Com a gestação, adquiri uma habilidade que eu não tenho normalmente: ficar calada. Na minha primeira gravidez, esse dom não estava plenamente desenvolvido, mas com as cacetadas da vida vamos aprendendo a lição.
Eu contava pra todo mundo meus planos sobre parto, sem anestesia. Falava que usaria fraldas de pano e que não ia contratar empregada, mas manter diarista só dois dias na semana. Dizia que continuaria amamentando, mesmo depois de encerrada a minha licença maternidade, e que tiraria leite no trabalho. Falava que Emília seria a primeira de pelo menos três filhos, e que eu não teria babá. Ela não usaria chupeta, nem mamadeira. Contei, contei.
Quanta coisa escutei! Que eu não ia agüentar a dor e que ia pedir anestesia; que desistiria rápido das fraldas de pano; que não daria conta de cuidar de um bebê sozinha, sem empregada; que eu dizia que queria três filhos porque ainda não sabia o trabalho que dava, mas que eu mudaria de ideia depois que Emília nascesse. Fora profecias de que eu nunca mais ia ter uma noite de sono inteira, de que minha filha ia ter cólicas, porque todo bebê tem, e muitas outras urucas pronunciadas por quem parecia frustrado com a experiência da pater/maternidade.
Só posso achar tristes comentários que nada mais refletem que uma decepção pessoal de quem os faz. Algumas pessoas parecem querer buscar um consolo ao descobrir que no final das contas era isso mesmo: era inevitável que ser pai ou mãe fosse mesmo um martírio. Ou compensar a frustração de seus ideais não terem dado certo pela certeza de que os meus também não darão.
Antes que alguém se ofenda, não estou falando do mundo cibernético, blogs nem nada. Nunca recebi comentários rudes ou desencorajadores aqui, por isso continuo relatando tranquilamente minhas experiências. Estou falando principalmente de pessoas que não me são muito próximas – e exatamente por isso não sentem a necessidade de ter tanto tato – e com quem a anta aqui resolvia trocar ideias. Sabe como é: uma barriga, um assunto. Essas pessoas provavelmente não leem o meu blog – se lessem, me poupariam das asneiras.
Felizmente, a gravidez (pelo menos no meu caso) deixa a gente mais blasé, menos irritável, e grande parte desses comentários escoa pelos meus dutos auditivos em direção ao vazio. Mas como às vezes a falta de noção do comentário é muito grande, a gente corre o risco de se ofender e ficar depois em casa chorando as pitangas com o marido. Então é melhor se proteger.
Me colocando do outro lado – o de quem ouve os planos das gravidinhas e, eventualmente, também faz seus comentários joselitos –, esclareço que a gente não precisa concordar com tudo o que uma barriguda fala. Mas qualquer coisa que digamos tem que ser muito bem pensada. Um exemplo: você fala que vai comprar um carrinho tal, super incrível mas super trambolhento. Daí sua amiga, mais rodada nas estradas da maternagem, que sabe que você tem um carro popular com um porta-malas micro, sugere: “Existem uns modelos de carrinho que dobram tipo um guarda-chuva. São mais compactos e nem por isso deixam de ser confortáveis. Por que você não dá uma olhada?”. É muito diferente de falar: “Ah, nada ver, esse carrinho é um trambolho, você vai doar ele depois do primeiro mês de vida do seu filho, você vai ver!”.
Quando as opções vão além de bens de consumo, e refletem nossa visão de gestação, parto e maternidade, a coisa é ainda mais delicada. Por exemplo: se uma pessoa querida me diz que vai fazer cesárea por opção, eu sugiro que ela experimente entrar em trabalho de parto e não marque a cirurgia, pra ter certeza de que o bebê está pronto, permitir os últimos retoques no pulmão e facilitar a descida do leite. Mesmo acreditando que o parto normal é o mais saudável para a mãe e o bebê, nunca digo que a pessoa vai se arrepender de ter feito a cesárea, que o pós-operatório vai ser uma droga, que os pontos vão abrir, que ela não vai conseguir amamentar. Isso porque cada um tem sua história, seus valores, sua cultura, e esse tipo de decisão reflete um cenário que eu quase sempre desconheço. Se me perguntarem minha opinião, se eu sentir que a pessoa está balançada e começou a considerar outras opções, aí eu posso falar mais. Mas tem que haver esse espaço.
Em suma, meu conselho para as gravidinhas: sabe aquela dona que senta do seu lado na sala de espera da clínica de ultrassom? Ou aquele primo da amiga que resolveu puxar papo numa festinha de aniversário? Ou a vizinha com quem você se encontrou no elevador? Ou até mesmo aquele colega com quem você convive bem, mas sabe que tem ideias bem diferentes das suas sobre o assunto filhos? Ou um parente que você adora, mas que tem outra cabeça? Com esses, fale só amenidades. Responda só ao que foi perguntado. Por exemplo: “Como vai ser seu parto?” Se for normal, diga normal. Não precisa dizer que não vai ter anestesia. “Já está tudo pronto?”. “Já, praticamente.” Não precisar falar que o berço ainda não foi entregue, sob o risco de escutar a ladainha do fulano que demorou 6 meses pra receber a mobília do quarto do bebê. E se a pessoa insistir e quiser ficar sabendo detalhes demais, nada melhor que dar uma cortada na conversa e mudar de assunto. Assim, amizades serão preservadas e a saúde mental da mãe também.
A caminhada tem sido difícil pra uma pessoa verborrágica com eu, mas um dia chego lá.
The Best Pod Vapes for 2023 in the UK
Há 6 meses