segunda-feira, 29 de julho de 2013

Parteira: profissão serviço

A diferença entre uma assistência obstétrica padrão e uma assistência humanizada está no coração. Médicos e médicas, enfermeiras obstetras e parteiras humanizados vão além de um mero acompanhamento clínico protocolar. Importa o relacionamento pessoal entre profissional de saúde e paciente, importam as experiências da família que está sendo acompanhada, importam não apenas os resultados clínicos do parto (se bem que esses tendem a ser bem melhores quando a assistência é humanizada), mas também a satisfação da mulher, do casal, do bebê, da família. E aí é impossível não falar em amor. Difícil misturar profissionalismo com amor, mas é o que é. E é o que funciona.

No dia seguinte ao parto, tive uma intercorrência que me assustou um pouco. Liguei pra minha parteira, ela veio na hora. Como estava na dúvida sobre o que era exatamente, ligou pra parteira auxiliar e pra minha médica. Tudo parecia bem, mas como eu tinha ficado nervosa, ela me ligou mais tarde pra ver como eu estava. No dia seguinte (ontem), minha médica me ligou e se ofereceu pra passar aqui e me ver. Minha médica acompanhou todo o meu pré-natal e ficou de sobreaviso caso eu precisasse ser transferida para o hospital. Mas não foi ela que assistiu meu parto, e não recebeu nada por isso. Ainda assim, veio voluntariamente me fazer uma visita domiciliar. Estava tudo bem, foi uma visita rápida, mas que fez toda a diferença para que eu ficasse tranquila. Profissionais humanizados se importam com a nossa tranquilidade.

Ontem estava pegando uma calcinha e lembrei da parteira auxiliar mexendo nas minhas gavetas e procurando "uma calcinha preta grande". Parteiras nos vestem, nos secam os cabelos, mexem na nossa gaveta de calcinha. Assim que Ana nasceu, tive fome. Minha parteira foi à geladeira e preparou um delicioso sanduíche pra mim. Eu me satisfaria com um pão com requeijão, mas ela preparou um sanduíche com salada e tofu, bem temperadinho.

São gestos, pequenos, mas significativos. No parto de uma amiga, soube que minha médica secou os óculos dela, que estavam molhados e embaçados pela água do chuveiro.

Óbvio que não preciso nem falar das doulas, cujo métier é justamente a ternura. Mas o que me impressiona nesses profissionais, médicos e parteiras, de formação científica, inteligentes, cautelosos, aptos para lidar com intercorrências, aptos a conduzir uma transferência para o hospital, no caso das parteiras, e a executar uma cirurgia salvadora, no caso dos médicos, é a sua humildade. Humildade para aprender com as gestantes que acompanham, crescer e mudar. Humildade para não se achar importante demais para "perder" seu tempo em uma visita a uma puérpera inquieta. Humildade para ajoelhar-se e calçar uma meia em uma parturiente, como um servo faria com sua Senhora. Humildade, enfim, para servir.

Dou graças a Deus pela assistência que tive e sigo tendo. É um privilégio sem tamanho. Estar cercada de amor durante a gestação, o nascimento e as primeiras semanas de um bebê é grande parte do que me deu coragem para chegar até aqui.

Obrigada a todas as pessoas que têm nos acompanhado, e que a graça de Deus recompense esse amor.

8 comentários:

Luíza Diener disse...

Senti tanto amor pela paloma e iara que fiquei quase de luto no pós parto por saber que a convivência que tivemos diminuiria com a chegada da Constança. Um baby blues diferente.
Iara lavou minha louça e brincou com meu filho. Paloma, então, nem se fala. As nossas visitas constantes ao seu consultório e depois as dela ao nosso lar fizeram dela, além de parteira, um pouco psicóloga, um pouco amiga.
Comparo essa despedida à de uma professora querida ao fim de um ano letivo.

Até msm a dra rachel foi um amor comigo nas duas únicas consultas em que estive e me tranquilizou demais na última que fui.

A fotógrafa foi um outro amor à parte.

Um parto cheio de amor.

A gente percebe quando a pessoa ama o que faz e quando faz somente por obrigação.
No meu coração ficará um eterno sentimento de gratidão por elas e por esse belíssimo trabalho que elas realizam.

Fico feliz que tudo esteja bem com vc, Lia, e que vc esteja rodeada por pessoas tão boas!
Parabéns pela Ana e por todo o resto!

Beijo

Luíza Diener disse...

Senti tanto amor pela paloma e iara que fiquei quase de luto no pós parto por saber que a convivência que tivemos diminuiria com a chegada da Constança. Um baby blues diferente.
Iara lavou minha louça e brincou com meu filho. Paloma, então, nem se fala. As nossas visitas constantes ao seu consultório e depois as dela ao nosso lar fizeram dela, além de parteira, um pouco psicóloga, um pouco amiga.
Comparo essa despedida à de uma professora querida ao fim de um ano letivo.

Até msm a dra rachel foi um amor comigo nas duas únicas consultas em que estive e me tranquilizou demais na última que fui.

A fotógrafa foi um outro amor à parte.

Um parto cheio de amor.

A gente percebe quando a pessoa ama o que faz e quando faz somente por obrigação.
No meu coração ficará um eterno sentimento de gratidão por elas e por esse belíssimo trabalho que elas realizam.

Fico feliz que tudo esteja bem com vc, Lia, e que vc esteja rodeada por pessoas tão boas!
Parabéns pela Ana e por todo o resto!

Beijo

Cíntia disse...

Esses profissionais nos tocam de uma forma tao profunda que nunca o esqueceremos. Embora eu estivesse lesada no pós parto por causa da hemorragia, eu tenho em mente a face e a doçura da enfermeira obstetriz que analisou a minha episio. Ela foi tao delicada, atenciosa e humana, que por instantes a dor se foi. Senti-me verdadeiramente acolhida. Nunca vou esquecer!

Fico feliz por tudo ter dado certo e pelas páginas da história da sua família contarem com um trabalho tao humanizado.

Parabéns pela Ana! Parabéns mais uma vez para você!

beijos

Fernanda disse...

Lia, total verdade isto.... Eu que trabalho em maternidade infelizmente bem vejo que a gravida quando chega é muitas vezes vista como um problema a resolver, para aliviar a equipe ela entra no pacote com uma receita já pre estabelecida: bolsa rota tem que ficar em repouso no leito, faz registros a cada x horas, depois de y horas inicia a indução, o intuito é tentar tornar tudo mais rápido e previsível e infelizmente nao funciona bem. Tenho colhido inúmeras historias de mulheres na consulta de puerperio que ficaram infelizes e acham que parto é uma experiência para esquecer : passou doutora, graças a Deus. Acho que nao quero outro nunca mais.
Dói muito, tenho vontade de abraçar (muitas vezes abraço!) pois sozinha sou incapaz de transformar isto.
Na duvida se luto ou desisto.
Beijos e parabéns

Clarissa Presotti disse...

que coisa mais linda, Lia. Penso exatamente igual. Parabéns pela Ana!

Anônimo disse...

Que lindo esse post! Tomei a liberdade de compartilha-lo lá no facebook do meu blog. É legal divulgar para o mundo a diferença entre um atendimento comum e um humanizado. Está nos pequenos gestos!

Unknown disse...

Oi Lia! Conheci hoje o seu blog e já me apaixonei pelo título...
Adorei esse post e o carinho que você expressa por essas profissionais que com seus pequenos gestos fazem toda a diferença. Faz parte do meu trabalho assistir e registrar de forma discreta toda essa atenção e todo esse amor que parteiras, doulas, médicas humanizadas colocam no limpar os óculos, secar os cabelos ou mexer na gaveta de calcinhas. E as admiro demais por isso!
Belo post e bela homenagem a esses anjos que vieram ao mundo pra fazer a diferença.

Juliana Mauri disse...

Lia que bom que deu tudo cetto. Te acompanho mas quase nunca comento, amo seu blog, seu jeito de escrever. Bem vinda Ana!!!


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