segunda-feira, 31 de maio de 2010

Gramática gestacional

Ô vocabulário difícil que acompanha a gravidez e a maternidade! Primípara, puerpério, cueiro (não consigo deixar de achar essa palavra bizarra)...

Mas eis que as maiores dúvidas que acometem a todas nós que escrevemos sobre o assunto dizem respeito às palavras mais simples. Por exemplo: como conjugar o verbo parir? E qual o plural de gravidez?

Depois de muito quebrar a cabeça, mas sem disposição pra pesquisar, eis que trago minhas mais novas descobertas sobre a gramática gestacional!

Cesárea

Primeira dúvida de mamãe aqui: como é que escreve o nome do parto cirúrgico: Cesareana, cesariana, cesárea, cesária? É "e" ou "i", Deus meu?

Segundo o Michaelis online:

cesariana
ce.sa.ri.a.na
adj f (fr césarienne) Cir Diz-se da operação que consiste em extrair o feto vivo por incisão nas paredes do ventre e do útero da mãe. sf Essa operação.

cesárea
ce.sá.rea
adj+sf (lat caesareu) O mesmo que cesariana.

Entonce, a forma comprida é com "i" e a curta é com "e". (Eba! Acertei nos meus textos velhos e não vou precisar corrigir).

Gravidezes

Gentes, gravidez tem plural!! E é gravidezes!! Por bizarro que seja, foi isso que achei por aí. Vergonha total de não apresentar a vocês uma fonte mega confiável, um dicionário daqueles centenários de 58783 páginas. Mas até que estes sites aí inspiram confiança:

Os substantivos terminados em "-r" e "-z" formam o plural com o acréscimo de "-es": (...) raiz/raízes, rapaz/rapazes, cruz/cruzes...
http://intervox.nce.ufrj.br/~edpaes/plural.htm

Se a palavra termina em "-r" ou "-z", também forma o plural com "-es". Muitos duvidam de que "giz" tenha plural. Como "cruz", esse substantivo varia normalmente: o giz, os gizes.
Outros exemplos de palavras terminadas em "-z" ou "-r":
a luz / as luzes
a gravidez/ as gravidezes
http://www.tvcultura.com.br/aloescola/linguaportuguesa/morfologia/substantivos-numero3-giz-gravidez.htm

Quanto ao plural de gravidez, a preferência por gravidezas em vez de gravidezes não é do Ciberdúvidas, mas do estudioso brasileiro Napoleão Mendes de Almeida. E eu permito-me discordar dele. Se temos vez / vezes e noz / nozes, também é legítimo empregar gravidezes. Na verdade, as palavras terminadas em z, sejam masculinas ou femininas, formam o plural em -es.
http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=7045

(Gravidezas?? Legal, né? Quero ter várias gravidezas.)

Eu paro???

Pelo visto, a conjugação do verbo parir não é uma unanimidade. Achei conjugadores online onde eles incluem as formas "eu paro", "tu pares", e outros que as consideram inválidas.

Mas, segundo as fontes que considerei mais confiáveis, "eu paro" é só do verbo "parar" mesmo.
O dicionário Priberam traz no presente só as formas "nós parimos" e "vós paris", e vejam o que diz o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa:

A despeito dos registos em sentido contrário1, entendo que este é um verbo defectivo. Ou seja (tal como o verbo falir, por exemplo), parir só se conjuga nos tempos em que houver um i tónico. Portanto, no presente do indicativo, só se conjuga na 1.ª e na 2.ª pessoas do plural: parimos e paris.

Ó, mas isso não é consensual. O Houaiss, por exemplo, registra "eu pairo". Oh, yeah. E a dúvida continua pairando sobre nós...

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Quem paga o pa(r)to?



Meu marido acaba de me mandar a seguinte matéria da Folha: Obstetras de São Paulo lançam campanha contra planos de saúde. Eles querem divulgar aos quatro ventos os valores irrisórios recebidos pelos planos para consultas e partos. Segundo a campanha, eles chegam a receber R$25,00 por consulta e R$200,00 pelo parto (valores que mal dão pra você fazer a unha e uma escova progressiva no salão).

No final, quem sofre é a gestante, usuária de planos de saúde que cobram mensalmente valores nada módicos. O meu, que considero caríssimo, não paga nem R$40 a consulta e pouco mais de R$600 o parto (sei disso porque arquei com meu pré-natal e meu parto e sempre pedia esse reembolso-piada). E aí dá-lhe consultas express, horas de espera no consultório e cesarianas em série.

Não sou médica nem preciso abraçar causas alheias, mas sou parideira e apoio qualquer iniciativa em prol da saúde das gestantes e dos bebês. ACORDEM, PLANOS!!

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E pensem como seria muito mais econômico para os planos de saúde se apoiassem o parto humanizado, com menos intervenções. Seriam menos dias de internação (ou nenhum, se eles oferecessem reembolso para montar a estrutura pra um parto domiciliar), menos medicação, menos profissionais envolvidos.

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E essa campanha me lembrou a dos pediatras no ano passado. Coincidência ou não, esta segunda-feira Dr. Pediatra de Emília parou de atender meu plano.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Soterrada pelos selos

Não é porque sou superpop. É simplesmente porque sou mega verborrágica e sempre tenho um post na manga. Daí fico adiando o agradecimento dos selos com que minhas adoráveis leitoras me presenteiam de vez em quando. "Amanhã eu escrevo, hoje tenho que falar sobre a rotina." "Amanhã respondo, hoje tenho de falar sobre amamentação". Daí que ficou esse monte de selinhos acumulados por única e exclusiva incompetência da minha pessoa. Shame on me.

Vou tentar fazer jus à gentileza e agradecer uma por uma, do mais recente pro mais antigo:

1) Este aqui eu ganhei da Tati, mãe da Ana Elisa.



Ela pediu pra citar três lembranças da infância.

Nasci em Fortaleza e lá morei até os quatro anos incompletos. Nossa casa era habitada por alguns animais selv..., erh, silvestres. Certa vez, supreendi uma cobrinha recostada ao longo de uma coluna que havia no meio da sala. Com minha voz potente, saí gritando: "Mamãe, mamãe, uma cobra envenenada!".

Lembro também de meu pai queimando uma caranguejeira com uma tocha feita em casa, que consistia numa camisa velha enrolada num cabo de vassoura, embebida com álcool. Pra terminar, recordo que foi naquela casa que vi pela primeira vez um avião. O bichão voava no céu e fazia um barulho que me assustou. Fiquei agarradinha com meu irmão.

2) Este aqui ganhei da Ingrid, que já é mãezona de segunda.



Ela pediu pra eu responder a algumas perguntas sobre mim. Moro em Brasília, sou servidora pública federal e meu sonho é me tornar tradutora - seja no serviço público ou fora dele. Já tenho os requisitos, falta-me a coragem pra me lançar numa mudança de carreira. O que mais gosto de fazer atualmente é ser mãe, falar sobre maternidade e sonhar com os próximos filhos. Se eu ganhasse na Mega Sena, bem... fingiria que nada aconteceu e, de mansinho, me desvencilharia da vida profissional pra seguir a carreira materno-acadêmica. (Mentira. Eu me beliscaria, porque só em sonho ganhar na Mega sem jogar.)

3) Este aqui foi presente da Paula, mãe da Bel e da Teté.



Meninas, desconfio que perdi mais selinhos por aí. Peço mil desculpas, e quem tiver sido esquecida grita aí!

E, mais uma vez, agradeço a audiência. São vocês que fazem o blog valer a pena.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Com que roupa? II (O casamento)

Sábado Emília foi ao seu primeiro casamento. Pensei com antecedência na produção. Chequei o tamanho do menor vestidinho de festa que minha irmã trouxe de NY, do menor sapatinho e da meia-calça. Montei o outfit: vestido de veludo marrom, meia-calça branca com frufru na bunda e sapatinho dourado.

Até os panos de ombro foram selecionados previamente. Nada daquelas fraldas Cremer (que, aliás, são a melhor coisa pra conter a golfaria), mas toalhinhas bordadas à mão. E, pra completar, um brinquedinho combinando, de tecido da mesma cor do vestido! Porque, convenhamos, não dava pra botar a menina toda chique com um brinquedo de plástico multicolorido na mão.

Emília banhada, pronta, linda e cheirosa, marido fazendo a barba, faltando uns 20min pra hora de sair. Euzinha apenas banhada. Então ela resolve abrir o berreiro. Nessas horas de pressa, é peito mesmo (ói que sorte, era fome mesmo!).

Aí já zuper em cima da hora, vou eu me arrumar. Unhas não feitas que obviamente assim ficaram. Sobrancelha não feita que obviamente assim ficou. Joga uma base e um pó ali de qualquer jeito, pega o primeiro batom que vê na frente, a primeira sombra que vê na frente - tanto faz a cor, o vestido é preto e branco -, e em poucos minutos estou eu parecendo um dálmata com um círculo preto em volta de um dos olhos. Aí pega o primeiro brinco que aparece (que dali a pouco vai começar a dar uma irritação dos infernos na orelha), o único vestido no qual cabem meus peitos e que não deixa aparecer o sutiã de amamentação, calça o sapato peep toe que deixa ver as unhas não feitas dos pés. Pra arrumar o cabelo, jogo a franja pro lado contrário, pra parecer que fiz escovinha. Lindja.

Como sempre, minha Emília glamourosa e eu, destroyed. Mas quem liga? É só pra ela mesmo que vão olhar...

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E por causa dessa minha falta de vaidade, diziam que eu não tinha cara de mãe de menina. Gentes, eu sou eu, com meu jeitão despojado e minha auto-confiança que dispensa esmalte. Ela é a minha boneca, né?

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E ontem de manhã perguntei a ela: "Como foi a viagem ao reino da Lindolândia? Mamãe também dormiu, foi lá e não te encontrou?" E ela me sorrindo com a banguela, como quem diz: "Mamãe, acho que você errou o caminho e foi parar no reino da Feiolândia, da Inchadolândia ou da Ressacolândia."

sábado, 22 de maio de 2010

Com que roupa? (E sobre as urucas)

Sexta à noite, resolvo SAIR - palavra rara no meu cotidiano. Situação: apenas um sutiã de amamentação limpo, preto, e axilas por depilar. Visito o guarda-roupa: só duas camisas com manga pra impedir os olhares alheios do desgosto da penugem sub-axiliar. Uma delas deixa aparecer o sutiã preto por baixo. A outra, minha cabeça oca de lactante jura que foi usada na última vez que encontrei com essas mesmas pessoas.

Ainda bem que existe o Satinelle. Vapt, vupt!, E saio de vestido sem mangas. (Philips, tô esperando minha comissão pela propaganda, viu?)

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Lembram que eu disse que meu celular caiu no fosso do elevador? Primeiro prejuízo da semana. Lá me vou comprar outro. Ainda bem que aquela porcaria não valia nem derreal.

Então, como se não bastasse, ontem saímos (saímos? saímos!) e levamos a babá eletrônica. Nossa linda babá comprada em NY onde a voltagem é 110. Rafael prepara a bagagem e esquece de colocar o transformador. Daí a zela aqui enfia o troço na tomada sem nem titubear. Preju número dois. Agora lá vou eu comprar a babá aqui em terras brasilis por 200x o preço gringow. Mas agora chega de 110v, né?

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E a última uruca: as formigas encontraram o berço da Emília.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A rotina, o sono, os livros e EU QUERO JOGAR O RELÓGIO NA PAREDE!

Rotinar ou não rotinar, eis a questão.

Dizem os especialistas que tem que ter uma rotina, senão o bebê surta, não dorme, surta mais um pouco, mama de hora em hora e a mãe tem um colapso nervoso. E que o bebê, coitadinho, não sabe de nada, não sabe o que é dia, não sabe o que é noite, não sabe dormir sozinho.

Aí você lê que é tudo muito simples, acorda às 7h, mama de 3 em 3h, tira três sonecas de 1h30, daí às 19h banho, massagem, mamar e um sonho tranquilo. Até que seu bebê nasce e dá piruetas na ampulheta.

Já falei centas vezes aqui, sob o olhar assassino das mães insones, que a Emília é anja e dorme a noite toda, não dá trabalho nenhum e coisa e tal. Mesmo assim, tentei seguir a tal rotina DIFFICULT da encantadora de bebês, só pra não associar peito com sono e não estragar o motor 0km da Marquesa. Aí até dá mais ou menos certo, ela mama, fica acordada, dorme e – aí não tem jeito – acorda de novo, depois mama e tudo recomeça. Em vez de 1h30, ela dorme 40 minutos e não tem cristão que consiga estender essa soneca. Às vezes ela até reclama, continua sonolenta e consigo colocá-la no berço de novo. Mas aí dá 5 minutos ela desperta de vez.

Uma leve variação no cronograma militar da babá inglesa, mas até aí tudo certo. Ocorre que minha Flóris Lólis mama todos os dias em horários diferentes. Ela já mamou em todos os 1.440 minutos do dia. Isso porque um dia ela acorda às 5h30, no outro às 7h, no outro às 6h30... Aí o café da manhã vai cada dia num horário e, com isso, todas as mamadas seguintes ficam oscilantes. Eu malho sempre depois que ela mama. Sendo assim, teve a época da Bike Indoors, quando ela mamava às 18h30, a época do Ballness, e agora é a época da Local. Dependendo do horário dela, eu faço o meu.

E eu reclamo? Oh, no. Mas eis o problema: como dar banho todo dia no mesmo horário se cada dia ela mama num horário diferente? Pra dar banho, tem que esperar pelo menos 1h depois da mamada, por causa da golfaria. Mas também não dá pra esperar demais porque senão ela sai comendo tudo o que vê pela frente – nosso queixo, a fralda, a roupa... Compliqué.

Daí ontem ela mamou tipo 16h e eu pensei: “Perfeito, ela agüenta até umas 19h30, a gente dá banho às 19h, rotininha EASY linda”. Mas daê Flóris me resolve dar um ataque de choro ali pelas 18h que só foi consolado com uma mamada daquelas vigorosas. E agora, José? Põe pra dormir sem outra mamada e acorda a criatura às 23h pra “mamada dos sonhos”? Pensa que pensa, dei de novo o peito antes de 20h. Aí ela foi dormir empanturrada até a tampa e eu xingando por dentro de ter de levantar às 23h pra tal mamada-que-faz-o-bebê-dormir-até -as-7h. E eu com os peitos vazios e sem a menor vontade de despejar mais leite naquela barriga cheia. “Mas e a rotina...”

Não sei se foi meu inconsciente, se o despertador não tocou ou o quê, mas acordei 1h30 e pensei: “lá se foi”. Voltei a dormir. Ela acordou às 4h30, como já vem acontecendo há algumas semanas (alegrem-se, mães insones), e o Rafael a pôs de volta pra dormir como de costume, sem a alimentar. E só acordou às 6h30 pra mamar. EU SABIA QUE ESSA PORCARIA QUE ME ACORDA ÀS 23H ERA INÚTIL.

Conclusão é que o único jeito de fazer o ritual do sono mais ou menos no mesmo horário é alimentá-la quando ela não estiver com fome ou, pior, ficar enrolando a pobre faminta até dar a agenda. E minha filosofia livre demanda (OMS rules) ia pros buracos. Daí quis chutar o balde, jogar o celular na parede (porque relógio ninguém mais usa), mas minha neura não deixou.

Até que meu celular caiu no fosso do elevador. Senhor ouviu minhas preces!

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Gentes, eu não odeio a Encantadora de Bebês, muito pelo contrário. As dicas sobre os tipos de choro são maravilhosas e ela traz várias orientações pra gente não ficar perdido. E a técnica Pick up-Put down pra fazer o bebê voltar a dormir à noite salvou minha vida, meus peitos e minha coluna.

Mas, rotinas à parte, só faço questão de duas coisas: que a Emília esteja saudável e feliz e que ela durma à noite. Porque insônia só é meu sobrenome embaixo da terra.

terça-feira, 18 de maio de 2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Parênteses - engravidando após os 35

É a segunda postagem hoje, mas é rapidim.

Amiga jornalista procura mulher que escolheu engravidar após os 35 anos. A criança deve ter no máximo 3 anos e a mãe morar em São Paulo capital ou região metropolitana. É pra TV Brasil.

Manifestem-se!

Contos de fadas

Ganhei de presente de dia das mães este livro:



“Fábulas Italianas”, de Ítalo Calvino.

Pra quem não conhece, Calvino é um escritor italiano (dã!) autor de obras fantásticas como “O cavaleiro inexistente” e “O visconde partido ao meio”. Acabei de ler aqui na Wikipedia que ele viveu de 1923 a 85. Ali pelos anos 50, encomendaram-lhe uma coletânea de “fábulas” da tradição italiana, nos moldes daquelas de Perrault (França) e dos Irmãos Grimm (Alemanha). Como erudito que era, ele fez uma profunda pesquisa, reuniu cerca de 200 histórias e as reescreveu.

As fábulas (fiabe) não são essas de animais falantes, com moral da história, como as de Esopo ou La Fontaine. São contos populares, curtos, como contos de fadas mesmo – cheios de reis, princesas, bruxas, ogros, lobos. Uma das fábulas do livro, por exemplo, “Belinda e o monstro”, é exatamente igual à história da Bela e a Fera.

Eu já tinha lido um pedaço desse livro em italiano (meio mal e porcamente, não sou um asno italiano) e amei. Aí recentemente comentei com o marido que tinha uma edição em português e ele acabou me comprando um exemplar de dia das mães. Nem bem deixei de lado o livro que estava lendo, peguei as Fábulas Italianas e comecei a devorá-las. E aí vêm as impressões de mãe.

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Os contos de fadas. Histórias mágicas e com um final feliz que embalaram meu sono durante tantos anos e que quero contar aos meus filhos. E eu empolgadíssima, com dezenas de histórias à mão pra variar um pouco o repertório Branca de Neve – Cinderela – Bela Adormecida – Chapeuzinho Vermelho. E então comecei a meditar sobre essas histórias e censurei metade.

Comecemos pela Branca de Neve. A madrasta manda matar a enteada por ciúmes e trazer seu coração numa arca. Cinderela: a madrasta força a enteada a trabalhar como uma criada e as irmãs rasgam seu vestido antes que ela possa ir à festa no palácio real (licença, caiu uma lágrima aqui). Chapeuzinho vermelho: o lobo come a vovó e depois come a chapeuzinho.

Diga-se que, nas versões antigas (porque não existe uma que se possa chamar de “a original”) de Chapeuzinho Vermelho, não tem caçador pra tirar vó e neta inteiras da barriga, não. Em algumas, inclusive, o lobo serve a carne e o sangue da vovó pra Chapeuzinho como refeição. (Essas versões psicológicas que sugerem que o ato de comer teria conotação sexual surgiram muito depois. Nos tempos medievais, quando apareceu a maior parte dessas histórias, não havia esses requintes e sutilezas e as coisas eram o que eram. Comer = devorar.)

Estava lendo uma das fábulas que parecia muito com a história dos três porquinhos, só que em vez de porquinhos eram irmãs. Cada uma construiu uma casa. O lobo sopra a primeira e come a primeira irmã, sopra a segunda e devora essa também até que não consegue pegar a terceira, que mora numa casa de ferro. Aí eu fiquei esperando o momento em que o lobo vomitaria as outras duas, mas ficou por isso mesmo. A última irmã deu cabo no lobo e viveu feliz para sempre. Mas as outras já eram. Já imaginei a Emília chorando: “Mas mamãe, e as outras irmãzinhas morreram pra sempre?”

Tem também uma que chama “Grãozinho”. A moça tá lá cozinhando grãos de bico, vem um mendigo e pede um decomer. Ela nega e ele roga a praga: “Que todos esses grãos virem filhos”. Aí pulam cem criancinhas da panela, do tamanho de grãos de bico, e começam a gritar: “Mamãe, estou com fome! Mamãe, estou com sede! Mamãe, quero colo!” (essa parte foi engraçada, vai). Aí a mulher desesperada começa a esmagar os filhinhos. Depois que termina o infanticídio, ela se lamenta: “Poxa, podia ter ficado pelo menos um pra ir deixar comida pro meu marido”. Aí o Grãozinho, que se escondeu atrás da asa do bule, diz: “Não chore, mamãe, eu estou aqui.”

Aí lembram de toda aquela discussão que circula na blogosfera materna sobre essa onda de politicamente correto, do povo que canta “boi boi boi boi da cara rosa beija essa menina que é muito amorosa” e coisa do tipo? Pois eu descobri que os contos de fada que contaram pra nós, ainda que extremamente crueis em algumas partes, já são bem romanceados. Sabe aquelas histórias do beijo que tira a princesa do encanto? Li uma fábula que trazia um episódio bem semelhante ao da Bela Adormecida: uma princesa dormia eternamente numa torre, enquanto o reino todo também estava paralisado. Então vem o príncipe e faz o quê? Passa a noite com a princesa, furumfumfum. E coloca uma placa ao pé da cama: “Aqui passou uma noite deliciosa o príncipe Fulano.” Nove meses depois a princesa dá à luz e o encanto se quebra. Lindo, não?

Continuo lendo o livro e marco com um X as histórias que acho legal contar pra Emília. As outras são censuradas, tipo essa do grãzinho. E aí, em vez de ficar filosofando sobre o papel dos contos de fada na formação moral e emocional da minha filha, se melhor expor a crueldade da vida, se melhor escondê-la completamente, simplesmente escolho no faro histórias que eu acho que ela gostaria de ouvir. Que a fariam sonhar, imaginar, e cair num sono feliz. Assim, no feeling. E aí depois a gente vai vendo as reações dos nossos filhos, reconta as histórias adoradas e mete no fundo da gaveta as demais.

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E ganhei este aqui também:



“Perde quem fica zangado primeiro”, do mesmo autor. É uma das fábulas da coletânea, numa edição para crianças, toda ilustrada. Ainda não li, mas esse não deve ter 99 filhinhos esmagados pela mãe ou coisa do tipo.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

$$ Agulhas $$

Quem foi que disse que dinheiro não compra felicidade?

Ontem, à mesa de jantar, conversando com o marido:

eu: Amanhã é dia de vacina...
ele: É.
eu: Não gosto.
ele: Não tem nada de mais, amor.
eu: Tem sim, é horrível. Não aguento.
ele: Quem diria que você ia virar dessas mães... você era tão durona!
eu: Durona pra ME furarem. Porque em mim não dói. Nela dói.
ele: Dói só um pouquinho.
eu: Não, dói um monte porque ela chora.
ele: Mas passa rapidinho. Eu sofro muito mais quando ela chora de cansaço, ou por causa do refluxo...
eu: Pois eu não. Esses são sofrimentos naturais, o bebê nasceu pra isso. A vacina não. É uma dor artificial para a qual o bebê não foi feito.
ele: Que drama.
eu: A agulha é enorme! Olha só, é como se eu enfiasse esta faca na minha perna [pega a serra do pão e simula um esfaqueamento da coxa].
ele: Que exagero.
eu: Proporcionalmente é igualzinho. A coxa dela está para a agulha assim como a minha coxa está para esta faca.

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E com a disposição de desembolsar em torno de R$150, rumamos para a clínica particular para dar a Penta: Tetra + Polio. A tetra tá em falta, disseram, então vai essa aí mesmo que, além de poupar Flóris da reação da tetra, ainda economiza o desgosto das gotinhas desgostosas.

Eu nem vi a picada. Ela esboçou um grito e logo se calou. Quando voltei o rosto para vê-la (agora eu só fico dis costas), ela estava com os olhos cheios d'água. Alguns segundos, ela abriu um sorriso. E saiu da clínica rindo pra enfermeira.

Gente. Dinheiro pode até não comprar felicidade. Mas compra umas alegrias...!

Até agora, de diferente só observei um pouco mais de sonolência. Apetite normal e Emilinha brincando tranquila ao meu lado.

Me perguntaram se na próxima dose eu gostaria de dar a Hexa, que traz também a imunização contra Hepatite B: "Assim você economiza uma picada", diz a enfermeira sorrindo.

Tentador. Muito mais que promoção da Coquelux.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Dia 12 - mais um mês...

Quatro meses, e a melhor das notícias é que ainda não volto a trabalhar. Tenho mais 60 dias de prorrogação da minha licença e mais 30 dias de férias. Isso torna este mesversário de Emília muito mais alegre.

Como bem me disseram, ela se desenvolveu muito neste último mês. Está cada dia mais alerta, querendo sentar (ela fica tentando levantar a cabeça quando está recostada no carrinho), e linda como nunca.

Eu digo que todas as noites, enquanto durmo, ela dá um pulinho lá no Reino da Lindolândia e pega mais um pouquinho de beleza. Daí todo dia ela acorda mais linda (não como nós, que despertamos com a cara amassada e o cabelo que parece que foi lavado com Omo). Ela deve também passar a noite nesse Reino da Lindolândia com um cabide na boca, porque amanhece com um sorrisão escancarado.

Agora ela está mamando em intervalos bem maiores, que oscilam entre 3 e 4 horas - o que tem me dado mais flexibilidade para as minhas atividades. As sonecas dela estão mais regulares - uma de manhã, uma na hora do almoço, uma à tarde e uma no fim do dia -, mas continuam curtíssimas, 40min em média. Impossível lutar contra isso.

Aconteceu também que, de umas semanas pra cá, ela começou a acordar à noite. Não é acordar e ficar desperta, rindo, como se tivesse terminado de dormir. É acordar de susto mesmo e ficar pelejando pra voltar a dormir, berrando. Nas primeiras vezes, supreendida com a situação e grogue de sono no meio da madrugada, dei o peito. Mas eu tinha certeza que não era fome, porque depois simplesmente ela pulava uma das mamadas do dia. Então decidimos colocá-la de volta pra dormir sem o peito, só acalmando com o toque e a voz, e tem dado certo. Nas primeiras vezes demorou um pouco, mas agora tem vezes que não é necessário nem a tirar do berço para acalmá-la. E algumas noites ela nem acorda mais. E assim vamos.

E dizem por aí que passa rápido. Passa, mas acho que o ritmo em que eles se desenvolvem é absolutamente perfeito para o nosso deleite. Cada dia uma novidade, cada dia uma paixão maior.

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E esse aniversário não tem vacina. Vamos deixar pra amanhã, né?
(Alguém me indica uma clínica bacana aqui na Asa Norte pra eu dar a tetra acelular? Tathy?)

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E estou adorando o resultado da minha enquete sobre viagens. Continuem comentando. Vai ser muito útil no nosso planejamento.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Enquete - Europa com bebês

Estou querendo fazer esta enquete há algum tempo, inspirada nos posts sobre viagens que ando lendo por aí. Hoje a Lu escreveu sobre passeios em Viena e resolvi perguntar: mamães viajadeiras, que lugares na Europa vocês consideram mais "child friendly"?

Explico: meu marido e eu sonhamos há algum tempo em irmos juntos à Europa. Emília veio e nós não fomos. Então decidimos planejar a viagem com ela mesmo, antes de virem os outros rebentos. Inicialmente o plano seria ir a Portugal (que ele morre de vontade de conhecer) na próxima primavera do hemisfério norte, tipo abril, maio do ano que vem. Emília terá pouco mais de um ano.

Então queria saber de vocês as cidades que acham mais interessantes para ir com bebês, mesmo que não sejam em Portugal. Vale interior (adoro!).

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Formigas

Sempre detestei insetos, aracnídeos, anelídeos e todos esses animais invertebrados rastejantes nojentos. Ok, eles polinizam, fertilizam a terra, alimentam os passarinhos, sem eles não tem plantinhas blablabla. Mas lá fora, na graminha deles. Até dou uma trégua pros meus vasinhos de plantas, se as formigas e as minhocas quiserem habitá-los (lagarta nãaaaao!). Mas aqui, na minha tábua corrida, na bancada da minha pia, não.

De todos eles, os mais detestáveis não são as baratas – que a gente detona com uma boa dedetizada. São as indestrutíves, as biônicas, aquelas que surgem do nada e conseguem sentir o cheiro de açúcar a quilômetros de distância: as formigas.

Pois depois de meses morando aqui sem contratempos, elas aparecerem no meu apartamento. Na cama do quarto de hóspedes! E adivinha atrás de quê elas vieram? Acertou quem disse: leite materno.

Cada gotinha de golfo que a Emília deixa pela casa atrai uma multidão das pretinhas, inclusive aquelas cabeçudas que acho que são as soldados. Não posso deixar um paninho de boca sobre o trocador que, minutos depois, lá está ele cheio das formigas.

E formiga é dose pra eliminar. Tenho até um gelzinho que usava no meu antigo apartamento que, segundo a embalagem, elas levam pro formigueiro e oferecem à rainha, envenenando-a letalmente. Lindo, não? Até funcionava por algumas semanas, mas sempre apareciam mais, de um formigueiro próximo, do apartamento da vizinha, de Marte.

O jeito é lavar sempre todas as superfícies por onde passa dona Emília e colocar imediatamente de molho os paninhos e roupas em que ela golfa. Porque já estou pressentindo o dia em que serei picada ao enfiar a mão no cesto de roupa suja.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Nosso jeito de ser mãe

Sabe aquela máxima: “Mãe é tudo igual, só muda o endereço”? Pois é. Mais ou menos.

Agora que virei mãe, percebo melhor a forma como cada uma cuida de seus filhotes. Uma é mais solta, tranquilona. Não se preocupa muito com horários enquanto a criança estiver bem, e não dá tanta bola praquelas curvas de desenvolvimento. Outra é sistemática, com uma rotina certinha, e arranca os cabelos quando alguma coisa sai do esquema.

Uma mãe decide trazer seu filho ao mundo por meio de uma cirurgia, porque assim se sente mais confortável e assim manda seu coração. Outra escolhe o caminho da natureza, e faz de tudo para que seu bebê saia por parto normal. Uma opta por fazer isso sob o efeito de anestésicos, porque assim terá mais tranquilidade. Outra decide encarar a dor e crê que isso é o melhor para todos.

Algumas mães são mais protetoras, e estão sempre por perto para garantir que seus pequenos estejam bem. Outras são mais relaxadas e aceitam que os filhos têm mesmo de se machucar para descobrir as coisas.

Tem aquelas mães rueiras, que adoram sair e viajar e levam os rebentos consigo aonde vão. E tem aquelas caseiras, que preferem manter os pimpolhos num ambiente mais calmo e familiar.

Essa mãe, quando o filho tosse ou dá um espirro, espera e observa antes de tomar alguma atitude. Aquela liga logo pro pediatra ou sai correndo pro pronto-socorro.

Não, mãe não é tudo igual. Mas o que faz de nós MÃES, mas mães mesmo, não apenas biológica ou legalmente, mas mães de verdade, é que fazemos das tripas coração para dar o melhor pros nossos filhos. Do nosso jeito, mas do melhor jeito que sabemos.

Essa é uma homenagem a todas as mães que, do seu jeito torto, são sempre para os seus filhos as melhores mães do mundo!

(E à melhor de todas: a minha, é claro!)

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Luzia

4 cesarianas não eletivas, algumas babás, poucas e boas escolinhas. Trabalhou por um tempo meio período e depois tempo integral, até se aposentar aos 46 anos com os filhos adolescentes. Desenvolveu conhecimentos práticos em doenças e homeopatias, inventou várias músicas sem sentido. Costurou roupas para nós e as nossas bonecas e sempre cortou nossos cabelos. Deixava meu irmão dormir pelado no berço e nos ninava em pé, balançando. Furou paredes, fez um projeto de reforma da cozinha. Foi atrás de apartamentos pros filhos já crescidos e me liga sempre.

Diz ela que é saudade da Emília. Mas eu sei que é de mim.

(Mãe, foi mal o black power, mas foi a melhor foto da família toda que encontrei...)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Cinematerna com dois bebês

Já fiz meu estágio pra ter gêmeos.

Cunhadinha santa aceita nos levar ao cinematerna. Nós = eu, Emília, amiga e filha de amiga. Idade, quase 11 meses. Loira linda fofa olhos azuis.

Cunhadinha no volante, mamãe aqui no banco de trás acompanhando Emília na cadeirinha. Emília ultimamente tem detestado andar de carro. Chora toda vez. E eu lá, cantando "olha o cavalo, alo, alo, alo, alo".

Passamos na casa de amiga e ofereço-me gentilmente para ficar no banco de trás cuidando das duas belezuras. Isso espertamente sabendo que Emília chora sempre no carro e que mocinha loirinha mais velha é mais fácil de acalmar. Esmago-me no meio das duas cadeirinhas - bendita amamentação que me levou embora a gordura do quadril!

A ida é bem tranquila. Mocinha olhos azuis se comporta super bem. Emília chora um pouco, eu cantando o cavalo alo alo, até que as duas dormem ao mesmo tempo! Ai, que beleza!

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O cinematerna está bombando em Brasília, minha gente! Sala lotaaaada. Cinemark, volta nóis pra sala maior, pô favô?

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Na saída, encontramos a Kelly com a Clarinha. Ela me reconheceu enquanto eu ficava observando aquela bebezinha fofa cabeludinha... era ela mesma.

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Se a ida foi tranquila, a volta nem tanto. Vindo, o sono sincrônico. Voltando, o choro sincrônico. Foram uns 15 minutos de viagem virando prum lado e pro outro: cavalo alo alo alo pra Emília, espelho elho elho e chupeta eta eta pra mocinha loira. Gentes, dois bebês ao mesmo tempo é dose! Especialmente se você está amarrada pelo cinto e não pode fazer nada além de conversar, cantar e mostrar brinquedos.

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E eis a dúvida que não quer calar: o que acontece com a minha filha quando anda de carro? A filha da minha amiga chorou claramente de cansaço. Esfregava os olhinhos, uma dó. Mas a Emília chora, simplesmente chora, toda vez que anda de carro. Não é um choro esgoelado, desconsolado. É uma reclamação constante, que exige atenção a viagem inteira.

Primeira hipótese: ela não gosta da cadeirinha ou o cinto está apertado. Descartada, porque ela fica na cadeirinha fora do carro numa boa, brinca, dorme, ri. Segunda hipótese: calor. Descartada, porque o carro da minha cunhada tem ar condicionado e ela reclamou do mesmo jeito.

Chegamos à conclusão que o problema é o movimento do carro. Ela entra numa boa e chora assim que o carro começa a andar. Ontem paramos uns minutos pra minha amiga ir à padaria e a Emília parou de chorar na hora, começou a brincar com o cavalinho. Minha cunhada achou até que ela estivesse dormindo. Daí comentou que quando era pequena enjoava demais em viagens de carro, e eu pensei se não poderia ser isso. Alguém tem alguma experiência semelhante?

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Atendendo ao pedido da Ana, Mamãe de Alice, venho dar minha contribuição pra campanha "Ajude o Theo". É um bebê de cinco meses que parece sofrer de má absorção intestinal e vem perdendo peso vertiginosamente.

Pra ajudá-lo, a Aline, mãe do Theo, está pedindo ajuda financeira para comprar um leite especial que seu filho consiga absorver. Quem quiser conhecer a história deles e puder ajudar, visite o blog da Aline.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Doando leite

Isto não é uma campanha. Estou doando leite e resolvi passar por aqui para contar como tem sido a experiência.

Ainda no hospital, uma das pediatras comentou que eu tinha leite demais e que tinha de tirar. "Estão chegando quadrigêmeos na UTIN". Eu disse que a doação estava nos meus planos, mas não disse que ainda achava cedo.

Depois veio uma enfermeira do banco de leite me ensinar a ordenhar. Foi uma experiência bem ruim. Ela disse que eu deveria ordenhar durante 1h30 depois de cada mamada, até esvaziar os dois seios. Com um bebê que mama a cada 3h, eu ia passar o dia ordenhando. Além de doerem os peitos, doíam os pulsos. E o tempo pra descansar e pra cuidar da minha filha?

Decidi que era muito cedo pra mexer com isso, que eu tinha de me recuperar e conhecer minha filha primeiro. Mas me sentia meio oprimida, com a sensação de não estar fazendo algo que deveria.

Quando a Emília tinha um mês e meio, resolvi fazer um teste. Não podia dizer que doar leite era trabalhoso demais se não tentasse. Mas também não sabia nem por onde começar.

Então consultei o Dr. Google e cheguei à página da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano. Lá eles explicam quem pode doar, como deve ser feita a ordenha, e apresentam a lista de bancos de leite no Brasil.

Eis o que compreendi de tudo:

- Pode doar quem é saudável e tem excesso de leite. Eu não entendia muito bem esse excesso, já que a gente produz o que o bebê pede. Mas se você alimenta seu bebê exclusivamente no peito e ele está ganhando peso normalmente, pode tirar que não vai faltar. A produção aumenta naturalmente.
- O leite deve ser retirado após as mamadas ou quando a mama estiver muito cheia. Nesse último caso, devem-se desprezar os primeiros jatos.
- A ordenha tem de ser feita manualmente, para evitar contaminação. É recomendável o uso de touca e máscara. As mãos e os seios devem estar bem lavados e deve-se evitar conversar durante a ordenha.
- O leite deve ser armazenado em potes de vidro esterilizados (eles sugerem aqueles potes de café, previamente fervidos).
- O pessoal do banco vai semanalmente à casa da doadora buscar o leite e leva mais potes vazios e esterilizados.
- O leite doado alimenta bebês prematuros, internados nas UTIs Neonatais.

Escolhi o hospital público mais perto da minha casa e liguei. A moça foi super gentil. Perguntei quanto era o mínimo que eu precisava tirar pra valer a pena eles virem buscar. Ela disse um vidro (apesar de que tenho uma amiga que doava meio vidro por semana e disse que eles buscavam mesmo assim).

Arregacei as mangas e comecei a ordenha. Não foi muito bem. Não sei se por falta de jeito, acabei me machucando. Quando a Emília mamava num seio, o outro, que eu tinha ordenhado, doía. Também não consegui tirar o suficiente. Guardei o leite no congelador e desisti da ideia, agora sim, com a consciência limpa.

Até que nasceu a filha de uma amiga querida, que foi minha nutricionista durante a gravidez. Ela sempre me orientou quanto à amamentação e foi ao hospital verificar como estava a pegada. Quando cheguei em casa com os peitos explodindo, com medo do meu leite empedrar porque eu não estava ordenhando a 1h30 que a moça do banco de leite tinha mandado, liguei pra ela. Ela me tranquilizou, me explicou todos os sinais de empedramento, recomendou que eu escorresse o excesso de leite no banho e que não virasse escrava da ordenha. Que era importante descansar.

A filha dela nasceu dois meses depois da Emília. Ela já era mãe e já tinha tido uma primeira experiência de amamentação bem sucedida com seu menino mais velho. Mas dessa vez estava sendo diferente. O leite não vinha como antes, a neném não sugava como seu irmão e ela teve de entrar no complemento. Minha amiga, super consciente dos benefícios do aleitamento, continuava insistindo. Deixava a filha no peito o máximo que dava conta, ordenhava tudo o que sobrava e foi medicada pelo pediatra pra tentar aumentar a produção.

Soube da história e ofereci aquele leite que tinha tirado lá atrás, quando tentei doar pro hospital. Ela aceitou na hora. Eu disse que poderia tentar tirar mais, mas sem garantia porque da primeira vez não tinha dado muito certo.

Comecei há pouco mais de uma semana tirando 30ml por dia. Agora já estou tirando 60ml, em uns 15 minutos de ordenha matinal. Aprendi o jeito certo de não machucar o peito, com calma, massageando sempre. E vi que, sim, é possível doar leite. Se minha amiga parar de precisar (ela ainda está determinada a restabelecer sua produção), vou continuar doando pro hospital.

Acho que eu precisava mesmo era de um incentivo. Pressão e obrigação só tornam tudo mais penoso. Porque a gente só faz esse troço se for por amor.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Peladona do sexto andar

Essencial para a maternidade e a paternidade é... criatividade. Quando seu filho está alimentado, descansado e aparentemente sem dor, mas mesmo assim insiste naquele chorinho irritado – que tende a ir crescendo se você não tomar providências –, a gente tem de usar a imaginação.

Recentemente descobrimos algumas coisas que acalmam Emília nessa fase de desenvolvimento. Primeiro, chocalho. Tchuc, tchuc, tchuc, e ela pode até chegar a rir. Mas nenhum cristão consegue ficar chacoalhando o brinquedo pra sempre. Alguém conhece um chocalho auto-chacoalhável?

Depois, barulho de água. O mais prático é ligar a torneira. Muitas vezes ela para de chorar e até dorme. O problema é o desperdício de água, daí pensei em comprar uma daquelas fontes zóing zóing.

Às vezes a água não funciona, normalmente quando o choro está muito alto e ela não consegue parar pra escutar. Aí a gente tenta o espelho. Ela se emociona com tanta beleza e vai se acalmando.

E ultimamente, nos fins de tarde mais turbulentos, a gente tenta o momento peladona. Porque às vezes ela se acalma com a água e o espelho, mas é só tirá-la do banheiro pra ela voltar a reclamar. Quando está recém-mamada, não dá pra dar banho (o banho é tiro e queda pra acalmar).

Aí eu tiro roupa e fralda e a coloco sobre um colchonete desses de fazer abdominal, forradinho com uma fralda ou um cueiro. Ela tem muitas roupinhas lindas, mas nada mais lindo do que aquele corpinho nu, perninhas pra lá, perninhas pra cá. Aí ficamos nós três, conversando, fazendo massagem e enrolando até o leitinho assentar pra podermos dar o banho.

“Estou apaixonado, apaixonado estou
Pela dona do primeiro andar
Pela dona do primeiro andar
Peladona... do primeiro andar.”
(A dona do primeiro andar, Originais do Samba)

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