quinta-feira, 1 de julho de 2010

Valorizando a maternidade



Li o Manifesto pelas Mães, elaborado pelo Grupo Cria, e vim dar minha contribuição para a valorização da maternidade. Ninguém me pediu pra divulgar nada, e é de coração que escrevo aqui o que um movimento como este significa pra mim.

Não sou uma pessoa exatamente engajada. Muito antes pelo contrário. Ainda antes de virar mãe, eliminei das minhas leituras jornais e revistas, parei de ver filmes violentos e me refugiei no meu mundinho de romances e desenhos animados. Isso porque tudo foi ficando muito pesado, muito duro, e ao mesmo tempo eu fui ficando mais frágil e decidi que era melhor assim. Uma alienação inofensiva. Afinal, se você não vai fazer nada a respeito das notícias ruins, melhor será ignorá-las.
Até que nasceu este blog, enquanto Emília crescia dentro de mim e eu mesma me metamorfoseava nesta outra coisa: esta coisa mãe. E fui vendo muita gente se manifestando pelo bem de nossas crianças. Por uma maneira mais humana e saudável de gerar e parir um filho, pelo direito de as crianças serem crianças, sem se transformarem precocemente em máquinas de consumo ou em mini-adultos, pela possibilidade de nossos bebês receberem o melhor dos alimentos - o leite materno -, e seguirem sua jornada alimentar sem terem seu paladar viciado involuntariamente por maus hábitos que nós, adultos, trazemos pra dentro de casa. E fui me apaixonando por tudo isso.

Digo que me encontrei na maternidade. Descobri que nasci pra isso. Brinco dizendo que, por mim, ficava engravidando e parindo até a menopausa (é, talvez eu tenha nascido na época errada). E daí o que seria um engajamento, uma militância, virou naturalmente um diário de reflexões e desabafos. E hoje reflito sobre o papel das mães na sociedade.

A causa das mães não é uma causa particular. Não é própria, não é só das mães ou só dos filhos. É uma causa da família, que, por mais que muita gente tenha tentado diminuir, ainda é a base da sociedade. Li em algum lugar que reivindicamos um mundo melhor pros nossos filhos, mas muitas vezes esquecemos de legar filhos melhores pro nosso mundo.

Valorizar a maternidade não é uma atitude simplesmente feminista, que beneficia só as mulheres que deram à luz ou adotaram crianças. É valorizar os pais, os filhos, e este mundão que amanhã vai ser habitado por essas crianças de hoje - que na família vão encontrar a primeira base para se tornarem bons cidadãos. A criança amada, bem cuidada, que tem no lar sua segurança, tem muito mais chances de se tornar um adulto equilibrado. É menos violência, menos corrupção, menos violações aos direitos humanos. Enfim, pra mim, o único caminho pra fora do subdesenvolvimento.

E como valorizar as mães? Como bem diz a imagem aí em cima, certamente não é com uma rosa no dia das mães. A prorrogação da licença maternidade por mais 60 dias (projeto empresa cidadã, que, infelizmente, ainda não é adotado por todo o mercado), por exemplo, é uma medida.

Mas jogo algumas ideias um pouco mais ousadas, caso algum parlamentar caia aqui por acaso.

- direito à redução de jornada de trabalho de 40h para 20 a 35h/semanais, conforme a opção da mãe e com remuneração proporcional, após o término da licença maternidade. (Por que esse tudo ou nada? Por que ficamos muitas vezes forçadas a nos decidir entre passar o dia longe dos nossos filhos ou não trabalhar?).
- obrigatoriedade da presença de salas de ordenha em empresas que tenham um número mínimo de funcionárias em idade fértil.

Um dia a gente chega lá, se Deus quiser. Enquanto isso, a gente pede a Deus pra não enlouquecer.

11 comentários:

Fabiana disse...

Este manifesto é bacana mesmo.
Pouca gente valoriza a maternidade.

No dia que fui na empresa mesmo, alguém perguntou como foram as minhas férias...

É bem como diz um trecho do manifesto:
"Mãe, que se dedica de corpo e alma ao significativo projeto de criar uma criança, enfrentando um nível de cobrança superior ao de qualquer chefe ranzinza e cliente exigente. 365 dias por ano, 24 horas por dia. E mesmo assim é percebida como alguém que não faz nada."

Bjocas

Fabiana disse...

Nossa, faço minha as suas palavras. E se pudesse tb teria um filho atrás do outro.

Paloma Varón disse...

Ótimo, Lia, belíssima contribuição! Tô divulgando esta campanha em todos os meios.
Concordo com tudo, mas este trecho sobre a criança amada e bem cuidada cai como uma luva para explicar questões sociais, como a violência. Antigamente, associava-se a violência "apenas" à brutas desigualdade social. Hoje sabemos que, mais do que questões econômicas, a violência está ligada a isso, a pessoas que cresceram sem referências, sem cuidados, sem amor.
E é óbvio que isto é um problema da sociedade e não só das mães. Tô com um post engatilhado sobre isso, mas sem tempo para elaborar (acabei elaborando um pouco aqui, podia?).
Beijo

Roberta Lippi disse...

Adorei seu texto, Lia. Penso exatamente como você. O que em um primeiro momento pode parecer um movimento feminista, é de fato uma manifestação a favor das famílias. É para elas que fazemos tudo isso: não é só para nós mesmas, nem só pelos filhos. É para que possamos ter orgulho de ver nossos filhos tentando melhorar o mundo e não apenas esperar que alguém o faça por eles.
Também mudei muito depois da maternidade. E vou dizer uma coisa: desde que me envolvi mais fortemente com essa comunidade das mães blogueiras, me tornei ainda mais consciente disso tudo.
Beijo grande

Marina disse...

É menina... a luta é dura. Mas sabe que este movimento todo na blogosfera tem me deixado animada? Sei lá... me deu aquela esperança de que a gente pode fazer a diferença. Só falta descobrir como. Vontade de... sei lá... abrir uma sociedade entre nós todas... uma empresa modelo com todos esses direitos que a gente sonha em um dia ter. heheh Quem sabe...

Carol Passuello disse...

Lia, acompanho teu blog sempre, é muito legal. Aderi tb ao manifesto, obrigada por apresentá-lo!
Bjs

Ana disse...

Esse manifesto é muito bom.
Luta-se para valorizar muita coisa.
Mas um dia irão entender a importância de ser mãe para o mundo.

E que bom que pude ajudar em alguma coisa.
Aos poucos a gente vai percebendo Lia que para muitas coisas o negocio é relaxar mesmo e respeitar o ritmo do nosso filho.
Assim fica bom para ele e menos cabelos arrancados da gente. Rs
Beijão.

Luíza Diener disse...

eu adorei e vou fazer a maior campanha!

Angela disse...

Olá... caí aqui pelo paraquedas do twitter. Também apoio o manifesto.

Como você, depois da gravidez também me desliguei do mundo de notícias trágicas e violentas, dos filmes de morte e terror. Isso também me faz mal.

Parabéns pelo blog.

beijo

anapaularepezza disse...

Oi Lia,

Mais uma vez, lindo post ! Acredito, inclusive, que ele deva ser publicado em jornais, revistas, etc...pois suas reflexões são muito sensatas e as propostas do final, maravilhosas !!

Já pode contar com o meu voto: Lia para vereadora !! (ih, acho que aqui em Brasília é deputada distrital, né?)

bjs

Anna disse...

Que lindo texto, Lia!

Assino embaixo!

beijso


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