Reza a lenda que a primeira palavra de Emília foi au-au. Tanto o Rafael quanto minha mãe juravam que, quando Emília via um canídeo, apontava e dizia “au-au”. Daí vinham me mostrar, e eu só ouvia “pssaoablablo”. E eles: “viu? Au-au”. Ok.
Daí um belo dia realmente ouvi Emília dizer algo parecido com au-au ao apontar pra um cachorro. Era algo mais do tipo “auá”. Mas nessa época ela já falava mamã e papá, então não perdemos nosso lugar pra uma besta.
Diga-se de passagem que “au-au” sequer é uma palavra. É uma onomatopeia que nem de longe lembra o som que os cães fazem. Não sei quem ensinou isso pra ela. Eu sempre digo “olha o cachorrinho!”, ou “olha o Rottweiler”, ou “olha o Golden Retriever, o Poodle, o Lhasa apso”, enfim, qualquer coisa menos primitiva que “au-au”. (Mentira, gente, eu não entendo nada de cachorro, nunca tive um, só sei que Dálmatas têm manchas). Chamo tudo de cachorro mesmo, e pombo é pombo, e pardal é pardal, as aves cuja sub-espécie eu desconheço são passarinhos e não tem nada de au-au nem de piu-piu. Mas pelo visto estou sozinha na minha crença de que chamar cachorro de au-au é coisa de retardado.
Mas eis que ela gostou desse negócio de “auá” e tudo o que anda, voa, nada ou rasteja ganhou esse apelido. Cachorro é “auá”, gato é “auá”, pombo é “auá”. E peixe? “Auá”.
Daí dia desses fui pegá-la na creche e, como de praxe, deixei ela curtir um pouco o aquário antes de ir embora. “Auá!” Peixe com codinome de auá deixa a dúvida: será que ela não estaria dizendo água?
Chegando em casa, perguntei: “Meu amor, o que foi que você viu hoje na sua escolinha? Foi o peixe?”. Ela responde prontamente: “auá!”
Mas os animais não apenas têm nome como também fazem barulho. E o som dos animais é sempre “wraaaaaa!” Começou nos idos de 2010, em uma visita ao zoológico. O leão, lá no fundo de sua cova, repousava com a maior cara de pastel e nenhuma emoção. Não queria que minha filha conhecesse o rei da floresta nessas condições, e tentei provocar a besta: “LEÃAAAO!! Ô LEÃAAAO!! Dá uma rugida aí pra Emília ver!!”. E nada. Então eu tive de improvisar e substituir a voz da fera: “WRAAAAW!!”. E ela achava a maior graça e repetia: “wraaaa!!”. Saí de lá perguntando: “Milinha, como faz o leão?” E ela: “wraaaa!”.
Daí Emília ganhou de aniversário da
Lu um livrinho com a foto de vários animais e a palavra referente ao barulho que cada um faz. Pra vaca, muuuu, pra ovelha, béeee, pro cachorro au-au, e assim sucessivamente. Ela curte à beça. A gente faz a maior sonoplastia e ela, a maior festa (apesar de que ninguém consegue me convencer de que porco faz “óinc”. O nosso porco faz um barulho igual ao de um gordo roncando). Ela até ensaiou repetir um “béee”, que ficou mais pra “báaaa”, mas quando está “lendo” o livro sozinha, adivinha que som os animais fazem? O cachorro: “wraaaa!”, o gato: “wraaaaa!”, a vaca: “wraaaa!”.
E aí eu pergunto: “Emilinha, como faz a vaca?” “Wraaaa!” E como faz a ovelha? “Wraaaaa!” E como faz o papai? “Wraaaaa!”.
E a mamãe, como faz? “Wraaaaa!”. É. Essa faz assim mesmo.