Gosto de ler bastante sobre as etapas mais cruciais do desenvolvimento da criança para ter alguma referência na hora de agir, escolher as teorias que fazem mais sentido para mim e me sentir amparada de alguma forma. Mas, além das experiências de outras mães, não estudei muito sobre o processo do desfralde.
Eu sabia que uma das metodologias mais propagadas por aí é aquela do "tirou, tá tirado". A ideia é, desde o primeiro dia, deixar a criança sem fraldas o dia inteiro para ela não se confundir. "Estou sem fralda, estou de fralda? Prendo, deixo sair?". Esse método também não aceita regressões: uma vez iniciado o processo, vamos até o fim, sem voltar atrás.
Nunca gostei muito dessas transições radicais em direção a uma outra etapa da vida da criança. Gosto de tudo aos poucos - a menos que a criança sinalize que dessa vez é assim mesmo, pá e bufo! E achava que com o desfralde não seria diferente, é tanto que em dezembro comecei, despretensiosamente, o que chamei de pré-desfralde.
Só que o negócio ficou sério. No finzinho do ano passado, quando Emília estava usando fraldas descartáveis pra dormir (ela usava de pano, mas o xixi foi ficando muito volumoso e a fralda de tecido não aguentava mais à noite), ela teve uma alergia severa que coçou, sangrou, ficou feia. Então eu me vi obrigada a deixá-la sem fralda todos os dias durante algumas horas para arejar a ferida, além de aposentar de vez as descartáveis.
Óbvio que tivemos muitos xixis no chão, mas o objetivo não era desfraldar, mas curar a assadura. Como ela estava de férias, passávamos a maior parte do tempo em casa e era mais fácil. Ela rapidamente aprendeu a não pisar no xixi para não escorregar e dava tempo de eu limpar o chão antes de algum acidente. Ela nunca escorregou nem fez xixi em qualquer lugar que não fosse o chão (sofás, camas, colo, nada disso). E começou a fazer alguns xixis no penico. Isso me fez ver que ela já tinha um bom controle sobre os esfíncteres e resolvi tentar levar o processo adiante, mesmo depois que a alergia melhorou.
Mas optei por começar devagar. Algumas horas sem fralda de manhã, sempre em casa, e só. Esse tempo foi aumentando até eu resolver deixá-la sem fralda também na casa da minha mãe (onde tem penico). Minha ideia era dar a ela segurança antes que ela fosse forçada a usar banheiros desconhecidos, sanitários altos e sem redutor.
Na semana passada, ela voltou às aulas. Até então, ela estava usando fraldas sempre que saía (inclusive a levamos de fralda para a creche). Fiquei um pouco insegura sobre como seria a sequência do desfralde na escola, já que tinha toda a coisa da readaptação, sala nova, professoras novas. E, pra piorar, nenhum dos coleguinhas dela estava desfraldado ainda (só uma aluna nova, que também estava no meio do processo de desfralde).
Expliquei às professoras em que pé estávamos, mandei calcinhas e fraldas e lá fomos nós. Eles também são adeptos do método progressivo, e começam por deixar a criança sem fraldas nas áreas externas - porque, em caso de acidentes, não tem perigo de as outras crianças mexerem ou escorregarem no xixi. De segunda a quinta, xixis na calça e nada de vaso. Na sexta-feira, quatro xixis no vaso (o primeiro com o pai, assim que foi deixada na creche) e nenhum acidente!
Sábado foi a última vez que saí com ela de fralda, para uma festinha infantil. Domingo já fomos à igreja, ao restaurante e à casa de uma amiga sem fraldas. Dois acidentes e alguns xixis em banheiros novos. Achei o saldo positivo.
Minha única preocupação é o cocô, porque apesar de ela ter feito lindamente cocôs no penico em vários dias seguidos, de uns dias pra cá ela tem ficado rodopiando igual cachorro quando quer fazer cocô, sem querer sentar no penico. Ela parece que prefere fazer em pé, então o que tem funcionado é levá-la pro box, enquanto eu seguro o penico e vou aparando a obra. Graças a Deus estamos sem prisão de ventre, e ela tem feito cocô na mesma frequência que antes.
Confesso que eu ficava com uma preguiça monstra quando via minhas amigas com as crianças em fase de desfralde: "quer fazer xixi? Quer fazer xixi? QUER FAZER XIXI?". Mas não é tão ruim assim, até porque a evolução é muito rápida. E pra quem já usava fraldas de pano, limpar um chão de vez em quando ou passar água numa calcinha molhada não é nenhum bicho de sete cabeças.
Desfralde até que é legal.
+++
E quem me deu segurança pra começar aos poucos foi o Dr. José Martins, que responde a perguntas das leitoras lá no blog da Paloma. Questionado sobre desfralde, eis a resposta dele:
"Nós recomendamos a retirada das fraldas a partir de um ano e meio e é preciso um treinamento progressivo, lento, sem pressões, mas no qual a presença da mãe é importante. Eu recomendo que a partir de um ano e meio se comece mostrando um peniquinho, o vaso sanitário. Mostre que o xixi e o cocô devem ser jogados ali e vão embora, mostre como se faz a descarga do vaso, compre o peniquinho e explique docemente que se ele desejar deve pedir, mas não force.
Comece tirando as fraldas pela manhã, logo após ele ter urinado e evacuado, e deixe uma hora sem fraldas pela casa. Não ralhe se ele fizer no chão. Depois disso, coloque novamente a fralda. Se ele fizer na fralda, acompanhe-o até o banheiro e jogue o cocô dentro do vaso. Depois do almoço, à tarde, mais uma hora, e à noite, antes de dormir, também. À medida em que ele não urina ou evacua sem fraldas, aumente o tempo para 2 horas e assim vá sucessivamente fazendo o treinamento. Os bebês precisam dessa informação e dessa orientação. A maioria das crianças em dois ou três meses consegue ir se desfraldando. Entretanto algumas crianças às vezes demoram um pouco e podem chegar até quase os 3 anos ainda com dificuldades para controlar os esfíncteres. Isso é uma variação individual que precisa ser respeitada, ok? Não force a barra e, ao surgir qualquer dificuldade, vá falando com seu pediatra, que pode ir lhe aconselhando."
+++
Último adendo: penico ou redutor?
Virei super fã do penico, pelas razões abaixo:
- É portátil. Posso deixá-lo no quarto enquanto Emília brinca, o que ajuda a lembrá-la de fazer xixi.
- É baixinho, a criança pode sentar sozinha. Já tivemos dois episódios de encontrar Emília com a calcinha na mão ou colocando as calças de volta, e o xixi no penico. Sem precisar da nossa assistência.
- Difícil de limpar? Rá rá, só pra quem nunca usou fraldas de pano!
- Permite que a criança apoie os pés no chão, numa posição mais confortável para urinar ou defecar. Com o redutor, mesmo se eu puser uma banquetinha não resolve, porque Emília ainda é muito baixinha e as pernas ficam esticadas.
Vou deixar o redutor pra quando ela for maior. Por enquanto, o penico reina absoluto!