terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Nosso primeiro desfralde

Sabe essa história de mãe de primeira viagem, mãe de segunda viagem, de terceira..? Tenho a teoria de que toda mãe, até que os filhos se tornem adultos, é uma mãe de primeira viagem - com o primeiro filho. Porque com Margarida é uma beleza, terreno conhecido e muita tranquilidade. Isto eu já fiz antes: já amamentei em livre demanda, já introduzi alimentos, já adaptei em creche, então quando chegar a vez dela será mais fácil. Mas nunca desmamei, nunca desfraldei, nunca conheci um primeiro namorado. E aqui estou eu, mãe de primeiríssima viagem, acompanhando Emília na sua emancipação fraldística.

Gosto de ler bastante sobre as etapas mais cruciais do desenvolvimento da criança para ter alguma referência na hora de agir, escolher as teorias que fazem mais sentido para mim e me sentir amparada de alguma forma. Mas, além das experiências de outras mães, não estudei muito sobre o processo do desfralde.

Eu sabia que uma das metodologias mais propagadas por aí é aquela do "tirou, tá tirado". A ideia é, desde o primeiro dia, deixar a criança sem fraldas o dia inteiro para ela não se confundir. "Estou sem fralda, estou de fralda? Prendo, deixo sair?". Esse método também não aceita regressões: uma vez iniciado o processo, vamos até o fim, sem voltar atrás.

Nunca gostei muito dessas transições radicais em direção a uma outra etapa da vida da criança. Gosto de tudo aos poucos - a menos que a criança sinalize que dessa vez é assim mesmo, pá e bufo! E achava que com o desfralde não seria diferente, é tanto que em dezembro comecei, despretensiosamente, o que chamei de pré-desfralde.

Só que o negócio ficou sério. No finzinho do ano passado, quando Emília estava usando fraldas descartáveis pra dormir (ela usava de pano, mas o xixi foi ficando muito volumoso e a fralda de tecido não aguentava mais à noite), ela teve uma alergia severa que coçou, sangrou, ficou feia. Então eu me vi obrigada a deixá-la sem fralda todos os dias durante algumas horas para arejar a ferida, além de aposentar de vez as descartáveis.

Óbvio que tivemos muitos xixis no chão, mas o objetivo não era desfraldar, mas curar a assadura. Como ela estava de férias, passávamos a maior parte do tempo em casa e era mais fácil. Ela rapidamente aprendeu a não pisar no xixi para não escorregar e dava tempo de eu limpar o chão antes de algum acidente. Ela nunca escorregou nem fez xixi em qualquer lugar que não fosse o chão (sofás, camas, colo, nada disso). E começou a fazer alguns xixis no penico. Isso me fez ver que ela já tinha um bom controle sobre os esfíncteres e resolvi tentar levar o processo adiante, mesmo depois que a alergia melhorou.

Mas optei por começar devagar. Algumas horas sem fralda de manhã, sempre em casa, e só. Esse tempo foi aumentando até eu resolver deixá-la sem fralda também na casa da minha mãe (onde tem penico). Minha ideia era dar a ela segurança antes que ela fosse forçada a usar banheiros desconhecidos, sanitários altos e sem redutor.

Na semana passada, ela voltou às aulas. Até então, ela estava usando fraldas sempre que saía (inclusive a levamos de fralda para a creche). Fiquei um pouco insegura sobre como seria a sequência do desfralde na escola, já que tinha toda a coisa da readaptação, sala nova, professoras novas. E, pra piorar, nenhum dos coleguinhas dela estava desfraldado ainda (só uma aluna nova, que também estava no meio do processo de desfralde).

Expliquei às professoras em que pé estávamos, mandei calcinhas e fraldas e lá fomos nós. Eles também são adeptos do método progressivo, e começam por deixar a criança sem fraldas nas áreas externas - porque, em caso de acidentes, não tem perigo de as outras crianças mexerem ou escorregarem no xixi. De segunda a quinta, xixis na calça e nada de vaso. Na sexta-feira, quatro xixis no vaso (o primeiro com o pai, assim que foi deixada na creche) e nenhum acidente!

Sábado foi a última vez que saí com ela de fralda, para uma festinha infantil. Domingo já fomos à igreja, ao restaurante e à casa de uma amiga sem fraldas. Dois acidentes e alguns xixis em banheiros novos. Achei o saldo positivo.

Minha única preocupação é o cocô, porque apesar de ela ter feito lindamente cocôs no penico em vários dias seguidos, de uns dias pra cá ela tem ficado rodopiando igual cachorro quando quer fazer cocô, sem querer sentar no penico. Ela parece que prefere fazer em pé, então o que tem funcionado é levá-la pro box, enquanto eu seguro o penico e vou aparando a obra. Graças a Deus estamos sem prisão de ventre, e ela tem feito cocô na mesma frequência que antes.

Confesso que eu ficava com uma preguiça monstra quando via minhas amigas com as crianças em fase de desfralde: "quer fazer xixi? Quer fazer xixi? QUER FAZER XIXI?". Mas não é tão ruim assim, até porque a evolução é muito rápida. E pra quem já usava fraldas de pano, limpar um chão de vez em quando ou passar água numa calcinha molhada não é nenhum bicho de sete cabeças.

Desfralde até que é legal.

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E quem me deu segurança pra começar aos poucos foi o Dr. José Martins, que responde a perguntas das leitoras lá no blog da Paloma. Questionado sobre desfralde, eis a resposta dele:

"Nós recomendamos a retirada das fraldas a partir de um ano e meio e é preciso um treinamento progressivo, lento, sem pressões, mas no qual a presença da mãe é importante. Eu recomendo que a partir de um ano e meio se comece mostrando um peniquinho, o vaso sanitário. Mostre que o xixi e o cocô devem ser jogados ali e vão embora, mostre como se faz a descarga do vaso, compre o peniquinho e explique docemente que se ele desejar deve pedir, mas não force.


Comece tirando as fraldas pela manhã, logo após ele ter urinado e evacuado, e deixe uma hora sem fraldas pela casa. Não ralhe se ele fizer no chão. Depois disso, coloque novamente a fralda. Se ele fizer na fralda, acompanhe-o até o banheiro e jogue o cocô dentro do vaso. Depois do almoço, à tarde, mais uma hora, e à noite, antes de dormir, também. À medida em que ele não urina ou evacua sem fraldas, aumente o tempo para 2 horas e assim vá sucessivamente fazendo o treinamento. Os bebês precisam dessa informação e dessa orientação. A maioria das crianças em dois ou três meses consegue ir se desfraldando. Entretanto algumas crianças às vezes demoram um pouco e podem chegar até quase os 3 anos ainda com dificuldades para controlar os esfíncteres. Isso é uma variação individual que precisa ser respeitada, ok? Não force a barra e, ao surgir qualquer dificuldade, vá falando com seu pediatra, que pode ir lhe aconselhando."


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Último adendo: penico ou redutor?

Virei super fã do penico, pelas razões abaixo:

- É portátil. Posso deixá-lo no quarto enquanto Emília brinca, o que ajuda a lembrá-la de fazer xixi.
- É baixinho, a criança pode sentar sozinha. Já tivemos dois episódios de encontrar Emília com a calcinha na mão ou colocando as calças de volta, e o xixi no penico. Sem precisar da nossa assistência.
- Difícil de limpar? Rá rá, só pra quem nunca usou fraldas de pano!
- Permite que a criança apoie os pés no chão, numa posição mais confortável para urinar ou defecar. Com o redutor, mesmo se eu puser uma banquetinha não resolve, porque Emília ainda é muito baixinha e as pernas ficam esticadas.

Vou deixar o redutor pra quando ela for maior. Por enquanto, o penico reina absoluto!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A televisão me deixou burra

Emília sempre foi uma criança com o desenvolvimento bem na média: sentou aos 6 meses, andou aos 12 – só engatinhar é que foi um pouquinho depois da maioria dos bebês, com quase 10 meses. No entanto, um traço do desenvolvimento dela que eu acho notável para a idade é a competência lingüística (oi, Dr. Caramujo!).

Posso dizer que ela fala tudo. Coordena orações, usa conjunções, preposições, constrói frases com orações subordinadas, domina os principais tempos verbais, usa o plural, faz concordância de gênero e número. Claro que alguns fonemas ainda não saem (o “G”, como em gato, sai “D”, e o “K”, como em carro, vira “T), o vocabulário ainda tem muito o que crescer, ela não usa o subjuntivo dos verbos, mas, né? Ela acabou de completar dois anos e tem muito o que aprender nos próximos anos.

Mas percebo que ela começa a dominar construções complexas como aquelas que incluem noções de tempo e sequência. Ainda antes de completar dois anos, ela soltou a seguinte frase:

- Tchau, vô fazê xixi nu penito. Vô sidulá (segurar) a Abelinha entanto (enquanto) isso.

Ontem ela queria ler um livro, depois disse que ia pentear meu cabelo. Daí eu perguntei:

- Você quer ler o livro ou pentear meu cabelo?
- Té pintiá o seu tabelo entanto lê o livo.

E ela fala também: “Vô jantá antis di mamá. Vô jantá pimero”.

Mas, finalmente, pra quê toda essa babação de ovo sobre a própria cria?

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Não acho que Emília seja super dotada, e sei também que as crianças se desenvolvem em ritmos muito próprios: uma tem as habilidades motoras fora de série, outra é muito boa em associações, outra fala mais que papagaio. Isso não significa que uma seja mais inteligente que a outra, apenas têm ritmos e aptidões diferentes.

Mas, além daquilo que é intrínseco à criança, existe a influência do meio. Sabemos, como mães, que a maneira como estimulamos nossos filhos pode ajudar um talento a aflorar ou a murchar. E eis minha tese: acredito que parte do bom desenvolvimento linguístico de Emília se deve ao fato de que ela não vê televisão.

(Nota: sabemos que vários fatores podem levar a criança a falar um pouco mais tarde, tais como bilinguismo, timidez, chupeta etc., e o fato de ela falar um pouquinho depois da média não é necessariamente sinal de algo errado. Mas podemos, sim, estimular a fala e a capacidade comunicativa da criança.)

Quando digo que ela não vê televisão, leia-se: ela assiste a DVDs de desenhos infantis na casa dos avós (na verdade, quase sempre ela pede uma VHS dos 101 Dálmatas) e fica na sala nas raras vezes em que o Rafael vê um jogo de futebol pela TV. Somando, ela deve passar em torno de 2 a 3h semanais diante da tela.

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Parece clichê o discurso sobre os males da televisão, coisa ultrapassada. A gente viu tanta porcaria e ficou tudo bem... E tem coisa boa na TV também, oras! Inclusive coisa dita educativa.
Reconheço o valor de muitas produções audiovisuais e defendo que o cinema e o vídeo oferecem ricas possibilidades para manifestações artísticas. O longa de animação 101 Dálmatas, por exemplo, que Emília adora, é lindo, muito bem desenhado e com uma trilha sonora ótima. Assim são muitas outras produções para crianças, e é importante que elas também tenham contato com as formas de expressão do tempo em que vivem. Ninguém vai ficar só apreciando escultura grega ou recitando Camões para todo o sempre.

O grande problema da televisão é que ela é altamente hipnotizante. Para nós, adultos, mas especialmente para crianças pequenas. É uma atividade passiva, e não interativa.
Quando Emília está lá vendo o “fime do auau”, não dá pra conversar com ela. Tento colocar meu rosto bem na frente dela e olhá-la nos olhos, pra ver se chamo sua atenção, mas ela desvia a cabeça pra enxergar a televisão. E Margarida, com 4 meses e meio, se contorce toda pra enxergar a tela quando está ligada.

O tempo gasto diante da televisão é um tempo desperdiçado, durante o qual a criança poderia estar realizando qualquer atividade que contribuísse para seu desenvolvimento: lendo um livro, montando um quebra-cabeça, jogando jogo da memória, desenhando, brincando no parquinho, brincando de casinha, jogando bola. Todas essas atividades trabalham facetas importantes do desenvolvimento infantil: motricidade, cognição, competência linguística, competência relacional.
Realmente é muito prático deixar uma criança na frente da televisão pra ir fazer qualquer outra coisa. E é por isso que eu acho que existe aquela máxima de que criança que vai pra escola cedo se desenvolve mais rápido. Eu acho que a questão não é ir ou não pra escola. A questão é o tipo de atividades que a criança faz durante o dia, e todos sabemos que crianças que ficam em casa, seja com a babá, seja com a mãe, muitas vezes passam grande parte do dia na frente da televisão. Já nas creches, é mais difícil isso acontecer.

É perfeitamente possível criar uma criança com um mínimo (ou zero) de televisão, pelo menos até os dois ou três anos e especialmente quando a criança não tem um irmão mais velho. É necessário, contudo, mudar os nossos hábitos. Porque o tempo que a criança passa vidrada na televisão não é só aquele durante o qual ela está vendo a Galinha Pintadinha. Ela também se desliga do mundo quando nós, adultos, estamos assistindo ao Jornal Nacional, ao seriado ou à novela no mesmo cômodo que a criança. Tanto porque ela tende a olhar para a televisão, mesmo que o programa não seja legal pra idade dela, quanto porque nós estamos totalmente indisponíveis para atendê-las. É só observar o comportamento das pessoas na sala de espera de um consultório quando existe uma televisão pendurada passando não importa o quê.

Claro que ninguém precisa ser absolutamente radical e banir a televisão e o You Tube de casa (apesar de que isso não faria mal e não geraria nenhum trauma para uma criança de 2 ou 3 anos). Mas algumas atitudes são necessárias para preservar nossos filhos do excesso e garantir que eles realizem outras atividades mais produtivas:

Esperar – ninguém precisa colocar um bebê de poucos meses para ver televisão. Mesmo que não haja nenhum adulto por perto para lhe dar colo, conversar ou brincar com ele, um brinquedinho ou qualquer objeto que não seja perigoso para ele é muito mais interessante do ponto de vista do desenvolvimento. Se der pra esperar até dois ou três anos para introduzir a criança à televisão, melhor ainda. Antes disso, ela não traz nenhum benefício*.

Selecionar – é indispensável conhecer aquilo que seu filho está vendo, assistir antes, verificar se não há nada inapropriado para a idade e se os valores que aquele programa transmite são compatíveis com os valores da família. É interessante também escolher programas que tenham qualidade artística, musical, gráfica e um bom enredo. A educação estética começa cedo.

Limitar – por melhor que seja o programa, não dá pra deixar a criança muito tempo diante da TV. Como eu disse acima, é necessário que ela faça outras coisas, se movimente, interaja com outras pessoas. É importante incluir nesse limite o tempo que nós, adultos, assistimos à televisão na presença da criança.

Acompanhar – o principal motivo pelo qual deixamos que nossas crianças assistam a tanta televisão, e precocemente, é para termos mais tempo para nós. Mas se estivermos ao lado deles enquanto isso, podemos diminuir o nível de passividade dessa atividade, comentar, responder às perguntas da criança e conversar com ela sobre aquilo que ela está vendo, tirando algum aprendizado daquilo.

Educar não é fácil. Temos nossos filhos é para cuidar deles, e isso exige uma dedicação muito maior do que comprar os lançamentos dos DVDs infantis e apertar um botão. Não existe atalho: nossos filhos precisam de seres humanos – de preferência nós, os pais.

*Em outubro de 2011, a revista Pediatrics – Official Journal of the American Academy of Pediatrics, publicou um artigo intitulado “Media Use by Children Younger than 2 Years” (O uso da mídia por crianças menores de 2 anos). O artigo conclui que a mídia tem efeitos potencialmente negativos e nenhum efeito positivo conhecido para crianças menores de dois anos e desencoraja fortemente seu uso para essa faixa etária. O estudo também não recomenda que adultos assistam a televisão quando crianças pequenas estiveram no recinto. “Embora programas para bebês e crianças possam ser fonte de entretenimento, não devem ser anunciados ou considerados pelos pais como educativos” (tradução minha).

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Um adendo: estou amando os comentários. Quem chegou até aqui, leia o que já escreveram aí nesta caixinha, porque os acréscimos estão riquíssimos.

Só queria esclarecer quanto à relação fala-televisão: óbvio que ver televisão não vai necessariamente postergar o desenvolvimento linguístico de uma criança, da mesma forma que sua abstinência não implica sempre que a criança falará melhor e mais cedo.

Existem uma série de fatores que exercem influência na aquisição da linguagem, e talvez a mais relevante seja a própria constituição genética, neurológica, da criança. Mas acredito (assim como os cientistas do estudo acima) que o excesso de atividades não-interativas e a perda de preciosas horas durante as quais aquele pequenino cérebro deveria estar fazendo novas conexões podem ser fatores negativos nesse processo.

Assim como uma pessoa que treina na piscina todos os dias não vai necessariamente nadar mais rápido que alguém que só treina de vez em quando, mas que é maior e mais forte. Mas que ajuda, ajuda!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Rápido, antes que elas sumam!

Hoje a Sarah fez um post sobre as palavrinhas que as crianças falam do jeito delas e que, de repente, começam a ser pronunciadas da maneira correta. É um orgulho só pra nós, mas dá uma saudade... Porque, cá entre nós: o jeito deles é muito mais bonitinho!

Então corri aqui pra registrar as palavras mais engraçadinhas da Emília, que estão quase sumindo do vocabulário dela:

- pefessora (professora);
- tanda (cama - que já está virando "tama");
- pitinhar (pentear - que já está virando "pintiar");
- almoçada (almofada - que já está virando almofada mesmo);

E a mais fofa, na minha opinião:

- pipininho (pequenininho - que já está virando "petenininho").

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Violência obstétrica - uma palavrinha na Parto do Princípio.

Hoje foi publicado um texto meu no blog da rede Parto do Princípio sobre violência obstétrica. A Parto do Princípio reúne mulheres que lutam para restaurar seu protagonismo no exercício da maternidade, e o site deles é um dos melhores lugares para se informar a respeito de formas mais humanas de parir.

Quem se interessar pelo tema, passa lá. (Já avisando de antemão que lá é lugar de militar, e militando estou!)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sobrevivi

Foram cinco semanas de férias escolares: três com o marido, duas sem (a primeira e a última). Fiquei o dia todo com as meninas, cuidando de todas as refeições da família e com diarista apenas duas vezes por semana. Nesse período eu:

- tirei a mamada vespertina da Emília;
- quase tirei as fraldas de Emília (estamos chegando lá);
- organizei - com a mão preciosa da sogra - a (mini) festa de 2 anos de Emília;
- tive um vislumbre dos terrible twos e comecei a achar que eles existem; e
- mantive Margarida gorda obesa à base do sempre livre demandado mamá.

Até que foi mais tranquilo do que eu imaginei. Fez muita falta o tempo que eu tinha sozinha com Margarida, mas nos momentos em que eu estava sozinha com as duas elas se comportaram muito bem.

Emília está naquela montanha russa dos dois anos: momentos de extrema fofura alternados com outros em que dá vontade de colocar um tampão de ouvido e sair correndo. É "não, não, não", "pode sim", "vai não", "vai sim", muita esperneação e muita gritaria. E vamos respirando fundo, conversando e sobrevivendo.

(Mas, cá entre nós: é difícil, mas eu amo!)

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E muita gente tem perguntado por Margarida. É verdade, tenho falado muito pouco dela.

É que ela é assim, mais na dela. Margarida me inspira silêncio, discrição. Durante a gestação, me fez gostar de mistérios. Não quis saber seu sexo e mantive em segredo que ela nasceria em casa. E nasceu no seu tempo, à luz de velas, com música suave.

Margarida não gosta de multidões. Chora, se esconde, e quando a levamos para um canto sossegado, abre um sorriso.

No meu ventre, sempre se movimentou suavemente. E continua suave.

Dorme bastante, de dia e de noite. E adormece com muita facilidade. Deitamos juntas na cama, nos olhamos, sorrimos uma para a outra e, juntas, fechamos os olhos.

Margarida se desenvolve como se poderia esperar de qualquer bebê, sem pressa. Com pouco mais de quatro meses, senta com apoio, rola parcialmente, fica em pé apoiada com muita dificuldade - talvez por causa dos seus 8kg. Tem dois incisivos rasgando a gengiva inferior.

Gargalha, gargalha muito. E sorri pra qualquer um.

Margarida, a flor, não é tão cheirosa quanto a minha.

Esta é Margarida aos quatro meses.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Menos um bebê em casa

Amanhã ela completa dois anos.

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Ontem passei mal. Uma dor horrível no estômago. Gases, pensei. Marido tentou fazer uma massagem na minha barriga, mas a dor aumentava e eu pedi pra parar. Pouco tempo depois, vomitei. Enquanto isso, Margarida acordava no quarto ao lado.

Não, não estou grávida. Uma virose, talvez. Cansaço excessivo, mais provavelmente. Criança de férias em época de chuva dá nisso. Mas, talvez... talvez a proximidade do limiar que separa o bebê da criança, o aniversário de dois anos da minha primogênita, tenha a ver com isso. Minha sombra, muito prazer.

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O que acontece quando você tem dois bebês? Sejam gêmeos ou irmãos com idades muito próximas? É muito espelho pra nos revelar... não é fácil.

Estou perdendo um desses espelhos. Sim, Emília continuará muito ligada a mim, especialmente durante a primeira infância. Mas cada vez menos. A cada dia, ela descobrirá novos vínculos, se encontrará enquanto indivíduo, tomará decisões. Um processo fascinante, amo ver minha flor desabrochar. Mas um processo algo doloroso, pra nós duas.

Sempre pensei que as coisas mais lindas, mais profundas, mais plenas, têm de doer de alguma forma. Paixão. Parto. Amamentação. Maternidade. A dor de nos conhecermos melhor, de revelarmos aquilo que estava oculto. E o prazer de se sentir livre depois.

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Há uma semana, tirei a mamada da tarde de Emília. Ela estava mamando três vezes ao dia - de manhã, à tarde e à noite.

Meu sonho era que ela se desmamasse sozinha. Fosse parando de pedir. Mas não foi o que aconteceu e, à medida que fui ficando cansada, fui intervindo. Primeiro, acabei com a livre demanda: parei de dar o peito além das três vezes que ela costumava mamar, mesmo se ela pedisse. Depois, estabeleci horários pras mamadas, porque depois que Margarida nasceu era tanto leite que Emília nem queria mais tomar café da manhã. Então combinamos que ela só mamaria depois das refeições. Nesse processo, ela aprendeu a falar frases como:

- Té mamá. Já mamô. Té mamá di novo.
- Emi já almoçô, adora podi mamá.

Confesso que morri de dó de tirar essa mamada da tarde, porque ela está sentindo. Alguns dias são tranquilos, mas em outros ela fica bem chorosinha. Ela parece que tem toda a maturidade intelectual pra compreender a situação, mas não tem a maturidade emocional pra isso.

Mas está decidido. O mamá da tarde acabou. É bom pra mim, é bom pra Margarida, mas também acho que é importante pra Emília. Estamos nos separando, mas de mãos dadas. Livres, mas juntas.

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E o pré-desfralde está evoluindo muito bem. Por aqui optamos por ir devagar, deixando Emília sem fralda apenas parte do dia, em casa.

Decidimos continuar com o projeto penico, mesmo com Margarida pequena e sem tanta disponibilidade para acompanhar Emília devidamente nesse processo.

Ocorre que, há umas duas semanas, Emília desenvolveu uma alergia severa à fralda descartável, que ela usava pra dormir. Ao mesmo tempo, as fraldas de pano passaram a aguentar cada vez menos tempo antes de vazar - fraldas tamanho único, bexiga tamanho GG, xixis bem mais volumosos. Foi necessário, então, aposentar de vez as fraldas descartáveis e deixar Emília o máximo de tempo possível sem fraldas pra melhorar as feridas da alergia.

Depois que ela passou a dormir de fralda de pano, percebi que muitas vezes a fralda amanhecia seca. Logo em seguida, ela fazia um mega xixi que vazava. Então comecei a levá-la pro penico assim que ela acordava. Sucesso total, todo dia um xixi no penico.

A cada dia ela demonstra mais controle. Já começou a pedir o penico e consegue urinar voluntariamente no banho, mesmo que ela tenha pouquíssimo xixi na bexiga. Hoje, pela primeira vez depois da pausa que demos no desfralde, ela fez cocô no penico. Pediu pra fazer xixi, sentou, e fez um "fofôzão". E depois anunciou: "Vai fazer xixi em cima do fofô".

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Amanhã ela faz dois anos. Usa fraldas, mas faz cocô no penico às vezes. Mama, mas não mais em livre demanda.

E eu? Eu quero ajudá-la a crescer, sem jamais forçá-la a abandonar fases que ainda não estejam totalmente resolvidas pra ela.

Pode virar mocinha, meu amor! Porque de bebês esta casa ainda estará cheia por um bom tempo, se Deus quiser.


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