segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Liberdade, liberdade

Se tem algo que eu poderia desejar para 2013 seria liberdade. É incrível como tendemos a oscilar entre o proibido e o obrigatório, sem parar muito no meio. Se um dia as mulheres não podiam trabalhar, hoje elas têm de trabalhar. Se um dia éramos obrigadas a sentir as dores do parto, hoje não podemos mais senti-las. Se a lei não permite abortar bebês malformados, difícil achar uma mulher com um diagnóstico de malformação que não se sinta coagida a interromper a gestação. Sim, podemos fazer escolhas. Mas o preço a pagar por uma escolha não conforme ao status quo é alto, muito alto.

Quando digo liberdade, não digo liberdade para fazermos o que desejamos. Se ao menos nossos desejos fossem nossos... mas são moldados por toda uma parafernália de estímulos que muitas vezes não temos como evitar. E fica difícil saber o que sou eu que quero e o que é a publicidade que me mandou querer. Quando falo em liberdade, falo em liberdade para fazermos o que achamos certo. Bom. Justo. Liberdade para seguirmos nossas convicções mais profundas, ainda que pareçam loucura aos olhos da maioria.

Liberdade para dizermos não ao automatismo, para questionarmos as formas como as coisas sempre têm sido feitas. Cansei de ouvir que assistimos à Xuxa, comemos Fandangos, nascemos de cesárea, tomamos mamadeira, brincamos de Barbie, fomos criados por babás e está todo mundo bem. Pois eu entendo que "todo mundo" não está nada bem. Bem é o quê? Vivo? Bem, nem todos estão vivos. Alguns se suicidaram, alguns morreram em virtude de violência ou acidentes de carro envolvendo álcool e velocidade excessiva - tragédias que poderiam ter sido evitados se nossa sociedade não estivesse doente. O restante está enchendo os consultórios de psicólogos, psiquiatras, endocrinologistas, nutricionistas, cirurgiões plásticos, as academias de ginástica e as agendas dos gerentes de banco em busca de empréstimos para saldar dívidas contraídas com compras inúteis. Foi feito um péssimo trabalho com a nossa geração, que está sendo passado para nossos filhos.

Queria, para 2013, liberdade para rompermos com os ciclos de violência, de descaso, de abandono. Liberdade para dizermos não à preguiça, para suarmos em defesa dos nossos filhos. Para cuidarmos deles. Liberdade para sair da hipnose da indústria do entrenimento. Para enfrentar a dor, a morte, a doença, sem termos de nos anestesiar no shopping. Liberdade para nos satisfazermos com uma vida simples, e não precisarmos trabalhar tanto para ter coisas das quais não precisamos. Para rirmos no tempo de rir, e chorarmos no tempo de chorar. Para plantarmos no tempo de plantar, e colhermos no tempo de colher. Para abraçarmos no tempo de abraçar, e nos afastarmos no tempo de nos afastar.

E para sermos felizes.

"Liberdade não é fazer o que nós temos vontade de fazer. É fazer o que achamos certo."
Meu pai.


17 comentários:

disse...

Lia que texto verdadeiramente lindo! Depois de ser mãe me vejo cada vez mais lutando contra estes conformismos e modismos. Às vezes a batalha é difícil, e de tanto cansaço acabo cedendo. Mas basta uma noite bem dormida pra colocar as ideias em ordem e sair em busca da liberdade. Ou encontrá-la aqui dentro, que penso ser o caminho mais reto. Um ano novo livre de amarras, pra todos os nós. :)

Mim disse...

Lindo texto e belíssima reflexão! Amei começar o ano lendo essas linhas!
grande abraço
Helena

Gabi disse...

Lia, adoro seus textos. Liberdade é o presente que eu queria para mim; era o que eu queria dar ao João. Ainda que eu não ache que "foi feito um péssimo trabalho com a nossa geração", penso que temos muito, todo dia, a melhorar. Quero ser uma mãe melhor que a minha foi e quero que o João seja melhor para os seus filhos do que nós conseguiremos...

Micheli Ribas disse...

Concordo com tudo, Lia! Ótimo texto!
Um ano de muita liberdade para vocês. Beijos.

Nine disse...

Saudades de você! E as meninas! Nossa, não há como não dizer o óbvio: como cresceram!

Que um pouco dos seus desejos possam ser contemplados neste ano que inicia!

Beijos!
Nine

Anne disse...

eeee Lia! Sempre você!
amei o texto, estou nessa busca agora também, pela liberdade e com medinho dela! :)
bjo

Anne disse...

ps: virei vegetariana volmorre!!!!

Cíntia disse...

Que texto maravilhoso Lia! Acho que tem que ser muito alienado para achar que "sobrevivemos" a todo o que nossa geração foi submetida e dizer que "está tudo bem". Esse comodismo inquieta a todos, e que você o abordou de forma tão objetiva. Sejamos mais leves e livres!

beijos, saudades! :)

AlinedaLuiza disse...

Por isso sinto tanta falta dos teus textos! Bem escritos, ideias bem elaboradas! Desejo tudo de bom pra vc e sua família em 2013. E apesar de desejar tb liberdade, peço encarecidamente, que apareça mais por aqui!! Beijos!

Kelly Resende disse...

Oi Lia, que bom poder ler mais um texto seu, estava com saudades!!! Essa história de padronizar é terrível, principalmente comportamentos! Liberdade é mesmo uma ótima pedida.
As meninas estão enormes!
Beijos

Ilana disse...

Lindo texto, Lia. Adorei!
Bjos e feliz ano novo

Unknown disse...

Lindo texto Lia, estava sentindo falta de seus post, te acompanho desde o inicio tenho seu blog nos meus favoritos e sempre espero que vc post algo pra nos mamães, aprendi muito com suas experiências e sei que vc vai contribuir muito mais, sou mãe da Isadora com 2 anos e 7 meses e do Douglas Filho com 7 meses, até o proximo texto lindo como este aqui. Continue publicando suas experiencias com a Emilia e Margarida.

Luciana Santos disse...

Parabéns Lia, sempre que posso dou um pulinho aqui!

Bjus

PsicoMães disse...

Concordo em tudo que você disse.
"Todo mundo" não está bem e quando comento que precisamos fazer alguma coisa aparecem comentários do tipo "...é seria bom se fosse diferente, mas não é." Não é por que a gente não quer.
Compartilho da ideia de uma vida simples,com menos coisas e mais pessoas e momentos.

Cristine Cabral

Daphne doula de BH disse...

Deliciosas palavras. Refletem a verdade atual. Eu tb não me conformo em sobreviver, eu quero liberdade para viver a minha felcidade. Parabéns pela rdflexão!

Marina disse...

Excelente, Lia! Seu pai tem toda razão!
bjs

Isa disse...

oi Lia,
descobri seu blog ontem, pois queria saber sobre umas bolinhas na mão, e descobri mais um monte de coisas. Principalmente, descobri uma pessoa que tem o pensamento muito parecido com o meu. Adorei esse texto, mesmo estando 'atrasada' :) Muita felicidade para os seus 'sacos de farinha' e para vc!! Abraços desde Londrina - Isabeli


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