sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Relato de parto da Ana

A cabeça dela na minha mão. “É tão pequena”, eu disse. Descia, voltava um pouco. Com umas três ou quatro forças, anunciei: “Nasceu a cabeça!”. A parteira pediu calma antes que eu continuasse fazendo força para fazer nascer o corpinho.

“Agora, o Rafael vai receber seu bebê”, disse a parteira. Eu, mesmo com o tronco voltado para frente, numa posição em que certamente ela sairia por trás, pensei: “Até parece”.

+++

Dia 24 de julho. Às vésperas de completar 39 semanas, começo a perder o tampão. É dia de consulta com a parteira. A cabeça do bebê ainda está flutuando, mas minhas filhas sempre nasceram dentro das 24h seguintes à perda do tampão.

Vamos todos jantar fora, Rafael, eu e as meninas. Chegamos em casa exaustos, e marido tem a brilhante ideia de assistir à final da Libertadores. Vou dormir. Levanto à meia-noite, ele ainda está na sala. Prorrogação, pênaltis, e não consigo dormir até que ele venha pra cama, já mais de meia-noite e meia.

Às 4h do dia 25, acordo com contrações intensas, a cada 8 minutos. Peço ajuda pro Rafael, que mal consegue se manter acordado. Me sinto sozinha, a cabeça cheia de coisas: precisamos encher a piscina, preciso que o Rafael pressione minhas costas, mas ele dorme. Ligo pra doula, pra amiga (que também é doula) que prometeu cuidar das meninas durante o TP e pra fotógrafa. Logo descubro que minhas parteiras estão atendendo outro parto, e que a doula oficial também terá de atender outra pessoa que estava, aparentemente, com o TP mais avançado. O sol nasce, e meu TP vai embora. Mando todo mundo embora. “Vão descansar, depois eu chamo vocês.”

Dia 25 de julho. O TP não foi embora de fato, continuo com contrações ritmadas, só que agora um pouco mais espaçadas. Acho que não fui mesmo feita pra parir de dia. Emília vai pra escola, Margarida dorme e Rafael e eu conseguimos dormir um pouco pela manhã. Recoloco as ideias no lugar, me acalmo. É uma chance de recomeçar.

Depois do almoço, vamos fazer um piquenique no parque com minha amiga doula, a filha dela e as minhas. Já sinto vontade de vocalizar durante as contrações, que ainda estão a cada 9 minutos mais ou menos.

Perto das 17h o cansaço começa a bater. Vamos pra casa, colocamos as meninas pra dormir bem cedinho, 19h.

Não consegui mais dormir de fato, mas deu pra descansar até umas 22h, quando, com as contrações já mais intensas e bem ritmadas, entrei no chuveiro, eu e a bola. Não acompanhei as horas, não cronometrei as contrações. Achei que estava na hora de chamar todo mundo e pedi pro marido ligar. Ele hesitou, não sabia se estava na hora mesmo, já que eu tinha tido um TP que foi embora, mas a parteira ouviu meu gemido pelo telefone e insistiu em vir logo.

Lá pelas 22h30, 23h eu acho, estavam todas aqui – parteira, parteira auxiliar, amiga-doula-babá e a fotógrafa, que chegou um pouco depois das outras. Minha doula oficial não pôde vir, estava em outro parto; mas como eu tinha mais duas doulas em casa (a fotógrafa também era doula), não foi problema. Aliás, disseram que eu não precisava de doula nenhuma. Se ocuparam com a piscina enquanto eu permanecia sozinha no chuveiro.

Estava tudo muito fácil. Eu cantava, como fiz no parto da Margarida, mas desta vez consegui continuar cantando por muito mais tempo. Eram músicas de louvor ao meu Deus. Às vezes mesmo durante as contrações eu conseguia continuar cantando, claro que com uma entonação bem diferente. Às vezes eu parava de cantar e vocalizava um gemido longo. Gritar, eu não gritava. Também não precisava de ninguém pra me ajudar com a dor (que nem dava pra chamar efetivamente de dor, tão bem eu a estava administrando). Convidei o Rafael pra entrar no box mais pra me fazer companhia (ou para que eu fizesse companhia a ele). Conversávamos, ríamos, era bom. Quando a coisa começou a apertar um pouco mais, pedi que ficasse atrás de mim, pressionando minhas costas. “Mas sem interromper o fluxo de água do chuveiro, viu?”

De repente, comecei a urrar e fazer força. Assim, naturalmente, sem que eu tivesse tido aquela sensação de que não ia acabar nunca, sem que eu me sentisse cansada. Não me senti cansada em nenhum momento durante este parto – diferente de quando Margarida nasceu, quando eu tive de deitar entre as contrações; e bem diferente de quando Emília nasceu e eu quase apaguei no expulsivo. “A piscina já está pronta?”, perguntei. Estava. Me enrolaram num roupão, perguntaram onde estavam meus chinelos. “No tanque. Estão imundos de terra, por causa do passeio de hoje à tarde.” Fui até a sala descalça mesmo, meu piso é de madeira, aconchegante.

A água estava uma delícia, mas não era funda como eu esperava. O que me deu de alívio foi uma pausa um pouco maior entre uma contração e outra, mas não por muito tempo. Era a hora de pirar. “Ai, agora tá doendo!”.

Essa parte foi insana. Clamei pelo sangue de Jesus, pedi a Deus que não me deixasse só. Pensei – só pensei: “Onde eu fui amarrar minha égua? Cadê minha cesárea?”. No meio disso tudo, a piscina furou, a água começou a vazar, todos tentando resolver a questão, inclusive o Rafael. “Ei, tem gente demais resolvendo isso! Vem alguém aqui ficar comigo!”. Marido obedeceu. Entre as contrações (se é que existia entre as contrações) ele procurava outra posição que não fosse atrás de mim: “NÃO TIRA AS MÃOS DAS MINHAS COSTAS! É pra ficar com as mãos aí o tempo todo!”. Marido obedeceu.

Daí já surtando, perguntei pra parteira: “Cadê esse bebê?”. “Olha aí”, ela respondeu. Cabe notar que, como no parto da Margarida, não tive nenhum exame de toque. Eu sabia que o bebê estava baixinho pela posição do coração na ausculta, quase na minha sínfise púbica. Mas não sabia sequer se eu já estava totalmente dilatada. Coloquei dois dedos lá embaixo, e quando estava no segundo nó dos dedos senti uma coisa dura. “É a cabeça”. E aí eu não tirei mais a mão de lá, só queria fazer força e colocar meu bebê pra fora.

Daí comecei a senti uma coisa diferente, parecia um balãozinho partido em dois. Era a bolsa, que rompeu na minha mão. Com uma ou duas contrações, a cabeça já começava a sair. E assim como foi com minha segunda filha, eu mesma recebi minha caçula.

Momento para nunca mais esquecer. Seu corpo no meu, cheio de vérnix. “Deixa eu ver se é você mesma”. E ri. “Taíza, você errou!”. Era ela. Ana.

+++

Taíza, minha amiga-doula-babá, que no último trimestre da minha gestação começou a achar que era um menino, foi acordar as crianças. Emília, ferrada no sono. Margarida, acordadíssima e rindo na cama. Emília me apareceu com a maior cara de fascínio do mundo e cortou o cordão, como havíamos prometido que faria. E aí se seguiram aqueles momentos gostosíssimos do pós-parto imediato: sanduíche delicioso preparado pela parteira, avaliação gentil do bebê sobre um cobertorzinho aquecido, muito chamego nas filhas mais velhas. E na avaliação da mamãe ganhei de presente um períneo íntegro (ou levemente “ralado”, nas palavras da parteira auxiliar).

Aninha nasceu à 01h05 do dia 26 de julho de 2013, pesando 3,525kg e medindo 50cm.



Salmos 126

1. Quando o SENHOR restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha.
2. Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo; então, entre as nações se dizia: Grandes coisas o SENHOR tem feito por eles.
3. Com efeito, grandes coisas fez o SENHOR por nós; por isso, estamos alegres.
4. Restaura, SENHOR, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe.
5. Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão.
6. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes.

29 comentários:

mamãedemarina disse...

Lia,
Tão lindo... chorei até. A gente sente como se você se fortalecesse a cada maternagem nova que surge. Parabéns pra vc, parabéns para Ana. Apareça quando puder. Ler você me inspira. :).

Kelly Resende disse...

Lia, acho fascinantes seus relatos de parto, admiro demais sua coragem, tranquilidade e força. Parabéns!!!
De pensar que Emilia é da idade da Clara e vc já está na terceira e por aqui até agora nada. hehehe
Beijos

Rita disse...

Oi, Lia! Que lindo! Que especial e forte! Adorei o seu relato, muito obrigada por compartilhar! Espero que você esteja curtindo muito a sua caçula! Muita saúde pra você e sua família!
Um abraço,
Rita

http://melancianabarriga.blogspot.com

Cíntia disse...

Lia, fiquei imaginando o momento em que estourou a piscina. Acho que eu nao manteria a calma, mas você contornou a situação... Seus relatos sao lindos. Parabéns mais uma vez! Beijos

Fernanda disse...

Que lindo!! Mais fácil ou mais difícil que o da Margarida? Queria um assim para o meu Augusto
Beijos

Dany disse...

Lia, que coisa linda ler seu relato! Estou com 36 semanas de gestação e quero muito meu parto natural. Tenho lido muitos relatos pra me encher de coragem pra conseguir meu VBAC. Meu maior medo é não aguentar a dor na hora (embora eu saiba, conscientemente, que é possível aguentar) e clamar pelo bisturi e isso eu não quero de jeito nenhum.
Obrigada por compartilhar sua história. Bjs!

Patrícia Boudakian disse...

Parabéns, Lia. Belíssimo parto, relato emocionante. Muitos beijos e muito leite!

Anônimo disse...

Lia olhe! Estou super feliz por seu parto, seu relato dá emoção, mas a paz com que tudo passou, mesmo com furo na piscina e apt inundado rsrs, é o que mais me toca.
O nome é lindo pra mim e a data é a do meu aniversário.
Eu não havia comentado antes, mas já li seu blog todo e ele, a sua experiência e determinação foram fortes aliados pra que eu teimasse e conseguisse meu PVA2C a quase dois anos atrás.
Uma porta abre outra e outra e não há quem pare.
Muito leite e saúde pra todos
Bj
Rosa Lopes

Juliana disse...

Muito lindo! Também fico impressionada com a sua tranquilidade a cada parto, você faz parecer tão fácil quando conta...
Parabéns e muita saúde a amor pra família toda!

amanda. disse...

Meus parabéns, lia! Estou escrevendo meu relato de parto e me emociono a cada linha. Foi um VBAC bem desejado e intenso :)
Saúde a pequena e muito leitinho pra vocês!

amanda. disse...

Ah, esqueci de dizer... Nossos bebes nasceram no mesmo dia, pesando e medindo praticamente a mesma coisa!

Flávia disse...

Glória a Deus!!!
Lindo relato, Lia! Tenho que confessar que estava ansiosa aguardando o relato de parto da Ana.
Li os da Emília e Margarida e me emocionei muito. O da Ana não foi diferente.
E mais uma vez: lindo nome! Tb sou mãe de uma princesa do Senhor chamada Ana.
Saúde pra família e muito leite.

Dani disse...

Ah, que lindo! Estava esperando ansiosa pelo relato! Beijos, Dani.

Profa. Sylvana Santos disse...

Dá pra "ver" tudo o que aconteceu nesse dia do nascimento da Ana!
Parabéns, Lia e Rafael!

Ah, só falta agora atualizar o "Quem sou eu" :)

Dani Garbellini disse...

Lia, querida! Estou meio ausente da blogosfera, só agora vi que nasceu Ana. E em grande estilo fiquei sabendo, lendo seu lindo relato de parto.
Olha, eu não pretendo ter mais filhos, mas lendo seu relato, fiquei imaginando um terceiro parto. (hehehe - suspiros)

Adorei ler como Ana chegou bem vinda a esse mundo. Cheirinho nela e beijos na família. Parabéns!

Marie disse...

Maior q lindo!
Que nosso Deus, o Deus de Israel dê ordem aos anjos pra guardarem e cuidarem de vc, da Ana, Margarida, Emília e Rafael assim como está escrito no Salmo 91!
Parabéns... Muita prolactina rs rs rs.

Letícia disse...

que lindo, Lia! Parabéns pela família maravilhosa! abraços

Luíza Diener disse...

Essa parte foi insana. Clamei pelo sangue de Jesus, pedi a Deus que não me deixasse só. Pensei – só pensei: “Onde eu fui amarrar minha égua? Cadê minha cesárea?”.

ahahaha! só você msm, lia!
só fui ler o relato agora. adorei!
você nasceu pra parir, ein?

parabéns a você, pela força, ao rafael, pela paciência (e obediência. ahahah), à toda a equipe que te acompanhou, às suas meninas lindas (três! é uma delícia ter irmãs, né?).

e taíza, você errou de novo! ehehhe

beijos

Raphaela Rezende disse...

Que lindo!! lindo, lindo, lindo!

Parabéns, muita luz, saúde e amor!

Abraços,

Rapha

Ciranda Materna

Marina disse...

Lia querida. Tenho frequentado pouco os blogs do meu coração. Não importa quanto tempo eu fique ausente, seu blog sempre me traz as maiores e mais deliciosas surpresas. Que linda a Ana! Que linda sua família, seu jardim cada vez mais florido. Que linda sua coragem, seu amadurecimento. Que lindo é testemunhar essa intimidade que nós, mulheres, vamos construindo com nós mesmas, com nosso corpo. Fiquei muito feliz. Que Deus abençoe imensamente essa vida nova.

Unknown disse...

Oi, Lia,

sou de Brasília e ainda não estou grávida, mas estou começando os exames pré gravidez rsrs. Se Deus quiser, ano que vem terei um positivo. :) Estou com um pouco de receio no entanto de começar o acompanhamento com um GO que não seja a favor de um parto normal e natural. Ainda não tenho consenso com o marido se teremos o parto em casa, mas quero o parto com o mínimo de intervenções possíveis. Morro de medo de cair no conto do vigário (ou do médico) já que já tenho 32 anos (quase uma idosa para parir segundo alguns), sou baixinha, já fiz uma cirurgia de ninfoplastia... Ao mesmo tempo quero um médico em que possa confiar, sem ter a sensação de que estou arriscando a vida de meu futuro bebê. Quero orientação correta e sincera. Você tem profissionais que possa indicar? Médicos e doulas? Obrigada, Mariana

Lia disse...

Oi, Mariana,
Comece indo a uma reunião do Ishtar (http://ishtarbrasilia.blogspot.com.br/). Lá você vai conhecer muita gente que pode te recomendar profissionais pra te acompanharem.
bjos!

Flávia disse...

Oi Lia,
Como estão as meninas? E a mamãe de três princesas?
Um beijo

Vanessa disse...

Lindo relato!!!

Anônimo disse...

Parabéns, Lia, pela terceira. É Ana, como a minha primeira. Nome forte, de mulher guerreira. Beijo grande!

Anônimo disse...

Parabéns, Lia! Sua terceira tem o mesmo nome da minha grande, Ana. Nome forte, de mulher guerreira. Beijos pra família!

Mari Mari disse...

Sabe, Lia, eu tenho impressÃo que a blogosfera não é pra quem tem 3 filhos. Quem tem 3 filhos não tem tempo de postar. Só a Celi mesmo...
beijo. Feliz Natal.

Ana Júlia disse...


Oi, Lia!!!

Fiquei super feliz por saber que tiveste mais uma filha. E aproveito para te dizer que minha família vai ficar igual à tua: tô esperando a terceira menina. Por isso, tô me identificando demais com o teu relato. Optei por um parto humanizado, na água, mas confesso que tô morrendo de medo. Medo de lacerar o períneo, medo de não conseguir fazer a força expulsiva e sobretudo, medo de ficar com "aquilo" frouxo. Só o sangue de Jesus nessas horas, como você diz.

Beijão pra você e suas lindas

Vanja disse...

Oi Lia,
Que legal, já veio a terceira!
Parabéns!
Sem querer caí no seu blog fazendo uma busca... que presentão!
Lindo relato de parto!
A cada dia que passa acredito mais e mais que quem deve pegar o bb pela primeira vez é a mulher que está parindo ou o pai da criança! É lindo demais isso!
Que sua familia cresça em harmonia!
Vou buscar uma foto de vc com a criançada.
bj grande


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