- Quer dizer, tia. Quase todo sábado. No fim do período –
ela me explicou: agora são cinco períodos de um mês e pouco, em vez dos quatro
bimestres do meu tempo –, no fim do período a gente tem um sábado de folga.
- E pra quê isso, Mari?
- Ué, tia. É porque eles não querem cancelar a aula pra ter
prova durante a semana.
- Mas pra quê tanta prova?
- É porque são cinco avaliações por ano. E são muitas
matérias.
- Mas não dá pra colocar tudo num sábado só por mês?
- Não tia! A gente só consegue fazer três provas de cada
vez.
- Sinceramente, Mari... você acha que precisa disso?
- Não, tia. Não precisa.
Mariana é boa aluna, alegre, responsável. Vai à igreja todos os domingos de manhã, de modo que não tem uma manhã sequer livre para, sei lá, ir ao clube, dormir até mais tarde, tomar a fresca.
Quando cursei o ensino médio, minhas aulas começavam às 7h15 e iam até 12h45. Agora eles entram às 7h e saem às 13h, com a diferença que têm dois intervalos de 15min em vez de um só. De todos os modos, o período diário cresceu em 15min. “Isso quando não tem o sétimo horário, tia!”. Todas as semanas eles têm um dia com horário estendido.
Fico me perguntando qual o objetivo de tudo isso. Einstein
não fazia prova sábado. Einstein não estudava em escola bilíngue. Einstein não
foi alfabetizado aos 4 anos de idade.
Quais os resultado de uma carga horária de estudos sempre
crescente? Os jovens estão ficando mais inteligentes? Mais humanos? Mais
preparados para lidar com os problemas sociais que vão estourar nas suas mãos?
Aptos a desenvolverem mecanismos para a sustentabilidade do planeta? Para que
tenhamos água daqui a 20 anos? Aptos a construírem um país menos desigual,
menos violento, menos injusto?
Nada me convence de que essa corrida escolar não é senão um
estapeamento coletivo pra ver quem chega primeiro. Seu filho tem te estudar na
escola X, com a maior carga horária da cidade, para não ficar pra trás. Para
ter um emprego melhor, para ter sucesso pessoal, para ter dinheiro. Não existe
qualquer preocupação com a coletividade, com o jovem enquanto um servidor social,
um colaborador ativo na construção de uma sociedade livre, pacífica e justa.
Fazer prova todo sábado serve somente (se é que serve) a
mim, enquanto adversário do outro. Quem estudar mais, passa.É urgente questionar, mais uma vez, nosso sistema escolar. É urgente visitarmos a nós mesmos e sondarmos as motivações que nos levam a escolher esta ou aquela atividade para os nossos filhos. Não digo que haja opções; nem sempre as há. E pode ser que, daqui a dez anos, minhas filhas estejam todas fazendo prova aos sábados. Mas que eu não desista de ensinar a elas, todos os dias, que não estamos aqui para nós mesmos, e que não somos ninguém senão na nossa relação com o outro.
Isso nunca é cedo pra ensinar.