segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Não fale demais

Com a gestação, adquiri uma habilidade que eu não tenho normalmente: ficar calada. Na minha primeira gravidez, esse dom não estava plenamente desenvolvido, mas com as cacetadas da vida vamos aprendendo a lição.

Eu contava pra todo mundo meus planos sobre parto, sem anestesia. Falava que usaria fraldas de pano e que não ia contratar empregada, mas manter diarista só dois dias na semana. Dizia que continuaria amamentando, mesmo depois de encerrada a minha licença maternidade, e que tiraria leite no trabalho. Falava que Emília seria a primeira de pelo menos três filhos, e que eu não teria babá. Ela não usaria chupeta, nem mamadeira. Contei, contei.

Quanta coisa escutei! Que eu não ia agüentar a dor e que ia pedir anestesia; que desistiria rápido das fraldas de pano; que não daria conta de cuidar de um bebê sozinha, sem empregada; que eu dizia que queria três filhos porque ainda não sabia o trabalho que dava, mas que eu mudaria de ideia depois que Emília nascesse. Fora profecias de que eu nunca mais ia ter uma noite de sono inteira, de que minha filha ia ter cólicas, porque todo bebê tem, e muitas outras urucas pronunciadas por quem parecia frustrado com a experiência da pater/maternidade.

Só posso achar tristes comentários que nada mais refletem que uma decepção pessoal de quem os faz. Algumas pessoas parecem querer buscar um consolo ao descobrir que no final das contas era isso mesmo: era inevitável que ser pai ou mãe fosse mesmo um martírio. Ou compensar a frustração de seus ideais não terem dado certo pela certeza de que os meus também não darão.

Antes que alguém se ofenda, não estou falando do mundo cibernético, blogs nem nada. Nunca recebi comentários rudes ou desencorajadores aqui, por isso continuo relatando tranquilamente minhas experiências. Estou falando principalmente de pessoas que não me são muito próximas – e exatamente por isso não sentem a necessidade de ter tanto tato – e com quem a anta aqui resolvia trocar ideias. Sabe como é: uma barriga, um assunto. Essas pessoas provavelmente não leem o meu blog – se lessem, me poupariam das asneiras.

Felizmente, a gravidez (pelo menos no meu caso) deixa a gente mais blasé, menos irritável, e grande parte desses comentários escoa pelos meus dutos auditivos em direção ao vazio. Mas como às vezes a falta de noção do comentário é muito grande, a gente corre o risco de se ofender e ficar depois em casa chorando as pitangas com o marido. Então é melhor se proteger.

Me colocando do outro lado – o de quem ouve os planos das gravidinhas e, eventualmente, também faz seus comentários joselitos –, esclareço que a gente não precisa concordar com tudo o que uma barriguda fala. Mas qualquer coisa que digamos tem que ser muito bem pensada. Um exemplo: você fala que vai comprar um carrinho tal, super incrível mas super trambolhento. Daí sua amiga, mais rodada nas estradas da maternagem, que sabe que você tem um carro popular com um porta-malas micro, sugere: “Existem uns modelos de carrinho que dobram tipo um guarda-chuva. São mais compactos e nem por isso deixam de ser confortáveis. Por que você não dá uma olhada?”. É muito diferente de falar: “Ah, nada ver, esse carrinho é um trambolho, você vai doar ele depois do primeiro mês de vida do seu filho, você vai ver!”.

Quando as opções vão além de bens de consumo, e refletem nossa visão de gestação, parto e maternidade, a coisa é ainda mais delicada. Por exemplo: se uma pessoa querida me diz que vai fazer cesárea por opção, eu sugiro que ela experimente entrar em trabalho de parto e não marque a cirurgia, pra ter certeza de que o bebê está pronto, permitir os últimos retoques no pulmão e facilitar a descida do leite. Mesmo acreditando que o parto normal é o mais saudável para a mãe e o bebê, nunca digo que a pessoa vai se arrepender de ter feito a cesárea, que o pós-operatório vai ser uma droga, que os pontos vão abrir, que ela não vai conseguir amamentar. Isso porque cada um tem sua história, seus valores, sua cultura, e esse tipo de decisão reflete um cenário que eu quase sempre desconheço. Se me perguntarem minha opinião, se eu sentir que a pessoa está balançada e começou a considerar outras opções, aí eu posso falar mais. Mas tem que haver esse espaço.

Em suma, meu conselho para as gravidinhas: sabe aquela dona que senta do seu lado na sala de espera da clínica de ultrassom? Ou aquele primo da amiga que resolveu puxar papo numa festinha de aniversário? Ou a vizinha com quem você se encontrou no elevador? Ou até mesmo aquele colega com quem você convive bem, mas sabe que tem ideias bem diferentes das suas sobre o assunto filhos? Ou um parente que você adora, mas que tem outra cabeça? Com esses, fale só amenidades. Responda só ao que foi perguntado. Por exemplo: “Como vai ser seu parto?” Se for normal, diga normal. Não precisa dizer que não vai ter anestesia. “Já está tudo pronto?”. “Já, praticamente.” Não precisar falar que o berço ainda não foi entregue, sob o risco de escutar a ladainha do fulano que demorou 6 meses pra receber a mobília do quarto do bebê. E se a pessoa insistir e quiser ficar sabendo detalhes demais, nada melhor que dar uma cortada na conversa e mudar de assunto. Assim, amizades serão preservadas e a saúde mental da mãe também.

A caminhada tem sido difícil pra uma pessoa verborrágica com eu, mas um dia chego lá.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Consumismo

A Paloma escreveu ontem um post sobre consumismo e fiquei fascinada com os comentários. Gostei de ver como cada mãe lida com os pedidos insistentes dos filhos pra terem isto ou aquilo, seja tentando isolá-los dos apelos publicitários, seja conversando e explicando até onde seus desejos podem ser atendidos, e por que existem limites.

Emília ainda é muito pequena, e seus ímpetos possessivos ainda se dirigem exclusivamente aos brinquedos que estão nas mãos de outros coleguinhas. Mas gostaria de falar um pouco da minha experiência como filha, e como fui educada para o consumo consciente.

Tenho três irmãos, todos com idades próximas. Quatro filhos representam uma despesa muito alta, o que teve como consequência menos renda disponível para compras que não fossem essenciais. Além disso, meus pais tinham muitas pessoas que dependiam financeiramente deles, como meus avós – o que significava menos grana ainda.

Sempre tivemos tudo o que meus pais consideravam indispensável para nosso conforto, nossa saúde e nossa formação: apartamento próprio, plano de saúde, escola particular, cursos de línguas. Até viagens ao exterior fazíamos. Mas nunca, nunca na nossa infância, tivemos roupas de marca, brinquedos tecnológicos ou qualquer coisa que fosse cara demais para um mini-consumidor.

Natal, dia das crianças, aniversário, era sempre um presente só. E nós ficávamos alegres com o que quer que fosse. Lembro que eu ia à escola depois do dia das crianças e meus amigos ficavam competindo para ver quem tinha ganhado mais presentes. Óbvio que eu sempre era a menos presenteada, mas achava menos estranho o meu presente único que a montanha de brinquedos que eles ganhavam. Pra mim, era simples: uma data, um presente.

Quando você tem três irmãos, você tem também quatro vezes o número de brinquedos de um filho único, porque no fim das contas todos brincam juntos. Às vezes, quando queríamos uma coisa mais cara (tipo uma penteadeira da Barbie), meus pais compravam só um presente pras as três meninas. E era a maior farra, porque aí ganhávamos um mega presente incrível – o que não acontecia todos os dias e, portanto, tinha mais valor.

Lá em casa também nunca houve a política da igualdade. Havia, sim, a política da isonomia: tratar igualmente os iguais, e desigualmente os desiguais. Então podia acontecer, numa viagem aos EUA, de os meus pais gastarem quase toda a cota da alfândega com um teclado para o meu irmão. E nós achávamos ruim? De jeito nenhum. Ele levava jeito pra música, ele merecia um teclado. Por que meu pai deixaria de gastar mil dólares num presente pro meu irmão simplesmente porque não tinha 4 mil pra comprar uma coisa de mil pra cada filho? Meu irmão ganhou o teclado, nós ganhamos patins. E todos ficaram felizes.

Nós assistíamos TV, e muita. No início, TV aberta, até surgir o cabo e meu pai assinar o Cartoon pra nós (que, na época, praticamente não tinha comerciais). Mas havia restrições: às quintas-feiras era o dia “sem telinha”, pra não deixarmos de fazer outras coisas. Também só podíamos ver TV depois de fazer as tarefas de casa (razão pela qual não assisti vários filmes de sessão da tarde). E novela sempre foi terminantemente proibido. Mas, enfim, víamos propagandas. E acho que sempre foi mais difícil resistir à visão dos colegas que tinham “tudo” que às propagandas em si.

Quem nasceu nos anos 80 vai lembrar: eu não tive fluff, sem mola maluca, nem pogobol. Tive uma imitação barata do fluff (pequeno e grudento, que ficava cheio de fios de cabelo) e uma mola maluca de ferro, horrorosa. Se por um lado isso me fez sentir menos incluída nos círculos sociais, por outro, me educou a perceber o quão desimportante é ter tudo o que os outros têm.

Meus pais sempre nos deram muito afeto, e tempo. Durante um período, minha mãe trabalhou só 6h diárias. Depois, foi a vez do meu pai reduzir sua jornada. Passávamos a tarde com nossa mãe ou nosso pai, e isso era muito mais valioso que qualquer brinquedo. E mais: nós éramos quatro. Que diversão maior pra uma criança que outras crianças? Pra quê pogobol se você pode brincar de cavar armadilhas no parquinho, brincar de banco (com os papeis que minha mãe trazia do trabalho) ou de mestre-cuca (com aventais e chapeus que minha mãe costurava ela mesma)? Ou ver o irmão armando explosivos na cozinha?

Não posso afirmar categoricamente que hoje a situação está mais difícil que nos anos 80 ou 90. Não sei se há mais anúncios, mais apelos – até porque faz mais de um ano que não assisto à televisão. Mas me parece que os pais têm trabalhado mais horas e – isso é fato – têm tido menos filhos. Isso torna a negativa ao pedido de um filho ainda mais desgastante, porque quanto maior a lacuna afetiva de uma criança, mais ela vai precisar testar o amor dos pais.

Sou a favor da proibição completa de propagandas destinadas ao público infantil simplesmente porque acho isso uma covardia. Com certeza eu teria sido muito mais feliz sem as disputas de quem ganhou mais brinquedos ou com repetidas perguntas de “você não tem fluff”? Ganhar montanhas de presentes ou ter os brinquedos e acessórios da moda não teria me tornado uma criança mais feliz.

Propaganda para crianças é covardia tanto para os pequenos quanto para os pais. Os filhos de repente descobrem que não podem ser felizes como estão, e que precisam disto ou daquilo para encher algum buraco. E os pais são bombardeados com demandas e mais demandas e, se não cedem, ganham o papel de vilões.

Mas enquanto a regulamentação não acontece, o que podemos fazer? Hoje, eu faria como meus pais fizeram: encher os filhos de afeto, fazê-los seguros e confiantes de que nós os amamos, e assim eles compreenderão um “não”. Além disso, eles sempre deram o exemplo. Como eu vou negar à minha filha a nova sandalinha da Lilica Ripilica se eu só ando de Cori por aí? Como negar a um filho a mochila do Hot Wheels se eu tenho um carrão importado?

Não estou dizendo que não podemos ter coisas de qualidade – ainda mais quando possuímos renda para tanto – apenas por que temos filhos. Mas o espírito consumista é outra coisa. As crianças percebem. Elas percebem se a mãe conserva bem suas roupas e evita comprar desnecessariamente; percebem se o pai escolhe o carro mais funcional para a sua família, sem assumir gastos (prestações, IPVA, seguro, manutenção) que vão sacrificar o orçamento familiar. E elas também notam se a casa está cheia de coisas que não são usadas, e coisas novas chegando o tempo todo. E se inspiram. Se vocês podem comprar à vontade, por que eu não posso também?

Acho que é mais ou menos por aí que vou tentar caminhar. Proteger meus filhos do consumismo é protegê-los da insegurança, de achar que eles só terão importância se forem como algum publicitário decidiu que eles devam ser. É mostrar a eles quão valiosos eles são, da maneira como são.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Top itens baratos de enxoval

Não estou no clima enxoval, porque segundo filho já nasce com tudo reciclado. Mas andei reparando que algumas das coisas que mais usamos com Emília custaram uma bagatela.

1) Cueiro – R$5,00

Não tinha comprado inicialmente, mas logo que Emília nasceu naquele calor infernal de janeiro, pedi à minha irmã que adquirisse emergencialmente esses paninhos que se tornaram tão prezados no nosso dia-a-dia. Uma caixa com dois, derreal.

Por que o cueiro é tão prático, mais que mantinhas, e nem sempre pode ser substituído por uma fralda de pano?

Primeiro, porque ele ocupa um volume mínimo. Nenhuma das minhas mantinhas consegue ser tão compacta. Depois, porque ele é extremamente fresco, ótima pedida pra cobrir um bebê calorento que deu as caras no verão. Uma toalha fralda também funciona, mas não cobre tão bem e – acreditem! – pode ocupar mais volume que um cueiro.

Nunca usei o cueiro com a finalidade à qual ele se destina: enrolar um bebê recém-nascido tipo charutinho. Podia estar chovendo, ventando, que toda vez que eu enrolava Emília, mesmo numa manta mais fresca, o resultado posterior era uma criança encharcada de suor.

Então o cueiro aqui em casa serviu (e ainda serve) para: cobrir o bebê em noites frescas de verão, como se fosse um lençol; forrar carrinho, berço de avião e outras superfícies não higienizadas; cobrir o bebê naquele caminho até o carro se estiver ventando ou chovendo. Por ser altamente portátil, ela nunca faltou na nossa bolsa.

2) Piscina inflável - R$20,00

Comprei na praia e não parei mais de usar. Em dias de muito calor, quando está quente demais até pra sair na rua, nada melhor que inflar a piscininha e fazer a farra na varanda. Pra quem não tem varanda, a brincadeira vale em qualquer ambiente de piso frio (cozinha, área de serviço ou até banheiro).

Também uso pra levar pro parque de águas naturais (Água Mineral) que tem aqui em Brasília. Emília ama a piscinona, mas às vezes a água está tão gelada que ela prefere brincar na piscininha: a gente enche, deixa no sol pra esquentar um pouco e, voilà!

A piscina inflável também é ótima para substituir banheira em viagens. Mesmo para crianças que já tomam banho de chuveiro, a piscina permite que elas fiquem sentadinhas no chão, sem medo das sujeiras de locais desconhecidos.

3) Colchonete de ginástica – R$30,00

Para o bebê dormir em locais onde o carrinho não transita bem. Parques, locais com chão de pedra ou de grama... O colchonete nos acompanha em piqueniques, nos passeios à Água Mineral ou até à casa de amigos. Pro tamanho atual da Emília, o colchonete fica até mais confortável que o carrinho.

Levar carrinho para alguns lugares, especialmente quando a criança já anda, às vezes dá mais trabalho do que ajuda. O colchão é muito mais leve e compacto. Pra completar, é só levar dois cueiros: um pra forrar o colchonete e outro pra cobrir o bebê. Sim, o cueiro é pequeno pra cobrir um bebê de um ano, mas eu ponho só nas perninhas. Delícia um cochilo sob as árvores!

4) Rede – R$50 a 100,00

Tudo bem, não é um item super barato. Mas considerando que rede é praticamente uma mobília, fica, sim, bem em conta.

Sou cearense, então era de se esperar que aqui em casa tivéssemos armadores pela casa inteira. Temos redes tradicionais, que vão de uma parede à outra, e uma rede de teto na varanda.

A rede de teto (que funciona um pouco como uma cadeira de balanço), é a amiga de todas as madrugadas do Rafael. É lá que ele sempre coloca Emília pra dormir quando ela desperta de madrugada. Foi ela a nossa aliada pra reduzir a apenas uma as mamadas noturnas.

Já a minha mãe, que tem artrose e não pode ficar ninando Emília no colo em pé, usa a rede tradicional pra fazê-la dormir à tarde. Mamãe sempre usou a rede com seus quatro filhos; com a última ela passava a madrugada na rede, com o peito ao alcance da boquinha. Rede compartilhada, a última palavra em aconchego familiar!

Depois, quando as crianças ficam maiores, a rede continua sendo a sensação. Qualquer criança que vai lá em casa já vai se jogando na rede da varanda. E eu passei minha infância balançando até o teto, brincando de nave espacial.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O melô de aniversário de uma grávida

Hoje sinto que cresci bastante
hoje sinto que estou muito grande
sinto mesmo que sou um gigante
do tamanho de um elefante

é que hoje é meu aniversário (e estou grávida)
e quando chega meu aniversário (e estou grávida)
eu me sinto bem maior
bem maior bem maior bem maior
do que eu era antes.

+++

Ainda não estou na fase elefante, mas as curvas da estrada de Santos já se insinuam pelo meu corpitcho. Estou com 29 anos, um bebê de 10 semanas no ventre e uma pitoca linda correndo por aí.

Digo que ano que vem terei trinta e dois: trinta anos e dois filhos.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O intervalo ideal entre os filhos

Quando as pessoas ficam sabendo que estou grávida, entre comentários como “Já??”, “Foi planejado?” e “Vocês são rápidos no gatilho!”, muitos dizem: “Ótimo, é bom assim, de carreirinha, que dá menos trabalho e cresce tudo junto!”.

Então: carreirinha é bom ou não é? (não estou falando de drogas ilícitas).

Lá em casa o intervalo entre meu irmão mais velho e eu é de 1 ano e 9 meses. Esse é exatamente o mesmo intervalo entre eu e minha irmã do meio. Eu acho ótimo, mas deve ter dado uma trabalheira danada pra minha mãe.

Tenho algumas amigas que têm filhos pequenos com intervalo de menos de dois anos entre eles e sinto o drama. Como o mais velho ainda é um bebê – usa fraldas, não come totalmente sozinho, não toma banho nem escova os dentes sem assistência –, a atenção que ele demanda é maior que aquela que demandaria uma criança mais velha. Daí tem aquela cena clássica: você está amamentando o bebê, daí o mais velho faz cocô, começa a chorar, enfim, aquela comoção. Ou você está dando banho no mais velho enquanto o recém-nascido dorme, quando ele de repente acorda aos berros querendo mamar.

Alguns dizem que é melhor mais perto porque o mais velho não tem ciúmes. Isso eu já posso dizer que não é verdade porque Emília, do alto dos seus 13 meses, já demonstra claramente que os adultos (principalmente a mãe) são dela – e só dela. Uma das educadoras da escolinha contou que estava com um bebê novo na sala, em adaptação, no colo. Emília apontou pra cena e começou a gritar e menear a cabeça, do tipo “o que esse traste está fazendo no seu colo? O bebê da sala sou eu!”. Inclusive ela andava meio bullie na escolinha: cada dia era uma mordida ou um puxão de cabelo. E parece que a causa da agressividade era mesmo a chegada dos novatos.

Por outro lado, provavelmente é mais fácil pra uma criança menor se acostumar com um visitante do que pra uma criança que já passou 3 ou 4 anos como filha única, com todos os privilégios que isso traz. Os mais velhos também são capazes de birras mais elaboradas, são mais pesados e mais fortes e, portanto, mais difíceis de controlar.

Um das vantagens de emendar a produção é que você já está no embalo, não doou os brinquedos e roupinhas do mais velho e ainda tem a casa toda adaptada pra um bebê. Não tem que montar um novo enxoval nem remodelar muita coisa. Por outro lado, algumas coisas você tem de ter em dobro: carrinho é um pra cada, cadeirinha de carro também, e pra quem usa fraldas de pano, tem que aumentar o estoque. Com um intervalo um pouco maior, daria pra passar essas coisas pro segundo quando o mais velho não usasse mais.

E o que mais? Quando a gente espera demais, pode acabar desanimando. Eu mesma confesso que quando vejo bebês em aleitamento exclusivo golfando, a mãe com aquele monte de panos, me dá uma preguiça... Soube também de gente que resolveu esperar mais tempo e acabou desistindo depois. Daí quando deu vontade de novo de ter um segundo filho, já era tarde demais.

Quanto ao fator trabalho, acho que quando o intervalo entre os filhos é menor que dois anos dá mais trabalho no início, mas menos trabalho depois. No início, como eu disse, você fica com dois bebês te solicitando o tempo todo. Mas quando eles crescem, a pouca diferença de idade facilita para eles brincarem e fazerem programações juntos. Lembro que minha irmã mais nova (6 anos de diferença pro mais velho, quase 4 e meio de diferença pra mim e mais que 2 e meio de diferença pra terceira) reclamava que ninguém queria ir ao parquinho com ela. Ela ainda era criança, com vontade de brincar, e nós já estávamos com outros interesses. Então ela ficou meio que “criança única” por um tempo.

A conclusão, portanto, é que não tem conclusão nenhuma. Qualquer diferença de idade entre irmãos é linda! Vejo meninos e meninas quase adolescentes receberem um novo irmãozinho com o maior fascínio do mundo (e, sim, ainda com algum ciúme), e vejo bebezões se encantando com as caretas de um recém-nascido. Filhos são bênção, irmãos também, então o melhor momento para virem é quando o casal sentir que é a hora. Ou, simplesmente, quando eles decidirem vir.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Lactogestação 2 – algumas dúvidas

A Nathi colocou nos comentários ao post de ontem a seguinte pergunta: “Não seria necessário parar de amamentar pelos menos um tempinho antes, para que o organismo possa 'reiniciar' o processo... colostro, leite de transição e leite maduro...”

Como achei a pergunta interessante – isso inclusive era uma dúvida que eu tinha antes de pesquisar sobre o assunto –, resolvi fazer este segundo post pra complementar o primeiro.

O processo de preparação do alimento para o recém-nascido prevalece sobre a produção de leite pré-existente.

Os hormônios da gravidez são antagonistas (inibidores) da prolactina, que é o hormônio responsável pela produção do leite. Por essa razão, algumas gestantes param de produzir leite ali pelo 2º trimestre. Há também relatos de que o filho mais velho passa a rejeitar o leite, que muda de gosto.

Havendo ou não essas alterações na produção do leite, no 3º trimestre aparece o colostro. Se o filho mais velho ainda estiver no peito, vai mamar esse colostro. Assim, o recém-nascido (e o mais velho! Oba!) se beneficiará normalmente desse alimento extremamente nutritivo e imunizante que as puérperas produzem. Em seguida, acontecerá a apojadura, tudo orquestrado pelos hormônios do pós-parto.

Não sei como será (ou seria) com dois bebês mamando durante a apojadura. Imagino que o mais velho poderia inclusive ser muito útil para tirar o excesso de leite que tanto incomoda nessa fase, diminuindo os riscos de empedramento e mastite e dispensando a necessidade da ordenha. Se alguém tiver uma experiência pra contar, agradeço!

A partir daí, a produção seguirá pautada pela quantidade de leite que os dois bebês mamam juntos. Quando nós retiramos leite para doação, nossa produção permanece suficiente para nosso bebê. Da mesma forma, com dois filhos mamando a produção tende a aumentar e se adequar a essa demanda.

Óbvio que, havendo problemas, aquela criança que tem de ser alimentada exclusivamente de leite materno tem prioridade. Da mesma maneira que só podemos doar leite se nosso bebê estiver sendo alimentado sem complementos.

Parece complexo, mas tudo seria muito mais simples se soubéssemos ouvir nosso corpo e nossos instintos.

Quando meu marido e eu decidimos parar de prevenir a gravidez, o fato de eu estar amamentando me preocupou um pouco. Mas eu pensei: “Se meu corpo ovular e receber um embrião no útero, mesmo que minhas glândulas mamárias estejam a todo vapor, é porque pode fazer as duas coisas ao mesmo tempo”. Coloquei na cabeça que se meu corpo não fosse capaz de suportar uma gestação durante o aleitamento, eu simplesmente não engravidaria.

Se eu fosse uma mulher primitiva, sem qualquer informação, eu seguiria gestando, parindo e amamentando minhas crias sem pensar muito. Enquanto os filhotes demandassem, o seio estaria à disposição. E eu não teria sequer uma forma de diagnosticar precocemente uma gestação, então eu amamentaria grávida sem saber.

O problema da informação é quando ela vem pela metade. Às vezes eu percebo que, no que diz respeito à maternagem, ou você se cerca de toda a informação possível, da melhor qualidade, ou é melhor não ter informação nenhuma e seguir seus instintos.

Parece que tudo o que é natural é errado, é prejudicial. Se o bebê quer mamar em intervalos pequenos e irregulares, você tem que brigar contra ele e estabelecer horários. Se o bebê relaxa e adormece facilmente no peito, você tem que usar técnicas para dissociar uma coisa da outra e passar dias treinando um bebê aos prantos a dormir de outra forma. Se a criança quer ficar perto da mãe, ela é retirada dos seus braços para aprender a ser independente. Impressionante como aquilo que Deus criou está sempre tão cheio de defeitos.

Mas como nesse mundo moderno ficou impossível alienar-se completamente, e somos bombardeados com informações sobre riscos, riscos e mais riscos – ser mãe é passar o dia pensando se seu bebê não tem a anomalia tal, se está com o peso correto, se está vivo, enfim –, temos de nos cercar de informações também sobre a fisiologia normal dos processos reprodutivos. E entender que só vale à pena intervir num processo natural – toda intervenção tem riscos – se o risco da intervenção superar o risco da não intervenção. Para adotar uma atitude antinatural, nós, humanos racionais, deveríamos saber exatamente o que estamos fazendo. E na maioria das vezes, não sabemos. Parece que usamos nossa inteligência só pra desenvolver a ciência e a tecnologia, e não pra refletir sobre seu uso.

Desmamar Emília só por causa da gravidez seria intervir, porque para nós duas esse é o caminho natural, e nos sentimos felizes assim. Os riscos de interferir nesse processo sem uma boa justificativa seriam um desgaste emocional pra ambas, prejuízo da nutrição dela, menos recursos para combater doenças. Lembram da otite? Sim, um bebê que mama no peito tem muito menos chances de ser internado e necessitar de soro em caso de doenças graves. E internação hospitalar é sempre um risco.

Estou protegendo minha filha, que ainda é um bebê, com total responsabilidade sobre essa sementinha que carrego no ventre. E isso é ser mãe: assumir que quem cuida dos nossos filhos somos nós.

Se a mãe sente que está na hora de desmamar seu bebê, mesmo sem ter atingido os dois anos recomendados pela OMS e pelo Ministério da Saúde; se ela sente que ela e o bebê estão prontos e se esse é o seu momento, digo que vá em frente. Só digo que não deixe que ninguém, nem a vizinha, nem os parentes, nem os amigos (da onça) e nem mesmo o pediatra desmamem seu filho por você.

+++

Links muito bons sobre o assunto:
http://maternajapao.blogspot.com/2008/12/amamentao-durante-gravidez.html
http:/mamaraopeito.blogspot.com/2009/04/amamentar-estando-gravida.html
http://relatosderaquel.blogspot.com/2010/05/relato-de-amamentacao-do-elias-e-da.html (dica da Fabi)

Sugiro também a leitura do comentário da Ana Paula no post de ontem.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lactogestação

Sim, continuo amamentando, sem data pra parar. Andei dando uma cortada nas mamadas noturnas porque eu estava dando perda total, mas tudo sem traumas. Agora, quando acorda de madrugada, Emília volta a dormir no colo do papai. Só ali pelas 4h é que o peito fica insubstituível. Considerando que em dezembro do ano passado ela mamava 5, 6 vezes de madrugada, avançamos horrores. E manterei essa mamada pelo tempo necessário, até percebermos que Emília está pronta para ficar sem ela.

Nunca troco as mamadas que eliminamos por mamadeira. Se é fome, vai comidinha no lugar. Se é aconchego, vai colinho no lugar. O processo de desmame corresponde a uma dependência cada vez menor do organismo do bebê em relação ao leite. Há inclusive quem defenda que, depois do desmame, não precisaríamos nem deveríamos consumir leite de outros animais. O homem é o único animal que continua mamando depois de desmamar...

Eu até pensaria no assunto se minha filha não fosse vegetariana. Então a vida sem laticínios não é uma opção. Mas quanto mais tarde a introdução de lactose, menores as chances de a criança desenvolver alergias ou intolerâncias. E enquanto ela tem peito à disposição, tirará dele a exata quantidade de leite de que ela necessita.

Mas, e a gravidez? Sim, o que tem a gravidez?

“Diz que não é bom amamentar grávida”. Pois diz também que circular de cordão é indicação de cesárea. Muito se diz por aí.

“Mas então tem que falar com o médico antes”. Claro, é bom comunicar o obstetra, até pra saber qual a opinião dele sobre o assunto (é um bom indicativo pra avaliarmos a postura dele – humanizada ou tecnocrata – sobre o pré-natal e o parto). Mas ninguém, quando descobre que está grávida, para de fazer sexo com o marido porque tem que pedir autorização do médico antes.

A princípio, qualquer gestante pode amamentar sem problemas. Haveria contraindicação em caso de ameaça de aborto (sangramentos, dores) ou de parto prematuro, já que a sucção provoca pequenas contrações uterinas. Só que essas contrações são mais fracas que aquelas causadas pelo orgasmo. Ou seja: se não pode amamentar, também não pode fazer sexo e provavelmente o repouso também será indicado.

Outra questão é que a pessoa “fica fraca”. Oras, se eu consumo, em situação normal, 2.300kcal pra viver, em situação de gestação eu preciso de mais 300kcal e na lactação mais 500kcal, é só somar tudo e mandar pra dentro! Claro, numa dieta balanceada, com bastante ferro pra não ficar anêmica e bastante cálcio pra repor o que vai no leite. Daí se seu hemograma estiver ok, mais um mito cai por terra.

Lembrando também que o organismo de uma gestante prioriza o bebê. A mãe tem de ficar significativamente desnutrida antes de começar a usar os nutrientes que iriam pro feto.

Por fim, o único motivo que eu considero plausível pra desmamar um bebê de pouco mais de um ano simplesmente porque a mãe engravidou: cansaço. Foi por isso que insistimos em colocá-la de volta pra dormir de madrugada sem o peito, porque eu precisava dormir à noite. Mas não é nenhum desgaste pra mim dar o café da manhã da minha filha, colocá-la novamente no peito assim que ela volta da creche e aconchegá-la no seio antes de dormir. E se ela precisa mamar às 4h, mama. E se nos fins de semana pede mais peito durante o dia, dou sem o menor estresse.

Mas e depois? E no fim da gravidez, quando eu estiver pesada, de barrigão? E quando nascer o segundo?

Muitas águas vão rolar. Emília vai mudar muito até o irmão ou a irmã nascer. Pra uma criança de pouco mais de um ano, 7 meses são uma eternidade. Por isso não estou fazendo planos. Se eu achar que é melhor seguir amamentando os dois, assim seguirei. Se eu considerar que desmamar antes será melhor, desmamarei. Mas é muito cedo pra pensar nisso.

Não acho absurda a ideia de amamentar dois. Dá trabalho? Claro que dá. Mas filhos dão trabalho. Se é cansativo ficar 20min com um bebê no peito pra ajudá-lo a relaxar, muito mais cansativo é ficar 1h tentando colocá-lo pra dormir de outras maneiras. Sim, o peito pode ser extremamente prático.

E se um quiser mamar enquanto o outro estiver mamando? Até onde posso verificar, meu número de tetas é dois.

Então estamos assim, sou uma lactogestante (ou uma gestolactante) voraz, tipo Michael Phelps, com o aval da obstetra e o apoio incondicional do nosso pediatra: “Ótimo, continue amamentando! Iogurte, essas porcariadas, só mais pra frente!”.

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Em tempo: acabei de me lembrar que houve uma época em que sexo na gravidez fazia mal pro bebê...

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