer ter um monte de filho! rs

E eu acho isso lindo!

Cíntia disse...

Nossa Lia, perdi esse post. Que legal que você vem compartilhando um pouco de cidadania com os outros. Lembrar o limite do outro é algo que às vezes precisamos fazer, sem constrangimento. Parabéns!

Fabi Alvim disse...

Boa, Lia!!! :-D


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