Emília continua acordando à noite, incontáveis vezes. Ela chora, o pai a pega no colo e ela fica toda suricata, como se estivesse acordando de vez, para todo o sempre. Não encosta no ombro dele, não amolece, não dá margem pra ser ninada. E só volta a dormir no peito (pelo menos aí é imediato).
Então, para evitar as idas e vindas de vez em quando temos apelado para a cama compartilhada.
Não sou defensora da cama compartilhada e nem contrária a ela. Assim como quase tudo na maternidade, é uma prática que pode funcionar para algumas famílias e para outras não.
Antes de passar minhas impressões sobre nossa experiência, quero deixar duas coisas claras:
- li diversos estudos e não vejo nenhum fundamento científico que aponte possíveis problemas emocionais decorrentes da cama compartilhada, como dependência excessiva dos pais, inseguranças e problemas sexuais;
- da mesma forma, não encontrei nenhum dado convincente de que deixar a criança dormir sozinha em seu berço geraria traumas.
Assim, eliminemos esse papo de que uma ou outra prática – leito conjunto ou berço – causaria danos ao bebê e deixemos nosso instinto materno e nosso coração apontarem o caminho (ui, que brega!).
Lá em casa é assim:
Nem eu nem o Rafael somos entusiastas da ideia de dormir junto com Emília. Ele morre de medo de esmagá-la, então passa a noite no cantinho da cama e acorda todo dolorido. Eu tenho o sono super leve, e tenho dificuldades de dormir com aquela coisinha rodopiante ao meu lado. Some-se a isso o fato de que nossa cama é tamanho padrão e não tem espaço sobrando, então dormimos com muito amor, se é que vocês me entendem.
Como Emília nasceu dormindo super bem, foi direto pro bercinho dela e assim foi até os seus 8 meses, por aí. Até que tudo mudou.
Mesmo ela tendo começado a acordar mais de duas vezes por noite ali pelos 4 meses, sempre foi tranquilo devolvê-la ao mundo dos sonhos. Muitas vezes nem era necessário tirá-la do berço, e quando tínhamos de pegá-la no colo ela costumava voltar a dormir rapidamente. Quase sempre quem fazia isso era o Rafael, a menos quando ele estava adoentado ou muito cansado.
De um mês pra cá, mais ou menos, o Rafael não consegue mais acalmá-la. Mesmo sendo bastante flexíveis quanto à possibilidade de aplicar técnicas pra ajudar o bebê a dormir, sempre tivemos a filosofia de não deixá-la chorando, especialmente de madrugada. E não estou falando somente de abandonar o bebê no berço: chorar no colo também não vale no meio da noite. Começou a se esgoelar, peito!
Então foi ficando assim: peito três, quatro, oito, infinitas vezes à noite. E o Rafael, coitado, ficou apenas com o papel de tirar Emília do berço e levá-la pra nossa cama.
E estamos na seguinte situação: a menos que tenha sérios problemas pra pegar no sono, e não consiga adormecer depois de ter transformado meus peitos em duas muxibas, Emília vai pro berço assim que dorme (esse negócio de colocar o bebê acordado no berço às vezes funciona, às vezes não, e quando ela está dando muito trabalho vai pro berço só quando capota). Caso contrário, normalmente quando já estamos cansados, tentamos acalmá-la na nossa cama. A gente avalia se é arriscado devolvê-la pro berço ou se é melhor deixá-la onde está. Nem sempre a gente escolhe certo, mas a paternidade e a maternidade são assim mesmo.
Às vezes ela fica no berço até a primeira acordada, ou até a segunda, enfim, até a gente achar que dormiremos melhor com ela na nossa cama que levantando toda hora. A máxima pra decidir onde ela dorme é: ela dorme onde pudermos descansar melhor, todos os três.
Estou com a consciência tranquila a respeito das nossas atitudes, sem ficar achando que eu estraguei Emília dando o peito de madrugada. Eu sempre dei o peito se ela chorava à noite, durante 8 meses, e só agora ela parece estar “dependente” dele pra dormir. Ou seja, não foi algo que eu ensinei – a menos que ela seja burrinha e só conseguiu aprender aos 8 meses.
Parece que foi mesmo uma necessidade que surgiu agora. Não é chupeta, porque ela mama forte, sinto os dutos jorrando leite. Ela come o dia inteiro e mama a noite inteira, o que me faz pensar que talvez ela esteja numa fase de desenvolvimento onde há um gasto metabólico tão alto que ela não dá conta de ingerir todas as calorias necessárias só durante o dia. Pode ser também uma forma de compensar minha ausência durante o dia, por causa do trabalho.
Em todo caso, prefiro errar dando peito e consolo demais que de menos. E, cá entre nós: a qualidade do sono não é a mesma, mas é impagável a sensação de acordar e olhar aquela cara olhudinha e aquele moicano despenteado...
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E para quem já pensou em dividir o leito mas teme as consequências sobre sua vida sexual, proponho a cama semi-compartilhada: bebê dorme no berço até despertar no meio da noite, depois vai pra cama dos pais. Daí o casal tem a primeira parte da noite – quando normalmente rolam as coisas, né? – só pra ele.