terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lactogestação

Sim, continuo amamentando, sem data pra parar. Andei dando uma cortada nas mamadas noturnas porque eu estava dando perda total, mas tudo sem traumas. Agora, quando acorda de madrugada, Emília volta a dormir no colo do papai. Só ali pelas 4h é que o peito fica insubstituível. Considerando que em dezembro do ano passado ela mamava 5, 6 vezes de madrugada, avançamos horrores. E manterei essa mamada pelo tempo necessário, até percebermos que Emília está pronta para ficar sem ela.

Nunca troco as mamadas que eliminamos por mamadeira. Se é fome, vai comidinha no lugar. Se é aconchego, vai colinho no lugar. O processo de desmame corresponde a uma dependência cada vez menor do organismo do bebê em relação ao leite. Há inclusive quem defenda que, depois do desmame, não precisaríamos nem deveríamos consumir leite de outros animais. O homem é o único animal que continua mamando depois de desmamar...

Eu até pensaria no assunto se minha filha não fosse vegetariana. Então a vida sem laticínios não é uma opção. Mas quanto mais tarde a introdução de lactose, menores as chances de a criança desenvolver alergias ou intolerâncias. E enquanto ela tem peito à disposição, tirará dele a exata quantidade de leite de que ela necessita.

Mas, e a gravidez? Sim, o que tem a gravidez?

“Diz que não é bom amamentar grávida”. Pois diz também que circular de cordão é indicação de cesárea. Muito se diz por aí.

“Mas então tem que falar com o médico antes”. Claro, é bom comunicar o obstetra, até pra saber qual a opinião dele sobre o assunto (é um bom indicativo pra avaliarmos a postura dele – humanizada ou tecnocrata – sobre o pré-natal e o parto). Mas ninguém, quando descobre que está grávida, para de fazer sexo com o marido porque tem que pedir autorização do médico antes.

A princípio, qualquer gestante pode amamentar sem problemas. Haveria contraindicação em caso de ameaça de aborto (sangramentos, dores) ou de parto prematuro, já que a sucção provoca pequenas contrações uterinas. Só que essas contrações são mais fracas que aquelas causadas pelo orgasmo. Ou seja: se não pode amamentar, também não pode fazer sexo e provavelmente o repouso também será indicado.

Outra questão é que a pessoa “fica fraca”. Oras, se eu consumo, em situação normal, 2.300kcal pra viver, em situação de gestação eu preciso de mais 300kcal e na lactação mais 500kcal, é só somar tudo e mandar pra dentro! Claro, numa dieta balanceada, com bastante ferro pra não ficar anêmica e bastante cálcio pra repor o que vai no leite. Daí se seu hemograma estiver ok, mais um mito cai por terra.

Lembrando também que o organismo de uma gestante prioriza o bebê. A mãe tem de ficar significativamente desnutrida antes de começar a usar os nutrientes que iriam pro feto.

Por fim, o único motivo que eu considero plausível pra desmamar um bebê de pouco mais de um ano simplesmente porque a mãe engravidou: cansaço. Foi por isso que insistimos em colocá-la de volta pra dormir de madrugada sem o peito, porque eu precisava dormir à noite. Mas não é nenhum desgaste pra mim dar o café da manhã da minha filha, colocá-la novamente no peito assim que ela volta da creche e aconchegá-la no seio antes de dormir. E se ela precisa mamar às 4h, mama. E se nos fins de semana pede mais peito durante o dia, dou sem o menor estresse.

Mas e depois? E no fim da gravidez, quando eu estiver pesada, de barrigão? E quando nascer o segundo?

Muitas águas vão rolar. Emília vai mudar muito até o irmão ou a irmã nascer. Pra uma criança de pouco mais de um ano, 7 meses são uma eternidade. Por isso não estou fazendo planos. Se eu achar que é melhor seguir amamentando os dois, assim seguirei. Se eu considerar que desmamar antes será melhor, desmamarei. Mas é muito cedo pra pensar nisso.

Não acho absurda a ideia de amamentar dois. Dá trabalho? Claro que dá. Mas filhos dão trabalho. Se é cansativo ficar 20min com um bebê no peito pra ajudá-lo a relaxar, muito mais cansativo é ficar 1h tentando colocá-lo pra dormir de outras maneiras. Sim, o peito pode ser extremamente prático.

E se um quiser mamar enquanto o outro estiver mamando? Até onde posso verificar, meu número de tetas é dois.

Então estamos assim, sou uma lactogestante (ou uma gestolactante) voraz, tipo Michael Phelps, com o aval da obstetra e o apoio incondicional do nosso pediatra: “Ótimo, continue amamentando! Iogurte, essas porcariadas, só mais pra frente!”.

+++

Em tempo: acabei de me lembrar que houve uma época em que sexo na gravidez fazia mal pro bebê...

20 comentários:

Roberta Lippi disse...

Muito bem, dona Lia, quebrando paradigmas!!
Eu mesma era daquelas que achava que gravida nao podia amamentar. Nada como a informacao e pessoas como voce para dar o exemplo.
Beijos,
Ro

Paloma Varón disse...

Lia, derrubando mitos vorazmente. Continue assim, pois esse "diz que" representa as trevas. E estamos imersas na escuridão, se dependermos do senso comum que muitas mães, amigas, sogras, médicos e outros insistem em propagar.
Beijos

Fabiana disse...

Clap, clap, clap!!!

Da minha parte, vão aplausos sem senões pra você!

No último sábado no encontro do Ishtar aqui de Sorocaba tinha uma especialista em amamentação e um pediatra e eles comentaram sobre amamentação durante a gestação. E tudo o que você falou é mais do que verdade. Se não houver risco (sangramentos por ex) não tem porque parar de amamentar. É bonito ver esta sintonia entre você e a Emília!
Parabéns!
Beijos

Rafael Gazzola disse...

"Até onde posso verificar, meu número de tetas é dois". Hahaha. Demais!

Anônimo disse...

Lia,

Fico feliz por você e concordo plenamente. Infelizmente eu tive que parar de amamentar o meu filho quando ele tinha 4 meses. Eu, que tinha muito leite, jorrava por todo o lado e eu tinha que colocar fraldas para não vazar, tive um problema de saúde e meu leite secou do dia para a a noite. Eu fui à minha obstetra e cheguei a tomar Plasil para que meu leite voltasse e nada! Fiquei péssima, me senti a pior mãe do mundo, fiquei sem chão. Chorei horrores! Queria muito amamentar o meu filho por muito tempo e não consegui!
Tive que entrar com o NAN.
Hoje já me sinto melhor e sei que não foi culpa minha, mas acho que você está certíssima em amamentar a sua filha por quanto tempo ela precisar!
Aliás, eu que sou seguidora do seu blog, fiquei muito feliz por sua nova gravidez! Parabéns duplamente!!!

Agora em fevereiro, como mãe coruja que também sou, criei um blog, se quiser dar uma olhada, agradeço o apoio: http://passeadoeviajandoemfamili.blogspot.com

Beijos!

Lívia.

Fabiana disse...

Ahhh e por falar em amamentar dois, tem uma mulher que frequentava o grupo aqui, a Raquel, que amamentava dois de idades diferentes...

http://relatosderaquel.blogspot.com/2010/05/relato-de-amamentacao-do-elias-e-da.html

E obrigada pelo seu comentário lá no blog. Respondi lá mesmo.
bjos

Tchella disse...

LIA, EU TE AMO! to aqui com a maior cara de tacho, eu seeeeeeeeeeeempre achei que fosse PERIGOSISSISSISSISSIMO continuar amamentando estando gravida, eu quero o segundo antes de 1 aninho do 1o, mas eu pensava, nao dá, nao dá, eu quero no miiiiinimo amamentar até um ano. MEUS PROBLEMAS ACABARAM! Lia, sério, obrigada, nao fosse tu ia estar eu aqui burrica ainda sem saber disso. aaaaaaaaaaaaiiiiii to toda animadinha agora hahahahaha que periiiigo essa menina.

alias, lembro q qdo estava gravida do lucas tu me ajudava bastante tbem com oq escrevia da gravidez da emilia, e agora de novo :)

eu te amo, tá? muitao! :)

bjo bjo

Carol disse...

que ótima decisao!
que as tetas e a atividade sexual (pq né, precisamos!) continuem firmes e fortes!

beijos!

Priscilla Perlatti disse...

Lia, vc trouxe informação completamente nova para mim! Conheci gente que parou de amamentar quando decidiu engravidar, mas nunca tinha ouvido falar de lactogestação.
Quero, mais pra frente, linkar seu texto com um post que estou preparando, ok?

Beijos

Priscilla

Neda disse...

Excelente!

Camila disse...

Nossa, que admirável!!! Que corajosa!!! Eu, na verdade, nunca tinha pensado em uma grávida amamentando e, ao longo do seu post fiquei imaginando a Emília com ciúmes de vc amamentando outro no lugar dela. Mas, daí vc vem e diz que vai amamentar os dois filhos???? Parabéns! Adorei!
Bjos,
Camila
http://mamaetaocupada.blogspot.com/

Tathyana disse...

Já te falei que vc é o meu orgulho? Pois é, vc é. E quero ver essa família bem grande, cheia de crianças lindas e vorazes. E a propóstio, já encontou um obstetra?

Bjssssssss

Naiara Krauspenhar disse...

Sábia decisão.

Esses "diz que isso, diz que aquilo" servem só pra atormentar a vida da gente.

"Até onde posso verificar, meu número de tetas é dois". Essa me quebrou no meio... kkkkkkkkk

Renata disse...

Só pra engrossar o coro: PARABËNS!!! Vc é um exemplo de mãe, se todas as mães tivessem a sua dedicação, o mundo seria mais lindo.
beijos

Nathália Martins disse...

Amei o post. Seu textos são ótimos.
Mas fiquei com uma dúvida. Não seria necessário parar de amamentar pelos menos um tempinho antes, para que o organismo possa 'reiniciar' o processo...
colostro, leite de transição e leite maduro...
(desculpe a minha ignorância).

Beijinhos***

Cíntia disse...

Lia, muito bem lembrado essa parte que, acalmar um bebê com o seio, além de natural, é muito mais prático do que com técnicas. Super bem colocado esse ponto! Beijo, parabéns e obrigada por compartilhar informações. (nem de férias eu desligo do seu blog... hahahaha)

Unknown disse...

Lia, muito legal a sua iniciativa e obrigada por compartilhá-la aqui. Sinceramente eu também só ouvia falar que grávida não podia amamentar e eis que me surpreendo com seu relato! Adorei!

Bjos,

Ivana

mamãedemarina disse...

Lia,
Se eu pudesse escrever algo na vida, queria ter escrito este post...rs.
Obrigada! De verdade.
Estou grávida e tenho uma menina de 1 ano e três que mama no peito. Muito, acabou de mamar para soneca da tarde. E ainda vai mamar muito, o quanto quiser, o quanto eu puder.
Mas no meio do caminho destes três meses de lactogestação já ouvi até que eu estava preterindo o bebê da barriga e colocando a vida do feto em risco, que eu poderia abortar e mil danos ao bebê, que eu era louca, ia ficar desnutrida.
Eu dei os ombros e fiz ouvido seletivo. Mas cansa. E ler o que você escreveu me lembra que tem gente de verdade no mundo.
Que a Emília tb mame muito, o quanto ela quiser e o quanto você puder!
Continue escrevendo!

Luíza Diener disse...

minha ídala!
quando crescer quero ser que nem você

Ana Paula - Journal de Béatrice disse...

Lia! Que post!
Muito boa a sua abordagem! Adorei!

Ha algum tempo atras fui à ginecologista e comentei sobre os nossos planos de segunda gestação e que eu ainda amamentava e qe queria prosseguir. Ela arregalou os olhos (ei, lembrando que estou no Pais da Mamadeira por excelência) e falou que a Béa roubaria os nutrientes que iriam para o bebê. VOltei para casa angustiada pois sentia que ainda não era hora de desmamar e eu nem sabia qdo isso iria acontecer...

Enfim, tive que adiar os nossos planos de encomendar o segundinho ainda no primeiro semestre, pois serei obrigada a ir ao Brasil em novembro para resolver algumas pendências pessoalmente. Então, não daria para viajar com um bebezinho recém nascido. Espero que tudo dê certo pra eu, pelo menos, viajar ja gravidinha de poucos meses.

Enquanto isso ganho mais um tempinho e sigo na amamentação, agora sem o dilema "é hora ou não de parar". Pesquisei sobre lactogestação e pouca coisa me convenceu, me confortou.

Até que conversei sobre a lactogestação com uma amiga muito querida, que é doula, tem 3 filhos e todos nasceram em casa. Ela amamenta ha, pelo menos, 5 anos. Quase ininterruptamente. Amamentou gravida. E a resposta dela, para mim, foi a mais sabia. Ela falou que:

* Não, não tem problema amamentar gravida. O importante é ter uma boa reserva de ferro e calcio. Comer bem é fundamental.

* Cada corpo, cada mulher, reage de um jeito ao amamentar e estar gravida. Algumas são mais sensiveis, pode haver um certo desconforto. Do primeiro para o segundo filho ela não teve problemas com a lactogestação. Ja para o terceiro filho (e a segundinha ainda mamando), ela sentiu muitas dores no seio e ela interrompeu a amamentação com 6 meses de gestação.

* Depois que o caçulinha nasceu, a teta teve que ser dividida para os 3! A prioridade era para o caçulinha, ele é sempre o primeiro a mamar. O colostro, a parte mais liquida e a "gordurinha" do leite são para ele. Depois da mamada, vem a segundinha (hoje com 3 aninhos) e até o mais velho, de vez em quando pede o peito.

* Que a amamentação vai até onde mãe e filho acham bom. Se ambos seguem bem, felizes e se o cansaço é algo que pode ser superado, Ok. Caso contrario, o desmame é bem vindo. Quem amamenta sente a hora de parar com o vinculo.

Conversar com ela me acalmou e a lactogestação seria o caminho que eu tb iria seguir, assim como vc.

Estou divindo a minha experiência pois, além de te dar uma força para ir mesmo em frente, acho que pode ajudar a esclarecer algo sobre o assunto, que ainda é visto com reservas.

E, so para terminar (desculpa o comentario enorme!), ja vi essa minha amiga amamentar o mais velho e a pequena ao mesmo tempo. Lindo de ver, honestamete.

Beijos : )


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