quarta-feira, 30 de março de 2011

O beijo

Ontem fui pegar Emília na creche e, como de costume, sentei no banco pra dar o mamá. Ela já estava impaciente e eu disse, já abaixando a blusa:

- Mamãe vai te dar o mamazinho, mas primeiro mamãe vai te dar um beijo, que sem beijo não dá pra ser feliz.

Ela, que já estava com a boquinha aberta pra mamar, olhou nos meus olhos, espalmou a mão sobre os lábios e me jogou um beijão estalado! Nem preciso dizer que morri, né?

quinta-feira, 24 de março de 2011

Festa arco-íris

Nos comentários ao meu post sobre a alimentação na creche, a Tchella perguntou como tinha sido o cardápio da festa de um ano da Emília. Então eu me dei conta de que até hoje não falei da festinha. Eu escrevi um post enorme na época, mas, por preguiça de baixar as fotos, ficou lá no meu arquivo morto.

Então venho resgatá-lo, antes tarde que nunca. E como continuo com preguiça de baixar as fotos, vocês podem ver algumas imagens da celebração no blog da minha cunhada.

Quanto às comidas, é legal ver que é, sim, possível, fazer um cardápio gostoso e saudável pra uma festinha. Claro que não será em todos os aniversários dos meus filhos que o menu será totalmente sem açúcar, leite, frituras e outras coisas inapropriadas para bebês. Até porque, né? Haja criatividade. Mas enquanto eles forem pequetitos, dá tranquilamente pra manter um cardápio desse tipo.

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Eu sempre disse que pra um ano da Emília faria só um bolinho em casa, com a família. Ocorre que a família, contando só quem mora em Brasília, já dava umas 20 pessoas. Então resolvemos comemorar a data num evento quase tão íntimo, acrescentando à lista de convidados os amigos que tinham filhos pequenos.

O tema e a decoração

Sempre sonhei com uma festa de arco-íris, toda colorida, da decoração aos descartáveis. O tema é simples, alegre e infantil. Fiz questão de ser fiel às sete cores do arco-íris (nada de rosa, porque arco-íris não tem rosa), e o resultado vocês podem ver no blog da minha cunhada. Mesmo barrigudinha do meu sobrinho Davi, ela entrou de cabeça na produção do evento que aconteceu no salão de festas do prédio dela.

A música

A trilha da festa foi obra do papai da Emília. Ele selecionou com carinho músicas gostosas da Palavra Cantada, do Sítio do Picapau Amarelo e do Ronnie Von. Mas o que eu achei especial foi ele ter encontrado um disco do Sérgio Ricardo (com Quarteto em Cy e MPB 4) composto a partir do livro Flicts, do Ziraldo. A maioria de vocês deve saber que Flicts é um livro muito lindo sobre as cores, o que caiu como uma luva para o tema da festa.

Claro que a música fica meio ambiente, e com o bate-papo nem todo mundo percebe o que está rolando, mas nós sabemos como foi especial essa seleção.

Antes do parabéns, minha irmã Bel ainda tocou e cantou pras crianças “Aniversário”, da Palavra Cantada. Emília amou.

O cardápio

Consegui fazer um menu só com coisas que Emília pudesse comer: nada de açúcar, lactose, carnes, claras de ovos, frituras, gordura vegetal hidrogenada, conservantes e outras porcarias.

De salgado, encomendei pasteis assados num restaurante vegetariano aqui de Brasília. Massa fininha, com farinha integral orgânica e sementes de linhaça, com recheios de proteína de soja, milho, legumes e banana. O de banana foi um sucesso à parte.

Encomendei também pão numa padaria alemã que não coloca tranqueiras nas receitas e montei torradinhas com pasta de tomate caseira, azeite e ervas. E pra não ficar 100% light, incluí no cardápio pipoca estourada na hora com óleo de girassol e o mínimo de sal.

De doces, a mesma baguette alemã com geleia sem açúcar, salada de frutas (que foi um sucesso), e bolo. O bolo foi uma experiência de cientista louco: minha mãe passou a semana fazendo testes com nossa diarista-cozinheira. O desafio era fazer algo bonito e gostoso sem leite, sem claras de ovos e com um mínimo de açúcar (de preferência mascavo). E o resultado foi um bolo pina-colada, com recheio de abacaxi e cobertura de coco. Ficou divino, os convidados repetiram e elogiaram.

E por fim, as bebidas. Óbvio que não teve refrigerante. Suco de polpa, em versões com e sem açúcar.

E pra não dizer que eu não libero uma porcaria, as lembrancinhas foram moedinhas de chocolate (o famoso pote de ouro no fim do arco-íris). Essa obviamente a Emília nem viu.

Valeu muito à pena ter feito um cardápio pensando na minha filhota. Ela está naquela fase de querer comer o que nós estamos comendo, e eu não queria ficar regulando comida na festinha dela. Ela comeu muita salada de fruta, uns cinco pasteizinhos, um saquinho de pipoca e algumas bruschettas. Acabou não provando do bolo porque nessa hora já estava empanturrada. Foi um prazer enorme vê-la se deliciando à vontade com um menu saudável e balanceado. Uma amiga minha até disse pra filha, de dois anos: “Se a Emília pode comer, você com certeza pode!”.

Claro que deu trabalho, mas valeu à pena celebrar em grande estilo essa data tão marcante. Ela merece.

quarta-feira, 23 de março de 2011

As novas de Emília

Faz tempo que não conto as novidades da minha Milinha. Ela está com 1 ano e 2 meses, com toda a graça que bebês dessa idade têm.

A fala

Emília tem dado saltos marcantes na dicção, e a cada dia aparece um novo fonema. Ela gosta de sibilar com os lábios, já ensaiando um “s”, e adora fazer discursos enquanto troca a fralda. Infelizmente não dá pra reproduzir exatamente com o nosso alfabeto, porque muitos dos sons que ela faz estão entre uma letra e outra. No trocador ela gosta de falar algo como “bilubilubilubilubilubilu”, mas o “l” fica meio com som de “d” e o “i’ quase desaparece. Algo como “bldu”. Deu pra entender?

Essa fase da aquisição da linguagem é fascinante. Dizem que a primeira palavra das crianças costuma ser “angu”. Pois Emília não fala o /G/. Água é “ábua”, ou “áua”. Por outro lado, a maioria das crianças demora a falar o /s/ (normalmente o som é /sh/, tipo “xapo” em vez de “sapo”), e Emília emite sons que estão quase lá. Outro fonema que normalmente aparece mais tarde é o /l/. “Bola”, para muitas crianças, é “bóia”. E Emília consegue falar o bilubilu.

Ela também tem estado numa onda de tentar repetir tudo o que nós falamos, por mais primitiva que seja a reprodução. Pra hipopótamo, dia desses ouvi um “pot”. Sobremesa, “mez”. Joaninha, “anhã”. Sapo, “áp”.

De palavras inteligíveis, ela já fala:

- os clássicos papá e mamãe (esse ela fala direitinho, com o “e” no final, só que com o “ã” meio aberto. Tipo “mamái”);
- auau
- “áua ou ábua (água)
- bá (bola ou pão);
- páo (pão, quando não está com preguiça e fala só “bá”);
- Pá (Paula, a educadora da creche).
- bobó (vovó)
- uouô (vovô)
- bobu (bumbum; essa eu ensinei ontem).
E, claro, já entende muitíssima coisa. Agora é só ampliando o vocabulário...

Os livros

Emília sempre gostou muito de livros, mas ultimamente, com essa demanda pela fala, ele tem estado obcecada por eles. Antes de dormir, são mais ou menos uns dez livros que temos de “ler” com ela.

Ela sabe folhear sozinha e, há algum tempo, podia ficar um bom tempo entretida sozinha com seus livrinhos. Mas ultimamente ela tem exigido a nossa presença para que falemos o nome de tudo aquilo para o qual ela aponta.

Quando o livro está na prateleira, ela aponta pra cima e começa a gritar. Quando está espalhado pela casa, ela pega, vem caminhado em nossa direção, nos entrega o livro e estende os bracinhos para que a peguemos no colo. Se estivermos sentados no chão, ela simplesmente vira de costas e se deixa cair de bunda sobre a nossa perna. Então ela vai passando as páginas e mostrando tudo o que quer que nós nomeemos.

Os preferidos são os livrinhos com abas, que normalmente ela consegue levantar sozinha. Mas qualquer outro livro com muita imagem (preferencialmente de animais) é uma diversão.

Outro campeão de audiência aqui em casa é o “Boa Noite Marcos”, da Brinquebook. Marcos não consegue dormir porque não acha o Fred, seu cachorro. Ele passa a história toda procurando Fred, com a ajuda de sua irmã Estela. Em cada página, tem um Fred escondido. E Emília acha todos: “auau, auau!”. Ela adora.

A comida

Emília já come sozinha, cada vez com menos bagunça. Também está preferindo beber líquidos no copo normal, e já quase não derrama.

A graça é que ela tem uma preferência por comer as coisas com garfo ou colher, em vez de comer com as mãos. Quando tem um prato com talher na frente dela e entregamos a ela alguma coisa em pedaço (um pão, por exemplo), em vez de enfiar direto na boca, ela coloca no prato e come com o talher.

Outra onda era o fim da banana. Emília comia a banana até quase o final, e deixava aquela bundinha. Daí a gente pensava que ela tinha acabado e comia o resto. Então ela ia e pedia outra banana. E nessa ela já chegou a comer três bananas, sempre sem o finzinho. O Rafael cismou que ela não gostava dessa ponta, e eu disse que não era possível, porque é tudo o mesmo gosto. Cheguei a cogitar se ela estava rejeitando esse pedaço porque eu tirava ele da casca pra dar pra ela. E resolvi colocá-lo de volta na casca, e ela comeu. Da segunda vez, o truque não funcionou mais.

A solução que eu encontrei foi ensiná-la a descascar a banana e, então, dar todo o conteúdo sem casca pra ela comer. Por enquanto, tem dado certo.

Até que surja a próxima mania...
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Ah, e quanto ao último post: ontem tivemos uma reunião com a equipe da creche (psicólogas, nutricionista e educadora) e vamos tentar achar o equilíbrio. Eles se mostraram abertos, nós também. A nutricionista ficou de me passar as receitas do bolo e do pão de queijo pra que a gente possa estimar o valor nutricional por porção. Levarei esses dados e uma cópia do cardápio semanal à próxima consulta de Emília no pediatra e ele nos ajudará a tomar a decisão quanto a liberar ou não algum dos alimentos. Depois conto mais.

sábado, 19 de março de 2011

O bolo, o pão de queijo e o primeiro estresse na creche

Sexta-feira fui buscar Emília na creche e recebi a notícia de que, depois de algumas semanas sem morder ninguém, ela havia abocanhado o nariz de um coleguinha, deixando uma marca muito feia, sangue e tal. O motivo? Ela queria o pão de queijo dele.

Há algumas semanas, havíamos sido chamados à escola para discutir os possíveis motivos de Emília estar mordendo repetidamente os amigos. Uma das hipóteses que a psicóloga colocou seriam as restrições alimentares dela, o que muitas vezes a leva a querer pegar o lanche dos outros. Depois dessa conversa, sem nenhuma intervenção, ela simplesmente parou de morder. Pode ter a ver com os molares que finalmente pararam de sair.

Então aconteceu. Uma festa de aniversário de uma das educadoras, salgadinhos que ela não podia comer, um biscoito substituto que ela receberia e que desapareceu, Emília sem nada, colegas com pães de queijo, enfim, momento selvagem. Mais uma vez, mencionaram as restrições. E parece que a solução é muito simples: eu deixo Emília comer de tudo o que oferecem na creche, e tudo se resolverá.

O problema é que nem tudo que é servido para as crianças de 1 a 2 anos é saudável. Em alguns lanches, tem bolo – que é feito lá, tem pouco açúcar, nunca leva chocolate ou cobertura e tem opção sem leite. Mas é bolo, e tem açúcar cristal, e manteiga ou margarina. Em outros lanches, o que eu acho pior, tem pão de queijo. Também é feito lá, mas o mais “saudável” dos pães de queijo ainda é cheio de gordura saturada e sódio. E, óbvio, contém leite de vaca, que não acrescenta nada para um bebê que mama no peito além de uma maior probabilidade de ela desenvolver alergias ou intolerância.

Lá eles têm dois cardápios: um para bebês até 1 ano, e outro para crianças de 1 a 6 anos. Pão de queijo e bolo caseiros podem ser boas opções para uma criança de 6 anos, mas são alimentos inapropriados pra uma de apenas um.

Conversei com a nutricionista – de quem eu gosto muito –, e ela explicou os ingredientes de cada alimento. Também explicou que em festas há várias restrições (não pode refrigerante, salgados fritos, empadas, bolos com recheio), mas os pais nem sempre respeitam. Mesmo assim, discordo do cardápio.

Minha chateação, que terminou em lágrimas na sexta à noite, é que me senti pressionada a introduzir precocemente alimentos que eu considero inadequados para a idade da minha filha. Porque somos vegetarianos, talvez possamos passar a impressão de sermos aqueles pais neuróticos, que querem isolar os filhos do mundo, que gostam de ser diferentes e tal. Olha, eu não gosto de ser diferente. Aliás, detesto. Adoro, por exemplo, o fato de que a maioria esmagadora dos pais acha errado o filho bater, xingar, roubar. Olha, que legal, eu também acho! Mas eu acharia muito mais legal se o mundo todo preferisse alimentos saudáveis, e que gostosuras adocicadas ou gordurosas fossem reservadas para ocasiões especiais, sempre com moderação. Com certeza seria muito mais fácil, e eu não “inventaria” de ser diferente, oferecendo Coca-Cola à minha filha só pra contrariar.

Nos anos 50, as propagandas de Coca-Cola eram direcionadas para bebês (vejam aqui, no Comer para Crescer). O anúncio diz que estudos científicos comprovam que pessoas que bebem Coca-Cola desde a primeira infância têm mais chance de serem bem aceitos socialmente. E todo mundo dava. E porque todo mundo dava, estava certo?

A nutricionista explicou que a maioria dos pais reclama do contrário, que as festas têm muitas restrições, e dão frituras e outras tranqueiras pros filhos numa boa. Mas só porque a maioria dá, não significa que está certo.

Quem acompanha meu blog sabe que procuro sempre exercer uma maternidade consciente. Tento não projetar meus desejos, minhas inseguranças, minhas neuras na minha filha (ainda que seja impossível fugir disso 100%). Busco estudos científicos, recomendações do Ministério da Saúde, da OMS, da Sociedade Brasileira de Pediatria, seleciono bons livros, tenho um blog e ouço as outras mães. Então, a decisão de não dar açúcar, leite de vaca ou gordura saturada pra minha filha até os 2 anos não é uma paranoia, um medo de que ela engorde (nunca tive problema de peso, nem pra cima, nem pra baixo, pra ter esse tipo de trauma), uma busca pela perfeição. Foi uma decisão tomada com base no que eu estudei, orientada pelo nosso pediatra. Simplesmente considero desnecessário oferecer alimentos nocivos à saúde para quem tem um paladar virgem, aberto a tudo, e que ama qualquer coisa saudável. Será que alguma criança menor que 2 anos reclamaria se no lanche da creche só tivesse frutas e pão? Duvido. Nós é que projetamos os nossos gostos neles, e por isso tanta gente se horroriza quando vê Emília comendo um rabanete (até eu, trem amargo, mas ela gosta!). Eu odeio cebola e caqui, mas amo que ela goste dessas coisas.

Minha opinião? A creche não deveria oferecer bolo e pão de queijo para crianças menores que 2 anos, nem permitir festas com alimentos fora do cardápio. Mas isso vai mudar? Provavelmente não. E o que eu faço? Esse é o motivo das lágrimas.

Procurar outra escola seria uma opção. Mas acho que a decisão de trocar um filho de escola tem de ser muito bem pensada, porque é outra adaptação, e uma grande chance de se frustrar outra vez. Nesse embalo, corremos o risco de ficar trocando repetidamente o filho de escola, e às vezes os prejuízos são maiores que os benefícios. Além disso, eu teria de achar uma instituição que oferecesse um cardápio melhor que essa. Tirando esses dois alimentos, o resto do cardápio é maravilhoso, balanceado, a comida é quase sem sal e muito gostosa (já provei). E eles dão alimentos sólidos desde o começo pros bebês, nada de sopas ou purês, o que incentiva a mastigação. Eles sempre têm uma opção alternativa para quem não come carne (o que, por incrível que pareça, não costuma gerar conflitos, porque a soja é visualmente muito parecida com a carne e Emília não percebe que a comida dela é diferente). E isso foi um dos principais motivos pelo qual coloquei minha filha lá: eles aceitam crianças com restrições alimentares. Inclusive, quando tem pão de queijo ou bolo, eles trazem um biscoito, um pão, uma tapioca, ou outra alguma coisa para ela.

O que tem me incomodado é que, apesar de aceitarem a restrição, eles parecem não conseguir lidar muito bem com os problemas que aparecem. É como se eles me dissessem: “nós podemos dar outros alimentos para sua filha, mas isso gera consequências negativas para todos”. Ou seja: pode ser diferente, mas não pode. Essa dificuldade de lidar com a diferença me fez sentir desamparada.

Sei que não deve ser simples pras educadoras, por isso tento ser flexível. Autorizei um biscoito que leva açúcar, mas mascavo, por minha conta. E prometi que conversaria com o pediatra dela sobre a possibilidade de liberar o bolo. Vou perguntar a ele qual será o prejuízo maior: a saúde dela ou esse momento de inserção social. Mesmo assim, faço contra minha vontade, porque, como eu disse, não compreendo por que oferecer açúcar a um bebê, que come de tudo. Sei que, comendo os bolos “leves” da creche, ela vai começar a pedir bolos comuns, de chocolate, com cobertura etc. e tal, porque vão ser parecidos com os que ela come na creche. Mas tudo bem, eu sei lidar com isso, sempre vou a festas, levo a comida dela e fica tudo numa boa. Quando tem fruta, pipoca ou alguma coisa que ela possa comer, dou também. Agora, o pão de queijo não tem a menor condição.

Quanto às festas, vou ter de pedir pra elas ficarem mais atentas à Emília, porque é simplesmente descabido pra mim autorizar salgadinho de padaria, com ingredientes desconhecidos (banha de porco? Gordura vegetal hidrogenada?). Minha vontade era buscá-la mais cedo toda vez que tivesse festa, pra evitar esse estresse. Infelizmente nem sempre dá pra fugir do trabalho. Mas quanto a isso, vamos ter de achar uma solução, nem que seja chamar alguém da coordenação pra tirar Emília da sala e levá-la pro parquinho.

Pra quem teve a paciência de me ler até aqui, obrigada por ouvir meu desabafo. Não quero discutir alimentação infantil nem pregar uma dieta específica pros filhos de ninguém. A questão é: até onde bater o pé sobre nossas convicções e até onde ser mais flexível? O que buscamos é o melhor pros nossos filhos. Mas nem sempre as decisões são fáceis de tomar. Às vezes, ser adulto é uma droga.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Mãe, pra quê?

Não lembro quando foi, tanto tempo já faz, que alguém disse que as mães poderiam ser substituídas. Afinal, tem as babás, os professores, os avós, tanta gente dedicada pra fazer o seu serviço. E não precisa nem se preocupar com a alimentação dos bebês pequenos, porque a latinha de fórmula tem exatamente os mesmos nutrientes daquele que a natureza colocou nos peitos de uma recém-parida. Quer dizer, nem sempre parida. Porque também a gente não precisa mais parir, pode deixar o serviço pra algum cirurgião habilidoso.

Fralda, qualquer um pode trocar. Mamadeira, qualquer um pode dar. Parto, não precisa mais. E de onde é que falta tirar a mãe, hem?

Nove meses gestando. Ah, essa tem que ser a mãe. Mas já pensou se não precisasse? Podiam inventar umas estufas de bebês, onde eles seriam assados desde o estado de ovo-zigoto até completa maturação do sistema respiratório. Daí a mãe podia continuar com as baladas, as cervejinhas, os remédios. Olha que beleza se eu pudesse continuar tomando antiinflamatório em vez de combater uma dor de garganta com spray de própolis e chá de alho durante 40 semanas.

Mas sempre ia ter uma retrógrada que ia insistir em fazer tudo como seus ancestrais. Quer dizer, talvez todas as mulheres que sonhassem em ser mães tivessem um desejo oculto de gestar (porque a civilização tenta, mas não consegue dizimar todos os nossos instintos). Mesmo as que não aguentassem o tranco de lutar contra as práticas dominantes. E aí ouviríamos algumas declarações como estas:

- Queria muito ter uma gestação intrauterina, mas meu médico disse que não posso porque minha avó teve um aborto espontâneo. Seria muito arriscado.

- Quero engravidar, mas o médico disse que só espera três meses de tentativas. Quando a mulher demora mais do que isso, é porque o útero não é bom pro bebê. Melhor gestar na incubadora.

- Quero uma gravidez depois de aborto espontâneo, mas não acho um médico que tope acompanhar...

- Eu preferiria gestar meu bebê dentro do meu útero, mas meu plano de saúde não cobre pré-natal intrauterino. Vai ter que ser na incubadora.

Algumas descobririam as recomendações da OMS sobre os benefícios da gestação intrauterina, o reconhecimento precoce da mãe, o papel do toque na superfície da barriga, o som das entranhas maternas, toda essa frescurada. E optariam por gestar elas mesmas seus filhos. Imagino que essas escutariam coisas do tipo:

- Você vai deixar um bebê crescer dentro da sua barriga? Igual bicho?! Vai ficar enorme, cheia de dores, varizes, estrias, hemorróidas... pra quê isso, meu Deus? Só pra dizer que é mulher da idade da pedra?

- Você tem mais de 30 anos e está grávida? Que irresponsabilidade! Tira logo esse menino daí e põe na incubadora, senão ele vai ter Síndrome de Down.

- Menina, você quer engravidar? Olha, já ouvi tanto caso de aborto espontâneo que acho melhor não arriscar. Na incubadora é tudo controlado.

- Eu até entendo mulher que queira gestar um bebê, mas gêmeos não dá, né?

- Ok, você está grávida. Agora não vai me dizer que quer parir também?!!

Os cientistas sérios levantariam evidências científicas e identificariam distúrbios psicológicos importantes em bebês gestados extra-útero. Apontariam as deficiências imunológicas e as carências emocionais. Mas os médicos diriam:

- Bobagem. Meus filhos todos foram gestados na máquina e tá todo mundo bem.

Até o dia em que houvesse um apagão...

terça-feira, 15 de março de 2011

Momento de emoção

Ontem, quando fui buscar Emília na creche, vi que estavam pendurados no mural novos trabalhinhos de arte das crianças. Vi de longe e resolvi fazer uma brincadeira: adivinhar qual seria a obra da minha filhota.

Escolhi o que tinha mais tinta ocupando a folha, sem qualquer separação entre as cores (tudo misturado num grande marrom), e com "dedadas" que pareciam ter sido dadas com toda velocidade por mãozinhas que espalhavam tudo para todos os lados. E não, não eram todos assim: na maioria dos trabalhos dava pra distinguir o amarelo, o vermelho, em traços separados, e a tinta era espalhada apenas por uma parte do papel, metade ou um pouco mais.

Cheguei perto pra ler os nomes dos artistas e, bingo! O trabalho de doidinha era mesmo o da Emília.

Pode ter sido sorte? Claro. Mas eram umas 8 ou 10 folhas, não sei bem. E me senti toda orgulhosa de reconhecer o trabalho da minha pequena.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Mistérios

Dentro do meu ventre, habita um mistério. Uma criança em formação, pequena demais para sobreviver em outro lugar. Respiro e me alimento por ela. De mim ela obtém calor e proteção. Mas é sozinha que ela cresce.

Digo sozinha porque nada preciso fazer para que ela ganhe coração, pulmões, estômago, olhos, boca, pernas, braços. Apenas espero, enquanto esse trabalho divino é realizado dentro de mim sem que eu precise me esforçar.

Assim quero que meu filho permaneça durante toda a gestação e o parto: em paz. Cuidado por Deus, protegido pela fé. Quanto a mim, apenas aceito essa missão, essa bem aventurança, que é abrigar um milagre. E, em alguns meses, deixar que esse milagre venha ao mundo, me abrir para que ele saia, assim como foi gerado durante todo esse tempo: sozinho.

Um bebê, dentro do útero, é completamente dependente. Exatamente por essa razão, ele tem a possibilidade de ser completamente feliz. Porque ele descansa. O oxigênio vem, os nutrientes vêm, e ele não espera que seja diferente. Se for, se um dia o ar ou o alimento não vierem, ele será pego de surpresa e não terá sofrido antecipadamente.

Conosco é diferente. Não esperamos que nada venha. Temos de buscar todo o necessário para a nossa sobrevivência, trabalhar, suar. Se acreditamos em Deus, nos esquecemos de que Ele existe. E, na nossa ansiedade, não deixamos nosso bebê descansar. Por ele, nos preocupamos. Por ele, tememos que amanhã não venha o pão, imaginamos se todo aquele trabalho que é realizado sem as nossas mãos será bem feito. Ele terá dez dedos? Terá cromossomos sempre aos pares? Estará crescendo adequadamente?

E intervimos.

Com a nossa inteligência, desenvolvemos tecnologias capazes de curar doenças e salvar vidas. E isso é bom. A saúde é boa, a vida é boa. É dever nosso protegê-las, especialmente quando se trata de nossos filhotes. Mas... o controle muitas vezes nos foge.

Muitas coisas podemos fazer. Muitas, não. Reverter a trissomia de um cromossomo, fazer crescer um cérebro onde não há um, ressuscitar um embrião que não pôde continuar seu desenvolvimento. Por isso há coisas que chamamos de milagres.

Dentro do meu ventre, habita um mistério. Uma criança cujo sexo, o peso, as dimensões eu desconheço. E alguém me dirá que eu poderia conhecer tudo isso. Por um exame que se chama ultrassonografia.

A ultrassonografia é uma tecnologia quase poética. Ela dissolve a imagem das paredes uterinas e consegue penetrar em lugares profundos, por tanto tempo desconhecidos, e visitar o bebê antes que chegue o momento de ele vir à luz. E ela é capaz de fornecer importantes informações para a segurança da gestação e do parto: se a placenta está bem inserida, se o feto possui alguma má formação que demande atendimento especial no momento do parto, se ele está crescendo adequadamente.

Parte desses segredos sempre foram conhecidos pelas parteiras, porque se insinuam sobre a superfície da barriga da mãe. Pelo tamanho do útero, pode-se verificar se o bebê está crescendo adequadamente. Pelo seu formato, identifica-se a posição do feto – se está de cabeça para baixo, com as costas para a direita ou para a esquerda... Com um pequeno cone de madeira, podem-se ouvir os batimentos cardíacos do bebê. Mas com a invenção da ultrassonografia, muitos profissionais da obstetrícia perderam essas habilidades. E tudo confiam à máquina.

Quando a tecnologia é boa? Quando é necessário adentrar o domínio secreto da geração de uma nova vida? Quando o objetivo é preservá-la, e não apenas observá-la.

Da primeira vez que me vi grávida, fui tomada de um profundo respeito. Não quis incomodar minha filha. Mas ainda não sabia exatamente quais exames contribuíam de fato para a segurança da gestação e quais eram apenas indicações rotineiras dos médicos. Desta vez, sei. E sei que a tecnologia não apenas não garante 100% de segurança (não há garantias quando se trata da vida), como, em muitos casos, pode até diminuir essa segurança.

Escolhas. Disso é feita a vida. E buscamos aquelas que nos deixam em paz.

Minha paz? Preservar esses mistérios. Fazer tudo o que posso, mas deixar de tentar controlar o que não posso. Ter fé. E descansar.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Respostas às perguntas intrigantes

Vocês já imaginaram alguém com estes peitos...





...este cabelo...






...e estas ancas?







Pois a Paloma imaginou (vejam nos comentários de ontem).

Tomei a liberdade de substituti a imagem da Madonna do Rafael pelas Três Graças do Rubens, porque a Virgem Maria estava sempre recatada, com o corpo coberto, e achei que ficaria mais difícil visualizar.

Seria essa a resposta às perguntas de ontem? Uma gestolactante seria um ser com peitos de Pamela Anderson, careca como a Hilary Swank em "Garotos não choram" e fogosa como uma Vênus renascentista?

Infelizmente (ou felizmente?), a imaginação da Paloma é mais interessante que a vida real. E para matar a curiosidade de todas, seguem as minhas respostas às perguntas de ontem:

1) O que acontece com os peitos de uma lactante quando ela engravida? Aumentam mais ainda ou permanecem do mesmo tamanho?


Incrível, gente, mas eles realmente aumentam, como numa gravidez normal. Mas isso não nos deixa no nível da Pam.

Explico: amamentar um bebê de um ano não é a mesma coisa que amamentar um bebê que só mama no peito. Depois de tanto tempo, a produção se estabilizou, e vai diminuindo aos poucos à medida que o bebê se torna mais autônomo no mundo dos outros alimentos. Assim, apesar de continuar usando os mesmos sutiãs do pós-parto, minhas mamas já não mostram toda aquela exuberância.

Com a gravidez, achei que nada mudaria, porque o tamanho dos meus seios-lactantes-de-um-bebê-de-13meses é mais ou menos o de seios de grávida. Mas eis que Emília terminava de mamar, eu checava os vasilhames e me perguntava: "ué? ela não está mamando tudo?"


Então percebi que meus peitos haviam sido, sim, presenteados pela fartura da gestação. Quando estão cheios de leite, eles permanecem do mesmo tamanho de antes de eu engravidar. Quando mamados, continuam lindos seios de gravidinha.


Mas, claro: do nível da Pam, só na apojadura!


2) Se na gravidez o cabelo fica lindo brilhoso sedoso radiante e na lactação os fios cometem suicídio coletivo, como fica a cabeleira de uma gestolactante? Rala, mas com estilo?

Só posso dizer que continuo careca. E apesar de não ter adotado ainda o joãzinho, preferi manter um corte mais curto nessa fase (aliás, sempre preferi cabelo curtinho pro meu rosto). Brilho, essas coisas? Sei não, nunca tive isso, nem na primeira gravidez. É o mesmo cabelo de sempre, só que menos.


3) Se gravidez engorda e amamentação emagrece, teríamos aí um antídoto infalível para o sobrepeso na gestação?

Rá!! Nessa, a Paloma acertou em cheio. (Ou eu deveria dizer, em cheia?)


Gravidez engorda. Ponto. E os quilos a mais não são só de bebê, placenta, líquido amniótico e tals. Tem a reserva de gordura que a mãe mantém pra garantir uma lactação de sucesso.


Não sei se é o metabolismo que cai - o sono deve ter a ver com isso -, mas ganhei peso com muita facilidade durante a gestação da Emília e agora não tem sido diferente. (Pra quem acha que eu fiquei macérrima grávida de Emília, saibam que me controlei bastante pra ficar só nos 13kg a mais).


Aliás, até agora já engordei mais de 3kg, enquanto que na minha primeira gestação não ganhei nem 1kg no primeiro trimestre. Pode ter a ver com o fato de que eu estava 2kg abaixo do meu peso de equilíbrio, por conta do que perdi na amamentação. Daí o organismo precisou absorver mais gordura pra se estabilizar.

O fato é que eu, lactante, comia tudo, me entupia de sorvete e macarrão, e só emagrecia. O pior é que peguei esse hábito, e agora está difícil retornar às frutinhas com granola. Estou até um pouco assustada com meu ganho de peso (apesar de estar me achando linda, tenho medo de a coisa virar uma bola - trocadilho infame - de neve).


Resumindo: amamentação durante a gravidez não serve de dieta! Olho no prato!

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Enfim, isso é o que tem acontecido comigo, com o meu organismo. Assim como os sintomas da gravidez se manifestam de forma diferente de pessoa pra pessoa, os efeitos da lactação durante a gestação também podem variar.

Então, no fim, sou uma das Três Graças com um bocado mais de peito e muito menos cabelo.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Perguntas intrigantes

1) O que acontece com os peitos de uma lactante quando ela engravida? Aumentam mais ainda ou permanecem do mesmo tamanho?

2) Se na gravidez o cabelo fica lindo brilhoso sedoso radiante e na lactação os fios cometem suicídio coletivo, como fica a cabeleira de uma gestolactante? Rala, mas com estilo?

3) Se gravidez engorda e amamentação emagrece, teríamos aí um antídoto infalível para o sobrepeso na gestação?

Respostas em breve...

terça-feira, 1 de março de 2011

My Way

Cantem comigo (e com o Frank) o meu melô de mãe:
(Pra quem não entende inglês, resumindo: "fiz do meu jeito".)

+++

My Way

And now the end is near
And so I face the final curtain
My friend I'll say it clear
I'll state my case of which I'm certain
I've lived a life that's full
I traveled each and every highway
And more, much more than this
I did it my way

Regrets I've had a few
But then again too few to mention
I did what I had to do
And saw it through without exemption
I planned each charted course
Each careful step along the byway
And more, much more than this
I did it my way

Yes there were times
I'm sure you knew
When I bit off more than I could chew
But through it all when there was doubt
I ate it up and spit it out, I faced it all
And I stood tall and did it my way

I've loved, I've laughed and cried
I've had my fill, my share of losing
And now as tears subside
I find it all so amusing
To think I did all that
And may I say not in a shy way
Oh no, oh no, not me
I did it my way

For what is a man what has he got
If not himself then he has not
To say the things he truly feels
And not the words of one who kneels
The record shows I took the blows
And did it my way

Yes it was my way

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