segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Não fale demais

Com a gestação, adquiri uma habilidade que eu não tenho normalmente: ficar calada. Na minha primeira gravidez, esse dom não estava plenamente desenvolvido, mas com as cacetadas da vida vamos aprendendo a lição.

Eu contava pra todo mundo meus planos sobre parto, sem anestesia. Falava que usaria fraldas de pano e que não ia contratar empregada, mas manter diarista só dois dias na semana. Dizia que continuaria amamentando, mesmo depois de encerrada a minha licença maternidade, e que tiraria leite no trabalho. Falava que Emília seria a primeira de pelo menos três filhos, e que eu não teria babá. Ela não usaria chupeta, nem mamadeira. Contei, contei.

Quanta coisa escutei! Que eu não ia agüentar a dor e que ia pedir anestesia; que desistiria rápido das fraldas de pano; que não daria conta de cuidar de um bebê sozinha, sem empregada; que eu dizia que queria três filhos porque ainda não sabia o trabalho que dava, mas que eu mudaria de ideia depois que Emília nascesse. Fora profecias de que eu nunca mais ia ter uma noite de sono inteira, de que minha filha ia ter cólicas, porque todo bebê tem, e muitas outras urucas pronunciadas por quem parecia frustrado com a experiência da pater/maternidade.

Só posso achar tristes comentários que nada mais refletem que uma decepção pessoal de quem os faz. Algumas pessoas parecem querer buscar um consolo ao descobrir que no final das contas era isso mesmo: era inevitável que ser pai ou mãe fosse mesmo um martírio. Ou compensar a frustração de seus ideais não terem dado certo pela certeza de que os meus também não darão.

Antes que alguém se ofenda, não estou falando do mundo cibernético, blogs nem nada. Nunca recebi comentários rudes ou desencorajadores aqui, por isso continuo relatando tranquilamente minhas experiências. Estou falando principalmente de pessoas que não me são muito próximas – e exatamente por isso não sentem a necessidade de ter tanto tato – e com quem a anta aqui resolvia trocar ideias. Sabe como é: uma barriga, um assunto. Essas pessoas provavelmente não leem o meu blog – se lessem, me poupariam das asneiras.

Felizmente, a gravidez (pelo menos no meu caso) deixa a gente mais blasé, menos irritável, e grande parte desses comentários escoa pelos meus dutos auditivos em direção ao vazio. Mas como às vezes a falta de noção do comentário é muito grande, a gente corre o risco de se ofender e ficar depois em casa chorando as pitangas com o marido. Então é melhor se proteger.

Me colocando do outro lado – o de quem ouve os planos das gravidinhas e, eventualmente, também faz seus comentários joselitos –, esclareço que a gente não precisa concordar com tudo o que uma barriguda fala. Mas qualquer coisa que digamos tem que ser muito bem pensada. Um exemplo: você fala que vai comprar um carrinho tal, super incrível mas super trambolhento. Daí sua amiga, mais rodada nas estradas da maternagem, que sabe que você tem um carro popular com um porta-malas micro, sugere: “Existem uns modelos de carrinho que dobram tipo um guarda-chuva. São mais compactos e nem por isso deixam de ser confortáveis. Por que você não dá uma olhada?”. É muito diferente de falar: “Ah, nada ver, esse carrinho é um trambolho, você vai doar ele depois do primeiro mês de vida do seu filho, você vai ver!”.

Quando as opções vão além de bens de consumo, e refletem nossa visão de gestação, parto e maternidade, a coisa é ainda mais delicada. Por exemplo: se uma pessoa querida me diz que vai fazer cesárea por opção, eu sugiro que ela experimente entrar em trabalho de parto e não marque a cirurgia, pra ter certeza de que o bebê está pronto, permitir os últimos retoques no pulmão e facilitar a descida do leite. Mesmo acreditando que o parto normal é o mais saudável para a mãe e o bebê, nunca digo que a pessoa vai se arrepender de ter feito a cesárea, que o pós-operatório vai ser uma droga, que os pontos vão abrir, que ela não vai conseguir amamentar. Isso porque cada um tem sua história, seus valores, sua cultura, e esse tipo de decisão reflete um cenário que eu quase sempre desconheço. Se me perguntarem minha opinião, se eu sentir que a pessoa está balançada e começou a considerar outras opções, aí eu posso falar mais. Mas tem que haver esse espaço.

Em suma, meu conselho para as gravidinhas: sabe aquela dona que senta do seu lado na sala de espera da clínica de ultrassom? Ou aquele primo da amiga que resolveu puxar papo numa festinha de aniversário? Ou a vizinha com quem você se encontrou no elevador? Ou até mesmo aquele colega com quem você convive bem, mas sabe que tem ideias bem diferentes das suas sobre o assunto filhos? Ou um parente que você adora, mas que tem outra cabeça? Com esses, fale só amenidades. Responda só ao que foi perguntado. Por exemplo: “Como vai ser seu parto?” Se for normal, diga normal. Não precisa dizer que não vai ter anestesia. “Já está tudo pronto?”. “Já, praticamente.” Não precisar falar que o berço ainda não foi entregue, sob o risco de escutar a ladainha do fulano que demorou 6 meses pra receber a mobília do quarto do bebê. E se a pessoa insistir e quiser ficar sabendo detalhes demais, nada melhor que dar uma cortada na conversa e mudar de assunto. Assim, amizades serão preservadas e a saúde mental da mãe também.

A caminhada tem sido difícil pra uma pessoa verborrágica com eu, mas um dia chego lá.

24 comentários:

Marcia Pergameni disse...

está corretíssima querida!!! As vezes queremos falar sobre as nossas experiencias e acabamos falando com as pessoas erradas!!!! O sílencio é uma virtude!! Eu que o diga!! bjus

Juliana Barros Sene disse...

uau me identifiquei demais com isso que vc falou!!! aliás, não sei se vc se lembra, mas trocamos alguns e-mal sobre parto normal e vc esclareceu algumas duvidas minhas e etc... Naquela época eu não estava grávida e hoje estouuuu!! ainda no comecinho (acredito que estou com cerca de 6 semanas ainda)...Muuuito feliz! Bom, vou seguir sim seu conselho! aliás, eu já andei contando algumas de minhas preferências e não foi uma boa experiência! Vou ficar bem caladinha a partir de agora... Bjs Lia!!! e parabens pelo 2o baby! Juliana

Carol disse...

ai Lia, posso dizer que me identifiquei MUITO com esse post? Tanto tanto que quero te mandar um email, uma mensagem, um presente, sei lá. Miabraça!

pq é foda, vou me abrir: to sufocada. E nem vou me abrir no blog, sei lá quem é que passa lá, mas acho que aqui to mais segura.

Acontece é que moramos em outro pais, tudo certo (teoricamente eu estaria protegida na minha bolha chamada DISTANCIA). Mas, eu sou verborrágica também, insegura de um tudo e a internet taí pra unir as pessoas. Entao é um tal de neguinho opinando, juro que nao esperava que fosse tao forte.

E, diferente de vc, cada vez que escuto uma opiniao contrária, fico me questionando se nao to fazendo tudo errado. Desde papos sobre parto atéééé como limpar a bunda cagada da crianca. Juro, já ouvi opiniao até sobre isso (a pessoa tava me dizendo que comprar hipoglós e afins era jogar grana pela janela, que eu deveria mesmo era tacar Maizena no meu filho - afinal, foi o que ela fez com as crias dela e deu muuuito certo).

Fora o pacote "vc nao vai aguentar a dor do parto", "sua gravidez é de risco, pq vc vai bancar esperar", "marca logo esse parto pra gente poder marcar a passagem praí", "nao pinta o quarto do bb pq seu ape é alugado, é dinheiro jogado pela janela", "nao compre móveis caros pq o bb logo cresce e vc vai ter que mudar tudo", "nao compre a roupa X, compre a Y", "faca logo um chá de bb e peca A, B e C que sao primordiais em qquer enxoval", "nao recuse ajuda logo no comeco, vc nao vai aguentar, vc nao sabe o trabalho que dá"... Lia, posso passar o dia aqui escrevendo o quanto as pessoas tao empenhadas em me convencer que VAI DAR TUDO ERRADO.

E que eu sou uma romantica bobinha ingenua (e cega e nao sei ler, acho que "grávida" é colocada na categoria "ser mais imbecil e desavisado da face da terra").

Dá vontade de chorar e fechar o blog e nem mostrar mais foto, planos, textos, p*rra nenhuma pra ninguém.

Mas, pelo menos na vida real, vou seguir teu conselho, vou tentar os assuntos mais na linha "amenidades".

Brigada pelo post!
(e perdao pela sessao terapeutica nos seus comentários).

um beijao!

Priscilla Perlatti disse...

Lia, amei: uma barriga, um assunto!
E depois que a barriga se vai e o pacotinho chega os palpiteiros ainda continuam com comentários mil... Sorte sua estar protegida da sua aura blasé.

Beijos

Priscilla

Thaís Rosa disse...

nossa, lia, e acho que na segunda gravidez a coisa é ainda mais blasé. não?
simplesmente fujo do assunto parto, ainda mais porque tooooodos querem saber: você vai ser louca de ter em casa de novo??? PREGUIÇA.
mas conversar com gente bacana, de igual pra igual, adoro. (não é por isso que não te respondi, não, viu? rá!! é por preguiça de email, mas JURO que vou te responder, quero muuuuito trocar essas figurinhas contigo.)
beijo, de uma também faladora contendo a língua.

Tchella disse...

rá, eu sou tua fa, cada post teu me identifico horrores!

eu falo mto, sobre a gravidez entao... amava falar, me sentia maravilhosa, tudo ia bem... nossa como eu gostava do assunto. e como tem gente sem noçao, aiii eu fazia a loka MESMO, ao ponto de: qdo me faziam uma pergunta que eu nao queria responder me fazia de louca, ficava olhando para cara da pessoa e nao falava nada, me marido dizia: vao pensar que tu é louca, que tu tem algum problema! hahaha mas eu nao tava nem ai, ficava olhando com a maior cara de paisagem, ai a pessoa que ficava constrangida, hahahaha

e historia de gravida q morre, nene q passa mal? eu mandava calar a boca na hora, fosse quem fosse, perguntava direto se nao tinha nada mais util para falar, ou se tinha algum problema psicologico de falar essas coisas p uma gravida, enfim... eu fazia a louca mesmo, hahaha

Paloma Varón disse...

Disse tudo! Ai, que saco tudo isso. Eu me preservei bastante na segunda gestação, mas ainda acho que deveria ter me preservado mais, não dsevia ter falado nada, porque, quando vc muda de lado, sempre vai ter milhões de pessoas questionando seus motivos. E um VBAC não é fácil de engolir, ninguém consegue se calar, se conter.
Beijos

Cíntia disse...

Lia, estou para escrever sobre esse assunto. Eu notei muitas diferenças desde que pisei aqui. Nossa, seu relato caiu como uma luva e vou citá-lo no post, mas só no fim da viagem. beijão

Camila disse...

Não falar muito é realmente um conselho de ouro! Eu mesma, depois de alguns meses grávida de gêmeos, nem contava mais q eram gêmeos, dizia q era só um menino, para não ter q ouvir os tais comentários joselitos, é isso aí!
Bjos,
Camila
www.mamaetaocupada.blogspot.com

Ana Paula - Journal de Béatrice disse...

Ai Lia, assunto delicado. Eu, confesso, senti menos essa interferência de palpiteiros. Os palpites mais maldosos vieram de brasileiros (meu! teve uma pessoa que adorava falar que o bebê de fulana nasceu, morreu... Outra que não conseguiu amamentar. Outro que esse negocio de carregar no pano iria acostumar, e bla bla bla...). Num desses comentarios fiquei bem chateada e passei a evitar os meus gostos e preferências sobre como cuidar e criar o filho. Pronto. Mudava de assunto.
E, quanto as amigas francesas que tenho, e educadas que são, jamais comentaram como eu deveria ou não fazer (acho que o ar blasé bem poderia ter vindo delas!). Sempre trocamos ideias com muito respeito.
Boa sorte com a "contenção" de assuntos e chô plalpiteiros de plantão! Não é mole...

Anna disse...

Lia, concordo planamente com você. Nas duas gestações só compartilhei o basicão: fru-frus de enxoval, seguidos de "está tudo bem".

Não tinha e não tenho nenhuma paciência com discussões sem sentido. Como já diz o poeta "cada um no seu quadrado". rsss

Ser ou pensar fora do padrão adotado pela maiora dá muito trabalho. E gravidez dá uma preguiça...

Patricia disse...

Muito bom! Eu também sou verborrágica, era na gravidez, sou na maternidade e na vida. E cada comentário me afeta, acho que faço errado e tudo o mais. E me prometo falar menos, e não aguento, e falo e ouço e por aí vai.
bjs

Tathyana disse...

É por isso que eu concordo com o "poeta": A-do, a- a- do, cada um no seu quadrado!!! Independente de qualquer que seja o assunto relacionado a maternidade.

Vc ficou ótima de cabelo novo. ótima = linda!!!!

Bjssssssssssss

Renata disse...

Nossa, Lia, perfeito esse post. Eu aprendi isso na gravidez do André, aprendi a sorrir e não discutir e nem questionar. Cada um que falava uma barbaridade, eu concordava com a cabeça e dava um sorriso. Meu marido não se conformava, queria discutir e eu só sorria.
Olha essa, uma amiga da minha mãe me disse que eu não deveria tomar água enquanto amamentava porque senão o leite sairia gelado....eu, como sempre, sorri, mas marido não aguentou: "essa é a melhor serpentina que existe, gela em questão de segundos"....rsrsrs!
beijos, querida. Um pra vc, um pra Emília e outro na barrigota!

Re disse...

Ai, concordo em tudo...serio, agora que eu estou gravida eh que eu vejo como as pessoas sao inxiridas..serio, elas me questionam tanta coisa que eu nem parei para pensar, analisar, tirar conclusao..parece que elas ficam ansiosas por mim e eu que nao estou ansiosa fico parecendo um et perto delas...realmente o melhor eh ouvir mais e falar menos.

Ana disse...

Melhor coisa a se fazer mesmo. Evita fadiga.
Eu evitava esses assuntos o máximo.
Beijos!

Muito Criança disse...

Oi Lia, faz tempo que não passo aqui, nem aqui nem em lugar nenhum. Trampis....tanks God.
Amore passei pra deixar um beijo e dizer que não esqueço os meus blogs que estão sempre lá do ladinho na minha lista de blogs. Bjs Paty do Nutrição e Cia com um pouco de tempo mais pro M&C Muito Criança.

Sarah disse...

Mais um post ótimo Lia, adorei! Hoje mesmo estava conversando sobre isso com uma amiga grávida que está bem chateada (para não dizer p da vida) com os pitacos e comentários. Parece que todo mundo sabe melhor como ter/criar um filho do que a gente!
Adorei sua postura, concordo que há formas e formas de se conversar e emitir opiniões. Pena que são poucas as pessoas que sabem ou se lembram disso...
um beijo!

Joci disse...

Ai Lia, sem dúvida é uma ótima dica... falar menos as vezes nos resguarda de coisas que nem queremos ouvir!

O melhor é relaxar!

Um beijão!

Unknown disse...

Adorei!
Já fui verborrágica e hoje sou menos.
Estou de 11 semanas e tem me ajudado muito ficar caladinha, mas as vezes tenho que me beliscar...
obrigada e um beijo!

Dona Karen disse...

Adorei, isso tudo que contasteé verdade. Mas eu sou do tipo que falo e quem não gostou que se dane.
A primeira cólica da minha filha essa semana , e meu pai foi logo dizendo, dá um chazinho....u ó!
Fiz massagem, ela deu uns puns e tudo resolvido.
Já tinha me informado sobre varias situações e o que fazer...mas todo mundo dá pitaco, só que eu não me calo e dou as devidas respostas...para todos, incluido parentes, aderentes e amigos...

Bjossssssssssss

Luíza Diener disse...

a sorte é que você pode agora se proteger do argumento sou-mãe-de-primeira-viagem e deixar um fala-com-a-minha-mão pra quem te encher muito o saco.

e nossa, Lia, sabe o que é mais engraçado? já aconteceu de gente que eu conheço pessoalmente, que lê meu blog e tudo vir pra mim e fazer um comentário super tudo que eu odeio. escrevi uma vez sobre a magreza da lactante e ouvi da tal pessoa um "noooooooooossa como você tá magra! esse bebê tá te sugando", seguido de um "adoro seu blog! leio sempre!". tem certeza que lê sempre mesmo?

Carol, não pude deixar de ler seu comentário.
é tudo isso e mais um pouco, né? ou um muito.

mil vivas a todos os blogs de mães malucas! ahahhaha

Unknown disse...

Olá Lia...conheci seu blog hoje e estou amando...
Esse post em especial, me encantou!!
Tão verdade...
tenho dois filhos, Babi de 9 anos e Theo de 11 meses...
Vou acompanhar seus posts sempre!
Um bjo!
http://petitninos.blogspot.com/

Laura disse...

Oi Lia, hoje conheci o seu blog e saí escolhendo alguns posts para ler! Achei incrível ler exatamente este post. Engraçado que eu sou muito calma...quase passada, mas sei bem o que se passa em volta de mim...e quando fiquei grávida, ao contrário de vc, que aprendeu a ficar calada, eu aprendi a dizer tudo o que os outros não queriam escutar...foi tão bom, tão relaxante...rs! Hoje meus filhos têm 4 e 6 anos. Tentei fazer a carreirinha, mas o segundo demorou um pouquinho a vir e agora não sei se devo ter o terceiro (já estou com 37 anos). Nunca tive babá e sempre achei estranho todas as minhas amigas terem. Ainda mais porque crescemos numa cultura difernte da de hoje...mas tudo bem! Agora estou pensando em ter apenas a diarista, já que os meninos cresceram e posso contar com a escola no período integral. Como é, dá certo? Vou ficar sem empregada em menos de 1 mês...estou um pouco ansiosa. bjs e muito prazer em te conhecer. Já te coloquei nos favoritos...apesar de vc estar em licença maternidade, vou lendo seus posts mais antigos! Laura.


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